sexta-feira, 15 de novembro de 2013

RESUMO DA ENCÍCLICA ACERBO NIMIS, DE SÃO PIO X, SOBRE O ENSINO DA DOUTRINA CRISTÃ






[…] Do mal que padece a religião não há ninguém, animado pelo zelo da glória divina, que não investigue as causas e razões, sucedendo porém que, como cada qual as encontra diferentes, propõe diferentes meios, segundo a sua opinião pessoal, para defender e restaurar o reinado de Deus na terra.
Não prescrevemos, Veneráveis Irmãos, outros juízos, mas estamos com os que pensam que a atual depressão e debilidade das almas, de que resultam os maiores males, provêm, principalmente, da ignorância das coisas divinas.
[...] Necessidade de instrução. Citando Bento XIV: Afirmamos que a maior parte dos condenados às penas eterna padecem sua perpétua desgraça por ignorar os mistérios da fé, que necessariamente se devem saber e crer para que alguém se conte entre os eleitos. (Instit. 27,18).

[...] Efeitos da doutrina. A doutrina cristã nos faz conhecer a Deus e o que chamamos suas infinitas perfeições, muito mais profundamente que as faculdades naturais. Mais: ao mesmo tempo, manda-nos reverenciar a Deus por obrigação de fé, que se refere à razão; por dever de esperança, que se refere à vontade; e por dever de caridade, que se refere ao coração, com o que deixa todo o homem submetido a Deus, seu Criador e moderador. Da mesma maneira, só a doutrina de Jesus Cristo põe o homem de posse da sua verdadeira e nobre dignidade, como filho que é do Pai Celestial, que está no céu, e que o fez à sua imagem e semelhança para viver com Ele eternamente feliz. Mas, desta mesma dignidade e do conhecimento que delas se há de ter, infere Cristo que os homens devem amar-se mutuamente como irmãos e viver na terra como convém aos filhos da luz: não em glutonarias e na embriaguez, não em desonestidades, não em contendas e emulações [Rom. 13,13]. Manda, igualmente, que nos entreguemos nas mãos de Deus, que cuida de nós; que socorramos o pobre, façamos bem aos nossos inimigos e prefiramos os bens eternos da alma aos perecedouros do tempo. E, ainda que não tratemos tudo pormenorizadamente, não é por acaso doutrina de Cristo a que recomenda e prescreve ao homem soberbo a humildade, origem da verdadeira glória? Todo aquele, pois, que se fizer pequeno, esse será o maior no reino dos céus [Mat.18,4]. Nesta celestial doutrina, ensina-se-nos a prudência do espírito, para que nos guardemos da prudência da carne; a justiça, para dar a cada um o que é seu de direito; a fortaleza, que nos dispõe a sofrer e padecer tudo generosamente por Deus e pela eterna bem-aventurança enfim, a temperança, que não só nos torna amável a pobreza por amor de Deus, mas, em meio a nossas humilhações, faz com que nos gloriemos na cruz. Depois, graças à sabedoria cristã, não só nossa inteligência recebe a luz que nos permite alcançar a verdade, mas também a própria vontade se enche daquele ardor que nos conduz a Deus e nos une a Ele pela prática da virtude. Longe estamos de afirmar que a malícia da alma e a corrupção dos costumes não possam coexistir com o conhecimento da religião. Quisera Deus que a experiência não o demonstrasse [o contrário] com tanta freqüência. Mas entendemos que, quando ao espírito envolvem as espessas trevas da ignorância, nem a vontade pode ser reta, nem são os costumes. Aquele que caminha de olhos abertos poderá afastar-se, não se nega, do rumo reto e seguro; mas o cego está em perigo de perder-se. Ademais, quando não se está inteiramente apagada a chama da fé, ainda resta a esperança de que se elimine a corrupção dos costumes; mas quando à depravação se junta a ignorância da fé, já não resta lugar a remédio, e permanece aberto o caminho da ruína.

O primeiro ministério. [...] Apascentar é, antes de tudo, doutrinar: Eu vos darei pastores segundo o meu coração, os quais vos apascentarão [Jer. 3,15]. E por isso, dizia também o apóstolo São Paulo: Cristo não me enviou a batizar, mas a pregar [1Cor. 1,17], advertindo assim que o principal ministério de quantos exercem de alguma maneira o governo da Igreja consiste em ensinar aos fiéis as coisas sagradas.

[...] Importa muito, irmãos, assentar bem aqui – e insistir nisso – que para todo e qualquer sacerdote é este o dever mais grave, mais estrito, a que está obrigado. Porque quem negará que, no sacerdote, à santidade de vida deve estar unida a ciência? Os lábios do sacerdote serão os guardas da ciência [Mal. 2,7]. E, com efeito,a Igreja rigorosamente a exige de quantos aspiram a ordenar-se sacerdotes. E por quê? Porque o povo cristão espera receber dos sacerdotes o ensino da divina lei, e porque Deus os destina a propagá-la. Da sua boca se há de aprender a lei, porque ele é o anjo do Senhor dos exércitos [Ibid.].Por isso, no momento da ordenação, diz o bispo, dirigindo-se aos que vão ser consagrados sacerdotes: Que vossa doutrina seja o remédio espiritual para o povo de Deus; que todos sejam previdentes colaboradores de nosso encargo, de modo que, meditando dia e noite acerca da santa lei, creiam naquilo que leram e ensinem aquilo em que creram [Pontif. Rom.].

Disposições da Igreja. Por isso, o sacrossanto Concílio de Trento, falando aos pastores de almas, declara que a primeira e maior de suas obrigações é a de ensinar o povo cristão.

Instrução popular. [...] Não ignoramos, em verdade, que este método de ensinar a doutrina cristã não é grato a muitos, que o estimam insuficiente e talvez impróprio para atrair o louvor popular; mas Nós declaramos que semelhante juízo pertence aos que se deixam levar pela ligeireza mais que pela verdade.
[...] o ensino catequético, conquanto simples e humilde, merece que se lhe apliquem estas palavras que disse Deus por Isaías: E assim como desce do céu a chuva e a neve, e não voltam mais para lá, mas embebem a terra, e fecundam-na e fazem-na germinar, a fim de que dê semente ao que semeia, e pão ao que come; assim será a minha palavra que sair da minha boca; não tornará para mim vazia, mas fará tudo o que eu quero, e produzirá os efeitos para os quais a enviei [Is. 55,10,11]. [...] Mas o ensino da doutrina cristã, bem feito, jamais deixa de aproveitar aos que o escutam.

Se é coisa vã esperar colheita em terra não semeada, como esperar gerações adornadas de boas obras se oportunamente não foram instruídas na doutrina cristã? Donde justamente concluímos que, se a fé enlanguesce em nossos dias até quase parecer morta em uma grande maioria, é porque se cumpriu descuidadamente, ou se descumpriu de todo, a obrigação de ensinar as verdades contidas no Catecismo.


[...] Observai, rogamo-vos e pedimos, quão grandes estragos produz nas almas a ignorância das coisas divinas. Talvez tenhais estabelecido em vossas dioceses, muitas obras úteis e dignas de louvor, para o bem de vossa grei; mas com preferência a todas elas, e com todo o empenho, afã e constância que vos sejam possíveis, buscai esmeradamente que o conhecimento da Doutrina cristã penetre por completo na mente e no coração de todos. Comunique cada um ao próximo – repetimos com o apóstolo São Pedro – o dom que recebeu, como bons dispensadores da multiforme graça de Deus [1Pet. 4,10].



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