Temos a honra de apresentar o sermão proferido pelo Reverendíssimo Padre Anderson Batista da Silva na paróquia de San Juan Bautista, em El Paso, Texas, EUA, no Oitavo Domingo depois de Pentecostes - 18 de julho de 2010, por ocasião do centenário da atualíssima Carta Encíclica Notre Charge Apostolique, de São Pio X, acerca dos erros do movimento Sillon. Trata-se de uma transcrição literal para auxiliar a compreensão do vídeo, sem revisão do autor e na qual o estilo oral é mantido. Agradecemos a uma generosa alma o trabalho de tradução e transcrição.
Caros irmãos, desta vez, falarei somente em espanhol.
Neste ano comemoramos o centenário de
um documento do papa São Pio X de uma grande importância. O documento se
chama Nostre Charge Apostolique, uma carta que o Santo Padre
escreveu, em 25 de agosto de 1910, no dia de São Luiz Rei de França, aos bispos
franceses. E de que falava aquela carta? Falava de um movimento católico
chamado Sillon, que começou elogiado pelo papa, começou a atrair muitos
católicos, mas que terminou por desvirtuar-se. O Santo Padre e os bispos
começaram a chamar a atenção para a correção, mas o Sillon não quis atender à
chamada de correção do Santo Padre e continuou com as suas doutrinas. Então,
São Pio X, com a santidade e a força que sempre tinha, escreveu esse documento
refutando os erros do Sillon e falando da verdadeira ação dos cristãos no
mundo.
Nosso Senhor, no Evangelho de hoje,
disse que os filhos das Trevas são mais sagazes em seus negócios do que os filhos
da Luz.
São Pio X fala disso e nos ensina
como sermos sagazes. Qual é o fim de nosso apostolado? O papa começa assim o
seu documento:
“Nosso cargo apostólico nos impõe a obrigação de zelar pela pureza da
fé, pela integridade da disciplina católica e de preservar os fiéis dos perigos
do erro e do mal, principalmente quando o erro e o mal se apresentam com uma
linguagem atraente que, encobrindo a ambiguidade das ideias e o equívoco das
expressões com o ardor do sentimento e a sonoridade das palavras, pode inflamar
os corações no amor de coisas sedutoras, mas funestas”.
Aqui termina a citação do Santo
Padre.
É interessante que o Santo Padre fala
no início qual é o encargo dos pastores e bispos. Qual é o seu primeiro
encargo, como pastor supremo da Igreja, qual é o encargo dos próprios pastores
da Igreja?
Em primeiro lugar, zelar pela pureza
da fé.
Os pastores em primeiro lugar devem
zelar pela pureza da fé, pela integridade da disciplina católica e preservar os
fiéis do perigo do erro e do mal.
Hoje em dia, infelizmente, parece que
o tema da liberdade, da solidariedade, da imigração, da água, da reforma
agrária e da economia chama mais a atenção dos pastores, do que zelar pela
pureza da fé, pela integridade da disciplina católica e pela preservação dos
fiéis dos perigos do erro e do mal.
“Há perigos, há perigos para os
fiéis” e São Pio X disse isso há cem anos. O que diria se ele estivesse
aqui hoje conosco?
Mas São Pio X disse: “principalmente
quando esse perigo e esse erro se apresentam em linguagem atraente”. O erro
é mais perigoso quando se apresenta com linguagem atraente. É óbvio! O veneno
se coloca na parte mais gostosa do bolo. O veneno muitas vezes tem essa
apresentação atraente, cobrindo a ambiguidade das ideias. Os erros e as
heresias sempre são contraditórios, mas cobrem a ambiguidade das ideias com
essas palavras atraentes, e a sonoridade das palavras – bonitas para serem
ditas e escutadas. São Pio X disse que podem inflamar os corações; [quem]
escutar a doutrina errônea, com esse equívoco, se põe como que com os corações
inflamados. E é esta a verdade; isso é inflamar os corações no amor de coisas
sedutoras, mas funestas.
As questões sobrenaturais são as que
estão a cargo dos pastores. Qual é o fim da Igreja? A Igreja não é um
Greenpeace. Não é uma ONG que tem que tratar da política e das coisas da
sociedade. A Igreja é o Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo e seu fim é
dar glória e Deus e salvar as almas. Então, quais são os deveres dos pastores
da Igreja? Cuidar da ortodoxia da Fé, cuidar do ensino reto da moral, zelar por
uma esmerada celebração eucarística, cuidar da vida espiritual das almas. Mas,
infelizmente, não é o que comumente vemos.
O Santo Padre, o Papa Bento XVI, reuniu os bispos do Sul do Brasil,
minha nação, ao final do ano passado, e disse essas palavras: “Os fiéis se
sentem defraudados e desiludidos” quando veem os seus pastores cederem,
falando de temas como a igualdade, a liberdade, a economia, a imigração e etc.,
mas deixam de falar de temas sobrenaturais e de verdades fundamentais da fé, “como
o pecado, a graça, a vida teologal — de fé, esperança e caridade
–, dos novíssimos” — da morte, do juízo e do inferno e do paraíso.
Infelizmente, a tentativa de fazer de
Nosso Senhor Jesus Cristo um messias político, libertador e da Igreja um
simples instrumento para realizar, na história, sua utopia, está muito
difundida.
Muitos pensam na Igreja como uma
instituição para ajudar a viver bem aqui na Terra, para viver bem aqui, para se
sentir muito à vontade aqui, mas jamais para o Céu. Para lá a porta é estreita
e larga a porta que leva à perdição. [Evita-se] falar do pecado que leva à
morte, falar do juízo de Deus, ou seja, que ao final da vida — como disse São
João da Cruz — seremos julgados pelo amor, seremos julgados por tudo o que
fizermos.
Hoje em dia, a confusão é tão grande
que a podemos notar em muitos círculos, em muitos lugares. Aqui me lembro de
um slogan de um instituto de formação cristã, católico,
próximo daqui, que dizia que lá se preparava a Igreja do futuro e que lá se
ensinava um cristianismo adulto, onde não se pregava o Evangelho, se vivia o
Evangelho. Que confusão de ideias! Que confusão! Eles têm um cristianismo
adulto. O que a Igreja ensinou durante 2000 anos talvez, para eles, seja coisa
de crianças.
Porém, talvez eles também tenham esquecido o que Nosso Senhor disse no
Evangelho de hoje: “Às crianças pertence o Reino dos Céus [...]”.
Eles diziam: “Aqui não se prega o Evangelho, se vive”, como se a Igreja
nunca tivesse vivido o Evangelho, como se agora se descobrisse uma vivência
nova, um vinho novo…
A confusão também se estende quando
olhamos a “abertura” que se tem em relação a todos, a caridade para com todos;
o amor…
Se eu vou a uma igreja protestante e
lá rezo com eles, dirão: “Vejam! Vejam! Como o padre é ecumênico! Que bom!”.
Se estiver com os muçulmanos, dizem:
“Vejam! Como ele dialoga com as religiões, que bom! Porque Deus está em todos
os lugares”.
Se estiver com os maçons, dizem:
“Vejam! O padre é aberto ao mundo, dialoga com todos!”.
Porém, se eu chego perto da
Fraternidade São Pio X, dizem: “Ó! Excomungado! Cismático!” Que errado!”.
Há algo errado com o pensamento
dessas pessoas.
Se estiver com o mundo, com as outras religiões, e dialogar, [as pessoas
dizem]: “Ele é um homem de diálogo, está com todos, aberto a todos”.
Mas se assumo a Tradição e amo esta Missa que estou celebrando — a missa
que os santos celebraram por séculos e séculos da Igreja –, sou rechaçado como
um louco, um fanático, um fundamentalista, um excomungado, um cismático.
Porém, esses adjetivos não aparecem em relação aos muçulmanos, que não
creem em Nosso Senhor Jesus Cristo; aos maçons, que rejeitam a Igreja; aos
protestantes, que não aceitam a Nossa Santíssima Mãe, [nem] a presença
eucarística de Nosso Senhor.
Para eles não! Excomunhão não, caridade!
Diz São Pio X que o erro se apresenta
como algo bom. O Sillon, este movimento que São Pio X condena em sua
encíclica Notre Charge Apostolique, tentava ser uma atuação
política e social dos católicos na vida social e política, mas sem relação com
a fé. O que é um absurdo, porque é impossível falar da realidade sem falar de
Deus. É impossível querer construir um mundo sem Deus.
Já tentaram fazê-lo – Babel. A cidade
construída contra Deus e sem Deus é um absurdo. O pensamento liberal [é o] de
querer ser católico, mas que, ao entrar nas universidades, nos escritórios ou
no congresso, [deve-se] retirar, como a um chapéu [velho] a fé católica. Mas ao
tratar de leis, de ensinos, de comunicações, da política, da sociedade, não,
nada da Palavra de Deus nem da fé.
É tão impossível referir-se à
realidade fazendo abstração de Deus, como é impossível ver sem a luz.
Disse São Pio X em sua Encíclica: “Eles,
do Sillon, formaram um conceito especial da dignidade humana, da liberdade, da
justiça e da fraternidade e, para justificar os seus sonhos sociais, apelam ao
Evangelho interpretado à sua própria maneira e, o que é mais grave, a um Cristo
desfigurado e diminuído”.
De modo que eles teriam o Evangelho
verdadeiro. A Igreja, não. Eles é que conheceriam como era Nosso Senhor, mas a
Igreja não.
E, por tudo isso, há que se fazerem
muitas coisas. Deve-se mudar a missa, porque a missa é uma ceia; [dizem:] Nosso
Senhor celebrava desta maneira, com todos sentados na sala de jantar… Como
se a Igreja estivesse equivocada por vinte séculos.
Continua São Pio X: “Bem sabemos
que se jactam de levantar a dignidade humana e a condição, há muito
menosprezada, das classes trabalhadoras [...] seu sonho consiste em trocar
as bases naturais e tradicionais e prometer uma cidade futura edificada sobre
outros princípios, que ousam declarar mais fecundos, mais benfazejos do que os
princípios sobre os quais repousa a atual sociedade cristã”.
Eles (diz São Pio X) ensinam que a
doutrina tradicional da Igreja não se equipara a sua versão da fé, porque eles
irão construir um mundo novo. Um novus ordo. Um novus ordo
saeculorum. Um novo mundo… sem Deus, sem a Igreja, sem a Graça dos
Sacramentos.
Com firmeza, responde São Pio X: “Não,
Veneráveis Irmãos – e é preciso reconhecer energicamente nestes tempos de
anarquia social e intelectual –, a cidade não será construída de outra forma
senão aquela pela qual Deus a construiu; a sociedade não se edificará se a
Igreja não lhe lançar as bases e não dirigir os trabalhos; não, a civilização
não mais está para ser inventada nem a cidade nova para ser construída nas
nuvens. Ela existiu e existe; é a civilização cristã, é a cidade católica.
Trata-se apenas de instaurá-la e restaurá-la sem cessar sobre seus fundamentos
naturais e divinos contra os ataques sempre renovados da utopia malsã, da
rebeldia e da impiedade: omnia instaurare in Christo”.
Tudo restaurar em Nosso Senhor Jesus
Cristo. Este era o lema pontifício de São Pio X. Que podemos concluir dessas
palavras? Em primeiro lugar, é muito interessante notar: São Pio X disse que em
sua época, ou seja, há um século, havia uma anarquia social e intelectual. Que
diria ele se visse o que ocorre hoje com a Santa Igreja de Deus, em toda parte?
O papa Bento XVI disse, no ano passado, dia 09 de Janeiro, em uma carta
aos Bispos: a fé está, em muitas partes da Terra, como a chama de uma vela – a
ponto de apagar-se.
Creio que São Pio X não diria, como
outros chegaram a dizer, que as alegrias e as esperanças do mundo moderno são
as mesmas alegrias e esperanças da Igreja. Não! Porque a alegria do mundo é a
alegria do pecado, é a alegria do carnaval, é a alegria de uma festa que se
esquece de Deus, é a alegria das virgens néscias que se olvidam de colocar o
azeite em suas lâmpadas.
E as esperanças do mundo moderno são
as de um mundo novo sem Deus, sem necessidade da Igreja – aqui mesmo estaria o
Céu.
Nossas alegrias e nossas esperanças
são sobrenaturais; as alegrias que temos vêm da Cruz de Nosso Senhor Jesus
Cristo. E nossa esperança é o Céu e não a terra.
São Pio X também recorda que o modelo
de civilização não está para ser inventado; não há que se construir
um novus ordo saeculorum, como
quer a Maçonaria, mas se deve restaurar a civilização cristã.
E, que civilização é esta? A
civilização [é aquela] que tem a Igreja Católica como sua alma; a mesma
civilização que fez surgir a universidade, o hospital, grandes obras de arte e
arquitetura; viu surgir a caridade e viu homens e mulheres dar toda sua vida
somente para a glória de Deus. A civilização que fez surgir uma das obras
arquitetônicas mais belas, senão a mais bela da história da humanidade: a
Catedral Gótica, apontando ao Céu e dando Glória a Deus pela perfeição da pedra
trabalhada e pelo vitral, que fazia com que o homem pudesse olhar
para o sol; sinal da própria Igreja que nos permite olhar para Deus ao olhar
para Ela.
Mas São Pio X também recorda que “há
ataques sempre renovados da utopia malsã, da rebeldia e da impiedade”. Sempre
há novos ataques a esta Civilização Cristã.
Pio XII, certa vez, falou-nos de três
ataques à Civilização Cristã; e a partir deles podemos falar, talvez, de um
quarto ataque.
O primeiro ataque à Civilização
Cristã foi o grito, no século XVI, “Cristo Sim, a Igreja Não!”. O
protestantismo: não necessito da Igreja para ter fé em Cristo. Não necessito da
Igreja, não necessito do Papa, não necessito dos sacerdotes para perdoar os
pecados, não necessito dos sacerdotes para celebrar a missa [é o que eles
dizem].
O segundo grande ataque veio com a
Revolução Francesa e o ideal maçônico: “Deus sim, Cristo Não!”; todas as
religiões seriam boas porque, no fundo, nenhuma delas poderia falar de Deus
verdadeiramente. Deus não poderia revelar-se; Deus seria um grande arquiteto do
Universo ou um grande relojoeiro. Não haveria religião verdadeira, mas uma vaga
ideia de Deus.
Depois, o ateísmo do século XIX, com
sua força no comunismo, dizia: “Deus morreu. O homem é Deus!”.
Durante o século vinte, vimos,
também, surgir uma confusão ainda maior: o homem já não é [exclusivamente]
Deus. O panteísmo, a New Age e tantas coisas mais têm dito: a
natureza é Deus; o homem é um a mais na natureza.
Meus irmãos, esse pensamento não está
infelizmente apenas fora do recinto da Igreja. A fumaça de Satanás entrou na
Igreja. Não é assim? Não vemos, hoje, católicos dizer como os protestantes:
“Cristo Sim, a Igreja Não!”? “Não necessito do padre para [receber] os
sacramentos. Todos somos sacerdotes, iguais. Eu irei diretamente a Deus”. E há
a desobediência às leis litúrgicas, canônicas, à fé, à moral: eu e Cristo,
muitos católicos dizem.
Mas, também, quantos católicos não
dizem: todas as religiões são boas e nos salvaremos todos? É a mentalidade
maçônica.
Mas também a mentalidade comunista, a
teologia da libertação e todos os similares que tentam harmonizar o Evangelho
com Marx: o “Cristianismo adulto”.
Quantos católicos confusos com esta
revolução cultural em que vivemos. [Eles] dizem: sou católico, mas a favor do aborto
ou, como vocês viram mais recentemente, pessoas muito bem doutoradas em
teologia, a favor das uniões homossexuais.
Omnia instaurare in Christo, diz São Pio X. Quero terminar já e, infelizmente, não poderei ler o
restante, porque já passou muito tempo.
Nesta viagem aos Estados Unidos e a
El Paso, eu pude estar na primeira igreja dedicada ao Sagrado Coração de Jesus
no país, em Pensilvânia; é uma Basílica do Sagrado Coração de Jesus. E lá pedi
uma Graça a Deus: a graça a Bento XVI ou a seu sucessor… Eu estou pedindo ao
Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria a graça — creio que
cada um de nós deve fazê-lo — de um novo Papa São Pio X, para a Igreja. Um Papa
santo e forte o suficiente para fazer tremer os inimigos fora da Igreja e
expulsar – ou corrigir – os inimigos que estão dentro dela. Os lobos em pele de
cordeiro que estão no recinto sagrado fazendo sofrer o Coração Sacratíssimo de
Nosso Senhor.
Esta, creio, é a nossa missão e a de
todos os cristãos: rezar, rezar e rezar. Lutar contra o demônio, o mundo e a
carne, contra as tentações, e submetermo-nos aos ensinamentos perenes do
magistério da Igreja. Pedir ajuda a Deus e a sua Mãe Santíssima: a Ela, possam elevar-se
nossos pensamentos e nossos corações. E agora também, a seus pés, aprendermos a
dizer — e repito o pensamento de um santo sacerdote que me ajudou muito: “Tenho
na mente, nos lábios e no coração uma só jaculatória: Roma, Roma, Roma”.
Peçamos ao Coração Imaculado de Maria que a Igreja saia logo desta crise
e muitas almas se salvem, que nós nos salvemos – não nos consideremos melhores
que ninguém, porque é uma graça imerecida estar aqui hoje. E como os Cristeros,
quero terminar este sermão com o maior louvor que uma alma pecadora e pequena
pode dizer diante do mundo que persegue a Deus e a sua Igreja: Viva Cristo Rei!
Amém. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Tomado em: Católicos Ribeirão
Fonte: Fratres in Unum
Destaques: Core Catholica
Tomado em: Católicos Ribeirão
Fonte: Fratres in Unum
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