Raphael de la Trinité
‘A LÍNGUA FALA DA ABUNDÂNCIA DO CORAÇÃO’ – EXCERTOS
PARA ANÁLISE
Livro do Eclesiástico (cap. 28): "As chicotadas produzem
vergões, mas os golpes da língua quebram os ossos... Faze uma porta e fechadura
diante da tua boca: Funde o teu ouro e a tua prata e faze com isso uma
balança para pesares as tuas palavras e um freio bem ajustado para a tua boca".
"Ouvi, filhos, as regras que vos
dou sobre a moderação da língua: aquele que as guardar não perecerá pelos
lábios, nem cairá em ações criminosas" (Ecli., 23,7)
"Que
as palavras desonestas sejam banidas da vossa boca". (Col.
3-8)
São Tiago: “Observai como uma faísca é
capaz de incendiar uma floresta inteira. Ora, a língua, também é um fogo. Como
um mundo de injustiça, a língua, instalada entre nossos membros, contamina o
corpo inteiro e, alimentada pelo fogo do inferno, inflama o curso da existência”.
(Tiago 3,
6-7).
Santo
Inácio, mártir, no meio dos seus suplícios, repetia sem cessar o nome de Jesus,
e, quando morreu, encontraram este nome bendito gravado no seu coração. Assim,
cada um fala voluntariamente daquilo que mais ama: "tal é o coração, tais
são as palavras" (São João Crisóstomo). Um modelo acabado de verdadeiro
religioso, "Santo Inácio de Loiola, parecia só saber falar de Deus, de tal
modo que o tinham cognominado de 'o padre que não tem na boca senão a
Deus'" (Santo Afonso Maria de Ligório).
*** * ***
"Se
lhe apresentassem à mesa o pão ou qualquer outro manjar, em um prato ou vaso
que houvesse servido em coisas que não são para nomear, quanto se indignaria
contra o seu criado, por esta grosseria e desatenção! E quem duvida que muito mais repreensível é que a língua de
um fiel, que serve de patena ao verdadeiro corpo de Cristo quando comunga, sirva
de instrumento a palavras torpes e indecentes? (p. 530)
Quem usa
de semelhante linguagem, por mais que se desculpe, dizendo que lhe não entra da
boca para dentro, e que é só para rir e passar o tempo, o que dá é claro
indício de que o seu interior está corrupto.
Porque, oráculo é de Cristo Senhor nosso
que a boca fala conforme o de que abunda o coração: Ex abundantia enim
cordis os loquitur; e outra vez disse: Que do coração saem os maus
pensamentos; e claro é que o que vem à língua, primeiro esteve no pensamento; e
ainda Sêneca assentou que o modo com que cada qual fala é o translado ou cópia
do seu espírito: Imago mentis sermo est; qualis vir, talis oratio... Logo, quem é acostumado a falar descomposturas, com que
verdade afirma que lhe não entram no coração? E se até os sonhos de
um adormecido e os delírios de um frenético são ordinariamente das coisas a que
a natureza estava acostumada, quanto mais se conhecerá o nosso interior pelas
palavras que proferimos, estando em nosso siso e liberdade? (p. 530/531)
Escreve Estrabão que há na Índia um gênero de serpentes com asas como de
pergaminho, que, voando de noite, sacodem uns pingos de suor tão pestífero que
onde caem causam corrupção. Tais me parecem os
que entre conversação soltam palavras e chistes descompostos; que são estes,
senão pingos de suor asquerosíssimo, que onde caem geram maus pensamentos e
corrompem os costumes dos ouvintes? E se estes são gentes de tenra idade, a
corrupção é mais pronta e mais certa, porque meninos são tábuas rasas onde o
bem e o mal se pintam facilmente; pelo que mais respeito se deve ter a um
menino, para não falar ruins palavras em sua presença, do que a homens de cãs
veneráveis, porque estes sabem conhecer e reprovar o mal e aqueles não; neste
caso ficará quem falou mal, temeroso de achar repreensão, naquele outro ficará
contente de achar imitadores. (Tratado da Virtude da castidade –
Padre Manuel Bernardes - II – p. 532.)
"Primeiramente, a matéria das nossas
palavras há de ser plana, onde não ache tropeços a consciência, e
limpa, onde não haja sombras e manchas contra a pureza do coração.
Ó grande engano o nosso! Nós não queremos falar coisas boas, e queremos falar
bem?" O valor do silêncio (Padre Manuel Bernardes)
"Sejamos circunspectos antes de falar, e não profiramos uma só
palavra sem primeiro a ter pesado, conforme este belo dito de Santo Agostinho:
"omnia verba prius veniant ad limam quam ad linguam;" o que
não acontece com os que, falando sempre precipitadamente, começam de atirar
suas escumas, em vez de chorar o mal irreparável que elas causam. É a
necessidade que sente o padre santo, em si mesmo, de dar bom exemplo a todo o
mundo por suas conversas, que o leva a regular
de tal modo sua língua, que não deixa nunca escapar voluntariamente um só
palavra que ofenda o decoro ou uma qualquer virtude, impondo-se pelo
cortejo de virtudes, que o acompanha sempre por toda a parte, onde se
encontra!" (O Padre e o bom exemplo,
Padre.
A.A. Moraes Junior).
*** * ***
OBJEÇÕES:
- "Para este gênero de conversações, a consciência já
está formada".
Formada ou deformada?
- "Não podemos, contudo, trazer sempre algodão nos ouvidos".
“Não ter algodão nos ouvidos” quereria dizer alforria para provocar ou
alimentar conversações picantes?
- "Com certeza, hão de tachar-me de carola".
Evangelho de São Mateus “Aquele que se envergonhar
de Mim diante dos homens, Eu também me envergonharei dele diante do Meu Pai”
(10, 33).
Deus há de chamar-lo corajoso. Esse é o soberano juízo.
- "Que pensarão de mim"?
Hão de admirá-lo.
*** * ***
A quem se pede um conselho sério? Ao amigo de farras, emulação no vício
ou na pândega? Isso jamais ocorrerá a ninguém com um mínimo de bom senso.
Só pode gozar de credibilidade e juízo quem pratica a temperança verbal.
Ao parecer deste, justo e desassombrado, fazendo-se necessário, saberemos
recorrer.
Todo ser humano, antes da estima, busca respeito. Ora, só infunde
respeito quem demonstra ter juízo. Isso se revela por todo o seu comportamento,
mormente pelas palavras.
Eclesiástico XIX, 27: "A veste do corpo, o
riso dos dentes e o andar do homem, dão a conhecer o que ele é".
Se alguém não peca por palavras, é um homem
perfeito, diz São Tiago.
Não se conhecem textos na Sagrada Escritura que nos recomendem a
melancolia; são muitos, porém, os que nos recomendam a amabilidade e a alegria.
"Fala,
pois, muitas vezes de Deus e experimentarás o que se diz de São Francisco — que, quando pronunciava o nome do Senhor, sentia a alma inundada de consolações
tão abundantes que até sua língua e seus lábios se enchiam de doçura".
"Regozijai-vos no Senhor, sem cessar: regozijai-vos em alegria".
(II Cor. 13-11).
"Andai sempre alegres". (I Tes. 5-16)
"Vosso coração se alegrará e ninguém arrebatará a vossa
alegria... Que a vossa alegria seja perfeita". (Jo. 16-22)
"Bem-aventurados os puros" (Ps. 118)
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