quarta-feira, 31 de julho de 2013

A reencarnação sob o olhar da fé






Em 1982, uma sondagem do instituto Gallup revelava um fenômeno impressionante da mentalidade ocidental. Um em cada quatro europeus declarava ser adepto da teoria da reencarnação. O fenômeno tinha todas as oportunidades para se expandir, uma vez que, no mesmo ano, 28% dos britânicos apoiavam esta doutrina enquanto, dez anos antes, não eram mais de 18%.

As cifras crescem sem parar nos últimos 12 anos. Mostram de modo evidente que essa crença não se limita às margens do Ganges, mas que exerce uma real força de sedução nas mentalidades ocidentais. A multiplicação dos livros, artigos, programas televisivos, filmes, que se prestam a gravá-la na inteligência, convida-nos a examiná-la atentamente.

Apresentação geral

A reencarnação, ou metempsicose, é uma doutrina filosófica que prega a transmigração da alma, ao considerá-la suficientemente independente do corpo para que não esteja ligada a ele de modo exclusivo. Depois da morte, ela une-se a outro corpo para começar nova vida. A alma é semelhante a um homem que tem de mudar-se regularmente. Em uma determinada data, deixa necessariamente uma morada para ir habitar em outra. A metempsicose distingue-se da reencarnação no que admite a migração das almas nos animais e nas plantas, enquanto esta última a restringe ao gênero humano.

Uma breve exposição nos ajudará a conhecer melhor tais doutrinas1. As tribos animistas da África conservaram a religião das hordas ancestrais. Na morte, a alma lamenta pelo seu corpo, desejando assim unir-se seja aos objetos a que era apegada, seja aos animais ou mesmo aos seres humanos. As coisas ou animais tornavam-se protetores da família dos descendentes. A metempsicose encontra-se aqui mais próxima da superstição que da religião. Ainda que de modo secundário, essa crença ressurge em uma forma mais elaborada no Egito das pirâmides. Para os egípcios, a alma, depois da morte, vai juntar-se às estrelas incontáveis (versão mais antiga), ou fundir-se na alma universal que habita o sol (versão panteísta mais tardia). Por vezes, todavia, a alma do pecador pode ser constrangida a entrar no corpo de um porco para que ali leve uma vida miserável sobre a terra.

Tal doutrina aparece na Grécia por volta do século VI a.C.. Desconhecida até então, logo adota um novo formato, elaborado através do mito de Orfeu. Composto de um elemento mal e outro divino, o homem deve se libertar do princípio maligno que quer governá-lo, para permitir o triunfo da força divina. Logra-o por purificações sucessivas, reiteradas ao longo de uma série de existências terrestres, até o ponto em que se escuta dizer esta sentença liberadora: Bem-aventurado e feliz, serás deus e não mais mortal2.

Pitágoras faz sua a teoria. Mais ainda, afirma lembrar-se de todas as vidas anteriores, que faz começar em Aitalides, filho de Hermes. Platão é mais prudente em seus escritos: Em tal matéria, é impossível, ou pelo menos dificílimo, chegar a uma evidência. (Fédon, 85) Contudo, sua concepção da metempsicose não é menos precisa. Na morte, a alma passa uma estada no inferno para um tempo de provações, depois do que se une por iniciativa própria aos seres que se lhe assemelham. Se a alma se encontra pura no momento da morte, isto é, isenta de todas as máculas do corpo, é-lhe imposta não obstante uma provação de três mil anos, em meio de que precisará sofrer três outras vidas terrestres, conservando a inocência. Só então será fundida para sempre em um espírito divino, imortal e cheio de sabedoria. Por outro lado, a alma dos tiranos e dos incorrigíveis viverá em uma eterna infelicidade, unida aos seres corrompidos que se lhe assemelham. Quanto àqueles cuja malícia não é invencível, podem reencarnar para se purificar e avançar até à sabedoria. A despeito disso, mil anos de provação separam duas encarnações sucessivas. Aristóteles considera com desdém o que chama de “fábulas pitagóricas”3 Recusa-as baseado em graves razões filosóficas, que iremos examinar. A alma não é estranha ao corpo. Constitui, com o corpo, um todo substancial, uma só realidade concreta. Uma alma determinada dá o ser e aperfeiçoa um determinado corpo: “Uma alma não pode entrar num corpo qualquer”4

No final do século II antes de nossa era, a metempsicose passou da Grécia para Roma por intermédio do poeta Ênio (239-169 a.C.). Aí parece ter sido admirada, já que descobrimos menções a seu respeito em Horácio, Ovídio e Virgílio.

Mas é na Índia e no Oriente Distante que a teoria da reencarnação encontrou sua terra de predileção, conhecendo sucesso prodigioso. Notemos, antes de tudo, que os livros védicos, levados pelos Arianos ao norte do país (2000 anos a.C.), não davam qualquer sinal da metempsicose. Essa só aparece com os Upanishads (700 anos a.C.). Tal moral está subtendida por um princípio primordial: a felicidade das almas consiste na fusão com a alma universal do tudo. A boa ação é a que favorece o aniquilamento da personalidade, dos apetites, da atividade própria. E, já que a fonte de todo mal é a sede de existência, o ato mal é o que a alimenta. Enquanto a soma dos atos maus não for compensada pela dos atos bons, a alma deverá renascer à vida terrestre. Ela será liberada dessa fatalidade quando tiver apagado todo desejo de existir, quando tiver atingido a inação absoluta, o vazio completo. É a absorção na alma universal (o brahma) ou nirvana.

O budismo na China retoma o mesmo pensamento, radicalizando-o. Como seu predecessor, segue a destruição da personalidade, mas parece ignorar a alma suprema, a ponto de só se interessar pelo nirvana em si mesmo. Acentua, destarte, o niilismo hindu. Métodos ascéticos mui austeros são estabelecidos, a fim de se realizar o nada, não mais obstando a reminiscência das vidas passadas.

No Oriente assim como no Ocidente, a metempsicose nos parece como um fenômeno em contínua expansão. Nada parece deter sua progressão. Nada, salvo o cristianismo. Com efeito, só o formidável esforço da Igreja nos dois primeiros séculos de nossa era pôde estancar tal doutrina. Em todo lugar onde o Evangelho foi pregado, ela caiu no esquecimento ou teve de se esconder. No Ocidente, vemo-la refugiar-se na cabala do século II. Qualquer alma, ensina, possui em si o princípio de seu próprio aperfeiçoamento, devendo conduzi-la até à substância divina, onde entrará depois de uma ou várias vidas terrestres.

Os gnósticos retomam a mesma concepção dinâmica da reencarnação. Esta não é tão-somente punição pelas faltas de vidas passadas, mas uma etapa da ascensão da alma à divindade pelo impulso de seu próprio dinamismo interior.

Veiculada pela cabala e pela gnose, tal pensamento é retomado, no século XVI, pelo matemático Jerome Cardan (1501-1576) e pelo filósofo Giordano Bruno (1548-1600). O século XIX fornece vários adeptos notórios desse pensamento, mas é contudo com a teosofia e a antroposofia, no século XX, que o movimento toma um formidável alcance.

Tal é, por exemplo, o vaticínio de Rudolf Steiner5, fundador da antroposofia: “Quando superamos a ilusão do EU terrestre habitual, escreve ele, quando logramos a visão espiritual, podemos reconhecer o EU tal como atravessou o mundo espiritual entre a morte e um novo nascimento, e como no seio desse mundo dotado de impulsos morais, ele se comporta em função de sua vida terrestre precedente, e como introduz na vida terrestre atual tudo o que vimos exprimir-se nas inclinações do ser humano (...). “Quando observo uma planta, me é possível perceber que ela tem em si um impulso vital durável, que reaparecerá em uma outra planta quando a primeira já estiver, muito tempo depois, reduzida a cinzas.”6

Nos anos 60, com a fascinação pela Índia, a expansão toma aspecto de um grande contágio. Assistimos a uma verdadeira campanha orquestrada por todos os meios de comunicação. Os livros se multiplicam, os testemunhos mais perturbadores são transmitidos pelas ondas e telas7. Logo, a “Nova Era” faz disso um de seus temas favoritos, dando a ele a eficaz sustentação de sua organização e finanças. A propaganda alcançou um formidável sucesso, o que constatamos até à hora presente.

Concluamos este sobrevôo de séculos e civilizações por um comentário geral. O cônego Vernette observa, com justeza, que a teoria da reencarnação não aparece nas diversas religiões, nem no seu nascimento nem à sua idade de ouro, mormente em seu declínio. Denuncia certo desgaste, marca o fim de uma era. “A crença na reencarnação parece surgir no momento das grandes crises de sentido: quando buscamos uma nova resposta religiosa às questões metafísicas a respeito da origem e do fim do homem, sobre o mal e o sofrimento”. A religião é sufocada e torna-se impotente para responder as inquietudes do homem. Este, pois, se refugia na metempsicose. Graças a ela, em primeiro lugar, nossos mortos não nos deixam mais, porém continuam a viver entre nós. Ela também nos vem consolar de nossos fracassos e de nossa impotência em fazer o bem, fazendo-nos crer que outra vida nos tornará melhores. Nada está definitivamente decidido. O sofrimento toma um novo sentido. Não é mais um escândalo revoltante para aqueles que  não são cristãos, mas a justa expiação de uma vida anterior. Enfim, essa doutrina nos dá serenidade para enfrentar os males do tempo presente. Os cataclismos e a morte são apenas passagens obrigatórias para uma nova existência mais feliz. O “paraíso terrestre” permanece sempre possível. Compreendemos melhor a força de sedução que essa doutrina exerce sobre os espíritos deste fim de século XX. Mas a metempsicose cumpre suas promessas? Tem alguma possibilidade de conduzir o homem à felicidade? É crível? É verdadeira?

Para responder, devemos examinar tal doutrina de um duplo ponto de vista: o da fé e o da razão natural.



O OLHAR DA FÉ

O sistema de pensamento que analisamos pretende reger o destino do homem, sua felicidade eterna e os meios de alcançá-la. Ora, essa questão interessa ao principal chefe da doutrina da Igreja católica que, como guardiã da revelação, ensina-nos as verdades necessárias à salvação. O primeiro dever do cristão é questionar a Igreja sobre a nova teoria. A confrontação é tanto mais oportuna quanto numerosos são os que afirmam poder fazer coexistir metempsicose e fé católica.

Um novo sistema

Sabemos que o ensino da verdade na Igreja é essencialmente Tradição. Não se trata de inventar novas doutrinas nem de ser original, trata-se de transmitir fielmente a revelação de Nosso Senhor Jesus Cristo. A força dessa doutrina reside precisamente em que ela pode se apoiar na autoridade mesma de Deus. O exemplo vem do Alto, pois Nosso Senhor mesmo dizia tirar de Outro o que entregava aos seus discípulos: “As palavras que vos digo não as digo de mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, é que realiza as suas próprias obras.”(Jo 14,10)8 Os apóstolos seguiram o exemplo do divino Mestre. .Eu transmito o que recebi., diz São Paulo, que também alerta os habitantes da Galácia: “Mas, ainda que alguém ― nós ou um anjo baixado do céu ― vos anunciasse um evangelho diferente do que vos temos anunciado, que ele seja anátema. Repito aqui o que acabamos de dizer: se alguém pregar doutrina diferente da que recebestes, seja ele excomungado!” (Gl 1, 8-9) É ainda o ensinamento de São Vicente de Lérins (morto em 450), que traduziu o pensamento de toda a Igreja: “Guarda o depósito da fé (Tm 6, 20). Mas que é esse depósito? É o que te foi confiado, e não o que foi achado por ti; é o que recebeste, não o que inventaste. Não é questão de invenção pessoal, mas de doutrina; não de uso privado, mas de Tradição pública (...). Tu não deves ser autor, mas guardião (...), conserva intacto e sem mancha o talento da fé católica. O que te foi confiado é o que deves guardar, depois passá-lo a seu tempo. Tu recebeste ouro, dê ouro, não substitua imprudentemente o ouro pelo chumbo.” 9Ora, há um traço comum a todas versões da metempsicose que encontramos, a saber: são elaboradas fora da autêntica revelação, não encontramos traço algum delas nas Sagradas Escrituras ou na Tradição. Tal característica de novidade é suficiente, por si mesmo, para desqualificá-las, ao primeiro olhar católico.

Em toda a história da Igreja, só um doutor renomado adota a tese da reencarnação, Orígenes (185-254). Ele cria ter encontrado nela um meio de aliar à fé católica a doutrina platônica da pré-existência das almas. Mais, ele o faz com circunspeção e a modo de pesquisa. Todavia, ainda que tivesse alguns discípulos, não constitui em nada uma tradição da Igreja. Orígenes foi energicamente criticado por numerosos doutores (São Pedro de Alexandria, São Metódio de Olímpia, São Gregório de Nissa) e sua doutrina condenada em um concílio em 402. Santo Agostinho resume o pensamento de todos: “Estou deveras surpreso, pois não se diria que um homem tão hábil, tão experimentado nos santas letras, não tenha percebido quão tudo isso está distante da Santa Escritura.”10

O magistério

Se o senso católico não pode sustentar a tese da reencarnação devido à sua novidade, rejeita-o radicalmente pela leitura dos documentos do magistério. Essa tese não é tão-somente estranha à Tradição, mas é explicitamente condenada pela Igreja.

La Documentation Catholique de fevereiro de 1962 (nº 1370, col. 248) publica os resultados dos trabalhos da Comissão Teológica preparatória do II Concílio Vaticano. O capítulo sobre os erros modernos contém um parágrafo a respeito da reencarnação: “É a teoria da reencarnação estreitamente ligada ao espiritismo, em que revivem certas crenças antigas vindas do paganismo relativas à metempsicose. Ela foi explicitamente condenada pelo II Concílio de Constantinopla, em 533. O II Concílio de Lyon, em 1274, e o Concílio de Florença, em 1439, condenaram indiretamente a teoria da passagem da alma de um corpo humano a outro, ao afirmar que o julgamento definitivo se dá imediatamente, após a morte. Mas o erro, qual erva daninha, rebrota sem parar com variantes sutis, destinando-se a torná-lo novo e novamente aceitável; simplesmente muda de nome. A vigilância da Igreja não se deixa enganar e a reencarnação, apresentada sob as falsas aparências científicas da teosofia, foi condenada, também ela, pelo Santo Ofício em 1919” 11.

O Concílio de Constantinopla exprime-se assim: “Se alguém diz ou pensa que as almas dos homens preexistem, no sentido em que elas eram antes espíritos e santas potestades que, afastadas da contemplação de Deus, dirigir-se-iam a um estado inferior; e que, por tal motivo, a caridade de Deus se arrefeceria nelas ― o que as faz chamar em grego de “almas” ―12, e que teriam sido conduzidas a corpos para sua expiação, que seja anátema” 13.Esses autorizados julgamentos da Igreja incita-nos a prosseguir nossa pesquisa, tratando de pôr a nu os diversos pontos de conflito entre a metempsicose e o dogma católico. Veremos que, por si só, a teoria contradiz um grande número de artigos de fé.

O julgamento particular

Robert Laffont, diretor da editora que leva seu nome, afirmava sua crença na metempsicose nos seguintes termos: “A reencarnação é a possibilidade de ter outras oportunidades. Esta longa busca para alcançar algo de melhor me parece filosoficamente a solução mais justa. Essa solução coaduna melhor a minha noção de além” 14. “A possibilidade de ter outras oportunidades”: trata-se da expressão de um desejo. Manifesta um dos elementos fundamentais dessa doutrina: a recusa de um julgamento imediato e definitivo logo após a morte, o secreto desejo de adiar, indefinidamente, o instante em que aparecerão à luz meridiana, a responsabilidade de nossos atos e a malícia de nossos pecados; em que Deus nos pronunciará, com toda justiça, uma sentença irreversível. Ora, essa fuga do julgamento contradiz a revelação. São Paulo afirma claramente na epístola aos Hebreus: “É destino do homem morrer uma só vez, e depois, segue-se o julgamento”15. O comentário que a edição de Pirot e Clamer dá sobre isso é eloquente: “O que confirma o caráter definitivo da morte é que ela é seguida do julgamento que fixa, para sempre, a fortuna do homem. O pensamento é que, à morte, tudo acaba, só restando esperar o julgamento, a sanção suprema da vida”16.Numerosos documentos do magistério confirmam tal doutrina. O II Concílio de Lyon (1274) ensina que as almas que não fizeram penitência bastante por suas faltas são purificadas após a morte, “post mortem purgari”. Os santos, enquanto tais, são logo acolhidos no céu, “mox in coelum recipi”, e os que morrem em estado de pecado mortal são logo lançados ao inferno, “mox in infernum descendere” (DS 858). O papa Bento XII retoma as mesmas expressões em sua constituição Benedictus Deus de 29 de janeiro de 1336 (DS 1002), tal como o Concílio de Florença de 1439 (DS 1304). O Catecismo do Concílio de Trento põe ao alcance geral o ensinamento da Igreja de sempre: “O primeiro julgamento acontece no momento em que acabamos de deixar a vida. Nesse mesmo instante, cada um aparece diante do tribunal de Deus, sofrendo aí um rigoroso exame de tudo o que fez, de tudo o que disse, de tudo o que pensou durante a vida. É o que chamamos julgamento particular” 17

A teoria da reencarnação aparece, pois, já como uma vã tentativa de o homem evitar o inevitável, um refúgio para se esconder desse julgamento inexorável, termo de toda vida humana.

O purgatório

“Admito o dogma do julgamento particular, responderá um adepto da metempsicose, mas, por isso mesmo, essa sanção é o ciclo de renascimentos que professo. A sucessão de vidas terrestres nada mais é que do a expiação das faltas passadas”. Em outros termos, se admite a existência do julgamento após a morte, nosso homem nega a ela a sentença, a saber, o purgatório. A doutrina católica ensina, com efeito, que à morte, a alma está definitivamente fixada, seja no bem, seja no ódio ao bem. Não há mais tempo para uma conversão, ou para possíveis variações da vida aqui em baixo. Demais, os sofrimentos do purgatório são a expiação das faltas passadas, mas eles não são meritórios. Não obtêm graças adicionais para alma.

Ora, a existência do purgatório é firmemente atestada pela Santa Escritura e pela Tradição. Desde o século II a.C, Judas Macabeu ordenava uma coleta para poder oferecer como sacrifício no templo de Jerusalém, pelo pecados daqueles que eram mortos em combate. O II Macabeus assim comenta essa iniciativa: “Belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles. Mas, se ele acreditava que uma bela recompensa aguarda os que morrem piedosamente, era esse um bom e religioso pensamento; eis por que ele pediu um sacrifício expiatório para que os mortos fossem livres de suas faltas” (2 Mc 12, 43-46) A Escritura, divinamente inspirada, afirma pois que existe um estado doloroso de que se faz mister libertar-se, que será provisório, pois será seguido de uma “bela recompensa” e de que se é libertado pelas orações e sacrifícios dos vivos. São Roberto Belarmino conta nove textos do Novo Testamento que provam, pelo menos indiretamente, a existência do purgatório. Não entraremos em discussões complicadas suscitadas por tais citações, já que a existência da expiação após a morte está suficientemente fundada pela Tradição constante da Igreja18.

Clemente de Alexandria distingue, entre os homens, os corrigíveis e os incorrigíveis. A primeira categoria se compõe das almas dos pecadores reconciliados com Deus no momento de sua morte, mas que não tiveram tempo de fazer penitência. A propósito dessas almas, “a justiça de Deus se dará com bondade e sua bondade se dará conforme sua justiça”. Essas expiações são necessárias, diz-nos, são “necessárias para alcançar a morada reservada”19. A beatitude obtém-se depois de um tempo de purificação. Tal ensinamento será desenvolvido com largueza a partir do século IV por São Cirilo de Jerusalém, São Basílio e São Gregório Nazianzeno. Outra fonte da fé no purgatório é a prática da oração aos defuntos. Alguns textos apócrifos do Novo Testamento — ainda que privados da autoridade da Igreja por conterem às vezes doutrina errada — não contêm disso menos testemunhos interessantes. Os Acta Pauli et Theclae (160) contam que a rainha Trifene presenciou, em sonho, sua filha morta pedir-lhe que recorresse às orações de Tecla: “Ora por minha criança, para que viva para a eternidade”20.

O autor dos Acta Joannis conta que o apóstolo João teria ido ao túmulo de uma cristã, três dias após a morte dessa, para aí celebrar o sacrifício da missa21.

A antiga versão latina da Didascália (escrito do século III) é explícita: “Nas comemorações, reuni-vos, lede as Santas Escrituras e oferecei orações a Deus; e oferecei doravante a eucaristia real, que é imagem do corpo real do Cristo, tanto em vossas coletas como no cemitério; o pão puro que o fogo purificou e que a invocação santifica, oferecei-o orando aos mortos”22. Tais considerações não nos afastam de nosso assunto. Mostram-nos que, longe de ser invenção tardia dos teólogos, a doutrina do purgatório faz parte do tesouro da fé de sempre. É, pois, revestida da autoridade de Deus, relegando assim à categoria de fábulas as teorias da metempsicose ao além.

O inferno

Junto à doutrina do purgatório, a do inferno é vista a partir da metempsicose. A maioria dessas versões procede, com efeito, de um otimismo inato. A vida humana não se poderia rematar por um fracasso. A série das vidas terrestres só pode terminar em alegria absoluta e eterna. A existência do inferno é ensinada mui insistentemente no Evangelho para que se necessite nos determos aqui. A história do rico mau e do pobre Lázaro resume tal ensinamento: “Ora, aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. E estando ele nos tormentos do inferno, levantou os olhos e viu, ao longe, Abraão e Lázaro no seu seio. Gritou, então: — Pai Abraão, compadece-te de mim e manda Lázaro que molhe em água a ponta de seu dedo, a fim de me refrescar a língua, pois sou cruelmente atormentado nestas chamas. Abraão, porém, replicou: — Ó Filho, lembra-te de que recebeste teus bens em vida; mas Lázaro, males; por isso ele agora aqui é consolado, mas tu estás em tormento. Além de tudo, há entre nós e vós um grande abismo, de maneira que, os que querem passar daqui para vós, não o podem, nem os de lá passar para cá”. (Lc 16, 19-31)

A ressurreição dos corpos

Os cristãos entoam, com confiança, no Credo: et exspecto resurrectionem mortuorum, espero a ressurreição dos mortos. Após as vicissitudes desta vida, além do desfazimento da morte, esperam não somente a beatitude d’alma, mas a do corpo. No final dos tempos, os corpos serão chamados à vida, a uma eternidade de alegria ou infelicidade.

Deus quis ensinar-nos essa verdade com particular solenidade, na Santa Escritura23. São Paulo mostra o laço entre a ressurreição dos homens e a do Cristo: “Ora, se se prega que Jesus ressuscitou dentre os mortos, como dizem alguns de vós que não há ressurreição de mortos? Se não há ressurreição dos mortos, nem Cristo ressuscitou. Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé. Com efeito, se por um homem veio a morte, por um homem vem a ressurreição dos mortos”. (1 Cor 15, 12-21)

A Tradição e o magistério da Igreja retomam o mesmo ensinamento. “Assim, o exemplo de nosso Chefe faz-nos confessar que há uma verdadeira ressurreição da carne para todos os mortos. Não cremos que ressuscitaremos em um corpo pneumático ou em outra espécie de corpo, de acordo com as divagações de alguns, mas neste corpo com que vivemos, existimos e movemos. Nosso Senhor e Salvador, tendo dado o modelo dessa santa ressurreição, retomou por sua ascensão o trono paternal que sua divindade jamais abandonara” 24.

Esse dogma lança uma clara luz sobre o composto humano. Assim como o corpo é o instrumento da alma nesta vida terrestre, é o seu companheiro pela eternidade. A glória que inundará a alma dos eleitos refletirá no corpo. Esse, tendo combatido e sofrido pela alma, participará de sua recompensa. Mas aquele que, ao contrário, foi seu cúmplice no pecado, seguirá a ele na pena. “Porque teremos de comparecer diante do tribunal de Cristo. Ali cada um receberá o que mereceu, conforme o bem ou o mal que tiver feito enquanto estava no corpo”. (2 Co 5, 10).

Isso contradiz a metempsicose? Uma observação somente permitirá responder. Se, desde sua criação até sua entrada na beatitude, a alma deve atravessar por diversas vidas terrestres, se se une sucessivamente a vários corpos, qual deles reconhecerá à ressurreição? Com qual estará associada a eternidade da alma e quais serão rejeitados? Uma minoria de corpos humanos existentes ressuscitará. Tal concepção opõe-se radicalmente à magnífica revelação da ressurreição de todos os corpos; não vai ela ainda de encontro ao desejo de imortalidade presente no coração do homem? Não temos uma sede de duração, não apenas para nossa alma, mas também para nosso corpo? A morte não é uma violência feita à natureza? O corpo concreto com que vivo, penso, comunico-me com outros, não é um amigo? Melhor ainda, não é parte necessária de mim? Como vemos, a doutrina da reencarnação constitui uma divisão no próprio cerne do ser humano. O corpo é separado d’alma, o qual se rebaixa à posição de uma velha veste que arrojamos após usar, ficando para sempre privado da felicidade da alma.

O sofrimento do justo

Outrora, Albert Camus propugnava esse grito de revolta: “Recusar-me-ei até à morte amar uma criação em que crianças são torturadas”25. A frase traduz o escândalo que representa para o espírito humano o sofrimento do justo. Aceitamos de boa vontade que um culpado seja punido, mas nos é insuportável que um inocente sofra. O homem se escandaliza diante do mistério do mal; ele recorre a deuses tiranos ou arroja-se em cega revolta, mas não acha saída. E é nessa perspectiva que a metempsicose se situa. Antes de rejeitar um fato universal, interpretamo-lo: o malvado expia, pelo sofrimento, as faltas cometidas no presente; o justo paga a dívida acumulada em suas vidas anteriores.

Orígenes concluiu destarte sua tentativa de justificação da reencarnação: “Desta feita, nem Deus é injusto, dando a cada coisa seu lugar segundo seus méritos, nem os bens ou os males da vida são distribuídos ao acaso”26. As consequências desastrosas dessa mentalidade, especialmente na Índia, levantam suspeitas. Se tal homem está doente, por que curá-lo? Isso é apenas justiça, já que paga a dívida pelas faltas passadas. Deve-se aceitar o curso dos acontecimentos sem nada mudar. Sabemos quais os frutos desse fatalismo. Ademais, encontramos uma refutação pertinente dessa justificação da metempsicose à modo de justiça, em um autor do século X, Enéias de Gaza (450-520). Os males dessa vida são as penas pelas faltas de nossas vidas anteriores? Não obstante, uma punição só pode cumprir seu papel se faz referência a uma falta de que nos lembramos.

“Quando puno meu filho ou meu servo, antes de lhes infligir um castigo, repito-lhes várias vezes a razão por que os puno, recomendando-lhes que se lembrem dela, a fim de não recair na falta; e Deus, que estatuiu contra as faltas as piores expiações, não informaria aos que Ele punisse do motivo por que os punia, mas lhes apagaria a lembrança de suas faltas ao mesmo tempo em que lhes daria um intenso sentimento da pena! De que serviria, pois, a pena se ela deixasse ignorar a falta? Só exasperaria o culpado, levando-o à demência. Ele não teria o direito de acusar seu juiz caso fosse punido sem ter consciência de ter cometido qualquer falta?”27. Como podemos ver, a metempsicose, à guisa de pretender resolver o problema do sofrimento, torna-o mais tenebroso e inaceitável. Todavia, essa falsa solução possui um efeito mais funesto: ela se intromete diretamente no mistério da redenção.

De fato, o sofrimento é fruto do pecado original que cada homem herdou através da geração. Mas Deus quis, por uma superabundância de amor, encarnar-se, conhecer o sofrimento e a morte, e vencê-las, santificá-las, fazendo-lhes instrumento da salvação. Por obra da redenção, o sofrimento mudou de rosto, tornando-se redenção e ponto de encontro com Deus. Recusar o sofrimento do inocente é rejeitar o justo que sofre por excelência, Nosso Senhor Jesus Cristo, o Altíssimo, o Santo, o Verbo Eterno que nos vem visitar em nossa miséria, tirando o pecado do mundo. Para preparar nossos corações para esse evento tão desconcertante, Deus nos deu uma prefiguração no santo varão Jó. Esse homem era íntegro, direito, temente a Deus, apartado do mal. (Jb 1, 1). Deus permitiu que ele fosse afligido de todos os males pelo demônio. Perdeu os seus filhos, todos os seus bens, foi cumulado das doenças mais repugnantes. Não lhe faltou amigos que lhe pintavam com gravidade que tal flagelo só poderia ser o preço de faltas encobertas. Contudo, Jó permaneceu sereno sob as novas humilhações, pondo sua confiança em Deus, Que conhece a profundeza dos corações. Deus abençoou Jó por sua constância, e o “restabeleceu de novo em seu primeiro estado e lhe tornou em dobro tudo quanto tinha possuído”. (Jó 42, 10).

Para o que tem fé, o sofrimento não é mais ocasião de queda, mas um auxílio à obra da salvação. Pode ser procurada voluntariamente a fim de reparar, por amor, as ofensas feitas a Deus, estando unido ao Cristo sofredor. Não está necessariamente ligada ao demérito das almas, mas, pelo contrário, pode ser sinal de predileção de Deus.

Constatação de impotência

Permitam-nos pôr uma questão aos adeptos da metempsicose. Quais os meios concretos e eficazes propõem ao homem para que se salve? Quais os remédios que pode tomar a fim de corrigir sua natureza ferida pelo pecado, aperfeiçoando-se?

De fato, as diferentes versões da doutrina elaboram variados sistemas de vidas terrestres, de tempos de provações, de espera, de exercícios de reminiscência, de esquecimento ou destruição do corpo. Mas um ponto os une: nesse logo caminho em direção à felicidade, o homem está entregue a si mesmo, não havendo outra energia, a fim de progredir, senão os princípios internos de sua natureza decaída. É pela força do punho que se deve içar à perfeição desejada. Desta forma, a metempsicose não somente alonga indefinidamente o caminho em direção à beatitude, mas também não fornece suficiente energia para percorrê-lo. Em suma, longe de ser a misericórdia que eleva o homem acima de si, abandona-o em sua fraqueza. Ela possui essa cruel impotência, que faz cintilar aos olhos do homem os maravilhosos porvires, mas lhes interdita o acesso, encerrando-o em sua fragilidade28. As páginas do Evangelho têm outro sabor. Como é doce escutar Nosso Senhor dizer-nos: "Misericordiam volo, eu quero a misericórdia”. (Ma 9, 13), “não são os homens de boa saúde que necessitam de médico, mas sim os enfermos” (Lc 5, 31), “se alguém tiver sede, venha a mim e beba” (Jo 7, 37), “vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei” (Mt 11, 28), “quem crê em mim tem a vida eterna” (Jo 6, 47), “basta-te minha graça” (2 Cor 12, 9), “a todos aqueles que o receberam, aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1, 12).

Bem longe de nos abandonar à nossa sorte, Deus vem a nós, através da graça, para nos levar ao céu. “Porque é Deus quem, segundo o seu beneplácito, realiza em vós o querer e o executar” (Fl 2, 13), diz-nos São Paulo. Ainda, o apóstolo resume magnificamente a obra de salvação realizada por Deus em nós: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20). O móvel da vida cristã é a presença da Santíssima Trindade na alma e seu cortejo de graças sobrenaturais, de virtudes e de dons do Espírito Santo. “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 5).

Porventura, poderíamos encontrar um contraditor irredutível que se obstinasse a querer esposar essas belas verdades com a reencarnação. Uma simples observação bastará para respondê-lo. Para santificar o homem de modo que corresponda à sua natureza (corporal e espiritual), para que tenha certeza de ter recebido a graça, Deus instituiu determinados ritos, compostos de realidade material (o rito propriamente dito) e de realidade espiritual (a graça conferida): são os sete sacramentos. Ora, entre esses, três não se limitam apenas a transmitir a graça, como também na alma imprimem uma marca, um “caráter” indelével. Ela é transformada em seu âmago pela eternidade, o que faz que tais sacramentos não possam ser reiterados. Se se faz necessário adotar a teoria da reencarnação, encontramo-nos diante de uma dificuldade insolúvel! Que pensar do bebê que apresentamos ao batismo? Nesse caso, seria sacrilégio batizá-lo. E que dizer do sacerdote? A criancinha que brinca de boneca não fora padre em uma vida passada? Antevemos as situações indestrinçáveis e as contradições a que infalivelmente conduz a reencarnação.

As principais queixas que levantamos contra a metempsicose bastam para esclarecer sua oposição radical com a fé católica, e até contra qualquer tentativa de resgate do homem29.

Apesar disso, os argumentos de autoridade que adiantamos não poderiam convencer a grande maioria dos defensores dessa teoria, uma vez que não são católicos. Eis o motivo pelo qual devemos prolongar nosso estudo por uma reflexão filosófica. A transmigração das almas é verdadeira, ou mesmo possível em face à razão humana? Os fatos que aditamos para censurá-la não possuem outras explicações? Esse é o objeto de nossa segunda parte.



Fonte: Permanência

Tradução: Permanência. Originalmente publicado em Le Sel de la Terre no. 11.

 1. Pedimos emprestadas as considerações históricas a R. Medde, La métempsychose, DTC, col. 1574 et sq.

2. Christus, Manuel d’histoire des religions, c. 8, La religion des Grecs, Joseph Huby, Beauchesne, Paris, 1923, p. 468.

3. De Anima, l. I, c. 3, 407 b, Marietti, Turin, 1959, p. 30.

4. Idem.

5. Rudolf Steiner, conferência em Bâle, 9 de abril de 1923, Éditions Anthroposophiques Romandes, Genève, 1986, p. 36.

6. Rudolf Steiner, Les degrés de la connaissance supérieure, mesma editora, 1985, p. 38.

7. Assinalemos bem próximo a nós: sobre o filme "Manika, une vie plus tard" de François Villiers (lançado em Paris a 14 junho de 1989), um artigo de Annick Lacroix: "La réincarnation est-elle possible?", Madame-Figaro, julho de 1989, dá a palavra a numerosas personagens célebres e adeptas dessa doutrina, sem lhes opor a menor crítica. Jean Vernette, Le Nouvel Age, Édition Téqui, Paris, 1990, p. 120.

8. Ver também Jo 5, 19 ; 7, 16 ; 8, 28.38.42.50 ; 12, 49.

9. São Vicente de Lérins, Commonitorium, c. 22, p. 50, t. 50, col. 667, traduction française : Michel Meslin, Édition du Soleil Levant, Namur, Belgique, 1959, p. 100.

10. Santo Agostinho, De civitate Dei, l. 11, c. 25.

11. A Comissão Teológica preparatória do Concílio foi constituída em 1960, a pedido do papa João XXIII e posta sob a autoridade do cardeal Ottaviani. Durante dois anos, ela dedicou um intenso trabalho que lhe permitiu apresentar ao concílio projetos de esquemas de mui boa qualidade. A precisão dos termos, as numerosas referências ao magistério e o zêlo contra os erros contrastam com as novidades e a ambigüidade dos decretos conciliares. Desde a primeira reunião do concílio, o conjunto dos trabalhos da Comissão Teológica preparatória foi rejeitado em bloco pelas manobras ilegais do cardeal Liénart e dos cardeais progressistas. O texto que citamos não faz parte do magistério oficial, mas exprime o pensamento da Igreja de sempre, bastando para mostrar o que poderia ter sido um concílio católico deste fim de século XX.

12. Orígenes cria que a alma vinha do frio, denotando pois uma certo arrefecimento de um estado melhor, a perda do calor divino. (De Principio. II, VIII, 3 ; PG IX, col. 222)

13. G. Dumeige, La foi catholique (F.C.), p. 159.

14. Annick Lacroix, "La réincarnation est-elle possible ?" Madame Figaro p. 88. A seqüência da intervenção não deixa de ser interessante; deixemo-lo ao julgamento de nosso leitor: “Vários de meus autores [preferidos] curvaram-se sobre esse problema e alguns encontraram diversas origens extraordinárias. Uma vez, fiz uma sessão de ondas alfa. Só conseguia ver folhas, quando [de repente] acreditei ser um esquilo. Repentinamente, tive um deslumbramento, sendo transportado para uma paisagem colorida, cercada de gente vestida como na Idade Média. Eu participava daquela vida sem saber que estava entre eles. A sessão foi interrompida, mas não recomecei”.

15. "Statutum est hominibus semel mori, post hoc autem iudicium." (He 9, 27)

16. A Santa Bíblia, Pirot et Clamer, Letouzey, Paris, 1938, t. 12, p. 340.

17. Catecismo do Concílio de Trento, publicação da revista Itinéraires, Paris, 1969, p. 80.

18. As duas passagens mais utilizadas do Novo Testamento em favor do purgatório são as de Ma 12, 31-32 e 1 Cer 3, 11-15. “Todo pecado e toda blasfêmia serão perdoados aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não lhes será perdoada. Todo o que tiver falado contra o Filho do Homem será perdoado. Se, porém, falar contra o Espírito Santo, não alcançará perdão nem neste século nem no século vindouro.”; “Quanto ao fundamento, ninguém pode pôr outro diverso daquele que já foi posto: Jesus Cristo. Agora, se alguém edifica sobre este fundamento, com ouro, ou com prata, ou com pedras preciosas, com madeira, ou com feno, ou com palha, a obra de cada um aparecerá. O dia (do julgamento) demonstrá-lo-á. Será descoberto pelo fogo; o fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém passando de alguma maneira através do fogo.” Destaquemos também essa oração de São Paulo, que parece indicar que Onesíforo está morto à data em que o apóstolo escreve. Essa passagem seria pois um registro relevante: “O Senhor conceda sua misericórdia à casa de Onesíforo, que muitas vezes me reconfortou e não se envergonhou das minhas cadeias! Pelo contrário, quando veio a Roma, procurou-me com solicitude e me encontrou. O Senhor lhe conceda a graça de obter misericórdia junto do Senhor naquele dia.”

19. DTC, “Purgatoire”, col. 1193.

20. DTC, “Purgatoire”, col. 1197.

21. Idem.

22. Idem, col. 1198.

23. O Catecismo do Concílio de Trento destaca daus passagens do Antigo Testamento para apoiar tal doutrina: “Por detrás de minha pele, que envolverá isso, na minha própria carne, verei Deus” (Jó 19, 26) " Muitos daqueles que dormem no pó da terra despertarão, uns para uma vida eterna, outros para a ignomínia, a infâmia eterna." (Dn 12, 2)

24. XI Concílio de Toledo, 7 de novembro de 675, F.C., nº 

25. Albert Camus, La Peste, Gallimard, 1947, p. 199.

26. Orígenes, De Principio, II, 9, 4; PG, t. 11, col. 231.

27. Enéias de Gaza, Teofrasto, PG, t. 85, col. .871-1004.

28. ”Eles ainda mais se admiravam, dizendo a si próprios: Quem pode então salvar-se? Olhando Jesus para eles, disse: Aos homens isto é impossível, mas não a Deus; pois a Deus tudo é possível.” (Mc 10, 26)


29. Nosso estudo não tem a pretensão de ser exaustivo. Por exemplo, pegaremos apenas um dos argumentos contra a reencarnação na instituição e no rito da extrema unção.

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