Pode-se criticar um pronunciamento do Papa?
Bento XVI assim se exprimiu: “Doutra parte, é possível e até necessário criticar os pronunciamentos do papa, se não estiverem suficientemente baseados na Escritura e no Credo, ou seja, na fé da Igreja universal. Onde não houver, nem a unanimidade da Igreja universal, nem o claro testemunho das fontes, não pode também haver uma definição que obrigue a crer. Faltando as condições, poder-se-á também suspeitar da legitimidade [de um pronunciamento papal]". (Joseph Ratzinger, Das Neue Volk Gottes - Enwürfe zur Ekkleseologie, Düsseldorf: Patmos-Verlag, 1969, trad. br. por Clemente Raphael Mahl: O Novo Povo de Deus, São Paulo: Paulinas, 1974, p. 140) [grifos nossos].
Caro leitor (anônimo) do blogue 'Baixada Católica'
As alegações que, em duas postagens distintas [ver ao final da resposta], visam a impugnar a nossa posição
católica, são inteiramente destituídas de fundamento.
Ao que
entendi, o leitor é o responsável, ou um dos responsáveis, pelo blogue “Baixada Católica”. Procurarei ser breve e objetivo na resposta.
Conforme a consagrada máxima jurídica, o “onus probandi” cabe ao acusador.
Em face disso,
aguardo, de forma clara e ordenada, a enumeração de argumentos e fatos
irretorquíveis, em abono de suas (descabidas e injuriosas) acusações. “Quod gratis
asseritur, gratis negatur” (“aquilo que é afirmado de forma gratuita, pode ser
gratuitamente negado”).
Ademais, julgo oportuno acrescentar outros conformes que, por amor à brevidade, mencionarei apenas,
sem ulteriores aprofundamentos.
Primeiro ponto:
o erro disfarçado é mais perigoso. Dificilmente, com efeito, alguém se deixaria
arrastar por um erro declarado ou manifesto. Contudo, é amigo de disfarces o demônio, “que foi homicida
desde o princípio e não permaneceu na verdade; porque a verdade não está nele;
quando ele diz a mentira, fala do que é próprio, porque é mentiroso e pai da
mentira” (São João, VIII, 44). Ora, uma das características mais notórias da
mentira é o artifício, a dissimulação, a ambiguidade. Cumpre-nos, pois, não
secundar a obra do maligno, semeando o caos e a confusão nos meios católicos
tradicionais, por via da falta de esclarecimento e denúncia do erro larvado e
sinuoso, que campeia insolente.
Segundo ponto:
o pior inimigo da Igreja é o que se acha camuflado, mais ou menos oculto, isto
é, o que atua dentro dos organismos eclesiásticos.
Como dizia o grande
São Pio X: "Os piores inimigos da Igreja estão dentro dela". Em 1907
(há 106 anos, portanto, o que demonstra como o mal vem de longe!), o Papa fez
este contundente alerta, mais atual do que nunca:
“Estes
[inimigos da Igreja], em verdade, como dissemos, não já fora, mas dentro da Igreja, tramam seus perniciosos conselhos; e
por isto, é por assim dizer nas próprias veias e entranhas dela que se acha o
perigo, tanto mais ruinoso quanto mais intimamente eles a conhecem. Além de
que, não sobre as ramagens e os brotos, mas sobre as mesmas raízes que são a Fé
e suas fibras mais vitais, é que meneiam eles o machado”.(Pascendi Dominici Gregis; grifos nossos).
A mesma advertência
se encontra numa alocução de João Paulo II, a 6 de fevereiro de 1981: “Os
cristãos de hoje em grande parte, se sentem perdidos, confusos, perplexos e
mesmo decepcionados”. O Papa resumia as causas deste fato da seguinte maneira:
“De todos os
lados espalharam-se ideias que contradizem a verdade que foi revelada e sempre
ensinada. Verdadeiras heresias foram
divulgadas nos domínios do dogma e da moral, suscitando dúvidas, confusão,
rebelião. A própria liturgia foi violada. Mergulhados num ”relativismo”
intelectual e moral, os cristãos são tentados por um iluminismo vagamente
moralista por um cristianismo sociológico, sem dogma definido e sem moralidade
objetiva”. Esta perplexidade se manifesta, a todo instante, nas conversas,
nos escritos, nas redes sociais, nas emissões televisionadas ou publicadas por
quaisquer outros meios, no comportamento dos católicos, traduzindo-se este
último numa diminuição considerável da prática religiosa, como o testemunham as
estatísticas, uma desafeição relativamente à missa e aos sacramentos, um
relaxamento geral dos costumes.
Terceiro ponto:
é propriamente obrigação dos leigos denunciar esses artífices da
“autodemolição” e da “fumaça de Satanás” (segundo as insuspeitas palavras de
Paulo VI), incrustados no recinto sagrado. Fazendo jus a essa missão, estamos
exercendo o papel que o próprio Concílio Vaticano II, com muita ênfase, atribui
aos leigos, e que, nestes termos, aparece consignado no novo Código de Direito
Canônico:
“De acordo com a ciência, a
competência e o prestígio de que gozam, têm o direito e, às vezes, até o dever
de manifestar aos pastores sagrados a própria opinião sobre o que afeta o bem
da Igreja e, ressalvando a integridade da fé e dos costumes e a reverência
para com os pastores, e levando em conta a utilidade comum e a dignidade das
pessoas, deem a conhecer essa sua
opinião também aos outros fiéis. (CIC §907; Cânon 212,3; grifos nossos).
Assim, é inconteste que os leigos devem manifestar a sua preocupação e discordância, quando for o caso, aos demais católicos e aos
pastores, desde que observem, mormente no interior da Igreja, ensinamentos ou atitudes dissonantes com o
Magistério tradicional.
Agindo por
essa forma, estamos igualmente fazendo eco ao conselho formulado por Bento XVI,
que assim se exprimiu:
“Doutra parte, é possível e até necessário criticar os pronunciamentos do papa, se não estiverem suficientemente baseados na Escritura e no Credo, ou seja, na fé da Igreja universal. Onde não houver, nem a unanimidade da Igreja universal, nem o claro testemunho das fontes, não pode também haver uma definição que obrigue a crer. Faltando as condições, poder-se-á também suspeitar da legitimidade [de um pronunciamento papal]". (Joseph Ratzinger, Das Neue Volk Gottes - Enwürfe zur Ekkleseologie, Düsseldorf: Patmos-Verlag, 1969, trad. br. por Clemente Raphael Mahl: O Novo Povo de Deus, São Paulo: Paulinas, 1974, p. 140; grifos nossos).
“Doutra parte, é possível e até necessário criticar os pronunciamentos do papa, se não estiverem suficientemente baseados na Escritura e no Credo, ou seja, na fé da Igreja universal. Onde não houver, nem a unanimidade da Igreja universal, nem o claro testemunho das fontes, não pode também haver uma definição que obrigue a crer. Faltando as condições, poder-se-á também suspeitar da legitimidade [de um pronunciamento papal]". (Joseph Ratzinger, Das Neue Volk Gottes - Enwürfe zur Ekkleseologie, Düsseldorf: Patmos-Verlag, 1969, trad. br. por Clemente Raphael Mahl: O Novo Povo de Deus, São Paulo: Paulinas, 1974, p. 140; grifos nossos).
*** * ***
À vista do
exposto, somos levados a perguntar o que provocou esse estado de coisas. A todo
efeito corresponde uma causa. Terá sido a fé dos homens que diminuiu, por um
eclipse da generosidade da alma, por uma explosão de apetite de gozo, por uma
atração incontrolável pelos prazeres da vida e pelas múltiplas distrações que
oferece o mundo moderno? O problema não reside fundamentalmente nisso, uma vez
que tais obstáculos sempre existiram, dum modo ou de outro. Na realidade, a pavorosa
decadência do conhecimento da Religião e da prática religiosa, que se patenteia
aos olhos de todos, provém, sobretudo, do espírito novo que se introduziu na
Igreja, e que lançou a suspeita sobre um passado inteiro de vida eclesiástica,
de ensino e de princípios de vida. A segurança doutrinária baseava-se na fé
imutável da Igreja, transmitida pelos catecismos que eram reconhecidos por
todos os episcopados do mundo. A fé
se estabelecia sobre certezas. Abalando-as, semeou-se a perplexidade.
Agora, vejamos
em que termos o Papa Bento XVI retrata, de forma bem sugestiva, essa ruína do
ensinamento católico, após a hecatombe pós-conciliar: “Os elementos fundamentais da fé, que no passado toda criança sabia,
são cada vez menos conhecidos” (Alocução da quinta-feira santa, 5 de abril
de 2012), Mais
recentemente, o Cardeal Burke afirmou, em sentido análogo: “não combatemos adequadamente os erros modernos, porque não nos foi
ensinada a fé católica (…). Uma falência da catequese, ou seja, da
catequese (…) realizada nos últimos 50 anos” (http://www.ilfoglio.it/soloqui/19951; grifos nossos) [cumpre observar que a referência aos últimos cinquenta anos coincide
exatamente com o período pós-conciliar].
O futuro Papa
Bento XVI, que, em 1984, fez referência ao desastre do ensino catequético,
reafirmou, em 2003, que nada mudara nesse ponto de importância capital (sem
dúvida, capítulo central do processo de “autodemolição” da Igreja, apontado em
1968 por Paulo VI).
Expondo a
necessidade de ensinar o novo catecismo, o então Cardeal Ratzinger reitera:
“Embora sem intenção de condenar a ninguém, torna-se patente que a ausência de conhecimentos em matéria de religião
é hoje uma realidade tremenda. Basta falar com as novas gerações [para nos
darmos conta disso]. Evidentemente, após o Concílio não conseguiram
transmitir concretamente o que está contido na fé cristã” (Cfr. “La Razón”,
edición del 28 de mayo del 2003. www.conoze.com/doc.php?doc=1806; grifos nossos).
Numa visão
global sobre a devastação operada no período pós-conciliar, o mesmo Papa Bento
XVI, quando ainda Cardeal Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da
Fé, teve estas significativas palavras:
"Os resultados que se seguiram ao Concílio parecem
cruelmente opostos às expectativas de todos, a começar do papa João XXIII e
depois de Paulo VI [...] Os Papas e os Padres
conciliares esperavam uma nova unidade católica e, pelo contrário, se caminhou
para uma dissensão que — para usar as palavras de Paulo VI — pareceu passar da
autocrítica à autodemolição. Esperava-se
um novo entusiasmo e, em lugar dele, acabou-se com demasiada frequência no
tédio e no desânimo. Esperava-se um salto para a frente e, em vez disso,
encontramo-nos ante um processo de decadência progressiva”(Cfr. Vittorio
Messori, “A coloquio con il cardinale Ratzinger, Rapporto sulla fede”, Edizioni
Paoline, Milano, 1985, pp. 27-28; grifos nossos).
Perante esse
quadro de formidável e insanável crise, o que fazer?
Diante disso,
não pode o fiel calar-se, segundo ensina Dom Guéranger: "Quando o pastor
se transforma em lobo, é ao rebanho que, em primeiro lugar, cabe defender-se.
Normalmente, sem dúvida, a doutrina desce dos Bispos para o povo fiel, e os
súditos, no domínio da Fé, não devem julgar seus chefes. Mas há, no tesouro da revelação, pontos
essenciais, que todo cristão, em vista de seu próprio título de cristão,
necessariamente conhece e obrigatoriamente há de defender. O princípio não
muda, quer se trate de crença ou procedimento, de moral ou de dogma. [...]. Os
verdadeiros fiéis são os homens que extraem de seu Batismo, em tais circunstâncias,
a inspiração de uma linha de conduta; não os pusilânimes" (12). (D.
Prosper Guéranger, “L'année liturgique, Le temps de la Septuagésime, fête de
Saint Cyrille d’Alexandrie”, p. 321; grifos nossos).
Tomando como fundamentos os terríveis diagnósticos sobre a crise pós-conciliar, referidos acima, causará surpresa que o blogue Core Catholica procure formar os católicos na obediência ao ensinamento tradicional da Igreja, repudiando aqueles que, "excitados por uma sede [de] novidades, [são] pressionados a assaltar tanto a Igreja quanto o poder civil...?" (Humanum Genus).
Adendo
Basta estabelecer o contraste:
São Pio X instou a que as crianças fossem batizadas logo, assim que pudessem
assimilar os princípios elementares da Fé, E assim foi feito, ao longo de 50 ou
60 anos, com excelente resultado.
A pretexto de tornar a fé mais acessível e "aggiornata", o Concilio, sob este ou aquele pretexto, esvaziou e adulterou o conteúdo da Fé.
A pretexto de tornar a fé mais acessível e "aggiornata", o Concilio, sob este ou aquele pretexto, esvaziou e adulterou o conteúdo da Fé.
Consequência inevitável:
aquilo que até as crianças sabiam de cor e salteado, hoje, os adultos já não
conhecem, nem procuram saber...
*** * ***
Comentários do Leitor anônimo do
blogue 'Baixada Católica'
1º comentário
Mais uma vez vejo que seu blog se coloca contra o sagrado magistério da Igreja e o Papa! Católico de verdade, não se posiciona contra nenhum concilio da Igreja, e jamais seria contra o sucessor de Pedro! Seu blog não é católico, pois divide a Igreja! O volte ou saia de vez!
Em O que deve pensar um católico sobre o Concílio Vaticano II?
2º comentário
A final são contra ou a favor da Igreja? Prezados a igreja não precisa de inimigos internos, ou estão do lado do papa e a favor da Igreja, ou contra a Igreja. O pior inimigo não é protestantismo e suas heresias malucas, o pior inimigo é o o interno que se disfarça de católico mais que no fundo é contra ele!!! Seu tradicionalismo só tem servido para ser sedevacantista, rebelde, se colocando contra o sucessor de Pedro! Amo a tradição da Igreja e todos os seus movimentos, mais não compreendo sua posição de católico! Deveria de mudar sua postura pois a Igreja precisa de amigos do papa! Meu blog é e sempre será católico e em defesa da vida e do papa! Se não esta do lado do papa, não está do lado da Igreja! Seu blog deveria ser um espaço para defender a Igreja e toda sua universalidade! E não para dividir a Igreja! Muito me assusta sua posição! Não é esse o tradicionalismo católico que tanto amo e prezo! Fique com Deus! Jesus te Ama
Em Contato
Mais uma vez vejo que seu blog se coloca contra o sagrado magistério da Igreja e o Papa! Católico de verdade, não se posiciona contra nenhum concilio da Igreja, e jamais seria contra o sucessor de Pedro! Seu blog não é católico, pois divide a Igreja! O volte ou saia de vez!
Em O que deve pensar um católico sobre o Concílio Vaticano II?
2º comentário
A final são contra ou a favor da Igreja? Prezados a igreja não precisa de inimigos internos, ou estão do lado do papa e a favor da Igreja, ou contra a Igreja. O pior inimigo não é protestantismo e suas heresias malucas, o pior inimigo é o o interno que se disfarça de católico mais que no fundo é contra ele!!! Seu tradicionalismo só tem servido para ser sedevacantista, rebelde, se colocando contra o sucessor de Pedro! Amo a tradição da Igreja e todos os seus movimentos, mais não compreendo sua posição de católico! Deveria de mudar sua postura pois a Igreja precisa de amigos do papa! Meu blog é e sempre será católico e em defesa da vida e do papa! Se não esta do lado do papa, não está do lado da Igreja! Seu blog deveria ser um espaço para defender a Igreja e toda sua universalidade! E não para dividir a Igreja! Muito me assusta sua posição! Não é esse o tradicionalismo católico que tanto amo e prezo! Fique com Deus! Jesus te Ama
Em Contato
Uma é certa: os maiores inimigos da Igreja estão dentro dela, como L Boff com sua esquerdista TL; que o Concilio Vaticano II esteve infiltrado de maçons, comunistas e protestantes foi fato, e que influenciaram em textos que poderiam ser interpretados à ótica católica ou protestante isso sim, e o papa Paulo VI foi traído por alguns "progressistas" - para não os chamar de comunistas - que colaboraram na relativização ou indevida modificação de traduções, como D Clemente Isnard, no Missal e outros, como D Hélder, D Casaldáliga, D Arns etc.
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