“Definir de forma indiscriminada [o sigilo de informações sobre viagens presidenciais] para frente e desde o início do mandato é algo inédito nos anais do governo brasileiro”, diz uma das fontes. “Normalmente, algumas coisas [das viagens presidenciais] já são tratadas de forma confidencial, mas as coisas corriqueiras não precisam ser feitas de forma secreta”.
Segundo outra fonte, a comunicação deixa bem claro que, embora o sigilo tenha sido determinado para qualquer informação, há preocupação singular com os gastos. O texto fala em “faturas” e “boletos”.
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Fonte: Correio do Estado
Foto: Roberto Stuckert Filho/PR |
O governo colocou sob sigilo todas as informações relativas às viagens
que a presidente Dilma Rousseff ou seu vice, Michel Temer, já fizeram ou vierem
a fazer ao exterior. Os dados só poderão ser divulgados depois que ela deixar o
Palácio do Planalto, em 31 de dezembro de 2014. Ou, se reeleita, de 2018.
A decisão ocorre num momento em que o governo está sendo questionado
sobre o tamanho das comitivas presidenciais – e dos gastos – no exterior. Além
disso, ela impedirá que esses dados venham à luz durante a campanha eleitoral
de 2014.
Extratos de uma comunicação classificada do Itamaraty, a que o iG teve
acesso, determina a reclassificação de todos os expedientes e documentos
relacionados às visitas ao exterior de Dilma ou do vice, feitas desde que ela
tomou posse, em 1º de janeiro de 2011. A regra se aplica também às viagens que
forem feitas "futuramente".
No mínimo, esses materiais deverão
receber o carimbo de “reservados”, categoria que prevê sigilo de cinco anos
desde a sua produção. Mas podem ser reclassificados como secretos, o que os
deixará 15 anos na sombra, ou como ultrassecretos – 25 anos.
Quando Dilma deixar o poder, o sigilo poderá será levantado, segundo o
documento. A justificativa legal para classificar os documentos será a da
segurança. A Lei de Acesso à Informação (12.527/2011), a LAI, permite colocar
sob sigilo, até que o presidente da República e o vice deixem os cargos, dados
que possam pô-los em risco. A proteção se aplica aos cônjuges e filhos de
ambos.
‘Estrito cumprimento da lei’
O Itamaraty não confirmou o exato teor do documento. Segundo a
assessoria de imprensa do órgão, “as medidas de reclassificação são feitas em
estrito cumprimento à Lei de Acesso à Informação".
Procurada na tarde desta quinta-feira (30), a chancelaria não
disponibilizou um porta-voz para explicar de onde partiu a ordem e por que ela
foi emitida no atual momento.
Dilma foi a presidente que sancionou LAI em 2011. Em 3 de julho de 2012,
ressaltou que o texto determina "que o acesso agora é a regra e o sigilo
passou a ser a exceção.”
Na prática, entretanto, a comunicação tornou regra que qualquer
informação sobre viagens da presidente ao exterior ficará de fora do alcance da
LAI até o fim da era Dilma.
‘Totalmente dezarrazoado’
A ordem de reclassificar os documentos foi distribuída a funcionários do
Itamaraty no Brasil e a toda a rede consular do País no exterior nos últimos
dias, segundo duas fontes da pasta ouvidas pela reportagem. Outras duas fontes,
da mesma pasta, confirmaram a existência do documento e o seu teor, mas não o
texto exato. Todas pediram anonimato.
“Definir de forma indiscriminada [o sigilo de informações sobre viagens
presidenciais] para frente e desde o início do mandato é algo inédito nos anais
do governo brasileiro”, diz uma das fontes. “Normalmente, algumas coisas [das
viagens presidenciais] já são tratadas de forma confidencial, mas as coisas
corriqueiras não precisam ser feitas de forma secreta.”
Segundo outra fonte, a comunicação deixa bem claro que, embora o sigilo
tenha sido determinado para qualquer informação, há preocupação singular com os
gastos. O texto fala em “faturas” e “boletos”.
De acordo com essa fonte, em teste a determinação de sigilo se aplica a qualquer informação relativa à viagem. Mas quando se fala em faturas, está claro que há uma referência específica às despesas, avalia ela. “É totalmente desarrazoado, pois a pessoa já voltou para o Brasil está sã e salva.”
De acordo com essa fonte, em teste a determinação de sigilo se aplica a qualquer informação relativa à viagem. Mas quando se fala em faturas, está claro que há uma referência específica às despesas, avalia ela. “É totalmente desarrazoado, pois a pessoa já voltou para o Brasil está sã e salva.”
Para essa fonte, o sigilo se aplicará também aos gastos de todos os
membros das comitivas, e não só da presidente. Em março, a BBC revelou que
Dilma gastou R$ 11,6 milhões em 35 viagens feitas entre 2011 e 2012. Desses, R$
433 mil foram dispendidos em escalas feitas em países nos quais a presidente
não tinha nenhum compromisso oficial. Os dados foram obtidos por meio da LAI.
No mesmo mês, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), fez um requerimento via
mesa do Senado para que o governo detalhasse os gastos realizados durante a
viagem de Dilma a Roma para a missa inaugural do Papa Francisco. A visita
custou ao menos R$ 324 mil. À reportagem, o parlamantar disse ainda não ter
recebido resposta.
O iG solicitou no dia 28 de maio informações sobre os
gastos da presidente à Etiópia. A LAI prevê que a informação seja divulgada
imediatamente, se estiver disponível, ou num prazo máximo de 30 dias. Os dados
não foram repassados até a conclusão desta reportagem.
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