quinta-feira, 4 de junho de 2015

Zygmunt Bauman - ‘Vivemos Tempos Líquidos. NADA É FEITO PARA DURAR’


DESTAQUE

O homem se colocou no lugar de Deus, e agora, não sabe porque vive. Pior do que a vida, perdeu a razão de viver.
O mundo de hoje se encaminha para o quadro de non-sense, abaixo descrito, com invulgar clareza. É um mundo que, tendo abdicado de Deus,  pretende encontrar a felicidade em si. Por isso, ruma para a loucura. É disso que devemos fugir, ou seja, do espectro do “bon vivant” pós-moderno.
Eis um depoimento insuspeito, já que procede de um ponto de vista em tudo alheio à Religião católica. Não obstante, confirma por inteiro o que a Igreja nos ensina sobre as consequências extremas de uma sociedade que exclui a Lei de Deus.
Uma das doenças mentais que emergem é esta — a da “solidão interativa”.

*** * ***





Estamos cada vez mais aparelhados com iPhones, tablets, notebooks, tudo para disfarçar o antigo medo da solidão. O contato via rede social tomou o lugar de boa parte das pessoas, cuja marca principal é a ausência de comprometimento. Este texto tem como base a ideia de líquido, característica presente nas relações humanas atuais, inspirado na obra "Amor Líquido", sobre a fragilidade dos laços humanos, de Zigmunt Bauman.

As relações se misturam e condensam com laços momentâneos, frágeis e volúveis. Em um mundo cada vez mais dinâmico, fluido e veloz, seja real ou virtual.

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman é um dos intelectuais mais respeitados da atualidade. Aos 87 anos seus livros publicados venderam mais de 200 mil cópias. Um resultado e tanto para um teórico. Entre eles “Amor liquido” é talvez o livro mais popular de Bauman, no Brasil. É neste livro que o autor expõe sua análise de maneira mais simples e próxima do cotidiano, analisando as relações amorosas e algumas particularidades da “modernidade liquida”.

Vivemos tempos líquidos, nada é feito para durar, tampouco sólido. Os relacionamentos escorrem das nossas mãos por entre os dedos feito água. Ele tenta nos mostrar nossa dificuldade de comunicação afetiva. Todos querem relacionar-se, mas chega na hora, não conseguem. Seja por medo ou insegurança. Bauman cita como exemplo um vaso de cristal, na primeira queda, quebra. As relações terminam tão rápido quanto começam, as pessoas pensam terminar com um problema cortando seus vínculos, mas o que fazem mesmo é criar problemas em cima de problemas. É um mundo de incertezas. E cada um por si. Temos relacionamentos instáveis, pois as relações humanas estão cada vez mais flexíveis. Acostumados com o mundo virtual, e com a facilidade de se “desconectar”, as pessoas não conseguem manter um relacionamento de longo prazo. É um amor criado pela sociedade atual (modernidade líquida) para tirar das pessoas a responsabilidade de relacionamentos sérios e duradouros. Pessoas estão sendo tratadas como bens de consumo, caso haja “defeito”, descarta-se ou até mesmo troca-se por versões mais atualizadas.

O romantismo do amor parece estar fora de moda. O amor de verdade foi banalizado, diminuído a vários tipos de experiências vividas pelas pessoas, na qual se referem a estas utilizando a palavra amor. Noites descompromissadas de sexo são chamadas “fazer amor”. Não existem mais responsabilidades de estar amando, a palavra amor é usada mesmo quando as pessoas nem sabem direito seu real significado. Ainda para tentar explicar a relações amorosas em “Amor Líquido”, Zygmunt Bauman fala da “Afinidade e Parentesco”.

O parentesco seria o laço irredutível e inquebrável; é aquilo que não nos dá escolha. A afinidade é, ao contrário do parentesco, voluntária. A afinidade é escolhida. Porém, e isso é importante, o objetivo da afinidade é ser como o parentesco. Entretanto, vivendo em uma sociedade de total “descartabilidade”, até as afinidades estão-se tornando raras.

Bauman fala também sobre o amor-próprio. Afirma que as pessoas precisam sentir-se amadas, ouvidas, amparadas ou que sintam sua falta. Segundo ele, ser digno de amor é algo em cuja escala só o outro nos pode classificar, o que fazemos é aceitar essa classificação. Mas, com tantas incertezas, relações sem forma, líquidas, na qual o amor nos é negado, como teremos amor-próprio? Os amores e as relações humanas de hoje são todos muito instáveis. E assim não temos certeza do que esperar. Relacionar-se é caminhar na neblina, sem a certeza de nada. É uma descrição poética da situação. "Para ser feliz há dois valores essenciais que são absolutamente indispensáveis [...] um é segurança e o outro é liberdade, você não consegue ser feliz e ter uma vida digna na ausência de um deles. Segurança sem liberdade é escravidão. Liberdade sem segurança é um completo caos. Você precisa dos dois. [...] Cada vez que você tem mais segurança, entrega um pouco da sua liberdade. Cada vez que você tem mais liberdade, entrega parte da segurança. Então, você ganha algo e perde algo". (Bauman)

Fonte: Jornal GGN

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...