Raphael de la Trinité
PROVA CABAL DE QUE AS MANIFESTAÇÕES CONTARAM COM A CONIVÊNCIA DAS AUTORIDADES (IN)COMPETENTES - BALÃO DE ENSAIO DE UMA BADERNA PRÉ-REVOLUCIONÁRIA? - 'SURTOS' PREMEDITADOS DE MOTINS QUE FACILMENTE DEGENERAM EM INSURREIÇÃO SOCIAL.
"As vontades débeis traduzem-se em palavras; as vontades fortes em atos". – GUSTAVE LE BON
Há quase cento e vinte anos, ou mais precisamente em 1895, o ensaísta e psicólogo francês Gustave Le Bon escrevia o interessantíssimo trabalho “A Psicologia da Multidão”.
Le Bon sustenta que, no meio de uma multidão, o homem regressa a um como que estado mental primitivo. Assim sendo, certa pessoa, que, no dia-a-dia, costuma ser comedida e culta, torna-se capaz, em determinadas circunstâncias, de abdicar de todo poder de censura e autocontrole, passando a agir como um bárbaro, que se entrega à prática dos mais espantosos atos de crueldade. Isso ocorre por efeito de contágio, como se fosse um rastilho de pólvora: subjugado pela massa, o indivíduo facilmente perde as suas faculdades críticas, deixando-se conduzir, mais ou menos cegamente, pelos demais.
Há uma espécie de lapso da individualidade, no concerto das multidões. Sob o jugo de fortes emoções e do exemplo frenético de outros, pessoas comuns perdem o domínio de si, e, despojando-se momentaneamente dos padrões normais de conduta, podem agir como celerados, mais ou menos à maneira de autômatos.
Insuflada a revolta, os líderes de tais manifestações, desde que bem escolados, conduzem as massas na direção que desejam.
A História acha-se repleta de episódios dessa natureza, que demandariam alentados volumes.
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A insolência dos baderneiros impôs a milhões de paulistanos outro dia de cão
As autoridades encarregadas de preservar a ordem pública nem precisam recorrer a especialistas em inteligência para saber onde e quando vai começar mais um dia de cão. O próprio Movimento Passe Livre faz questão de divulgar o lugar e a hora do início de outra manifestação destinada a reduzir a uma terra sem lei a maior metrópole da América Latina. Agentes infiltrados e sherloques fantasiados de estudante são coisa de antigamente. Foram aposentados por um punhado de páginas na internet.
Até os botões das fardas dos PMs sabiam que nesta quinta-feira a erupção de violência e vandalismo começaria às 5 da tarde, em frente do Teatro Municipal. Até as botas dos policiais sabiam que os revolucionários que vivem de mesada tentariam, de novo, invocar a norma constitucional que trata da liberdade de manifestação para revogar por tempo indeterminado o Estado Democrático de Direito. Se tivesse chegado antes, a tropa poderia impedir a gestação do tumulto. Como entrou em ação depois de consumado o parto, deu no que deu.
Caso estivessem efetivamente interessados apenas na redução das tarifas do transporte urbano, caso a multidão de alistados fosse de bom tamanho, os comandantes da legião dos 20 centavos se contentariam com o espaço diante do Teatro Municipal ou algo parecido. A Praça Tahir foi suficiente para os que sonhavam com a primavera egípcia. O problema é que, por sofrer de raquitismo congênito, a caricatura brasileira precisa zanzar pelas ruas. Pouco numerosa, recorre ao manual da violência para simular a musculatura que jamais terá.
Pela quarta vez em pouco mais de uma semana, a democracia amargou uma derrota humilhante. Não foi vencida pela força dos atacantes, insista-se. Perdeu para a tibieza dos que juraram defendê-la.
Fonte: Coluna do Augusto Nunes
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