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Luz nas trevas: respostas irrefutáveis às objeções protestantes
por Pe. Júlio Maria
por Pe. Júlio Maria
Livro de 1955 - 224 pag.
Editora VOZES
Petrópolis
Editora VOZES
Petrópolis
CAPÍTULO IX
OS SUPOSTOS IRMÃOS DE JESUS
Uma objeção que os amigos protestantes fazem contra a virgindade da Mãe de Jesus é afirmar que ela teve outros filhos, além de Jesus.
Estando este assunto intimamente ligado à imaculada
conceição, quero tratá-lo aqui separadamente, embora não figure nos números
do desafio.
Maria SS. teve ela outros filhos, depois do
nascimento de Jesus? Resolvamos a questão de um modo irrefutável.
Para dar a esta objeção uma aparência de verdade,
escolhem no Evangelho umas passagens que falam de tais irmãos, sem compreenderem a significação das palavras, e sem
conhecerem os costumes dos judeus destes tempos remotos.
Em diversos lugares o Evangelho fala desses irmãos.
Assim São Mateus, São Marcos e São Lucas referem que estando Jesus a
falar, disse-lhe alguém: eis que estão lá fora tua mãe e teus irmãos que querem
ver-te (Mt 12, 46-47; Mc 3, 31-32; Lc 8, 19-20).
São João, por sua vez, fala de tais irmãos (Jo
7, 1-10).
Ao ler estes passos, os amigos biblistas, que só
enxergam palavras, e não sentidos, concluem imediatamente: A
Bíblia fala de irmãos de Jesus, então Maria teve outros filhos e não é pura,
nem Virgem, como dizem os católicos.
Bela objeção, que mostra a supina ignorância dos
biblistas. A invenção não é nova. Foi o herege Elpídio que, no século IV, moveu
tal objeção, e foi São Jerônimo que a refutou pela primeira vez.
I. Exemplos da Bíblia
Se os protestantes compreendessem um pouco a
linguagem bíblica, ou soubessem, pelo menos, confrontar certas expressões,
veriam logo que entre os judeus, — como ainda hoje em certos países e línguas, —
se chamam com o nome de irmãos não só os nascidos do mesmo pai
e da mesma mãe, mas também os parentes próximos.
As línguas hebraica e aramaica não possuem palavra
que traduza o nosso “primo ou prima”, e servem-se da palavra “irmão
ou irmã”.
A palavra hebraica ha, e a
aramaica aha, são empregadas para designar irmãos ou irmãs do
mesmo pai, não da mesma mãe (Gn 37, 16; 42, 15; 43, 5; 12, 8-14; 39, 15),
sobrinhos, primos irmãos (1 Par 23, 21), e primos segundos (Lv 10, 4) — e
até parentes em geral (Jó 19, 13-14; 42, 11).
Os passos acima provam que a palavra irmão era uma
expressão genérica, geral.
Jesus, tendo pois primos, não havia outra palavra
em aramaico senão “irmão” para exprimir o parentesco.
Há muitos exemplos na bíblia. Lê-se no Gênesis
que Taré era pai de Abraão e de Harão, e que Harão gerou a Lot (Gn
11, 27), que, por conseguinte, vinha a ser sobrinho de Abraão.
Contudo no mesmo Gênesis, mais adiante, chama a
Lot irmão de Abraão (Gn 13, 3). Disse Abraão a Lot:
nós somos irmãos (Gn 14, 14). — Ouvindo pois Abraão que seu irmão
(Lot) estava preso, armou os criados, etc.
Da mesma forma Jacob era sobrinho de
Labão como se deduz também no Gênesis, que afirma ser Jacob filho da irmã de
Labão: Ouvindo Labão as novas de sua irmã, correu-lhe ao encontro, etc. (Gn
24, 13).
Pois bem, ainda uma vez o Gênesis, dois versículos
mais adiante, põe na boca de Labão estas palavras dirigidas ao sobrinho Jacob: Então
porque tu és meu irmão, hás de servir-me de graça? (Gn 29, 15).
Tobias, o moço, era primo de Sara;
pois Tobias, o velho, pai do moço, e Raquel, pai de Sara, eram irmãos: Disse
Raquel: conheceis Tobias, meu irmão? etc. (Tob 7, 4-5). — Ora, o jovem
Tobias dirigindo-se a Deus: Senhor, sabes que não é por motivo de
luxúria que recebo por mulher esta minha irmã (Tob 7, 4-6). O
protestantes rasgaram este livro de Tobias.
Eis diversos passos que provam que a palavra irmão,
na linguagem da Bíblia, significa, não somente irmãos, no sentido
da nossa palavra, mas sim primos, sobrinhos, até ao terceiro grau.
II. Evangelho na mão
Vamos examinar a questão de perto
e ver, pelas próprias palavras do Evangelho, que tais irmãos de
Jesus são simplesmente seus primos.
Estes supostos irmãos são indicados por São
Marcos: Não é este o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, e de
José, e de Judas e de Simão e não estão aqui conosco suas irmãs?
Jesus tem pois irmãos e irmãs.
Não são irmãos consanguíneos, mas sim irmãos primos de
segundos, como o explica o próprio Evangelho.
Vejamos: O tal Tiago e Judas em
vez de serem filhos de Maria SS. são filhos de Alfeu ou Cléofas. É São Lucas
que no-lo afirma: Chamou Tiago, filho de Alfeu... E Judas, Irmão de Tiago (Lc
6, 15-16). — E ainda: Chamou Judas, irmão de Tiago (Lc 6, 16).
Quanto a José, São Mateus diz que é irmão de
Tiago: Entre os quais estava... Maria, mãe de Tiago e de José (Mt
27, 56).
Eis agora Simão chamado irmão dos três
outros. Tiago, José, Judas e Simão (Mc 6, 3). Estes
quatro supostos irmão de Jesus são, pois, verdadeiramente irmãos entre
si, filhos do mesmo pai e da mesma mãe.
Falta agora só descobrir o nome dos seus pais. O
Evangelho os indica: Chamou... Tiago, filho de Alfeu (Lc 6,
15). Alfeu ou Cléofas é, pois, o pai de Tiago e, em consequência, dos irmãos de
Tiago, que são os três outros citados.
Conhecemos o pai. Procuremos agora a mãe deles.
Conhecendo a mãe de um, é conhecida a mãe de todos, visto serem irmãos. Ora, o
Evangelho é explícito: Entre as quais estavam Maria Madalena e Maria,
mãe de Tiago (Mt 27, 56).
Eis o mistério esclarecido: Tiago, José, Judas e
Simão, tais pretensos irmãos de Jesus, são simplesmente filhos de
Alfeu (Cléofas) e Maria (Cleofás), primos de Jesus, como
indica o quadro que segue.
Os pobres protestantes confundem tudo... e não
enxergam que tal Maria Cléofas é completamente distinta de Maria Santíssima,
como faz notar o evangelista: Junto à cruz de Jesus estava sua mãe e a
irmã (prima) de sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas (Jo
17, 25).
III. Um dilema sem saída
Eis os pobres protestantes num dilema sem saída, e
em flagrante contradição com o evangelho. Se tais irmãos são
verdadeiramente irmãos consanguíneos de Jesus, é preciso concluir que Jesus não
é filho de Maria SS., mas, sim, de Maria Cléofas e Alfeu.
Então Maria SS. não é mais Mãe de Deus, mãe de
Jesus. Ora, o evangelho diz: Jacob gerou a José, esposo de Maria, da
qual nasceu Jesus, que se chama Cristo (Mt 1, 16). Jesus é filho de
Maria SS. É claro e formal. Maria SS. era esposa de São José: de novo é claro e
positivo.
Mas, então, ó protestantes, como combinar estes
passos do Evangelho? Um filho pode ter dois pais e duas mães? Jesus é filho de
Maria SS., que era esposa de São José, Tiago, José, Judas e Simão são filhos de
Maria Cléofas e de Alfeu.
E tendes a coragem de dizer que estes últimos são
irmãos de Jesus e filhos de Maria Santíssima!!!
É ignorância, ou então muita perfídia...
Procurai sair deste dilema! Ou o Evangelho mente ou
vós caluniais descaradamente. E como o Evangelho é a palavra de Deus, infalível
e certa, devemos concluir necessariamente que vós mentis e caluniais... ou que
sois ignorantes obcecados, desconhecendo o que atacais e ignorando
o que pretendeis ensinar aos outros. O dilema é humilhante, irrefutável.
IV. Genealogia de Jesus
Para poupar-vos, no futuro, erros tão grosseiros e
ajudar-vos a compreender um pouco a Bíblia, cuja letra estudais sem penetrar
até ao espírito que a anima, traço aqui a árvore genealógica de Jesus, baseada
sobre a Sagrada Escritura, que vos mostrará clara e insofismavelmente toda a
família de Jesus Cristo.
Por esta árvore vereis que os tais irmãos
de Jesus, por serem filhos de Cléofas, que é irmão de São José, e por consequência
seus sobrinhos legítimos, são simplesmente primos segundos de
Jesus, no mesmo grau que São Tiago maior, São João Evangelista e São João Batista.
Falando destes assuntos, o Evangelho não os chama
pessoalmente irmãos de Jesus. A razão é que os filhos de
Cleófas, como sobrinhos de São José, esposo de Maria SS., e ao mesmo tempo
primos de Jesus pela descendência do pai, têm para com Jesus um duplo
parentesco: Pelo pai e pelo tio, São José. Os quatro primeiros
são irmãos de Jesus; os quatro são seus irmãos parentes. Eis o que
claramente resulta dos textos do Evangelho.
A seguinte árvore genealógica elucidará
perfeitamente a questão, e dissipará qualquer dúvida.
É pois claro e bem provado, pelo próprio evangelho,
que Maria SS. nunca teve outros filhos além de Jesus. Pura e Imaculada, a mãe
de Jesus nunca conheceu varão (Lc 1, 34) e o filho de
Deus que nasceu dela por obra do Espírito Santo (Lc 1, 45) é o seu
filho unigênito, com diz o evangelho, em alusão a lei judaica.
Uma outra coisa e decisiva prova encontra-se nas
últimas palavras de Jesus na cruz, remetendo a sua mãe ao desvelo de São João.
Se Maria SS. tivesse tido outros filhos, Jesus a teria recomendado a um destes
filhos, em vez de remetê-la nas mãos de um primo segundo. Jesus não teve
irmãos, nem mais velhos, nem mais novos. Toda a sua infância, a ida a
Jerusalém, na idade de 12 anos, a vida em Nazaré, mostram claramente que a
sagrada família, nunca ultrapassou três membros: Jesus, Maria e José.
O evangelista São Marcos chama Jesus O
filho de Maria (Mc 6, 3) e não filho de Maria; o que
supõe que Jesus fosse o filho único da viúva. Tais apelações de fato, diz o
próprio Renan (Evang., Paris, p. 542), não se empregam senão quando o pai é
falecido, e que a viúva não tem outros filhos.
Em parte nenhuma os tais supostos irmãos de Jesus
partilham com ele este apelido de “filhos de Maria”.
Maria SS. não teve, pois, nem mesmo podia ter,
nenhum outro filho, além de Jesus.
Ela amava extremamente as virtudes, mas dum modo
particular a rainha das virtudes, que é a virgindade.
Quando todas as donzelas de Israel ardentemente
desejavam casar-se, na esperança de terem parte do nascimento do Messias, ela
prometeu a Deus guardar perpetuamente a sua virgindade. Ela só aceitou a
maternidade divina depois de ter-se certificado de que tal privilégio não
contrariava a sua virgindade.
Ela casou-se com São José, porque sabia que ele era
um homem justo, que tinha feito a Deus solene promessa de
perpetuamente guardar a virgindade.
O evangelista nos assevera que São José não
conheceu Maria, durante todo tempo que ele ignorou o mistério da Encarnação. Como
poderia ele desrespeitá-la, depois que o Verbo divino se encarnou e se fez
homem em seu puríssimo seio?
É, pois, bem claro que Maria SS. não teve filhos
com São José.
VI. Uma conclusão horrível
Mas então quem é o pai desses outros filhos além de
Jesus? Ainda ninguém o disse, nem nunca será capaz de dizê-lo.
Mistério incompreensível! Jesus espantou o mundo
inteiro por seu saber, por seu poder, por suas virtudes; e tem irmãos e ninguém
sabe quem é o pai de seus irmãos!
Maria SS. é notoriamente reconhecida como
verdadeira mãe deste homem extraordinário, portentoso e santo; e ela comete um revoltante
escândalo, e ninguém sabe quem é o cúmplice deste horroroso crime.
Pobres e infelizes protestantes, não compreendem que
dizer que Maria SS. teve outros filhos além de Jesus é qualificá-la de impura,
desonesta, de corrupta, adúltera! Oh! Quanto esta injúria, este insulto, esta
calúnia deve magoar e ofender a Virgem Santa, tão extremosa amante da pobreza!
Como deve ofender a Jesus, tão sensível à honra de sua progenitora!
Pobres protestantes, refleti um instante e
compreendei enfim o que vos dita a consciência, o bom-senso e a própria Bíblia,
que dizeis ser a regra de vossa crença, e deixai de fechar os olhos à luz
refulgente da doutrina católica.
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