Raphael de la Trinité
Ensinamento invariável da Igreja
O Concílio de Trento definiu com
precisão que Nosso Senhor Jesus Cristo está presente por inteiro e em cada uma
das partes do Santíssimo Sacramento.
O mesmo Concílio ensinou
infalivelmente: “Se alguém nega que, no venerável sacramento da Eucaristia, o
Cristo todo está contido em cada espécie, e em cada parte de cada espécie,
quando separados, seja anátema”.
Nosso Senhor está presente até na
menor partícula da hóstia consagrada, assim como na menor gota do vinho
consagrado.
Assim, a reverência que temos para
com o Santíssimo Sacramento exige que tomemos todas as precauções para que
nenhuma partícula da hóstia – por menor que seja – esteja exposta ao risco de
profanação, sacrilégio, ou forma de adoração indevida.
Por esse motivo, Santo Tomás de
Aquino ensinou que “por reverência a este Sacramento, ninguém o toque, sem que
seja consagrado”. Deixa bem claro, desse modo, que não só os vasos sagrados do
altar são consagrados para este propósito santo, mas que também as mãos do
sacerdote são consagradas para tocar este Sacramento. Afirma, pois, o Doutro
Angélico que não é lícito a mais ninguém tocá-lo, a não ser para salvá-lo da
profanação. (E S. Thomas de Aquino, Summa, III, Q. 82. Art. 3)
Essa suma reverência ao Santíssimo
Sacramento, e até mesmo em relação às menores partículas, está visivelmente presente
na Missa tradicional, a qual continha rubricas rígidas e expressas sobre este
ponto:
1) A partir do momento em que o
sacerdote pronuncia as palavras da Consagração sobre a Sagrada Hóstia, o padre conserva
o indicador e o polegar juntos em cada mão. Se ele eleva o cálice, ou vira as
páginas do missal, ou abre o tabernáculo, o polegar e o dedo indicador de cada
mão estão fechados. Nada toque o polegar e o indicador, exceto a Sagrada
Hóstia;
2) Durante a Sagrada Comunhão, o
acólito segura a patena sob o queixo daqueles que recebem a comunhão, de modo
que não haja risco de que alguma partícula possa cair no chão. Esta patena,
após a distribuição da Comunhão, é limpa (por assim dizer) no cálice, de modo
que se fique acobertado do risco de que nela possa ter ficado qualquer
fragmento;
3) Em seguida, o padre raspa o
corporal (pequeno pano de linho usado no altar) com a patena, e passa-o no
cálice, de modo que,na eventualidade de que alguma minúscula partícula ainda
reste, seja a mesma recolhida e consumida pelo sacerdote;
4) Imediatamente após, o sacerdote
lava o polegar e o indicador sobre o cálice com água e vinho, e esta água e
vinho são consumidos com reverência, para assegurar que a menor partícula da
Hóstia Sagrada não seja suscetível a profanação.
"Eu sou o pão da vida. Os vossos
pais comeram o maná do deserto e morreram. Este é o pão que desce do céu, a fim
de que quem o comer não morrera" (Gv6:48).
A Igreja lançou raízes profundas nos
povos e é inegável que a civilização cristã deitou benfazeja influência na
Terra inteira.
No momento mesmo em que seria traído,
no ápice de sua aparente derrota, Nosso Senhor Jesus Cristo obtinha a vitória,
pois ali o Homem-Deus nos cumulou com o Sacramento do divino amor: “Isto é o
meu corpo”, “Este é o cálice do meu sangue”.
Para enriquecer o culto sagrado e
preservar o Sacramento da Eucaristia de abusos, profanações e sacrilégios,
surgiram costumes, leis e normas. O que transparece em torno de tais normas?
O respeito, a compostura, o espírito
de piedade e devoção, certo modo de agir e de ser que atestam a nossa fé e o
nosso amor na Presença Real de Nosso Senhor na Hóstia consagrada. Tudo feito
com precisão, dignidade e elevação, pois se trata do culto ao verdadeiro Deus.
Exemplos de culto eucarístico são as genuflexões, os ricos e adornados
sacrários, os ostensórios, os cálices, as ambulas e as tecas para levar a
comunhão aos enfermos. Até mesmo as patenas, utilizadas para evitar a queda de
hóstias e de seus fragmentos no momento da distribuição da comunhão as fiéis,
segundo mencionamos há pouco.
Aspecto mais belo e tocante do culto
divino é a bênção solene do Santíssimo Sacramento. Doze velas são acesas no
altar, seis de cada lado do sacrário. A sagrada Hóstia é colocada num rico
ostensório. O sacerdote usa paramentos solenes, como a sobrepeliz, a estola, o
pluvial e o véu umeral. Ele sustenta o ostensório e traça grande cruz sobre os
fiéis ajoelhados, e depois reza e canta hinos de adoração. Enquanto isso, um
acólito com o turíbulo incensa o Santíssimo Sacramento, enchendo o ambiente com
um aroma perfumado que acaba por dominar suavemente todo o recinto. Aquela
fumaça branca e odorífica se impregna na igreja inteira, podendo ser sentida
até fora do edifício da Igreja.
*** * ***
“Hoje os leigos podem manusear os
objetos sacros, inclusive o ostensório...” – sofisma grosseiro...
Quadro de desolação e de ruína
Infelizmente, com o clima que hoje
reina na Igreja — em que sacrilégios, profanações e sem número de escândalos
grassam impunes — sobreleva, não poucas vezes, à vista da comunhão na mão e da
atuação dos chamados 'ministros' leigos da Eucaristia, uma como que paródia da
Verdade Divina, relativamente a Jesus-Hóstia. Sim, quantos haverá que ainda
creem, com firme certeza, de que Nosso Senhor está verdadeiramente presente na
Santíssima Eucaristia, e até mesmo em cada minúsculo fragmento?
Destarte, em razão do descaso e
'simplificações' com que é tratado o Santíssimo Sacramento (o que avulta, numa
infinidade de locais), é uma comédia burlesca, que tantas vezes vem à
tona, mediante inaceitável menos cabo de todos os recursos usados pela Igreja,
durante séculos, a fim de salvaguardar a Hóstia do menor risco de profanação,
indignidade, irreverência ou inconveniência, mesmo por parte dos fieis.
Nenhuma autoridade da Igreja, nem
mesmo a mais elevada, pode dispensar um católico do dever de preservar TODA a
reverência devida a Jesus Sacramentado. Qualquer que seja a autoridade da
Igreja, no momento em que utiliza o seu poder para diminuir, seja como for, o
resguardo e cuidado extremos no culto devido ao Santíssimo Sacramento, age em
sentido contrário ao ensinamento da Igreja, não devendo, portanto, ser obedecida.
Com efeito, 45 anos atrás, a Comunhão
na mão constituía algo impensável em igrejas católicas, salvo em casos muito
especiais.
Por ventura, Deus muda?
O dever de prestar o culto devido ao
Divino Sacramento, revestido de toda a reverência e cuidado, é impostergável,
imutável e imprescritível.
De fato, uma das facetas mais
assombrosas da 'autodemolição' da Igreja (a que se referiu Paulo VI, já em
1968) assume uma clareza protuberante nesses clamorosos abusos.
O “Anjo da Eucaristia”
As aparições de Nossa Senhora em
Fátima (1917) foram precedidas por três Aparições que Lúcia, Francisco e
Jacinta tiveram do Anjo de Portugal, ou da Paz. Por meio dos colóquios com o
Anjo, a Providência predispunha as crianças para o momento em que Nossa Senhora
lhes falaria.
Uma dessas Aparições foi descrita
pela Irmã Lúcia nos seguintes termos: “Depois de termos merendado, combinamos
ir rezar na gruta, que ficava do outro lado do monte. […]. Logo que aí chegamos,
de joelhos, com os rostos em terra, começamos a repetir a oração do Anjo: ‘Meu
Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos!’ Etc. Não sei quantas vezes tínhamos
repetido esta oração, quando vemos que sobre nós brilha uma luz desconhecida.
Erguemo-nos para ver o que se passava, e vemos o Anjo tendo na mão esquerda um
cálice, sobre o qual está suspensa uma Hóstia, da qual caem algumas gotas de
Sangue dentro do cálice.
Deixando o cálice e a Hóstia
suspensos no ar, o Anjo prostrou-se em terra junto às crianças e fê-las repetir
três vezes a oração: ‘Santíssima Trindade, Pai, Filho, Espírito Santo,
ofereço-Vos o Preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo,
presente em todos os sacrários da Terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios
e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos de seu
Santíssimo Coração [de Jesus] e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a
conversão dos pobres pecadores’. Depois, levantando-se, deu a Hóstia a
Lúcia, e o cálice, deu-o a beber a Francisco e Jacinta, dizendo: ‘Tomai e bebei
o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens
ingratos! Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus’”.
As palavras do Anjo produziram
profunda impressão nas três crianças, as quais, a partir de então, começaram a
expiar pelos pecadores por meio de sacrifícios e de uma assídua vida de oração.
*** * ***
À vista disso, pergunta-se: será este
o estado de espírito reinante na imensa maioria dos templos católicos de hoje, em
todo o mundo?
Contraste aterrador!
Que restou da verdadeira piedade
eucarística, na atmosfera empestada de um vírus pior do que o HIV, que é o
vírus do modernismo, o qual, décadas a fio, corrói a vida das almas, na Igreja?
O apóstolo da Eucaristia e o dever de
reparação
A esse respeito, leiamos os ensinamentos
de São Pedro Julião Eymard, fundador da Congregação do Santíssimo Sacramento.
Saibamos repetir, junto com ele: Salve, ó Maria, de quem nasceu
Jesus-Hóstia!
Palavras do grande santo: “(...) Não
foi Ela quem nos deu a Eucaristia? Foi o seu consentimento à Encarnação do
Verbo no seu seio que iniciou o grande mistério de reparação para com Deus e de
união conosco que Jesus realizou durante sua vida mortal e continua agora no
Santíssimo Sacramento.
Sem Maria não poderíamos ir a Jesus,
porque Ela O possui em seu coração: aí é que Ele encontra as suas delícias, e
todos que quiserem conhecer as virtudes íntimas de Jesus, seu amor recôndito e
privilegiado, devem procurá-los no Coração de Maria; os que amam esta boa Mãe
encontram Jesus em seu coração tão puro(...).
“Mas, se pertencemos ao Filho, também
pertencemos à Mãe; se adoramos o Filho, devemos honrar a Mãe, e somos
obrigados, para entrar plenamente na graça de nossa vocação, e nela permanecer,
a prestar um culto especial à Santíssima Virgem como Nossa Senhora do
Santíssimo Sacramento (...)”.
[Excertos do livro: Mês de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento Meditações
extraídas dos escritos do Bem-Aventurado(*) Pedro Julião Eymard, o fundador da
Congregação do Santíssimo Sacramento, 1946
(*) Sua canonização se deu em dezembro de 1962]
Em face dos escândalos perpetrados
nos ambientes católicos, saibamos reagir, com horror e indignação sem medidas, começando
porclamar ao Céu: Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, rogai por nós.
Fazei cessar, Senhor, a “abominação
da desolação” (Mateus 24:15) que penetrou até no altar santo!
Usque quo, Domine? Até quando, Senhor?
Exsurge, Domine, quare obdormis?
Erguei-vos, Senhor: por que pareceis
dormir?
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