quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas! — 6 de Novembro: O sofrimento do purgatório (Parte VII)



Nota do blogue:  Acompanhe esse Especial AQUI.

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!
30 meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas
por Monsenhor Ascânio Brandão

Livro de 1948 - 243 pags
Casa da U.P.C.
Pouso Alegre




6 de Novembro

O SOFRIMENTO DO PURGATÓRIO

Sofrimento terrível


Exclamava Jó, o profeta, e com ele repetem as santas almas do purgatório: Miseremini mei! Saltem vos amici mei, quia manus Domini tetigit me! — Tende compaixão de mim! Tende compaixão de mim! Ao menos vós que sois meus amigos, porque a mão de Deus me feriu!

Sim, a Justiça de Deus fere as benditas almas para as purificar e santificar e torná-las dignas do esplendor da glória celeste e da visão de Deus. E que sofrimentos incríveis padecem elas! Que fogo devorador! Fogo que acrisola o ouro e prepara os eleitos para a visão divina, a glória eterna!

Sofrer é a condição das almas do purgatório. Pertencem elas à Igreja padecente. Desde que o pe­cado entrou no mundo, só pela cruz Jesus nos salvou, e só pelo fogo do sofrimento chegamos ao céu. O purgatório foi chamado o oitavo sacramento do fogo. Sacramento da misericórdia na outra vida.

As almas do purgatório, diz o Pe. Faber, estão num estado de sofrimento que a nada se pode com­parar e nem se pode fazer uma idéia.

Segundo Santo Tomás e Santo Agostinho, quan­to ao sofrimento, as penas do purgatório são análo­gas às do inferno.

Santa Catarina de Genova, após uma visão do purgatório, exclama: Que coisa terrível é o purgatório! Confesso que nada posso dizer e nem conceber que se aproxime sequer da realidade. Vejo que as penas que lá padecem as almas são tão dolorosas como as penas do inferno[1].

O purgatório tem penas, diz a autoridade de San­to Tomás de Aquino, penas que ultrapassam a todos os sofrimentos deste mundo[2].

É o mais horroroso de todos os martírios.

E como não hão de clamar as benditas almas das profundezas do abismo das chamas expiadoras: Mise­remini mei! Miseremini mei! — Tende compaixão de mim!

Segundo os teólogos e autores abalizados, as al­mas do purgatório sofrem tanto que não há na lin­guagem humana o que possa traduzir os tormentos terríveis que padecem. Santa Catarina de Genova, chamada a teóloga do purgatório, a quem Nosso Se­nhor revelou o sofrimento da expiação dos justos, diz ser impossível traduzir na linguagem humana e o nosso entendimento não pode conceber tal sofrimento. É preciso uma graça e uma iluminação especial de Deus para compreender estas coisas, dizia a Santa.

“É peor que todos os martírios”, disse o Padre Faber.

“As penas do purgatório são passageiras, não são eternas, diz São Gregório Magno, mas creio que são mais terríveis e insuportáveis que todos os males desta vida”.

Domingos Soto escreveu: “Se o homem tivesse de suportar os tormentos do purgatório, a dor o ma­taria num instante. A alma imortal por sua nature­za torna-se mais forte pela separação do corpo or­gânico e por isto tem capacidade para tanto sofri­mento”.

Há dois sofrimentos, duas penas principais no purgatório: a pena do dano ou separação de Deus, e a pena do sentido, tormento do fogo.


A pena do dano

Que é a pena do dano que padecem as almas do purgatório?

É a que sofrem por se verem privadas da visão de Deus no céu. A visão intuitiva que consiste na fe­licidade de ver a Deus como é, segundo a palavra de São Paulo: videbimus eum sicuti est. Não ver a Deus, cuja beleza soberana e cuja bondade elas compreen­dem agora de modo tão claro e sentem ser Ele o So­berano Bem, único desejável e a suprema Beleza, única que pode encantar uma alma!

Pois separada do Soberano Bem, a alma sente um horrível martírio mais insuportável do que todos os tormentos que possa padecer e até do fogo do pur­gatório em que se acha.

Santo Tomás de Aquino tratando da pena do da­no, diz ser mais insuportável, maior e mais terrível que a pena do sentido. Não ver a Deus, não possuir este Deus, único encanto da pobre alma que já não tem mais nada que a possa seduzir ou enganar, e dei­xá-la esquecida da Suprema Felicidade! Aqui neste mundo a tibieza, o apego à terra e nossa fraqueza, fazem com que muitas vezes nos esqueçamos de Deus e vivamos sem sentir e nem imaginar sequer o que seja estar separado de Deus. Há quem não possa sequer imaginar o que possa haver de sofrimento nesta ausência de Deus que é a pena do dano. Porém, ai! Quando a alma separada deste corpo mortal sentir a necessidade de voar para Deus, de possuir a Deus, atraída pelo Bem Infinito, sedenta da posse de Deus e da Eternidade, então há de sentir, há de perceber quanto é doloroso e horrível estar um minuto que seja separada do Bem Soberano, separada de Deus! É a horrível pena do dano.

“Sentir um ímpeto de ir para Deus sem o poder satisfazer, isto, diz Santa Catarina de Genova, é o maior sofrimento que se possa imaginar, é propria­mente o purgatório. Este estado é um estado de mor­te, uma angústia inenarrável”[3].

A Liturgia da Igreja chama-o com razão de mor­te: Libera eas a morte...

Sabeis o que é o suplício de quem está sufocado e não pode respirar? Que horror! A alma está como sufocada, não pode respirar o que é a vida e razão de ser, Deus, o Infinito, o Eterno, o Paraíso! A pobre alma no purgatório se precipita no tormento e no fogo, quer se purificar, suspira pelo Bem Eterno, so­fre e sofre, mas deseja mais sofrimento para que che­gue logo a hora de contemplar o seu Deus, a Eterna Beleza que o atormenta naquelas chamas da expiação!

Tem-se visto neste mundo, escreveu Mons. Bougaud,[4] afeições tão profundas, almas que se ama­vam e não puderam suportar a separação e morreram de dor. Que não será no purgatório? Podemos dizer que si Deus por um milagre da sua Onipotência não sustentasse as almas do purgatório, elas ficariam ani­quiladas de dor longe daquele Deus que amam apai­xonadamente. Si compreendêssemos melhor como é horrível a separação de Deus! Si como os Santos experimentássemos as provações da vida mística, o tor­mento de se sentir ausente de Deus, saberíamos ava­liar o que é e o que faz sofrer esta terrível pena do dano!


O fogo do purgatório

Além do sofrimento da pena do dano ou da pri­vação da vista de Deus, da posse da visão beatífica, a Igreja nada definiu sobre a natureza das outras pe­nas do purgatório. O Concilio de Florença diz que as almas são privadas temporariamente da visão beatí­fica e são purificadas de toda mancha por penas expiadoras e purificadoras. Dentre estas penas está a dos sentidos, e comumente concordam quase todos os autores, se trata da pena do fogo. Há fogo no pur­gatório e um fogo terrível criado pela Justiça Divina para purificação dos justos, para acrisolar o ouro das almas. Os teólogos em geral e em sentença comum, afirmam que se trata de um fogo verdadeiro e não metafórico. Fogo que queima mil vezes mais que o fogo da terra, que comparado a ele não é mais do que o de uma pintura para a realidade. Os Santos Padres e os Teólogos escolásticos admitem o fogo real. Como pode um fogo material atormentar a alma que é espiritual? É um mistério. Todavia, não temos um outro mistério que é o da alma espiritual agir sobre o cor­po material? Por que a Justiça de Deus não poderia fazer com que o fogo material agisse sobre a alma espiritual? Diz claramente Santo Tomás de Aquino: “No purgatório há dois sofrimentos: a pena do dano, que consiste no retardamento da visão de Deus, e a pena dos sentidos, castigo proveniente de um fogo material”[5].

A questão do fogo do purgatório foi muito dis­cutida no século IV. Santo Agostinho conclui pela existência do fogo material. No século XIII Santo Tomás segue a opinião de Santo Agostinho. A pena do fogo! Como é terrível! Não é menor em inten­sidade do que o fogo do inferno. Este fogo, diz São Gregório Magno, instrumento da Divina Justiça, faz sofrer mais tormentos e muito mais cruéis do que tudo quanto Sofreram os mártires nos suplícios ini­magináveis.

As maiores dores são as que afetam a alma, co­menta Santo Tomás. Toda a sensibilidade do corpo vem da alma. O que não será uma dor que vem ferir diretamente a alma? Pois o fogo material, fogo misterioso, dotado de um poder extraordinário, pela Jus­tiça Divina, atinge diretamente a alma e a fere dolo­rosamente. Que fogo, meu Deus! Que castigo tre­mendo! Como sofrem as pobres almas nesta forna­lha abrasadora! Tantas revelações particulares nos mostram o fogo do purgatório, fogo real, fogo ter­rível. Verdadeiro fogo.

Porque discutir quando a unanimidade quase dos Doutores e Santos Padres e tantos teólogos seguros nos falam com uma eloquência tão impressionante da realidade do fogo do purgatório? São Boaventura escreve: “O fogo do purgatório é um fogo material que atormenta a alma dos justos que não fizeram penitência neste mundo. Fogo! Esta palavra faz tre­mer. Já exclamava Isaias: quem dentre vós poderá habitar em meio de um fogo devorador? Façamos penitência agora, aliviemos o fogo de nosso purgatório. É terrível o fogo que nos espera!


Exemplo

Uma aparição


Não podemos saber neste mundo com certeza e nem é necessário saber como é e o que é o fogo do purgatório. O que sabemos é que a Sagrada Escri­tura muitas vezes nos fala do fogo para nos dar a entender que seremos castigados e expiaremos nos­sas faltas nos rigores da Divina Justiça para nos pu­rificarmos e sermos dignos de entrar no céu. Se 0 fogo desta vida criado por Deus para nos servir já é terrível, que não será o fogo da Divina Justiça?

O fato seguinte é narrado pelo piedoso Monse­nhor De Segur.

Em 1870, diz o piedoso prelado, eu vi e toquei em Foligno, perto de Assis, na Itália, uma destas ter­ríveis provas de fogo pelas quais as almas do purga­tório, por permissão de Deus, às vezes atestam que o fogo do purgatório é um fogo real. Em 1859 mor­reu de uma apoplexia fulminante a boa Irmã Teresa Gesta, que durante longos anos foi mestra de Novi­ças. Doze dias depois, em 16 de Novembro, uma Ir­mã, chamada Ana Felícia, subia à rouparia quando ouviu um angustioso e triste gemido: — Jesus! Ma­ria! Que é isto? Exclamou assustada a Irmã. Não havia acabado de falar, quando ouviu uma queixa: Ai! Meu Deus! Meu Deus! Quanto sofro! Irmã Ana reconheceu logo a voz da defunta Irmã Teresa. Um cheiro sufocante de fumaça encheu toda a rouparia e percebeu-se o vulto da Irmã Teresa que se dirigia para a porta e tocava na mesma com a mão direita, dizendo: Aqui fica a prova da misericórdia de Deus. E na madeira da porta ficou carbonizada e impressa a mão da defunta, que desapareceu. Irmã Ana pôs-se a gritar numa grande excitação nervosa. A comu­nidade correu para acudi-la e sentia-se um cheiro sufocante de fumaça. A Irmã conta o que se passa e reconhecem todas, na mão pequenina gravada no por­tal, a mão da Irmã Teresa, que se distinguia muito pela sua pequenez e delicadeza. As Irmãs, comovi­das, vão ao coro e oram pela defunta. Passam a noi­te em oração e penitências em sufrágio da saudosa mestra de noviças. No dia seguinte oferecem a Santa Comunhão por aquela alma. Mais um dia se passa e Irmã Ana Felícia ouve e vê depois Irmã Teresa radiante de glória toda bela, que lhe diz com doce voz: “Vou para a glória! Sede fortes e corajosas na luta, fortes em carregar a cruz!” E desapareceu numa luz brilhantíssima.

Este fato portentoso é narrado por Monsenhor de Segur, que visitou o Convento das Terceiras Regu­lares Franciscanas daquela cidade, foi submetido a um rigoroso processo ordenado pelo Bispo de Foligmno em 23 de Novembro de 1859.




[1] Purgatório, o. VIII.
[2] Sum. Theol. supp. quaestio, c. X, art. 3.
[3] Traité du Part., II.
[4] Le Christianisme et lês temps presents. — Tomo V, c. XIV.
[5] Suppl. quaest. c, art. 3.


Tenhamos Compaixão das Pobres Almas! — 5 de Novembro: O Purgatório, a razão e o coração (Parte VI)



Nota do blogue:  Acompanhe esse Especial AQUI.

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!
30 meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas
por Monsenhor Ascânio Brandão

Livro de 1948 - 243 pags
Casa da U.P.C.
Pouso Alegre






5 de Novembro

O PURGATÓRIO, A RAZÃO E O CORAÇÃO

Razões do purgatório


Qual a razão de ser do purgatório? É o pecado. É o obstáculo que impede a alma de entrar no céu sem estar purificada e digna da visão beatífica. O pecado mortal leva ao inferno. Separa para sempre a alma de Deus. Entretanto, veio o perdão pela infi­nita misericórdia e o pecador arrependido muda de vida e não mais volta aos seus desvarios. Todavia, não fez a devida penitência, não reparou o seu crime neste mundo por uma penitência. Fica-lhe ainda uma dívida a pagar à Divina Justiça. O pobre pecador cul­pado de muitas faltas veniais passa desta para outra vida, vai prestar contas a Deus. Aquele Deus de to­do santidade, o Santo por excelência, a Justiça mes­ma, não quer condenar a quem já perdoou, não há de perder quem, embora manchado de leves culpas, de muitas imperfeições, não é todavia inimigo de Deus. Que há de fazer? Levá-lo para o céu, onde nada pode entrar manchado? Impossível! Seria ter uma noção errada da santidade e da infinita pureza de Deus, admitir este absurdo. Condenar às penas eternas quem, embora tivesse pecado, não chegou à culpa mortal e não se separou do Senhor porque não per­deu o estado de graça? Então para onde irá a alma assim manchada e não de todo santa e perfeita para o céu? Eis a razão a nos dizer: há de existir uma purificação além desta vida entre as duas eternida­des, um purgatório que nos livre do inferno e que seja o vestíbulo do paraíso, uma expiação necessária para as almas. Pode-se ir para o purgatório por três motivos: primeira, pelos pecados veniais não remi­dos ou perdoados neste mundo; segundo, pelas incli­nações viciosas deixadas em nossa alma pelo hábito do pecado; terceiro, pela pena temporal devida a todo pecado mortal ou venial cometido depois do batis­mo e não expiado ou expiado insuficientemente nes­ta vida.

Depois da morte não há mais reparação nem pe­nitência nem mérito. Havemos de pagar a dívida de nossos pecados até o último ceitil, como diz o Evan­gelho.

Ora, é necessário o purgatório. É um dogma muito conforme à razão e bom senso. A existência do purgatório, dizia o grande Conde De Maistre, se apoia na natureza de Deus e na natureza do homem. Digo — na natureza de Deus. Deus é Santidade, Jus­tiça e Caridade. Como Santo, Deus não pode admitir união entre a sua pureza infinita e nossas manchas. Como Deus, é bom, não pode deixar perecer para sem­pre a obra das suas mãos que lhe implora o perdão. Daí a necessidade de um lugar de expiação. A razão do purgatório também se baseia na natureza do ho­mem. Está na natureza humana procurar se purifi­car para ter um alívio, porque a falta coloca o homem em desarmonia com seu fim último. Ora, a alma não pode se purificar sem sofrimento, sem penas. O purgatório é esta expiação, esta purificação que a alma procura. Para fazer cessar este desacordo entre ela e Deus e torná-la apta para gozar da felicidade de Deus sem as manchas de suas faltas. Eis aí como é racional e que harmonia no dogma do purgatório!


Razões de sentimento

Vemos tantos entes queridos que deixaram esta vida, é verdade, em boas disposições, mas como eram culpados de certas faltas e não haviam feito uma pe­nitência devida, receamos às vezes pela sua salva­ção. Todavia nos diz o coração que não podiam se perder. Eram bons, tinham qualidades apreciáveis, foram talvez caridosos e fizeram algum bem nesta vida. Admitir que estejam no céu depois de tantas faltas e defeitos e ausência de penitência, não o po­demos. Dizer que estejam condenados, é muito duro, e, apesar de tudo, como poderiam ter se perdido al­mas tão caridosas e boas e que fizeram algum bem neste mundo? A idéia do purgatório se impõe neces­sariamente à nossa razão antes de se impor à nos­sa fé.

Escreve o Pe. Faber: “O purgatório explica os enigmas deste mundo. Dá solução a uma multidão de dificuldades. Em face deste sistema, que podería­mos chamar o oitavo e terrível Sacramento do fogo que atinge as almas, às quais os sete sacramentos não deram uma pureza perfeita. O purgatório é uma invenção de Deus para multiplicar os frutos da Pai­xão de nosso Salvador e que Ele estabeleceu preven­do a grande multidão de homens que deveriam mor­rer no amor de Deus, mas num amor imperfeito. Não é uma continuação além-túmulo das misericór­dias prodigalizadas no leito de morte? Isto nos es­clarece tanto e nos faz supor que muitos católicos se salvam, principalmente os que viveram neste mun­do na pobreza, no sofrimento e nas provações”.

O dogma do purgatório também encontra fun­damentos e raízes no coração humano, escreveu Mons. Bougaud. É um intermediário entre a Justiça e a Mi­sericórdia, como o divino auxiliar do amor. Tirai o purgatório, e a justiça seria terrível. Seria inexo­rável. Felizmente, esta aí o purgatório. O Amor in­finito o criou. O purgatório não serve apenas para temperar e satisfazer a justiça. Serve também para dilatar a misericórdia. Serve para explicar a mise­ricórdia de Deus que se contenta, na hora da morte, com um pouco de arrependimento do pecador.

Não é pois consolador pensar na existência do purgatório, pelo qual se poderão salvar tantas almas? A impiedade e a heresia, negando o dogma da expiação além-túmulo, se põem contra a razão. O purgató­rio, diz ainda o célebre Mons. Tiamer Toth, é a melhor resposta aos erros da reencarnação. Há um so­frimento purificador depois desta vida. O cristia­nismo ensinou isto muito antes que as filosofias ne­bulosas do Oriente semeassem na alma do homem moderno o erro da reencarnação, que não tem a seu favor argumento de espécie alguma. Também nós pregamos que há purificação além-túmulo! Esta pu­rificação se faz na justiça de Deus e com o fim de salvar uma alma por toda eternidade e torná-la dig­na da Pureza Infinita, que é Deus. O purgatório é um combate aos erros do espiritismo, porque nos manda orar e sufragar os mortos sem se preocupar em conversar com eles, na certeza de que estão nas Mãos da Divina Justiça e já não podem se comu­nicar com os vivos. Que dogma racional e de quantos erros e superstições nos livra!


Nossos mortos

Havemos de chorar nossos mortos e a religião não nos pode proibir as lágrimas tão justas, quando sentimos nosso coração ferido pelo golpe duro da sau­dade. Todavia, havemos de chorar cristãmente nos­sos defuntos queridos. É mister lembrar-se deles mais com orações e sufrágios do que com lágrimas esté­reis. O pensamento do purgatório é um consolo. Sa­bemos que podemos ainda auxiliar, valer e socorrer nossos entes queridos. É bem possível que padeçam no purgatório.

A religião de Nosso Senhor Jesus Cristo não proíbe que choremos os nossos mortos queridos. Pode­mos, pois, render a estes o tributo de nossas lágri­mas e de nossas saudades. Com esta pobre natureza, como ficarmos insensíveis ante a morte de um ente estremecido? Como nos custa ver arrebatados pela morte os entes com quem convivemos, nosso pai, nos­sa mãe, nosso filho, nosso irmão, nosso amigo!... A religião, se bem que nos ensine a ser fortes na dor e a meditar na Paixão de Jesus Cristo, não nos veda aquelas lágrimas e saudades. Ela não tem o estoicis­mo pagão, estúpido e antinatural. Pois Jesus não chorou na sepultura de Lázaro? Não choraram, na Paixão, Maria e Madalena e as Santas Mulheres? A religião nos permite chorar do mesmo modo os nos­sos mortos. Quer apenas que o façamos, não como os pagãos, desesperados e desiludidos, mas como quem tem esperança na vida eterna e crê na imortalidade. Choremos a separação dolorosa, mas com a doce es­perança de que, um dia, numa pátria melhor, onde não haverá nem luto, nem dor ou sofrimento de qual­quer espécie, nem separação, tornaremos a ver todos aqueles que amamos aqui na terra. Como essa esperança consola! O cristão não deve dizer com desespero, ante o cadáver gelado de um ente querido: — “Nunca mais te verei! Adeus para sempre!”. Não! Embora em pranto, suas palavras devem ser estas:

— “Até ao céu! Lá nos tornaremos a ver c seremos para sempre felizes!”.

O dogma do purgatório, tão em harmonia com nosso coração, nos diz que podemos ainda ajudar nos­sos mortos queridos para podermos dizer-lhes: até o céu!


Exemplo

A Bem-aventurada Ana Taigi e o purgatório

Deus lhe revelou muitas vezes a sorte das almas do purgatório. Ela pedia continuamente pelas pobres almas, num misterioso sol que sempre lhe aparecia, foi uma grande mística do século XIX.

Em 30 de Maio de 1920, S.S. Bento XV decla­rava Bem-aventurada a humilde e pobre mãe de fa­mília, que durante tanto tempo chamou a admiração de Roma e do mundo com tantos prodígios sobrena­turais. A Beata Ana Taigi, romana de nascimento, via todos os acontecimentos futuros e a sorte dos mortos.

Um homem, conhecido de Ana, morreu, e ela o viu nas chamas do purgatório, salvo do inferno pela Divina Misericórdia, porque socorreu um pobre que o importunava muito pedindo esmola. Viu um conde cuja vida se passou em delícias e divertimentos, mas que na hora da morte teve um grande arrependimen­to e se salvou, mas deveria sofrer no purgatório tor­mentos incríveis tanto tempo quanto passou neste mundo sem se preocupar com a penitência e com a salvação eterna.

Viu homens de grande virtude sofrendo porque se deixaram levar pela vaidade e amor próprio, mui­to apegados aos elogios e à amizade dos grandes da terra.

Um dia Nosso Senhor lhe disse: levanta-te e reza, meu Vigário na terra está na hora de vir me prestar contas. Ana sufragou a alma do Papa e depois o viu como um rubi ainda não de todo brilhante, pois lhe faltava se purificar mais.

Faleceu em Roma o Cardeal Dória, que deixou grande fortuna, e naturalmente celebraram-se por sua alma centenas de Missas. Foi revelado à Beata Ana Taigi que as Missas celebradas por alma do Car­deal eram aproveitadas para as almas dos pobrezinhos abandonados e que não tinham quem mandasse celebrar por eles.

Via-se assim a Divina Justiça que não olha a ri­queza nem as possibilidades dos ricos em arranjar sufrágios, com descuido às vezes neste mundo da ver­dadeira penitência.

Viu Ana no purgatório um sacerdote muito esti­mado por suas virtudes e sobretudo pelas brilhantes pregações que fazia e o tornavam admirados de todos. Sofria muito este pobre padre. Foi revelado à Beata que expiava a falta de procurar com muito empenho a fama de bom pregador e um pouco de vaidade ao pregar a palavra de Deus, sobretudo nas complacências com os elogios.

Viu dois religiosos muito santos no purgatório, em sofrimentos duros. Um deles expiava o seu apego ao próprio juízo e pouca submissão ao modo de ver de outros, e outro a dissipação, a falta de recolhi­mento e piedade no exercício do ministério sacerdotal.

Enfim, a Beata Ana trouxe com a sua bela e im­pressionante mensagem do sobrenatural no século XIX, muitas luzes sobre o purgatório e impressio­nantes lições da Justiça de Deus, e também não há dúvida, da Infinita Misericórdia que salva tantas al­mas pelas chamas expiadoras do purgatório.

‘Ouso dizer - a Igreja nunca esteve tão bem como hoje’ - Oficial da cúria - mais de 3000 religiosos deixam a vida consagrada a cada ano



Nota do Blog: A propósito dessa mesma matéria, vários leitores enviaram comentários ao site Fratres in Unum. Abaixo, recolhemos alguns comentários mais concludentes.
















*** * ***


A autodemolição do CVII já mostra que o caminho é sem volta.

A Igreja Católica tende a sobreviver e crescer cada vez mais dentro das comunidades eclesia dei, fora das estruturas “oficiais” do Vaticano.

Seminários modernos vazios ou ocupados por meia dúzia de homossexuais.
Seminários tradicionais lotados por verdadeiros fiéis instruídos e devotos.
O tempo mostrará o resultado.

1. Alcleir 
[COMENTÁRIO DE UM LEITOR]

***


1 em cada 4 padres deixa batina para casar

Um levantamento do Vaticano mostrou que, de 1964 (?) a 2004, 69 mil padres abandonaram a batina para se casar e, desse total, 16% “se arrependeram da decisão” e requisitaram o retorno ao sacerdócio.

Igreja Católica tem queda recorde e perde 465 fiéis por dia em uma década

  1. Alisson Oliveira 
[COMENTÁRIO DE UM LEITOR]

***


“A Igreja nunca esteve tão bem”. Ahã, tá!

Eis aí, na fria estatística os frutos da nova evangelização e dos novos métodos, eis aí a primavera pós-Concílio. Fizeram de tudo para se ter uma Igreja de rosto jovem, e o que vemos é uma Igreja que só tem a incerteza das dialéticas modernistas para oferecer e uma seriedade semelhante à dos adolescentes da “Malhação”. Com isso se pensa que vida em Cristo e consagrada é só um fim de semana animado que se ingressa “só pra curtir”. O catolicismo sério e tradicional dá frutos, não precisa nem de invenção ou reforma só de obediência e humildade a Cristo e à Fé de sempre.


  1. Guilima 
[COMENTÁRIO DE UM LEITOR]


*** * ***


‘Ouso dizer - a Igreja nunca esteve tão bem como hoje’ -  Oficial da cúria -  mais de 3000 religiosos deixam a vida consagrada a cada ano


Por Catholic Culture | Tradução: Fratres in Unum.com – O Secretário da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica afirmou, em uma conferência em 29 de outubro, que mais de 3000 religiosos e religiosas deixam a vida consagrada a cada ano.
No discurso — cujo excerto foi publicado em L’Osservatore Romano –, Dom José Rodríguez Carballo declarou que as estatísticas de sua Congregação, bem como as da Congregação para o Clero, indicam que nos últimos 5 anos, 2624 religiosos deixaram a vida consagrada anualmente. Quando se leva em consideração casos adicionais geridos pela Congregação para a Doutrina da Fé, o número supera 3000.
O prelado, que governou a Ordem dos Frades Menores de 2004 até a sua nomeação para a cúria em 2013, disse que a maioria dos casos ocorre em uma “idade relativamente jovem”. As causas, afirmou, incluem a “ausência de vida espiritual”, “a perda do sentido de comunidade” e a “perda de sentido de pertença à Igreja” — uma perda manifestada na divergência em relação ao ensinamento católico sobre “o sacerdócio feminino e a moralidade sexual”.
Outros casos incluem “problemas afetivos”, inclusive relações heterossexuais que prosseguem em casamentos e relações homossexuais, que são “mais claros em homens, mas também presentes, mais do que se imagina, entre mulheres”.
O mundo, continua o prelado, passa por profundas mudanças da modernidade à pós-modernidade — de pontos fixos de referência à incerteza, dúvida e insegurança. Em um mundo voltado para o mercado, “tudo é medido e avaliado conforme a utilidade e a lucratividade, inclusive pessoas”. É “um mundo onde tudo é suave”, onde “não há lugar para sacrifício nem renúncia”.
Em uma cultura de neo-individualismo e subjetivismo, acrescentou, “o indivíduo é a medida de tudo”, e as pessoas se sentem “únicas por excelência”.  ”O homem moderno fala demais”, mas “não pode comunicar com profundidade”.
A solução, disse, é uma atenção renovada à centralidade do Deus Uno e Trino na vida religiosa, que, por sua vez, “traz consigo o dom de si mesmo aos outros”. Deve haver uma clara ênfase na “natureza radical do Evangelho”, e não no “número de membros ou na manutenção das obras”.
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