quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

O VERDADEIRO CATÓLICO DEVE SER ALEGRE OU TRISTE? - SOBRE A TRISTEZA, POR SÃO FRANCISCO DE SALES


DESTAQUE
UMA PESSOA É DESCULPÁVEL DE NEM SEMPRE SER ALEGRE, POIS NÃO É DONO DA ALEGRIA PARA TÊ-LA QUANDO QUISER; MAS NÃO É DESCULPÁVEL DE NÃO SER SEMPRE BONDOSA, MANEJÁVEL E CONDESCENDENTE, POIS ISTO ESTÁ SEMPRE NO PODER DA NOSSA VONTADE, E PARA ISSO NÃO É PRECISO SENÃO RESOLVER-SE A SUPERAR O HUMOR E INCLINAÇÃO CONTRÁRIA.

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Não se pode meter um enxerto de carvalho numa pereira, tanto essas duas árvores são de humor contrário uma à outra; tão pouco se poderia enxertar a ira, nem a cólera, nem o desespero, na caridade, ao menos seria muito difícil. Quanto à ira, vimo-la no discurso do zelo; quanto ao desespero, a não ser que o reduzamos à justa desconfiança de nós mesmos, ou então ao sentimento que devemos ter da vaidade, fraqueza e inconstância dos favores, assistência e promessas do mundo, não vejo que serviço pode o divino amor tirar dele.
E, QUANTO À TRISTEZA, COMO PODE ELA SER ÚTIL À SANTA CARIDADE, JÁ QUE ENTRE OS FRUTOS DO ESPÍRITO SANTO A ALEGRIA É COLOCADA JUNTO À CARIDADE? NÃO OBSTANTE, O GRANDE APÓSTOLO ASSIM DIZ: A TRISTEZA QUE É SEGUNDO DEUS OPERA A PENITÊNCIA ESTÁVEL EM SALVAÇÃO, MAS A TRISTEZA DO MUNDO OPERA A MORTE (GAL 3, 22; 2 COR 7, 10).
Há, pois, uma tristeza segundo Deus, a qual é exercida ou pelos pecadores na penitência, ou pelos bons na compaixão pelas misérias temporais do próximo, ou pelos perfeitos na deploração, queixa e condolência das calamidades espirituais das almas; pois David, São Pedro, a Madalena choraram pelos seus pecados, Agar chorou vendo seu filho quase morto de sede, Jeremias sobre a ruína de Jerusalém, Nosso Senhor sobre os Judeus e Seu grande Apóstolo gemendo diz estas palavras: Muitos andam, os quais, eu muitas vezes vos disse e de novo vos digo que são inimigos da cruz de Jesus Cristo (Filip 3, 18).
Há, pois, UMA TRISTEZA DESTE MUNDO QUE PROVÉM IGUALMENTE DE TRÊS CAUSAS:
PORQUANTO, 1º, PROVÉM ÀS VEZES DO INIMIGO INFERNAL, QUE, POR MIL SUGESTÕES TRISTES, MELANCÓLICAS E MOLESTAS OBSCURECE O ENTENDIMENTO, DEBILITA A VONTADE E CONTURBA TODA A ALMA. E, ASSIM COMO UM NEVOEIRO ESPESSO ENCHE DE CATARRO A CABEÇA E O PEITO, E POR ESSE MEIO TORNA A RESPIRAÇÃO DIFÍCIL, E PÕE EM PERPLEXIDADE O VIAJOR, ASSIM TAMBÉM O MALIGNO, ENCHENDO O ESPÍRITO HUMANO DE PENSAMENTOS TRISTES, TIRA-LHE A FACILIDADE DE ASPIRAR A DEUS, E DÁ-LHE UM ABORRECIMENTO E DESÂNIMO EXTREMO, A FIM QUE DESESPERÁ-LO E DE PERDÊ-LO. Dizem que há um peixe a que chamam diabo do mar1 o qual, revolvendo e empurrando para cá e para lá o lodo, turva a água à volta de si, para se manter nela como na emboscada, e dela, logo que avista os pobres peixinhos, atira-se sobre eles, assalta-os e os devora, donde talvez tenha vindo a expressão pescar em água turva, de que se usa comumente. Ora, dá-se com o diabo do inferno o que se dá com o diabo do mar; pois ele arma suas emboscadas na tristeza, quando, tendo tornado a alma perturbada por uma multidão de pensamentos aborrecidos, lançados aqui e acolá no entendimento, precipita-se depois sobre os afetos, afligindo-os com desconfianças, ciúmes, aversões, invejas, apreensões supérfluas dos pecados passados, e fornecendo uma quantidade de sutilezas vãs, acres e melancólicas, a fim de que rejeitemos toda sorte de razões e consolações.
2º A TRISTEZA PROCEDE TAMBÉM, OUTRAS VEZES, DA CONDIÇÃO NATURAL, QUANDO O TEMPERAMENTO MELANCÓLICO DOMINA EM NÓS, e este não é verdadeiramente vicioso em si mesmo, mas, no entanto, NOSSO INIMIGO SERVE-SE DELE GRANDEMENTE PARA URDIR E TRAMAR MIL TENTAÇÕES EM NOSSAS ALMAS; PORQUANTO, ASSIM COMO AS ARANHAS QUASE NUNCA FAZEM SUAS TEIAS SENÃO QUANDO O TEMPO ESTÁ ENCOBERTO E O CÉU NUBLADO, ASSIM TAMBÉM ESSE ESPÍRITO MALIGNO NUNCA TEM TANTA FACILIDADE PARA ARMAR AS CILADAS DAS SUAS SUGESTÕES NOS ESPÍRITOS DOCES, BENIGNOS E ALEGRES, COMO NOS ESPÍRITOS SOMBRIOS, TRISTES E MELANCÓLICOS; POIS OS AGITA FACILMENTE COM MÁGOAS, SUSPEITAS, ÓDIOS, MURMURAÇÕES, CENSURAS, INVEJAS, PREGUIÇA E ENTORPECIMENTO ESPIRITUAL.
3º Finalmente, há uma tristeza que a variedade dos acidentes humanos nos acarreta. Que alegria posso eu ter, dizia Tobias, não podendo ver a luz do céu? (Tob 5, 12). Assim Jacob ficou triste com a notícia da morte de seu José, e David com a do seu Absalão. Ora, essa tristeza é comum aos bons e aos maus, porém nos bons é moderada pela aquiescência e resignação à vontade de Deus; como se viu em Tobias, que, de todas as adversidades de que foi tocado, deu graças à divina majestade, e em Job, que por elas bendisse o nome do Senhor; e em Daniel, que converteu suas dores em cânticos. Pelo contrário, quanto aos mundanos, essa tristeza lhes é ordinária, e converte-se em pesares, desespero e atordoamentos de espíritos; pois eles são semelhantes às macacas e marmotas, que estão sempre sorumbáticas, tristes e zangadas por falta da lua, mas, ao contrário, à renovação desta, saltam, dançam e fazem as suas momices. O MUNDANO É RONHENTO, INTRATÁVEL, ACRE E MELANCÓLICO NA FALTA DAS PROSPERIDADES TERRENAS, E NA AFLUÊNCIA DESTAS É QUASE SEMPRE FANFARRÃO, DIVERTIDO E INSOLENTE.
De certo, A TRISTEZA DA VERDADEIRA PENITÊNCIA NÃO DEVE TANTO SER CHAMADA TRISTEZA COMO DESPRAZER, OU SENTIMENTO E DETESTAÇÃO DO MAL, TRISTEZA QUE NUNCA É NEM ABORRECIDA NEM MAL HUMORADA, TRISTEZA QUE NÃO ENTORPECE O ESPÍRITO, MAS QUE O TORNA ATIVO, PRONTO E DILIGENTE; TRISTEZA QUE NÃO ABATE O CORAÇÃO, MAS O ELEVA PELA ORAÇÃO E PELA ESPERANÇA, E O LEVA A FAZER OS RASGOS DO FERVOR DE DEVOÇÃO; TRISTEZA QUE NO FORTE DAS SUAS AMARGURAS PRODUZ SEMPRE A DOÇURA DE UMA CONSOLAÇÃO INCOMPARÁVEL, CONSOANTE O PRECEITO DO GRANDE SANTO AGOSTINHO:
Entristeça-se o penitente sempre, mas sempre se alegre com a sua tristeza. Diz Cassiano que a tristeza que opera a sólida penitência e o agradável arrependimento, da qual a gente nunca se arrepende, é obediente, afável, humilde, bondosa, suave, paciente, como sendo saída e descendente da caridade. De tal sorte que, estendendo-se a toda dor de corpo e contrição de espírito, de certo modo é alegre, animada e revigorada pela esperança do seu proveito, e retém toda a suavidade da afabilidade e longanimidade, tendo em si mesma os frutos do Espírito Santo que o santo Apóstolo narra. Ora, os frutos do Espírito Santo são: caridade, alegria, paz, longanimidade, bondade, benignidade, fé, mansidão, continência (Gal 4, 22). Tal é a verdadeira, e tal a boa tristeza, que por certo não é propriamente triste nem melancólica, mas somente atenta e afeiçoada a detestar, rejeitar e impedir o mal do pecado quanto ao passado e quanto ao futuro. NÓS VEMOS TAMBÉM MÚLTIPLAS VEZES PENITÊNCIAS MUITO APRESSADAS, PERTURBADAS, IMPACIENTES, CHOROSAS, AMARGAS, SUSPIRANTES, INQUIETAS, GRANDEMENTE ÁSPERAS E MELANCÓLICAS, AS QUAIS ENFIM SE MOSTRAM INFRUTÍFERAS E SEM CONSEQUÊNCIA DE QUALQUER VERDADEIRA EMENDA, PORQUE NÃO PROCEDEM DOS VERDADEIROS MOTIVOS DA VIRTUDE DE PENITÊNCIA, E SIM DO AMOR-PRÓPRIO E NATURAL.
A tristeza do mundo opera a morte (2 Cor 7, 10), diz Apóstolo. Teótimo, cumpre, pois, evitá-la e rejeitá-la segundo o nosso poder. Se ela é natural, devemos repeli-la, contravindo aos seus movimentos, afastando-a por exercícios próprios para isto, e usando dos remédios e modos de viver que os próprios médicos julgarem oportunos. Se, provém de tentação, devemos descobrir vosso coração ao pai espiritual, o qual nos prescrevera os meios de vencê-la, conforme o que sobre isso dissemos na quarta parte da Introdução à vida devota. Se é acidental, recorramos ao que está assinalado no livro oitavo, a fim de vermos o quanto as tribulações são amáveis aos filhos de Deus, e como a grandeza das nossas esperanças na vida eterna deve tornar quase inconsideráveis todos os acontecimentos passageiros da vida temporal.
De resto, por entre todas as melancolias que nos podem advir, devemos empregar a autoridade da vontade superior para fazermos tudo o que pudermos em favor do amor divino. Certamente há ações que dependem tanto da disposição e compleição corporal, que não está em nosso poder fazê-las a nosso gosto. Pois um melancólico não poderia manter nem os olhos, nem a palavra, nem o semblante na mesma graça e suavidade que teria se estivesse descarregado desse mau humor; bem pode, porém, embora sem graça, dizer palavras graciosas, bondosas e corteses, e, apesar da sua inclinação, fazer por força de razão as coisas convenientes em palavras e em obras de caridade, doçura e condescendência. UMA PESSOA É DESCULPÁVEL DE NEM SEMPRE SER ALEGRE, POIS NÃO É DONO DA ALEGRIA PARA TÊ-LA QUANDO QUISER; MAS NÃO É DESCULPÁVEL DE NÃO SER SEMPRE BONDOSA, MANEJÁVEL E CONDESCENDENTE, POIS ISTO ESTÁ SEMPRE NO PODER DA NOSSA VONTADE, E PARA ISSO NÃO É PRECISO SENÃO RESOLVER-SE A SUPERAR O HUMOR E INCLINAÇÃO CONTRÁRIA.
1) O nome de diabo do mal aplica-se a vários peixes do Oceano e do Mediterrâneo: à arraia, à escorpena e sobretudo ao diabo marinho.
(Tratado do amor de Deus por São Francisco de Sales, Livro décimo primeiro, capítulo XXI)

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Nota de pesar

Nós do Blog Core Catholica comunicamos a todos os leitores o falecimento de Flávio Ibere Aguiar, parente de um membro da equipe, ocorrido ontem, dia 18/01/2016 às 22 horas.

Pedimos orações e missas pela sua alma, que Deus o tenha em sua infinita misericórdia e que Nossa Senhora interceda por ele.


Requiem aeternam dona eis, Domine, / Et lux perpetua luceat
eis.
Fidelium animae, per misericordiam Dei, requiescant in pace. Amen.


quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Pedido de orações




Pedimos encarecidamente por orações (memento da missa, sobretudo) a todos os sacerdotes e leigos leitores do blog pela saúde de Flávio Ibere Aguiar que se encontra em estado grave.



quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

QUEM AINDA É CATÓLICO NA IGREJA CATÓLICA? Em vídeo, Francisco pede oração pelo diálogo inter-religioso




2016-01-06 Rádio Vaticana


Cidade do Vaticano (RV) – Em seu primeiro vídeo dedicado a divulgação de suas intenções de oração mensais, o Papa pediu ao Apostolado de Oração e a todos os homens e mulheres de boa vontade que rezem pelo diálogo inter-religioso.

“A MAIORIA DOS HABITANTES DO PLANETA DECLARA-SE CRENTE. ISTO DEVERIA SER MOTIVO PARA O DIÁLOGO ENTRE AS RELIGIÕES”, DIZ O PONTÍFICE NO INÍCIO DO VÍDEO AO RESSALTAR QUE A DIVERSIDADE É UMA RIQUEZA.

“NÃO DEVEMOS DEIXAR DE REZAR POR ISSO E COLABORAR COM QUEM PENSA DE MODO DIFERENTE”, AFIRMOU O PAPA.

“CONFIO EM BUDA. CREIO EM DEUS. CREIO EM JESUS CRISTO. CREIO EM DEUS, ALÁ”, DIZEM OS REPRESENTANTES BUDISTAS, HEBREUS, CATÓLICOS E MUÇULMANOS E, A SEGUIR, O PAPA RECORDA:

“MUITOS PENSAM DE MODO DIFERENTE, SENTEM DE MODO DIFERENTE, PROCURAM DEUS OU ENCONTRAM DEUS DE MUITOS MODOS; NESTA MULTIDÃO, NESTA VARIEDADE DE RELIGIÕES, SÓ HÁ UMA CERTEZA QUE TEMOS PARA TODOS: SOMOS TODOS FILHOS DE DEUS”.

“CREIO NO AMOR”. FOI O QUE AFIRMARAM TODOS OS SACERDOTES DAS DIFERENTES RELIGIÕES PARA QUE FRANCISCO, ENTÃO, CONFIASSE AS SUAS INTENÇÕES.

“CONFIO EM VOCÊS PARA DIFUNDIR A MINHA INTENÇÃO DESTE MÊS: QUE O DIÁLOGO SINCERO ENTRE HOMENS E MULHERES DE DIFERENTES RELIGIÕES PRODUZA FRUTOS DE PAZ E DE JUSTIÇA; CONFIO NA TUA ORAÇÃO”.


 





Comentários de Raphael de la Trinité


A ‘PAIXÃO’ DA IGREJA — USQUEQUO, DOMINE?


Que compete a um católico, apostólico, romano verdadeiro pensar sobre isso?
A DIVERSIDADE É UMA RIQUEZA - Palavras de Francisco...

Então, pergunta-se, será “uma riqueza” que haja religiões falsas? Sendo assim, se a Religião fundada por Jesus Cristo (Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem) equivale ao culto de Buda, Maomé, entre tantas outras religiões falsas, que sentido teve a obra da Redenção?


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Noutra ordem de ideias, se isso (por palavras, atos e gestos) é admitido por um Pontífice, “àquoi bon”, por exemplo, ter vindo a lume a Declaração Dominus Iesus, da Congregação para a Doutrina da Fé, no ano 2000? Como é sabido, esse documento assinala: "Os fiéis são obrigados a professar que existe uma continuidade histórica - radicada na missão apostólica - entre a Igreja fundada por Cristo e a Igreja Católica: ‘Esta é a única Igreja de Cristo [...] que o nosso Salvador, depois da ressurreição, confiou a Pedro para apascentar (Dominus Iesus, n. 16). Prossegue: "Com a vinda de Jesus Cristo Salvador, Deus quis que a Igreja por Ele fundada fosse o instrumento de salvação para toda a humanidade (Cfr. Act XVII, 30-31) (...), o que exclui de forma radical a mentalidade indiferentista, imbuída de um relativismo religioso que leva a pensar que ‘tanto vale uma religião como outra’" (Dominus Iesus, n.22.)
É possível conciliar a atitude atual do Papa Francisco com o texto acima?

Quando veio a público a Dominus Iesus, houve quem receasse ser uma manifestação apenassó proforma, isto é, não para ser levado positivamente a sério. Aliás, essa tem sido uma constante em pronunciamentos emanados das mais altas esferas eclesiásticas, no contexto da Igreja pós-conciliar, sobretudo quando se propõem “retificar” erros e abusos introduzidos nas últimas décadas. As “correções de rota”, com frequência, são anunciadas, mas não se efetivam. A um observador com um mínimo de atenção e imparcialidade, esse sistema inócuo de operar da Santa Sé, ou de outros organismos diretivos da Igreja, não terá passado despercebido.
A verdade inconteste é que, tanto no campo religioso como na esfera temporal, comumenteas forças revolucionárias caminham assim: dois passos para a frente, dois para trás. Em seguida, por vezes, um grande salto no abismo.
Acerca do conceito de “única” Religião verdadeira, o que se verificou durante o Vaticano II?
De fato, durante o Concílio, afirmando-se que as religiões falsas continham “sementes de verdade”, foi omitido o essencial: só há uma Igreja verdadeira, é a Igreja Católica. Por causa dessa gravíssima e insanável omissão, assumiu um ímpeto quase frenético um traço fundamental da “autodemolição” eclesiástica, isto é, o ecumenismo irenista.  
Durante 40 anos, pari passu, o relativismo acabou entronizado na Igreja, abalando todas as certezas de legiões de católicos, muitos doas quais, infelizmente, tíbios e pouco instruídos nas verdades da fé.
A certa altura dessa derrocada, estando a convicção sobre a origem divina da Igreja Católica jádeveras esmaecida no fundo das almas, o Vaticano reafirmou, de modo abrupto e extemporâneo, a verdade que obnubilada estivera: é a Igreja Católica, sim, a verdadeira Igreja de Cristo. Ora, intentando “tapar o sol com a peneira’, o documento DOMINUS IESUS não deixou de afrontar a lógica e a linguagem: pretendeu ‘comprovar’ que “subsiste” equivaleria ao verbo “é”. Equação bizarra: a Igreja de Cristo SUBSISTE na Igreja Católica (Vaticano II); a Igreja de Cristo É a Igreja Católica (Dominus Iesus, Cardeal Ratzinger, Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé). A quadratura do círculo...
Dado que a essa declaração não se seguiram medidas efetivas para cercear a avalanche de erros que grassam impunes nos meios católicos, muitos interpretaram a intervenção da Congregação para a Doutrina da Fé (ex-Santo Ofício) como letra morta. Com efeito, em meio à indiferença mais ou menos generalizada, essa publicação caiu como gota d’água numa fornalha. Pode-se afirmar que tenha sido de real valia, para esclarecer os espíritos e corrigir os rumos da ‘autodemolição’ pós-conciliar? Nenhuma mente sensata ousaria afirmá-lo sem cair no ridículo.
Quinze anos atrás, quando o Vaticano emitiu essa Declaração, a Igreja Católica, pela via dos fatos, de há muito já fora destronada pelos mesmos próceres da Igreja moderna, artífices da ‘autodemolição’, Concretamente falando, analistas idôneos consideraram desde logo essa “retificação” destituída de alcance prático. De fato, o mal já estava feito e, em larga medida, consolidado. O desdobramento dos fatos viria a comprovar essa terrível iveprevisão.
Sobejam agora razões para suspeitar que essa “retificação”, tardiamente feita, longe estivera de ser concebida para chegar às derradeiras consequências, isto é, para coibir com intransigência o erro. Propriamente, foi o que ocorreu, caindo no mais completo esquecimento e descaso. Inquestionável o diagnóstico: abateu-se glacial silêncio sobre a mencionada Declaração da Santa Sé.  

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Confrontando agora, de forma clara e insofismável, o que foi reafirmado na citada Declaração (DOMINUS IESUS) com o que lemos acima (da parte de Francisco), o que cabe concluir?
Estamos em face de um descompasso notório. Não fosse pelo cotejo de ambas as declarações, simplesmente por um rápido golpe de vista na linha geral deste pontificado.  
Sem dúvida, não haverá quem ouse desmentir esta verdade palmar: Francisco, no dia-a-dia, comporta-se como um líder ecumênico, pontifex maximus, de uma neo-religião universal, sob os aplausos ou a inércia da ex-opinião públia católica. A bem dizer, em sentido definidamente oposto àquilo que se deveria esperar da mais alta autoridade da terra, ou seja, do Sucessor do Príncipe dos Apóstolos.
No caso em apreço, quando afirmar, de forma pasmosa, que a ‘diversidade’ [sic!] em matéria de religião constitui uma riqueza, Francisco faz eco àquilo que, em sem número de círculos do ‘progressismo’ católico, é hoje subentendido por 'Igreja': uma promíscua ONU DAS RELIGIÕES.
De modo escandaloso, portanto, o atual pontificado — tragédia ímpar com a qual se defrontam os católicos zelosos de nossa Santa Religião —, ora de um modo, ora de outro, concorre para confundir e abalar o que resta de princípios católicos em legiões de espíritos desavisados e confusos.    

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Em face desse quadro apocalíptico, cumpre indagar: quem ainda é católico na Igreja Católica? Noutros termos, quem ainda entende a Religião Católica, o “ser católico”, em consonância com a tradição bimilenar da Igreja?
A ninguém será dado responder com precisão a essa pergunta, entretanto crucial para o desenrolar do século XXI. É uma incógnita que percorre continentes e consciências.
De líquido e certo, que se pode esperar?
Faz quase cem anos, em Fátima, Nossa Senhora prognosticou a vitória de Seu Coração Imaculado. A Mãe de Deus, Medianeira universal de todas as graças, é incapaz de lograr a humanidade.
Antes desse desfecho triunfal de Maria, que gigantescos desafios nos aguardam?
São Bernardo aponta-nos o caminho seguro: “ Se Ela te sustenta, não cairás; se Ela te protege, nadas terás a temer; se Ela te conduz, não te cansarás, se Ela te é favorável, alcançarás o fim.
E assim verificarás, por tua própria experiência, com quanta razão foi dito: ‘E o nome da Virgem era Maria’”. (cf. Louvores da Virgem Maria, Super missus, 2ª homilia, 17 - apud Pierre Aubron SJ, L'oeuvre mariale de Saint Bernard, Editions du Cerf, Paris, Les Cahiers de la Vierge, nº 13-14, março de 1936, pp. 68-69).
Estrela do Mar, rogai por nós!

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

QUE PENSAR DO MOTU PROPRIO DE FRANCISCO SOBRE A ‘SIMPLIFICAÇÃO’ DOS PROCESSOS DE NULIDADE MATRIMONIAL?


HAVERÁ ALGUÉM TÃO INGÊNUO E SIMPLÓRIO QUE NÃO SEJA CAPAZ DE DISCERNIR QUE, soltando-se ainda mais as amarras dos(já tão frouxos) liames matrimoniais— mediante uma PERIGOSA 'simplificação' e 'aceleração' dos processos —, TAL INCOMPREENSÍVEL AÇODAMENTO SÓ TENDERÁ A FAVORECER A PROLIFERAÇÃO AD INFINITUM DE CONTROVERSAS ‘DECLARAÇÕES DE NULIDADE’?



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TEXTO REFORMULADO, COM RETIFICAÇÕES E ACRÉSCIMOS




RAPHAEL DE LA TRINITÉ


É certo que GRANDE PARTE DOS QUE CONTRAEM MATRIMÔNIO, FAZEM-NO SEM CONHECER DEVIDAMENTE O QUE ESTÃO REALIZANDO.

Entretanto, pergunta-se: a que se deve essa gravíssima lacuna?
PRECISAMENTE ao fato de que, depois do Vaticano II, O CLERO DEIXOU DE ENSINAR TODA A VERDADE A RESPEITO DO SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO, COMO, ALIÁS, TAMBÉM DE VÁRIOS OUTROS PONTOS DA FÉ E DA MORAL.



‘Foram difundidas verdadeiras heresias, no campo dogmático e moral, criando dúvidas, confusões e rebeliões (...) [caminha-se para um] cristianismo sociológico, sem dogmas definidos e sem moral objetiva"(João Paulo II, L' Osservatore Romano, 7-2-81).


A fé se estabelecia sobre certezas. Abalando-as, semeou-se a perplexidade.
Esta, por sua vez, nutriu-se da ambiguidade, das contemporizações, das negações e dos subterfúgios, nos casos em que não houve manifesta distorção dos princípios basilares de nossa santa Religião.

Vejamos em que termos o Papa Bento XVI retrata, de forma bem sugestiva, essa ruína do ensinamento católico, após a hecatombe pós-conciliar: “OS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DA FÉ, QUE NO PASSADO TODA CRIANÇA SABIA, SÃO CADA VEZ MENOS CONHECIDOS” (Alocução da quinta-feira santa, 5 de abril de 2012). Mais recentemente, o Cardeal Burke afirmou, em sentido análogo: “NÃO COMBATEMOS ADEQUADAMENTE OS ERROS MODERNOS, PORQUE NÃO NOS FOI ENSINADA A FÉ CATÓLICA (…). UMA FALÊNCIA DA CATEQUESE, OU SEJA, DA CATEQUESE (…) REALIZADA NOS ÚLTIMOS 50 ANOS” (http://www.ilfoglio.it/soloqui/19951; grifos nossos) [cumpre observar que a referência aos últimos cinquenta anos coincide exatamente com o período pós-conciliar].

O futuro Papa Bento XVI, que, em 1984, fez referência ao desastre do ensino catequético, reafirmou, em 2003, que nada mudara nesse ponto de importância capital (sem dúvida, capítulo decisivo do processo de “autodemolição” da Igreja, apontado em 1968 por Paulo VI).

Expondo a necessidade de ensinar [adequadamente] o catecismo, o então Cardeal Ratzinger reitera: “Embora sem intenção de condenar a ninguém, TORNA-SE PATENTE QUE A AUSÊNCIA DE CONHECIMENTOS EM MATÉRIA DE RELIGIÃO É HOJE UMA REALIDADE TREMENDA. BASTA FALAR COM AS NOVAS GERAÇÕES [PARA NOS DARMOS CONTA DISSO]. EVIDENTEMENTE, APÓS O CONCÍLIO NÃO CONSEGUIRAM TRANSMITIR CONCRETAMENTE O QUE ESTÁ CONTIDO NA FÉ CRISTÔ
(Cfr. “La Razón”, edicióndel 28 de mayo del 2003. www.conoze.com/doc.php?doc=1806; grifos nossos).

Numa visão global sobre a devastação operada no período pós-conciliar, o mesmo Papa Bento XVI, quando ainda Cardeal Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, teve estas significativas palavras:

"Os resultados que se seguiram ao Concílio parecem cruelmente opostos às expectativas de todos, a começar do papa João XXIII e depois de Paulo VI [...] Os Papas e os Padres conciliares esperavam uma nova unidade católica e, pelo contrário, se caminhou para uma dissensão que — para usar as palavras de Paulo VI — pareceu passar da autocrítica à autodemolição. ESPERAVA-SE UM NOVO ENTUSIASMO E, EM LUGAR DELE, ACABOU-SE COM DEMASIADA FREQUÊNCIA NO TÉDIO E NO DESÂNIMO. ESPERAVA-SE UM SALTO PARA A FRENTE E, EM VEZ DISSO, ENCONTRAMO-NOS ANTE UM PROCESSO DE DECADÊNCIA PROGRESSIVA”
(Cfr. Vittorio Messori, “A coloquioconilcardinaleRatzinger, Rapportosulla fede”, EdizioniPaoline, Milano, 1985, pp. 27-28; grifos nossos).



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O papel do católico militante


Perante esse quadro de formidável e insanável crise, o que fazer?

Diante disso, não pode o fiel calar-se, segundo ensina Dom Guéranger: "Quando o pastor se transforma em lobo, é ao rebanho que, em primeiro lugar, cabe defender-se. Normalmente, sem dúvida, a doutrina desce dos Bispos para o povo fiel, e os súditos, no domínio da Fé, não devem julgar seus chefes. Mas HÁ, NO TESOURO DA REVELAÇÃO, PONTOS ESSENCIAIS, QUE TODO CRISTÃO, EM VISTA DE SEU PRÓPRIO TÍTULO DE CRISTÃO, NECESSARIAMENTE CONHECE E OBRIGATORIAMENTE HÁ DE DEFENDER. O PRINCÍPIO NÃO MUDA, QUER SE TRATE DE CRENÇA OU PROCEDIMENTO, DE MORAL OU DE DOGMA. [...]. OS VERDADEIROS FIÉIS SÃO OS HOMENS QUE EXTRAEM DE SEU BATISMO, EM TAIS CIRCUNSTÂNCIAS, A INSPIRAÇÃO DE UMA LINHA DE CONDUTA; NÃO OS PUSILÂNIMES" (12).
(D. ProsperGuéranger, “L'annéeliturgique, Le temps de laSeptuagésime, fête de Saint Cyrille d’Alexandrie”, p. 321; grifos nossos).

Ouçamos, neste particular, ainda uma vez, as esclarecedoras palavras do Papa Emérito, Bento XVI, quando ainda Cardeal: "A IGREJA PÓS-CONCILIAR TORNOU-SE UM GRANDE ESTALEIRO. MAS É UM ESTALEIRO DO QUAL SE PERDEU O PROJETO E TODOS CONTINUAM A CONSTRUIR SEGUNDO O SEU GOSTO”.(Card. Joseph RATZINGER, Rapportosulla Fede, Entrevistado por Vittorio Messori, EdizioniPaoline, Milão, 1985, pp. 27-28; destaques e negrito nossos).

A indagação é evidente: PODE HAVER CONFISSÃO DE MAIS ROTUNDO FRACASSO?


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O ‘estaleiro’ da Igreja pós-conciliar


Será essa a mais recente novidade do ‘estaleiro’ da Igreja pós-conciliar — ou seja, ‘facilitar’ a declaração de ‘nulidade matrimonial’?

Não há como, em sã consciência, escapar ao trágico paralelo: há cinco séculos, Lutero investiu contra erros e abusos existentes em profusão no Episcopado e na Cúria Romana. Alegava, então, o heresiarca que havia abusos na Igreja, sendo, pois, imprescindível suprimi-los. De fato, porém, o que fez Lutero?

Desferiu golpe contra a Igreja, atribuindo todo o mal à instituição do papado, contra a qual se rebelou. Os abusos não passaram de pretexto para a sua sedição monstruosa.


Nos dias atuais, como Francisco pretende sanar erros e abusos que desfiguram o matrimônio católico? 

Removendo, em tese, óbices, delongas e etapas que dificultam o rápido reconhecimento de que, em muitos casos, não houve casamento. Em suma, supostos ou reais erros e abusos. Contudo, qual o clima reinante na Igreja atual?

DISSEMINA-SE O ERRO DE QUE A FÉ SE BASEIA EM UM SENTIMENTO INTERIOR. Era, por exemplo, o que já propugnava Maurice Blondel, filósofo "católico" que aderiu ao modernismo, heresia condenada por São Pio X, na Pascendi, no início do século 20. SENDO ASSIM, AO INVÉS DA CATEQUESE TRADICIONAL, O QUE IMPORTA É ATENDER ÀS ASPIRAÇÕES PSICOLÓGICAS DO HOMEM MODERNO. De fato, quantos são hoje os que falam na vida sobrenatural ou na necessidade de mortificar as paixões? Pelo contrário, a ênfase é na felicidade já, aqui, e a todo preço. Os grandes doutores da Igreja — Santo Tomás, Santo Agostinho, São João da Cruz, Santa Teresa de Ávila, Santo Afonso de Ligório —, na mente de muitos católicos neomodernistas, foram substituídos por JUNG, FREUD, SCHELLER, HUSSERL (AUTORES NÃO CATÓLICOS E, EM GRANDE MEDIDA, MILITANTEMENTE ANTICATÓLICOS), ALÉM DE NOÇÕES CORRIQUEIRAS TIRADAS DO CAMPO DO MARKETING, OU DA PSICOLOGIA APLICADA, ETC... A ISSO MUITOS DENOMINAM ‘PISCOLOGISMO’.
Alguém, em sã consciência, pode ser levado a crer que muitos não entendam o Motu Proprio como um sinal verde para que o critério supracitado passe a servir, quase oficialmente, como baliza NO SENTIDO DE AFIRMAR QUE ESTES OU AQUELES,‘NÃO GOZANDO DE CERTAS CONDIÇÕES PSICOLÓGICAS’, TERIAM CONTRAÍDO NÚPCIAS ILEGITIMAMENTE? 


‘A história é mestra da vida’

Aqui vai o paralelo: HÁ MUITO QUE RECEAR que, após algum tempo de aplicação do Motu Proprio do Papa Francisco sobre ‘nulidade matrimonial’, nos deparemos, em presença do matrimônio, com situação semelhante àdo processo desencadeado por Lutero contra a Igreja, em consequência de sua insurreição.

Noutros termos, assim como Lutero ensejou a proliferação de seitas que se entrechocavam, também não é nada improvável que o que resta do matrimônio católico acabe em frangalhos, cada qual com sua ‘concepção’ particular de matrimônio.

Objetivamente falando, o resultado prático bem pode não sermuito diverso. Noutros termos, há certas iniciativas que, vendo o mal só pela rama, agravam-lhe a profundidade e extensão.

Lutero afirmava: há abusos sem fim na Cúria Romana — papas que causam indizíveis escândalos; péssimo comportamento de eclesiásticos muito bem colocados no Vaticano, e assim por diante.
O que fazer, diante disso?


Um Papa destemido


Ao ver que o edifício eclesiástico apresentava graves rachaduras, pura e simplesmente, Lutero resolveu lançar mão da picareta, em seu intento sacrílego de derrubar a construção divina...
Pouco tempo depois da revolta luterana, houve um Papa -- Adriano VI – que, entretanto, declarou:(...) “não é de espantar que a enfermidade se tenha propagado da cabeça aos membros, DESDE O PAPA ATÉ AOS PRELADOS.NÓS TODOS, PRELADOS E ECLESIÁSTICOS, NOS AFASTAMOS DO CAMINHO RETO, E JÁ HÁ MUITO NÃO HÁ UM QUE PRATIQUE O BEM... (...) E ACONTECERÁ QUE, ASSIM COMO A ENFERMIDADE POR AQUI COMEÇOU, TAMBÉM POR AQUI COMECE A SAÚDE (...)”.

Um documento memorável, nesse sentido, foi a instrução do Papa Adriano VI (1522-1523), lida pelo Núncio pontifício Francisco Chieregati aos Príncipes alemães reunidos em dieta, em Nuremberg, em 3 de janeiro de 1523.

Transcreve largos trechos desse documento o historiador austríaco Ludwig von Pastor, em sua obra célebre "Geschichte der papste" – História dos Papas (LUDOVICO PASTOR, Historia de los Papas, Editorial Gustavo Gili, Barcelona, 1952, tomo IV, vol. IX, pp. 107 a 109 / Imprimase: El Vicario General José Palmarolla, por mandato de SuSeñoria, L.c. Salvador Carreras, Pbro., Strio, Canc.)

Leiamos alguns trechos a seguir, para que se conheça melhor o contexto de tal terrível declaração: "Deves (dirige-se o Pontífice ao Núncio Chieregati) dizer também que RECONHECEMOS LIVREMENTE HAVER DEUS PERMITIDO ESTA PERSEGUIÇÃO À SUA IGREJA, POR CAUSA DOS PECADOS DOS HOMENS, E ESPECIALMENTE DOS SACERDOTES E PRELADOS, pois de certo não se encurtou a mão do Senhor para nos salvar; mas são nossos pecados que nos afastam dEle, de modo que não nos ouve as súplicas. A SAGRADA ESCRITURA ANUNCIA CLARAMENTE QUE OS PECADOS DO POVO TÊM ORIGEM NOS PECADOS DOS SACERDOTES, E POR ISTO, COMO OBSERVA (SÃO JOÃO) CRISÓSTOMO, NOSSO DIVINO SALVADOR, QUANDO QUIS PURIFICAR A ENFERMA CIDADE DE JERUSALÉM, DIRIGIU-SE EM PRIMEIRO LUGAR AO TEMPLO, PARA REPREENDER ANTES DE TUDO OS PECADOS DOS SACERDOTES; E NISSO IMITOU O BOM MÉDICO, QUE CURA A DOENÇA EM SUA RAIZ. BEM SABEMOS QUE, MESMO NESTA SANTA SÉ, HA JÁ ALGUNS ANOS VEM OCORRENDO, MUITAS COISAS DIGNAS DE REPREENSÃO; ABUSOU-SE DAS COISAS ECLESIÁSTICAS, QUEBRANTAM-SE OS PRECEITOS, CHEGOU-SE A TUDO PERVERTER. ASSIM, NÃO É DE ESPANTAR QUE A ENFERMIDADE SE TENHA PROPAGADO DA CABEÇA AOS MEMBROS, DESDE O PAPA ATÉ AOS PRELADOS.NÓS TODOS, PRELADOS E ECLESIÁSTICOS, NOS AFASTAMOS DO CAMINHO RETO, E JÁ HÁ MUITO NÃO HÁ UM QUE PRATIQUE O BEM. Por isso devemos todos glorificar a Deus e nos humilharmos em sua presença; que cada um de nós considere por que caiu, e se julgue a si mesmo, ao invés de esperar a justiça de Deus no dia de sua ira. Por isto (igualmente) deves tu prometer em nosso nome que estamos resolvidos a empregar toda a diligência a fim de que, em primeiro lugar, seja reformada a Corte romana, da qual talvez se tenham originado todos esses danos; E ACONTECERÁ QUE, ASSIM COMO A ENFERMIDADE POR AQUI COMEÇOU, TAMBÉM POR AQUI COMECE A SAÚDE. Nós nos consideramos tanto mais obrigados a levar isto a bom termo, quanto todo o mundo deseja semelhante reforma. Porém não procuramos nossa dignidade pontifícia (o Papado que Adriano VI exerce), e de mais bom grado teríamos terminado na solidão da vida privada nossos dias; de bom grado teríamos recusado a tiara, e só o temor de Deus, a legitimidade da eleição e o perigo de um cisma nos determinaram a aceitar o supremo munus pastoral. Em consequência, queremos exercê-lo não por ambição de mando, nem para enriquecer nossos parentes, mas para restituir à Santa Igreja, Esposa de Deus, sua antiga formosura, prestar auxilio aos oprimidos, elevar os varões sábios e virtuosos, e genericamente fazer tudo o que compete a um bom pastor e verdadeiro sucessor de São Pedro (...)”.

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O divórcio ‘católico’



Aqui está bem expresso o papel precípuo de um Pontífice: é o de CONSTRUIR, EDIFICAR, SANAR O MAL PELA RAIZ, EM CONTINUIDADE COM O QUE VEM SENDO FEITO HÁ DOIS MIL ANOS.

Ora, está em que condições a família, nos dias atuais?

Praticamente exangue. Não será, pois, com ‘simplificações’ e nebulosas casuísticas que o vínculo matrimonial sairá reforçado de toda essa refrega. As rachaduras nessa sagrada instituição são por demais visíveis para que não se tema que uma machadada afoita ponha abaixo o que ainda resta da fidelidade conjugal em âmbitos católicos.

Ou, por acaso, HAVERÁ ALGUÉM TÃO INGÊNUO E SIMPLÓRIO QUE NÃO SEJA CAPAZ DE DISCERNIR QUE, soltando-se ainda mais as amarras dos(já tão frouxos) liames matrimoniais— mediante uma PERIGOSA 'simplificação' e 'aceleração' dos processos —, TAL INCOMPREENSÍVEL AÇODAMENTO SÓ TENDERÁ AFAVORECER A PROLIFERAÇÃO AD INFINITUM DE CONTROVERSAS ‘DECLARAÇÕES DE NULIDADE’?

Com efeito, embora tanto João Paulo II como Bento XVI, em seus discursos à Rota Romana (1987 e 2009, respectivamente, Discurso de João Paulo II à Rota Romana em 1987 (em italiano)

Discurso de Bento XVI à Rota Romana em 2009
http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2009/january/documents/hf_ben-xvi_spe_20090129_rota-romana_po.html)), tenham advertido contra A TENTAÇÃO DE CONSIDERAR COMO IMPEDIMENTO (PORTANTO, COMO CASOS PASSÍVEIS DE ‘DECLARAÇÃO DE NULIDADE’) QUALQUER DIFICULDADE DE CUNHO PSICOLÓGICO (O QUE LEVARIA A CONSIDERAR NULO PRATICAMENTE TODO CASAMENTO),ninguém ousaria negar a existência de uma forte tendência nesse sentido. Não raro, sobretudo nos EUA, propaga-se ser essa uma variante do que se entende por divórcio, isto é, uma espécie de divórcio ‘católico’!

Numa palavra, por via dos fatos, deslizando-se, precipício abaixo, chega-se a aprovar aquilo que, de si, é moralmente inaceitável.


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A ‘fumaça’ de Satanás, que asfixia...


Há mais de quatro décadas, o Papa Paulo VI advertiu que a fumaça de Satanás penetrara na Igreja (Cfr. Alocução Resistite fortes in fide, 29 de junho de 1972, in Insegnamentidi Paolo VI, Poliglotta Vaticana, vol. 10, pp. 707-709). Disse também que a Igreja estava passando por um misterioso processo de autodemolição (Cfr. Alocução aos estudantes do Pontifício Seminário Lombardo, de 7 de dezembro de 1968, in Insegnamentidi Paolo VI, vol. 6, p. 1188).

Essa fumaça de Satanás também espalhou o relativismo intelectual e moral por toda a Igreja, com reflexos em toda a sociedade. Aliás, até hoje, alguém fez um esforço de análise sério, vigoroso, decisivo, meticuloso, para nos livrar da asfixia dessa fumaça satânica e dos abalos sísmicos no sacrossanto edifício da Igreja?

Eis o fundo de quadro que deve nortear todo e qualquer esforço para o reerguimento de nossa vida religiosa e moral. A fortiori, do matrimônio monogâmico e indissolúvel, que estertora.



A única ‘reforma’ cabível: ensinar a verdade inteira


Não cabe alegar, como escusa:o povo está mal informado ou mal preparado acerca do matrimônio. Logo, as recentes medidas do papa Francisco se fazem necessárias como um mal menor.

NESTE PARTICULAR, SENDO REFERIDA IGNORÂNCIA O GRANDE MAL A SER COMBATIDO — e isso é inconteste —, debele-se a causa: QUE SEJA RESTABELECIDO POR INTEIRO O ENSINAMENTO CATÓLICO SOBRE O MATRIMÔNIO, DE TODAS AS CÁTEDRAS, DE TODOS OS PÚLPITOS, EM TODOS OS LIVROS, POR TODOS OS MEIOS CABÍVEIS.

Com efeito, a missão do Clero — ensina São Pio X — é governar, ensinar e santificar. Dado que o povo fiel nãovem recebendo o pão da verdade, de quem a responsabilidade maior?

AS PALAVRAS DE BENTO XVI FALAM POR SI.

O mal campeia desde cima, a começar pelos Papas, passando por todos os graus intermediários da Hierarquia, até as últimas ramificações.

Só por aí faz sentido começar a retificação dos desastrados rumos.


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Daqui, todavia, provém uma palavra de alento: trata-se de algo que NUNCA NOS DEMOVERÁ DA CERTEZA DA VITÓRIA.

Por maiores que sejam as crises com que se defronte a Igreja, é preciso perseverar na Fé, crendo firmemente na PROMESSA DE NOSSO SENHOR, DE QUE AS PORTAS DO INFERNO NÃO PREVALECERÃO CONTRA A IGREJA: “ET PORTAE INFERI NON PRAEVALEBUNT ADVERSUS EAM” (MT 18, 16).


Em honra da Natividade da Bemaventura Virgem Maria Mãe de Deus

2015
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