Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!
30 meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas
por Monsenhor Ascânio Brandão
Livro de 1948 - 243 pags
Casa da U.P.C.
Pouso Alegre
30 meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas
por Monsenhor Ascânio Brandão
Livro de 1948 - 243 pags
Casa da U.P.C.
Pouso Alegre
21
de Novembro
MARIA
SANTÍSSIMA, MAE E CONSOLADORA DO PURGATÓRIO
Maria
pode socorrer as almas
Um dia, escreve Santa
Brígida nas suas
Revelações, disse-me a Virgem Santíssima:
—
“Eu sou a Rainha do céu, eu sou a Mãe de misericórdia, e o caminho por onde
voltam os pecadores a Deus. Não há pena no purgatório que não se alivie e que
por mini não se torne menor do que si o fora sem mim”[1]. Outra vez a Santa
ouviu Jesus dizer à sua Mãe: “Tu és minha Mãe, és a Rainha do céu, és a Mãe de
misericórdia, és o consolo dos que estão no purgatório e a esperança dos
pecadores na terra”[2]. A providencia maternal de Nossa Senhora
se estende sobre seus filhos na terra e no purgatório. Ela nos socorre e ajuda
até depois da morte nas chamas expiadoras. É uma verdade de fé que as almas do
purgatório podem ser não só aliviadas em seus padecimentos, mas até libertadas
das chamas expiadoras pelas orações, satisfações e boas obras, e pelo Santo
Sacrifício da Missa, enfim, pelos sufrágios dos vivos. Todavia, a Igreja nada
definiu sobre o socorro que possam os Santos do céu dar às almas padecentes.
Não houve necessidade de uma definição, porque o que os hereges contestaram
desde Lutero principalmente, foi o sufrágio dos vivos e até a existência do
purgatório. Quem entretanto pode negar que a Igreja triunfante possa auxiliar
a Igreja padecente?
Segundo Santo Tomás de Aquino, duas coisas concorrem para que o
sufrágio dos vivos aproveitem aos mortos: a caridade que une a todos, e a
intenção que tem eles de socorrer os mortos. Quanto ao primeiro, nenhum meio
existe maior de um vínculo de caridade que o Santo Sacrifício da Missa, o Sacramento
que é o vínculo dos fiéis da Igreja. Quanto à outra, a oração, tem a vantagem
de levar nossa intenção diretamente a Deus quando se invoca a Divina
Misericórdia.
Ora,
quem pode negar que os Santos do céu já purificados, possuam a caridade em
estado de perfeição na glória e a intenção reta de ajudar às benditas almas
sofredoras? Quem melhor do que eles conhece o sofrimento daquelas almas? Não há
dúvida, os Santos na glória podem e socorrem as almas do purgatório. Quanto
mais a Rainha dos Santos!
Contestaram
alguns com subtilidades teológicas que Maria nada poderia fazer pelas almas
entregues à Justiça Divina no purgatório. “Alguns autores, diz o piedoso Pe. Faber, pretendem que a
Santíssima Virgem não pode ajudar as almas do purgatório senão de uma maneira
indireta, porque não está mais em estado de satisfazer por elas. Não gosto de
ouvir isto. Não gosto que falem de uma coisa que nossa terna Mãe não possa
fazer”[3].
Pois se Maria tem todo poder no céu e na terra, se é Mãe dos remidos, Mãe de Deus, não há de poder socorrer como e quando queira os seus filhos da Igreja padecente?
Pois se Maria tem todo poder no céu e na terra, se é Mãe dos remidos, Mãe de Deus, não há de poder socorrer como e quando queira os seus filhos da Igreja padecente?
Sim,
não há teólogo seguro que o conteste, e a tradição de tantos séculos confirma
esta consoladora verdade: Maria socorre seus fiéis servos depois da morte.
Estende até o purgatório seu manto protetor de Mãe e Refúgio dos pecadores.
Como
socorre Maria as almas sofredoras?
Há
muitas maneiras do poder misericordioso de Maria socorrer às benditas almas
padecentes. O primeiro meio e mais frequente, diz o Pe. Terrien, S. J.[4] é o pensamento e a vontade que inspira
aos fiéis ainda vivos neste mundo, de orar, sofrer e trabalhar pela libertação
das pobres almas. Quantos devotos de Nossa Senhora não sentem de repente uma
inspiração, um desejo de sufragar os seus mortos queridos ou o desejo de
trabalharem pelo sufrágio do purgatório! É a Mãe bendita quem inspira estes
bons desejos e resoluções. Não tem Ela nas mãos os corações de seus filhos? Um
dia um santo Irmão coadjutor da Companhia de Jesus orava fervorosamente diante
de uma imagem da Virgem Imaculada. Enquanto rezava, veio-lhe um certo
escrúpulo do pouco zelo que tinha em orar e sufragar as almas do purgatório.
Uma voz misteriosa lhe disse, então:
—
“Meu filho, meu filho, lembra-te dos defuntos!
—
Sim, minha Mãe, o farei doravante, respondeu o piedoso Irmão. E desde aquele
dia se entregou às boas obras e sacrifícios e orações pelas almas[5].
Quantas
vezes Nossa Senhora em tantas revelações particulares pediu orações pelos
mortos! Ainda em Fátima recomenda aos Pastorinhos a jaculatória: Meu Jesus,
perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, aliviai as almas do purgatório,
especialmente as mais abandonadas!”. Maria, pois, ajuda os
fiéis do purgatório inspirando sufrágios aos seus filhos da terra e depois,
oferecendo por estas almas cativas, não as satisfações atuais, pois no céu não
há sofrimento nem expiação, mas o que Ela padeceu e mereceu neste mundo.
Haverá maior tesouro depois dos méritos de Cristo que os méritos de Maria?
Maria
Santíssima, pois, por estes dois meios pode e realmente socorre as almas. A
Igreja, na sua liturgia, confirma esta piedosa crença e esta verdade
consoladora quando assim ora na Missa dos Defuntos: “Ó Deus que perdoais
aos pecadores e desejais a salvação dos homens, imploramos a vossa clemência
por intercessão da Bem-aventurada Maria sempre Virgem, e de todos os Santos em
favor de nossos irmãos, parentes e benfeitores que saíram deste mundo, a fim
de que alcancem a bem-aventurança eterna”.
Por
terem as almas maior precisão de socorro, escreve Santo Afonso de Ligório,
empenha-se a Mãe de Misericórdia com seio ainda mais intenso em auxiliá-las.
Elas muito padecem e nada podem fazer por si mesmas. Diz São Bernardino que Maria desce ao
cárcere do purgatório onde tem certo domínio e poder para aliviar e libertar
estas esposas de Jesus Cristo. Trás alívio às almas. Aplica-lhes o Santo esta
palavra do Eclesiástico: Caminho por sobre as ondas do mar[6]. Compara as ondas às penas da purgatório, porque são
transitórias, e por isso diferentes das do inferno, que nunca passam. Chama-as 0ndas do mar porque são penas
muito amargas. Os devotos da Virgem, aflitos com estas penas, são por Ela
visitados e socorridos frequentemente. Eis, pois como socorre Maria as almas do
purgatório.
Nossa
Senhora do Carmo, Mãe do purgatório
As
aparições da Virgem Misericordiosa a São Simão Stokler e ao Papa João XXII são
muito conhecidas e hoje a piedade de toda Igreja tem na devoção à Virgem do
Carmo um motivo para chamar a Nossa Senhora Mãe e Rainha do purgatório. Diz a
Mãe de Deus a São Simão: “Recebe, meu querido filho, este escapulário de tua
ordem como sinal distintivo da minha confraria e prova de privilégio que obtive
para ti e para os filhos do Carmo. Aquele que morrer revestido do escapulário
será preservado das penas do outro mundo. É um sinal de salvação, uma defesa
nos perigos, o penhor de paz e proteção especial até o fim dos séculos”.
Promete a Virgem a proteção aos seus fiéis devotos do escapulário. Esta
promessa foi confirmada setenta anos depois, após uma revelação feita por
Maria ao Papa João XXII. Declarou este Pontífice numa Bula, que estando em
oração, Maria lhe apareceu e disse: “João, Vigário de meu Filho, és devedor da
alta dignidade a que chegaste a mim, que pedi por ti. Eu te livrei dos laços
dos teus adversários; espero de ti uma confirmação da Ordem do Carmo, que me
foi sempre especialmente dedicada. Se entre os religiosos ou confrades, quando
morrerem, se acharem alguns cujos pecados tiverem merecido o purgatório, eu
descerei como terna Mãe no meio deles, no purgatório, no sábado que seguir a
sua morte. Livrarei aqueles que eu lá encontrar e os levarei à Montanha Santa,
à feliz morada da vida eterna”.
É
Maria revelando-se Mãe carinhosa das almas do purgatório.
A
arte cristã sempre representa a Virgem do Carmo estendendo o seu escapulário
sobre o purgatório onde as almas em meio das chamas expiadoras levantam os
braços e olhos suplicantes implorando a misericórdia da boa Mãe e procurando no
escapulário um meio de saírem das chamas.
Como
isto é significativo e simbólico! Não é esta a Missão da Virgem Santíssima,
Consolo e alívio e libertação do purgatório e o que encontram com segurança os
devotos verdadeiros de Maria Santíssima? Podemos crer no grande privilégio dos
Carmelitas. A Sagrada Congregação das Indulgências em 1.° de Dezembro de 1886
decidiu: “Seja permitido aos Padres Carmelitas pregarem ao povo que se pode
crer piedosamente na assistência que esperam os Irmãos e confrades da
Irmandade de Nossa Senhora do Carmo, a saber: que esta Senhora ajudará com suas
orações contínuas e sufrágios e méritos e com uma proteção especial depois da
sua morte (principalmente ao sábado, dia que lhe está consagrado pela Igreja),
aos irmãos e confrades falecidos na caridade, com a condição de que tenham
levado durante a vida 0 escapulário, guardado a castidade de seu estado,
rezado 0 Ofício Parvo, ou se não puderam rezá-lo, que hajam observado os jejuns
da Igreja e abstido de carne nas quartas e sábados”.
Este
decreto foi publicado em Roma em 15 de Fevereiro de 1615 pelo Santo Ofício.
Ora, não é a Igreja confirmando a consoladora doutrina da assistência e
proteção de Maria sobre o purgatório? Invoquemos sempre a Mãe querida das
pobres almas do purgatório. Sejamos devotos da Virgem do Carmo e do Santo
Escapulário.
Exemplo
Maria
liberta as santas almas nas suas festas
Diz
o Venerável Dionizio Cartuziano que cada ano, nas
grandes festas, a Mãe de Deus desce ao purgatório e liberta muitas almas do
sofrimento, levando-as para a glória, sobretudo nas festas da Páscoa, do Natal
e da Assunção. São Pedro Damião conta a propósito um
caso que diz ter ouvido de um sacerdote fidedigno. Vou traduzi-lo do latim tal
como o deixou escrito São Pedro Damião:
“Uma
mulher em Roma entrou no dia da Assunção na basílica erigida em honra da
Santíssima Virgem no Capitólio. Grande foi a sua surpresa ao ver ali uma das
suas vizinhas, que um ano antes havia morrido. Não podendo chegar-se a ela
pela multidão que enchia o templo, foi esperá-la ao sair da igreja numa das
ruas estreitas da cidade, por onde havia de passar.
—
Não és Marozia, minha vizinha, lhe perguntou, que morreu há cerca de um ano?
—
Sim, sou eu mesma.
—
E como estás aqui?
E
Marozia confessou que havia sofrido muito no purgatório por umas faltas da
meninice e acrescentou: ‘Hoje, porém a Rainha do mundo rogou por mim e tirou a
mim e a muitas outras almas do lugar da expiação e é tão grande o número das
almas libertadas, que sobrepuja aos habitantes de Roma. Eis porque visitamos,
em ação de graças, os lugares consagrados à nossa gloriosa Rainha’.
E
como prova da verdade da aparição, anunciou que a sua amiga dentro de um ano
morreria também. O que de fato aconteceu”.
Santa
Francisca Romana, favorecida com tantas visões, contemplou também, num dia da
Assunção, o triunfo de Maria e uma multidão de almas libertadas do purgatório
pela intercessão da Mãe de Misericórdia. — (S. Petr. Damian. Opusc. XXXIV — Disput. de variis
apparition, et miraculis. C. 3. P L. CXLV — 586-587.).
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