A natureza não pode elevar-se sozinha; o sentimento religioso puramente natural não pode, de modo algum, levar o homem a Deus nem tirá-lo do pecado.
Esse sentimento nada vê; nada quer, nada pode contra o pecado. O sentimento religioso quando permanece em estado natural, é indiferente em matéria de religião. O sentimento religioso se acomoda a tudo, se arranja com tudo, se presta a tudo e não se entrega a nada.
- A Fé esclarece o espírito e o despoja do erro; levanta o homem caído, recoloca-o no caminho de Deus: a Fé põe as bases da obra da salvação, encaminha o homem para o bem.
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QUAL A DIFERENÇA ENTRE FÉ E SENTIMENTO RELIGIOSO?
A senhora leu com atenção minha carta anterior e
pede-me para que eu a ajude a compreender bem a diferença que há entre Fé e
sentimento religioso. A tarefa será fácil, desejo que meu trabalho lhe seja
útil.
Lembre-se das breves palavras do Pe. Lacordaire: A
Fé é a Fé.
O sentimento é assim o respeito que temos, como
criaturas, por nosso Pai que está no Céu e que, unicamente porque a nós criou,
olha-nos como filhos, dá-nos o pão de cada dia, a luz de seu sol, os frutos da
terra, a vida, a saúde, e mil outros bens igualmente da ordem natural.
O sentimento religioso, sendo natural ao homem,
encontra-se em todos os homens fiéis ou infiéis; pois todos têm esse fundo
comum de respeito a Deus, que algumas vezes se traduz por um ato religioso
fundado sobre a verdade, como entre os cristãos; outras vezes por um ato
religioso manchado de erros como entre os infiéis, os idólatras, etc..
Entre os povos, há alguns cujo sentimento religioso
é naturalmente muito profundo, por exemplo, os árabes.
Um árabe não faltará à prece da manhã, à do meio
dia e à da noite. Ao escutar o muezzin gritar do alto do minarete a
fórmula sagrada: La Allah, etc., imediatamente ele se põe a rezar,
esteja na companhia de quem quer que seja, no lugar que for, no meio de uma
praça ou no trabalho; quando chega a hora, ele reza. Por este mesmo sentimento
religioso, o árabe relaciona tudo à vontade de Deus; os acidentes da vida, a
saúde, a doença, mesmo a morte, ele relaciona com Deus e em todas as
circunstâncias ele repete: Deus é grande!
Eis o sentimento religioso em todo
seu poder.
Mas lembre-se que nossa natureza decaiu com Adão, e
uma natureza decaída só pode ter um sofrimento religioso também abatido pela
decadência. A natureza não pode elevar-se sozinha; o sentimento religioso puramente
natural não pode, de modo algum, levar o homem a Deus nem tirá-lo do pecado.
Com toda a religiosidade natural, este mesmo árabe
conservará todos os vícios que, infelizmente, são-lhe também naturais: ele será
vaidoso, mentiroso, ladrão; praticará, por exemplo, a hospitalidade, mas
sabendo por onde seu hóspede vai passar, mandará alguém para assaltá-lo, ou irá
ele mesmo fazer ao longe o que não faria estando em sua tenda. Por este traço
característico a senhora poderá reconhecer o sentimento natural; este
sentimento nada vê; nada quer, nada pode contra o pecado. O sentimento
religioso quando permanece em estado natural, é indiferente em matéria de
religião. O sentimento religioso se acomoda a tudo, se arranja com tudo, se
presta a tudo e não se entrega a nada. Perdão, pode até entregar-se à
maçonaria, ao menos quando os maçons reconhecem o Grande
Arquiteto, como dizem.
Tendo mostrado o primeiro quadro, chego ao segundo.
- A Fé não é um sentimento, a Fé não é da ordem
natural.
- A Fé é um assentimento de nosso espírito à
verdade revelada por Deus. É um bem que não deriva de nossa natureza, mas lhe é
dado para curá-la.
- A Fé é essencialmente purificante. Fidepurificans
corda – Purificando, pela Fé, os corações(At.
15,9).
- A Fé esclarece o espírito e o despoja do erro;
levanta o homem caído, recoloca-o no caminho de Deus: a Fé põe as bases da obra
da salvação, encaminha o homem para o bem.
- A Fé é essencialmente fortificante. Confortusfide, diz
São Paulo (Rom. 4,20). E ainda, Fidestas:se estás em pé, é pela Fé
(id. 11,20).
- A Fé é vivificante: o justo vive da Fé,
diz São Paulo (Gal. 3,11)
- Se o sentimento religioso nos deixa frios em
relação a Nosso senhor Jesus Cristo, já não é assim com a Fé; pela Fé, Nosso
Senhor Jesus Cristo se torna presente, vivo em nossos corações: Christumhabitare
per fidem in cordibusvestris – Cristo habite pela
Fé em vossos corações. (Ef. 3,17).
- A Fé é o princípio de um mundo novo, regenerado
em Jesus Cristo Nosso Senhor; a Fé é a luz que anuncia os esplendores da
eternidade onde veremos Deus; a Fé é a mãe da santa Esperança e da divina
Caridade.
- A Fé é, sobre a terra, a fonte pura de todas as
verdadeiras consolações. É ainda São Paulo quem nos diz: Simulconsolari
per eamquaeinvicem est, fidemvestramatquemeam - Consolemo-nos juntos
na Fé que nos é comum, a vós e a mim (Rom. 1,12).
Quando se fala da Fé, São Paulo é um mestre
incomparável. Dele é que tomo uma última palavra para terminar esta
carta: Salutaeosqui nos amant in fide - Saudai os que nos amam
na Fé.
Digamos juntos: Credo.
Cartas sobre a Fé Pe. Emmanuel-André.
Fonte: Católicos de Ribeirão Preto
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