domingo, 17 de novembro de 2013

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas! — 16 de Novembro: As indulgências (Parte XVII)



Nota do blogue:  Acompanhe esse Especial AQUI.

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!
30 meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas
por Monsenhor Ascânio Brandão

Livro de 1948 - 243 pags
Casa da U.P.C.
Pouso Alegre





16 de Novembro

AS INDULGÊNCIAS


Que são as indulgências?


Entende-se por indulgência a remissão ou per­dão das penas temporais devidas a Deus pelos peca­dos já perdoados em quanto à culpa, remissão con­cedida pela Igreja pela autoridade eclesiástica fora do Sacramento da Penitência.

As penas eternas são perdoadas ao pecador que faz penitência, mas nem sempre as penas temporais. Há necessidade de fazer penitência e sofrer um pou­co em reparação dos pecados cometidos. Daí a pena temporal pelos pecados. Ora, a Igreja que recebeu o poder de perdoar a pena eterna, muito mais o tem para remir da pena temporal. “Tudo o que ligares na terra, será ligado no céu, e tudo o que desligares na terra, será desligado no céu”, disse Jesus a Pedro. Na Igreja primitiva os fiéis recebiam grandes penitências pelos seus pecados acusados. Havia pe­nitências públicas bem duras e longas. Jejuns a pão e água por vários dias na semana e por alguns anos. Em crimes mais graves como o homicídio, por exem­plo, o penitente fazia doze e mais anos de penitên­cias públicas, algumas das quais bem humilhantes. Nas faltas mais leves, o jejum de quarenta dias (uma quarentena). Depois, com o tempo, atendendo à fraqueza humana e aos tempos, a Igreja permitiu que as penitências públicas fossem substituídas por es­molas, cruzadas, peregrinações e outras obras que ser­viam para expiação dos pecados. As penas canôni­cas foram substituídas pelas indulgências concedi­das aos que fizessem algumas boas obras ou atos de piedade. Quando eram perdoadas todas as penitên­cias, era a indulgência plenária, e quando uma par­te, a indulgência parcial. Assim, quando se diz uma indulgência plenária quer dizer que o fiel lucra um perdão de todas as penitências que deveria fazer pe­los seus pecados e os castigos que deveriam merecer suas faltas com penas temporais. Uma indulgência de cem dias, por exemplo, se entende que deveria fazer cem dias de penitências por seus pecados e com uma oração recitada piedosamente ou outra boa obra po­de satisfazer esta dívida que tem para com Deus.

A indulgência é uma espécie de absolvição das penas temporais, é uma anistia do Soberano Juiz de nossas almas. Não se poderia dizer propriamente que a indulgência é a remissão das penas canônicas, mas uma remissão verdadeira da pena com que Deus castiga o pecado. Não dispensa a penitência e nem a confissão humilde de nossos pecados.

Há muita noção errada sobre as indulgências. Assim, muita gente pensa que ganhar indulgências, por exemplo, de trezentos dias é perdoar trezentos dias de purgatório, ou uma indulgência plenária im­porta numa remissão total das chamas expiadoras. Também não significa que ao ganhar duzentos ou quinhentos dias de indulgências pelas almas do pur­gatório lhes aliviamos outros tantos dias de sofrimento. Esta medida do tempo da expiação é o segre­do de Deus e depende muito do fervor e das disposi­ções de quem lucra as indulgências.

A Igreja, pelos méritos superabundantes de Jesus Cristo e os méritos de Maria e dos Santos, e pelo tesouro das boas obras dos justos, aplica para o bem dos fiéis neste mundo e para alivio das almas do purgatório as indulgências.


Vantagens das indulgências

Todo pecado trás como consequência duas coi­sas: a culpa e a pena. Pela verdadeira contrição e pelo sacramento da Penitência, ficam perdoadas as culpas e a pena eterna. Deus nos perdoa e nos livra da condenação eterna. Todavia, fica-nos o dever da penitência e da reparação do mal que cometemos. Fica uma dívida que devemos pagar à Justiça de Deus, neste mundo ou no purgatório, se a dor destes pecados não foi tão grande que tudo tivesse remido. Pelas indulgências podemos diminuir e até pagar toda esta pena temporal. Tiramos do tesouro da Igre­ja, formado pelo Sangue de Cristo, os méritos, e de Maria e dos Justos, o que precisamos para o paga­mento de nossas enormes dívidas. É o que demons­tram os teólogos.

A Igreja, todavia, nunca ensinou que as indul­gências nos dispensassem de fazer penitência e levar a cruz da mortificação. Com umas poucas orações e boas obras, quantas graças não podemos obter para nós e para os fiéis defuntos?

Três coisas são necessárias para se ganharem indulgências: o estado de graça  em estado de pe­cado grave não se lucram indulgências. A intenção de lucrar as mesmas. Para isto basta a intenção vir­tual e podemos já fazer pela manhã a intenção de lucrarmos todas as indulgências anexas às orações e boas obras que praticarmos naquele dia. E, finalmente, é mister praticar as obras prescritas, por exemplo, rezar tais e tais orações, visitas às igrejas, etc. Ora, já pelas suas condições vemos que as indulgências são de grande vantagem para quem as deseja lucrar, pois obriga-o a levar uma vida de es­tado de graça e procurar se aperfeiçoar sempre para poder lucrá-las com mais segurança. O estímulo das indulgências leva os fiéis a muitas obras meritórias. Para lucrar a indulgência plenária é mister a con­fissão e a Santa Comunhão e orar nas intenções do Soberano Pontífice, além das orações ou obras pres­critas para lucrá-las. Não é um estímulo para a prá­tica dos Sacramentos, e para que tenhamos sempre a consciência limpa? Não percamos o tesouro das in­dulgências que é riquíssimo na Santa Igreja. A con­dição da confissão e comunhão para lucrar a indul­gência plenária se satisfaz com a confissão semanal ou de quinze em quinze dias, excetuadas as indul­gências do Jubileu do Ano Santo, que exigem uma confissão e comunhão especiais para lucrá-las.

O zelo pelas indulgências leva o cristão a ter sempre seu coração livre do pecado e fazer penitên­cia, porque bem sabe, que quanto mais pura for nos­sa alma diante de Deus, tanto mais méritos pode ob­ter e salvar muitas almas do purgatório.

E demais, quantas penitências não deveríamos fazer por tantos e tão grandes pecados que comete­mos em nossa vida! Aproveitemos o tesouro das in­dulgências que irão descontando nossas enormes dí­vidas, e além do mais, socorrendo tantas pobres al­mas sofredoras no purgatório. Seremos muito bem recompensados por este grande ato de caridade. Quantas vantagens, pois, nas indulgências! E como se perdem e se desprezam tamanhos tesouros!


Indulgências pelos fiéis defuntos


Podemos lucrar indulgências pelos nossos mor­tos? — Diz Santo Tomás de Aquino com a sua autoridade de Doutor da Igreja: “Não há razão algu­ma para que a Igreja, que pode transferir os méritos dos vivos, não possa também transferi-los aos mor­tos, pois Santo Agostinho ensina que as almas dos que morreram na amizade de Deus não são separa­das da Igreja”.

Muito antes de Santo Tomás o Concilio de Arraz ensinou esta doutrina: “É preciso não acreditar que a penitência aproveita só aos vivos e não aos defun­tos”. Muitos doutores da Igreja, como São Gregório Magno nos seus Diálogos, e outros mais antigos, en­sinam esta consoladora doutrina que vem dos primeiros séculos da Igreja.

As indulgências podem, pois, servir aos vivos e aos mortos. Em linguagem teológica podem ser apli­cadas aos vivos e aos defuntos. Santa Madalena de Pazzis aproveitava quantas indulgências podia lu­crar pelos defuntos. Deus a recompensou com uma miraculosa visão. Uma das suas irmãs, muito vir­tuosa, acabava de falecer e fôra condenada ao pur­gatório. Santa Madalena se pôs a rezar e ganhar indulgências pela defunta. Havia quinze horas que a morta havia comparecido diante de Deus, quando apareceu à Santa e lhe disse, toda bela e resplande­cente: Adeus, ó minha irmã querida!

“Ó alma feliz, exclama Santa Madalena, como é grande a vossa glória! Como foi curto vosso purga­tório! Vossos restos mortais ainda não foram sepul­tados e já entrastes na eterna pátria!”.

Nosso Senhor revelou à grande Santa que esta alma deveria ter um longo purgatório, mas se livrou em tão pouco tempo pelas indulgências que ela ha­via lucrado pela defunta.

Conta-se na Vida de Santa Teresa, a Matriarca do Carmelo, um fato consolador. Uma Carmelita de uma vida muito simples e que em nada se distinguia das outras, veio a falecer, e a Santa a viu subir ao céu com grande glória pouco tempo depois da morte, de sorte que teria tido talvez um brevíssimo purga­tório. E como Teresa revelasse grande surpresa com isto, Nosso Senhor lhe disse que aquela religiosa sempre teve grande respeito pelas indulgências da Santa Igreja e durante toda vida sempre se esforçou por ganhar o maior número que lhe foi passível. E isto fez com que tivesse pago a maior parte das suas dívidas para com a Divina Justiça.

Aliviemos os sofrimentos de nossos mortos que­ridos, procurando ganhar por eles muitas e numero­sas indulgências. Grande parte deste tesouro é apli­cável às almas. Deus aceita sempre esta satisfação dos vivos pelos mortos, diz o grande teólogo Suarez. Talvez haja para nós dificuldades e obstáculos para lucrarmos indulgências, porém Deus sempre as acei­ta pelas almas do purgatório.

O Santo Rosário, a Via Sacra, que riqueza de indulgências para os mortos nos oferecem estas duas práticas piedosas! Recitemos jaculatórias indulgen­ciadas. É tão fácil repeti-las em toda parte e a toda hora! Duplo proveito: nossa união com Deus e alívio das pobres almas. Vamos, pois, cheios de generosi­dade aproveitar o tesouro das indulgências em favor do purgatório!


Exemplo

O que vale um Requiem


Autores antigos como Dorlandus, na Crônica Cartusiana, e Teófilo Regnaud, em Heter Spirituale — Pars II, Sect. II — narram este fato que por aí às vezes tem sofrido variantes acrescentadas pelo povo:

Um rico senhor, de uma fortuna bem considerável, deixou uma herança para o filho, único herdei­ro. Este, muito piedoso, lembrou-se logo da alma do pai e quis sufragá-la generosamente. Logo após o enterro do pai, vai a um mosteiro e oferece uma gran­de soma ao Prior, rogando muitas orações pelo mor­to querido. No mesmo instante, os monges se reuniram e o Prior lhes disse: “Meus irmãos, acaba do falecer e foi hoje sepultado um grande benfeitor des­te convento. Oremos por sua alma”. Imediatamente os monges entoaram um “Requiescat in pace”. E o Superior responde: Amen. Logo depois se retiram to­dos do coro.

O moço, filho do benfeitor, admirou-se de tão pouca oração, após ter oferecido tão grande soma. “Tão pouco, diz ele ao Prior, por tão generosa ofer­ta?” O Prior, inspirado por Deus, quis dar uma lição ao jovem e mostrar-lhe o valor da oração. Mandou que os religiosos escrevessem todos num papel estas palavras que rezaram: Requiescat in pace! E depois lho trouxessem. Mandou chamar ao jovem e pôs os papeis num prato de balança, e noutro prato a soma de dinheiro em moedas pesadas, oferecidas pelo ben­feitor. Ó prodígio! No mesmo instante o prato da balança pendeu para o lado do papel, com admiração geral. Diante disto, reconheceram todos o quanto vale um Requiescat in pace pelos defuntos. O moço se retirou contente e convencido de que não se po­dem comparar os bens materiais com os espirituais.

A Bem-aventurada Maria de Quito foi arrebata­da em êxtase e viu uma mesa cheia de pedrarias e jóias e moedas de ouro. Uma voz lhe dizia: Estas são as riquezas oferecidas a todos. Cada um pode delas se servir como queira. Era uma figura das riquezas espirituais das indulgências que todos podemos juntar e aproveitá-las para nossa alma e principalmente em favor das pobres almas do purgatório.

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