domingo, 10 de novembro de 2013

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas! — 10 de Novembro: O que leva ao purgatório (Parte XI)



Nota do blogue:  Acompanhe esse Especial AQUI.

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!
30 meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas
por Monsenhor Ascânio Brandão

Livro de 1948 - 243 pags
Casa da U.P.C.
Pouso Alegre






10 de Novembro

O QUE LEVA AO PURGATÓRIO


Tibieza e pecado venial



A grande porta aberta para os tormentos do pur­gatório quando pela misericórdia não se precipitam muitas almas no pecado grave e no inferno, é a ti­bieza e o seu sintoma certo o pecado venial. Medite­mos um pouco o mal da tibieza para vermos como é arriscado viver assim, sem procurar uma vida fer­vorosa, arriscando a própria salvação e preparando um horrível purgatório depois da morte. Vejamos o que é a tibieza:

A tibieza define-a Santo Afonso pelo que a caracteriza: o pecado venial.

A tibieza, diz o Santo Doutor, é o hábito do peca­do venial plenamente voluntário. “A tibieza é o há­bito não combatido do pecado venial, ainda que seja um só. É um hábito fundado num cálculo implícito:

— Esta falta não ofenderá a Nosso Senhor gravemente, não me há de condenar. Pois vou cometê-la.

É um hábito dificílimo de se desarraigar da al­ma. E um hábito muito espalhado, sobretudo entre as pessoas que fazem profissão de piedade e entre as almas consagradas a Deus”.

É uma doença espiritual e das mais graves e pe­rigosas. É o verme roedor da piedade. Micróbio ter­rível! Mina o organismo espiritual, sem que o enfer­mo o perceba. Enfraquece a pobre alma. Amortece as energias da vontade. Inspira horror ao esforço. Afrouxa a vida cristã. Espécie de langor ou torpor, diz Tanquerey, que não é ainda a morte, mas que a ela conduz sem se dar por isso, enfraquecendo gradualmente as nossas forças morais. Pode-se compa­rá-la a estas doenças que definham, como a tísica, e consomem pouco a pouco algum dos órgãos vitais. É uma sonolência, um sistema de acomodações na vida espiritual.




O pecado venial


Há muitos sinais de tibieza, mas o que a caracteriza é o pecado venial deliberado e habitual. Vejamos a malícia do pecado venial, que é tão castigado no pur­gatório e que é causa de tantos suplícios das pobres almas:

Embora em grau inferior, o pecado venial ofe­rece, todavia, as mesmas características de malícia que o pecado mortal.

A rainha Maria Teresa, de França, esposa de Luiz XIV, chorava uma falta venial. A delicada cons­ciência da princesa a deixava inconsolável.

— Como? — Disseram-lhe — tanta lágrima por uma falta leve, um pecado venial?!

— Sim, pode ser venial, mas é mortal para o meu coração!

Tudo quanto ofende a Nosso Senhor nunca é leve ou coisa de somenos importância para uma alma fer­vorosa. E o pecado venial é uma ofensa a Deus. Há nele três circunstâncias agravantes:

1.ª) Uma injuria à Majestade Divina.
2.ª) Revolta contra a Autoridade de Deus.
3.ª) Ingratidão à Bondade Eterna.

Quem comete facilmente o pecado venial, dificil­mente escapará dos pecados mortais, afirmam expe­rimentados mestres da vida espiritual.

“Por um justo castigo de Deus, diz Santo Isidoro, os que fazem pouco caso dos pecados veniais, das faltas leves, vêm a cair um dia nos maiores pecados”.

Santo Agostinho tem uma frase que deve me­recer de nós sérias reflexões. O pecado mortal é, se­gundo ele, uma montanha que esmaga, que mata, e os pecados veniais, grãos de areia. Acontece, porém, que o desprezo das faltas leves faz com que a alma venha a perecer como estes infelizes, que morrem su­focados sob um montão de areia. É verdade que só o pecado mortal dá morte à alma, e os pecados ve­niais, por mais numerosos que sejam, não nos podem tirar a graça santificante. Mas, diz São Gregório, o hábito dos pecados veniais tira aos nossos olhos a malícia do pecado grave, e em breve não receamos passar das faltas mais leves aos maiores pecados.



Consequência e castigos da tibieza


A tibieza prepara a impenitência final. — Será possível? Dirá alguém. Sim, a experiência o tem pro­vado mil vezes. Tibieza é o abuso da graça, e o abu­so da graça teve quase sempre, como consequência última, a impenitência final.

Deus non irridetur! — Com Deus não se brinca!

Conheceis a palavra de São Paulo?

A terra que bebe muitas vezes as águas da chu­va e que só produz cardos e espinhos, está reprovada e próxima da maldição. Será entregue ao fogo e reduzida a cinzas (Hb. 6, 7). Deus nos chama, bate, bate mil vezes à porta do coração. É desprezado.

Ai! Um dia o candelabro da graça com todas as suas luzes será transportado para outro lugar: Eu mudarei teu candelabro (Ap. 2, 5). E ai! Meu Deus! Pobre alma! O abismo da impenitência final a espe­ra. E ela sorri, presunçosa, dorme tranquila na inconsciência, na cegueira do seu lamentável estado!

Quando pela misericórdia divina uma pobre alma não chega pela tibieza ao abismo do pecado grave e à condenação, prepara para si um terrível purgató­rio. Um pecado venial é punido severamente nas cha­mas expiadoras. E quanto mais luzes e graças rece­beu neste mundo uma alma, tanto há de pagar até ao último ceitil. As revelações particulares nos mostram almas padecendo no purgatório até séculos por um pecado venial!

Não abusemos da graça. Não digamos: é um pe­cado venial, não tem importância... Se soubéssemos e meditássemos melhor o que é o purgatório, não se­riamos tão levianos e insensatos para viver na tibie­za e cometer o pecado com tanta facilidade!



Exemplo

O noviço capuchinho revela o sofrimento do purgatório


Os Anais dos Capuchinhos, Tomo III, e Rossingnoli nas suas Maravilhas das Almas do Purga­tório, 56.°, contam este fato impressionante:

Num convento capuchinho, em 1618, um noviço muito fervoroso caiu enfermo e em poucos dias ex­pirou. O Padre Guardião estava ausente e não pode lhe dar a última absolvição o que o penalizou mui­to e por isto multiplicou as orações e sufrágios pela alma do seu filho espiritual. Rezava pelo noviço de­pois de Matinas, no coro, quando a alma deste lhe aparece cercada de chamas: “Ai! Meu Padre, não pu­de receber a vossa absolvição e havia cometido uma falta leve e por ela sofro horrorosamente no purgatório. Venho pedir a vossa bênção e uma penitência e ficarei livre.

— Meu filho, responde o Padre Guardião tre­mendo, eu te abençoo quanto posso e por penitência ficarás no purgatório até à hora da Prima somente.

Faltavam duas horas para que os frades recitas­sem o Ofício. O Padre julgou uma leve penitência esta espera de duas horas no purgatório. Apenas ou­viu isto, a alma do noviço soltou um gemido doloroso de arrepiar e desapareceu, dizendo: Ah! Pai sem co­ração! Pai que não tem dó de um filho que padece tanto! Ó, não sabe que é sofrer no purgatório!

O Padre Guardião sentiu arrepiarem-se os ca­belos, e trêmulo e pálido, compreendeu neste momen­to o que é o sofrimento do purgatório, onde cada mi­nuto parece um século. Tocou logo o sino, reuniu a comunidade e mandou que se rezasse o Ofício imedia­tamente pela alma do noviço falecido, contando a ter­rível aparição. Fez a todos um sermão sobre o pur­gatório e a eternidade, repetindo as palavras de San­to Anselmo: Depois da morte a menor das penas que nos esperam é maior do que tudo que se possa padecer neste mundo. As menores faltas são punidas seve­ramente.

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