Beata Ana Maria Taigi |
O demônio – pai da mentira – como um moedeiro que normalmente só falsifica moedas de ouro e prata, já tem enganado muita gente mediante falsas aparições. Tornou-se, pois, mais do que nunca necessário saber discernir entre as falsas e as verdadeiras.
O fiel vigilante e bem instruído pode evitar a queda nas armadilhas do demônio, bem como aproveitar os auxílios especiais que a Providência proporciona à humanidade através das autênticas manifestações sobrenaturais.
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Há muitas recentes aparições e revelações particulares atribuídas à Santissima Virgem, Santos, anjos e fenômenos supostamente sobrenaturais em diversas regiões do Brasil, bem como no Exterior.
Alguns leitores receberam impressos com mensagens que Nossa Senhora teria transmitido a videntes contendo supostas profecias.
O que pensar de tudo isso? –perguntam-nos eles.
Como discernir as revelações autênticas das falsas, evitando as ciladas que o demônio, pai da mentira, pode preparar nesta matéria?
Qual o papel das revelações particulares na vida da Igreja, inclusive as que contêm profecias?
Qual o grau de assentimento que o católico lhes pode dar?
São João Bosco |
Numa palavra, o que ensina a Igreja a esse respeito?
A revista “Catolicismo” publicou há já alguns anos matéria muito esclarecedora.
Digamos desde logo que não vamos ser exaustivos em matéria tão vasta, limitando-nos a reproduzir neste artigo alguns comentários e observações de conceituados autores e especialistas (1).
Obviamente, tampouco nos pronunciaremos sobre a autenticidade dos casos recentes, no Brasil ou no estrangeiro, de presumíveis revelações e outros fenômenos místicos extraordinários.
Com efeito, essa matéria é da alçada das autoridades eclesiásticas competentes, as quais muitas vezes demoram anos em se manifestar, após exaustivas investigações para verificar a autenticidade das revelações em questão (2).
Origem de grandes devoções
Ao longo da História da Igreja, as revelações autênticas, e outros fenômenos místicos extraordinários, têm sido fonte e alimento de grandes movimentos de piedade.
O Dictionnaire de Spiritualité lembra que “poderosos movimentos de piedade se viram desencadeados ou alimentados por revelações particulares de uma vasta repercussão eclesial”. E cita como exemplo as devoções ao Sagrado Coração de Jesus e à Nossa Senhora.
São João Evangelista |
Essas devoções alcançaram uma expressão histórica e um impulso “que certamente não teriam tido” sem as revelações de Santa Margarida Maria Alacoque sobre o Sagrado Coração, e as grandes aparições mariais do século passado e deste século, como Lourdes e Fátima.
A mencionada obra qualifica como “considerável” a influência dessas revelações na vida da Igreja. E acrescenta que “o valor delas aparece confirmado” pelo fato de que conduzem os fiéis à fé, à oração, aos sacramentos, especialmente à Eucaristia, como se pode observar nos lugares de grandes aparições mariais (3).
Escapulário do Carmo, Medalha Milagrosa
Além de ser fonte e alimento de devoções como as do Sagrado Coração, e de Nossa Senhora sob as invocações de Lourdes e Fátima, outras revelações têm estado na raíz de magníficas devoções como o escapulário carmelita e a Medalha Milagrosa.
É o que lembra o Cônego Auguste Saudreau, que numa de suas obras faz uma exposição sintética, mas muito densa, de “algumas revelações que produziram maravilhosos frutos na Igreja”.
Afirma ele: “A devoção ao escapulário do Monte Carmelo, que foi para um tão grande número de almas um meio de salvação e do qual numerosos milagres demonstraram a maravilhosa eficácia, tem por origem a revelação feita a São Simão Stock. O mesmo se deu quanto à devoção ao escapulário da Imaculada Conceição, ao da Paixão, à Medalha Milagrosa”.
E com admiração e entusiasmo se refere a tais revelações suscitadas pela Providência: “Quantas graças de proteção, de conversão, de progresso na piedade se devem a tais práticas, que tiveram como ponto de partida revelações!” (4).
Importante para a edificação dos fiéis
São Luís Maria Grignon de Montfort, estátua na basílica vaticana |
Diante de tantos frutos de devoção, não estranha que o Pe. J.-H. Nicolas OP afirme que as revelações autênticas provocam no povo cristão “um choque salutar”, e que por isso devem ser consideradas como “providenciais” (5).
O conceituado Pe. Augustin Poulain SJ -- especialista no tema da mística, e ele próprio um místico -- assevera de seu lado que as revelações particulares autênticas são “muito úteis”:
“É claro que as revelações ou visões que são de origem divina estão isentas de perigo e são muito úteis, pois a graça só age para nosso bem, e quando é de ordem tão extraordinária, não pode ser destinada a um bem que seja medíocre” (6).
O Pe. Arintero OP constata que as revelações privadas são “utilíssimas para a edificação dos fiéis, e mesmo de toda a Santa Igreja” (7).
O Pe. Iturrioz SJ acrescenta que as “intervenções sobrenaturais” refletem “a providência e, por assim dizer, a política sapientíssima de Deus” (8).
E o teólogo francês Pe. Forget afirma que as aparições, “longe de serem inúteis ou indignas de Deus”, “elas apresentam grandes vantagens”, “testemunham a bondade do Criador”, e “são para o homem um dos meios de conhecer seguramente a religião revelada” (9).
Ver Parte II
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