(...)
A
bisavó “Antonia” de Gnocchi e Palmaro me lembra a minha bisavó. Chamava-se
Marietta e aos domingos ia a pé, sozinha, faça chuva ou faça sol, à Santa Missa
das cinco da manhã, porque precisava, depois, ficar “livre” para preparar o
almoço para sua família, aquela construída sobre a rocha e não sobre a areia. E
a rocha era Cristo na Cruz... Santa Missa, Santo Rosário, orações,
jaculatórias, procissões... eram a sua força, sua resistência, sua
perseverança, sua coerência de vida, eram a Fé vivenciada, não um sentimento
religioso que hoje existe e amanhã se vai... Podia desabar tudo ao redor da
bisavó Marietta (e muito para ela desabou), mas ela permaneceria de pé, sem
necessidade de psicanalistas e psicofármacos... porque sabia discernir entre o
que é bem e o que é mal; e não com base em uma consciência “pessoal” (que
muitas vezes é levada ao erro porque o homem, por causa do pecado original, é
mais dirigido para o mal do que para o bem; ao pecado e ao vício do que à
virtude), mas com base e graças a uma trama e urdido católicos.
Chesterton[1] escrevia: “O mundo moderno, com os
seus movimentos modernos, vive graças ao capital católico que possui. Usa e
abusa das verdades que lhe restavam daquele antigo tesouro que é a
Cristandade”. Hoje, esta Cristandade está à beira do precipício.
Os
católicos não podem aceitar que se abuse da Verdade (única Verdade) trazida
pelo Salvador para o verdadeiro bem terreno e eterno de cada um de nós; não
podem aceitar, por amor de seu Senhor e da Igreja, que se ultraje a Fé, a única
que permite seguir em frente apesar dos problemas, das angústias, das doenças,
dos lutos... Aquela Fé que faz descer o Pai do Céu sobre as chagas causadas
pelos pecados, e por causa dos quais Ele morreu na Cruz.
As
ponderadas e profundas reflexões deste artigo que apresentamos, a assinatura
dos corajosos Alessandro Gnocchi e Mario Palmaro, não são Amarcord[2] estéreis, mas o antídoto ao que está
acontecendo na Inglaterra, em cuja direção, se Papa Francesco não levar em
conta a Tradição da Igreja, toda a Europa se dirige. O relatório anual da
agência estatal britânica, que controla os padrões da educação e dos serviços
sociais, declarou como“se estão fragmentando os níveis básicos da sociedade
[...] na sua tradicional hierarquia: a família que forma a sociedade e a
sociedade que sustenta [...], faltam pais que assumam a responsabilidade de
criá-los. As crianças sofrem porque não se lhes dão regras claras ou limites.
Ninguém lhes ensina a diferença entre um comportamento certo e um errado [...].
Se não voltarmos a reconhecer a importância de famílias estáveis, continuaremos
usando o Estado para recolher os cacos” (“Pais, não sabeis educar
os filhos”, em “La Stampa”, 17 de outubro de 2013). Quem decide o que
é certo e o que é errado? Para “Antonia” e “Marietta” era a Tradição da Igreja,
aquela sobre a qual foi construído o Mundo Ocidental. Nós católicos
queremos (é nosso direito, porque direito que vem de Deus) um Vigário de Cristo
que saiba educar seu rebanho; que indique a verdade e indique o erro; que nos
abra, portanto, a porta estreita (Mt. 7,13-14), a que leva para o Céu.
Cristina
Siccardi
CRISTO, SEM DOUTRINA NEM VERDADE
Reduzidos a “sans papiers”[3] da Igreja, lembremos o que o Cardeal
Biffi[4] lembrou: “Jesus é, por
vezes, um pretexto para falar de outra coisa”.
Uma pastoral do íntimo, sem mediação racional do
dogma? Não.
Por
Alessandro Gnocchi e Mario Palmaro – 22-10-2013, Il Foglio.
Pobre
bisavó Antonia, que viveu uma vida feita por pateravegloria[5], rosários, Missas às cinco da manhã,
sinais da cruz em cada “santella”[6], catecismo aprendido de cor e preceitos
morais praticados escrupulosamente e ensinados com zelo. Pobre bisavó Antonia,
e pobres seus oitenta e quatro anos passados a “dizer orações” e a observar
“prescrições” na esperança de um dia abraçar Jesus, com quem utilizava o “Vós”,
como usavam as gerações respeitáveis. Pobre bisavó Antonia, e pobre sua fé que,
não fosse pela pureza ingênua e inerme típica das velhinhas do campo, poderia
hoje ser tomada por uma cristã ideológica, moralista, farisaica, sem coração.
Contudo, aquela senhorinha sempre vestida de negro, que só falava o dialeto e
um latim todo seu, havia mostrado quanto amor por Deus e pelos homens jorra de
uma vida passada a “dizer orações”. Ao marido, que em seu leito de morte lhe
pediu perdão por tudo o que ele lhe havia feito e que ela havia suportado em
silêncio e na paciência, a pobre bisavó Antonia havia respondido que não
tivesse medo: “Quando chegardes do lado de lá, vereis quanto bem
fizeram as orações que vossa esposa recitou por vós”.
A
dureza da homilia de Santa Marta, onde Papa Francisco estigmatiza uma fé que
passa “por um alambique e se torna ideologia”[7], e na qual julga as consciências daqueles
que, hoje, se obstinam a viver um Cristianismo como o de seus antepassados,
acaba por atropelar o passado que continua a viver no presente. É difícil supor
que o alvo não seja aquele sentir tradicional que se pretende impedir que se
torne um movimento capaz de agregar pessoas e ideias. Isso foi festivamente
explicado pela jubilosa máquina de guerra dos hermeneutas do dia seguinte. Mas
o havia inequivocamente antecipado o próprio papa, na entrevista a “Civiltà Cattolica”, condenando duramente um “uso ideológico” do rito
tradicional restaurado por Papa Bento XVI[8], um “especialista do Logos”
definitivamente arquivado pelos hermeneutas do seu sucessor.
Mesmo
que fale acerca das ideologias de todo tipo, está claro a quem Papa Bergoglio
esteja mirando quando diz: “quando um cristão se torna um discípulo da
ideologia, perdeu a fé: não é mais um discípulo de Jesus, é discípulo desta
atitude de pensamento (...). E é por isso que Jesus lhes diz: ‘Vocês levaram
embora a chave do conhecimento’[9]. O conhecimento acerca de Jesus é
transformado em um conhecimento ideológico e também moralista, porque eles
fechavam as portas com tantas prescrições”.
Não
há homilia, entrevista ou multidão de pessoas em que o papa não dê de ombros
diante de uma fé que é objetiva na rigorosa relação com a razão. “Nomina
nuda tenemus”[10], parece esta a mensagem de Francisco; a mesma do franciscano Guilherme
de Ockham[11],
acerca de quem Umberto Eco[12] produziu um agradável manualzinho
com “O Nome da Rosa”. A fé não procura
mais um intelecto que reputa inábil para conhecer
verdadeiramente, e produtor de objetivações que correm o risco de se tornarem
um obstáculo ao encontro com Cristo. Como se nos encontrássemos em uma zona de
remoção forçada dos preceitos permeáveis à inteligência, um beco sem saída em
que não amava deter-se um cristão enamorado da razão como Gilbert Keith
Chesterton:“Tanto quanto um homem possa se orgulhar de uma religião fundada
sobre a humildade, eu sou muito orgulhoso da minha religião. Sou
particularmente orgulhoso daquelas suas partes que são muito comumente chamadas
de superstições. Tenho orgulho de ter sido alimentado por dogmas antiquados e
de ser escravo de uma fé morta, como meus amigos jornalistas repetem com tanta
insistência, porque eu sei perfeitamente que são as heresias que estão mortas,
e que somente o dogma racional vive o suficiente para ser chamado de
antiquado”.
Mas
onde não há razão, há contradição; e fica difícil proteger as ideias, e quem as
sustenta, da agressão que se substitui à argumentação. Quem critica erros
doutrinários, confusões, silêncios sobre grandes temas da teologia e da moral,
é marcado como um derrelito, um sem fé, um fariseu que não reza, um hipócrita
que não acredita em Cristo e o usa para alimentar uma ideologia. É a “nova
igreja da misericórdia”, beleza! É a igreja que proclama acolher a todos e não
querer julgar ninguém, mas que se mostra sem piedade alguma com seus filhos
enamorados e ao mesmo tempo perplexos. [Uma igreja que] adota esquemas
políticos caros ao Novecento[13], para o qual o positivismo jurídico
engole a verdade e a lei natural. Se, entre a intuição de Deus e a vida
cotidiana, é retirado o aparato racional que distingue o homem, o poder acaba
por se autolegitimar apesar do que diz e faz. Jean Bodin[14] e Nicolau Maquiavel[15] o haviam bem explicado.
A
instrumentalização do Nazareno para outros fins, deve ser dito, é um problema
antigo. O Cardeal Giacomo Biffi denunciou há tempos que “Jesus se
tornou um pretexto que os cristãos usam para falar de outra coisa”. Mas há
décadas que esta “outra coisa” é representada pelo ambientalismo, pela promoção
da legalidade, pelo ecumenismo mediático, pela luta contra o narcotráfico, pela
proteção da floresta amazônica e por outras amenidades. Em total detrimento da
doutrina moral, da bioética, do rigor litúrgico e doutrinário. Correndo o risco
de nos encontramos diante de um Cristo sem doutrina e sem verdade,
um personagem bom para todas as estações, um recipiente a ser recheado com tudo
o que deseja cada consumidor da religião do faça você mesmo.
Um
fenômeno similar não pode ser justificado em nome da chamada pastoralidade. Por
que não pode haver uma pastoral que não seja precedida pela doutrina, a não ser
que a tenha devorado e se tornado uma doutrina ela própria, acabando por
mortificar a robusta relação com a razão e a lei natural. Por dois mil anos,
a Igreja tem defendido a verdadeira fé contra a heresia: com a espada em punho,
com empenho absoluto e a preço de sangue. Papas e cardeais, teólogos e
religiosos sabiam bem como uma tese heterodoxa era a pior doença que poderia
ameaçar o Corpo Místico. “A Igreja e as
heresias” – diz o magnífico duelista católico inventado por Chesterton no
romance “A bola e a Cruz” – “sempre lutaram sobre as palavras porque
são as únicas coisas pelo qual vale a pena lutar”.
Disto
se deduz quanto seja surpreendente e irracional, porque estranho à história da
Igreja, que hoje quem levanta questões e objeções doutrinárias seja
tachado de ser rígido, moralista, eticista, sem bondade. Uma acusação que, olhando bem, poderia ser
transferida a papas do passado recente[16]. Paulo VI, em 1968, escreve
a encíclica “Humanae Vitae“ para reafirmar a
condenação moral à contracepção: um rígido eticista sem bondade. João
Paulo II redige, em 1995, uma suma sobre a bioética na “Evangelium Vitae“: mas ao fazê-lo
demostra insistir sobre teses duras e difíceis, que afastam em vez de aproximar
os homens à Igreja. Bento XVI explica ao Bundestag[17], em um discurso memorável, que, quando
as leis civis contradizem a lei natural, não são mais leis, mas apenas simulacros
a que se deve desobediência: um intolerante que fecha a porta da Igreja na
cara do Estado laico e vai embora com a chave no bolso.
Mas
é frágil o artifício dialético que transforma aqueles que querem defender a
doutrina católica em fariseus impiedosos, desprovidos de um coração que palpita
pelo Cristo ferido e crucificado. Jesus não convida os fariseus a ir embora porque
professam uma fé errada, mas a serem os primeiros a observar a lei. Enquanto
aqui, parece mesmo que o objetivo final, além do juízo temerário sobre a
intimidade da consciência, seja o próprio princípio, considerado um obstáculo
ao diálogo com o mundo. Em vez disso, fé e razão, lei e caridade podem
apenas estar juntas ou se dissolvem ambas: na irracionalidade de um fideísmo[18] luteranejante ou no gelo de um
racionalismo voltairiano[19], os quais hoje andam juntos de bom grado
de mãos dadas para lugar algum.
Trazido
no âmbito da Igreja, tudo isso produz um catolicismo sem doutrina, emotivo,
empático, pneumático. Seriamos tentados a dizer: um catolicismo à Enzo
Bianchi[20], se ele mesmo não tivesse sido ofuscado
pela estrela midiática de Papa Bergoglio. Parafraseando Zygmunt Bauman[21], isso marca o nascimento de um catolicismo
líquido, que se agita nas zonas cinzentas evocadas por Carlo Maria
Martini[22]. Uma religião que, incapaz de dar
respostas, impõe, com prepotência, dúvidas e perguntas; e que está a gerar um
catolicismo que “sabe que não sabe”, de gosto pré-aristotélico. Aqui se
encontram as coordenadas do encontro com o mundo moderno, do qual saem pelotões
de católicos que não creem no Credo porque não o conhecem, mas acorrem festivos
à Praça São Pedro ou a Copacabana.
O
Cardeal Ratzinger escrevia que a fé em Cristo e segui-lo dentro de uma visão
moral rigorosa, exigente e séria são a mesma coisa: não se opõem, mas uma não é
possível sem a outra, e exatamente por isso exigem rigor, trabalho, ascese. Ao
contrário, uma vez inaugurado o catolicismo líquido, a vida se torna mais fácil
para todos, do confessor ao penitente: um assessor e um consultor de negócios,
um ginecologista e um político podem discutir acerca de subornos, de aborto e
de impostos concluindo com a única consoladora moral de não bancar os
moralistas.
Assim,
acaba a importância do Catolicismo como fato também civil, político, público. O
Direito, que no Século XX galopou levado pelas rédeas por Hans Kelsen[23] e seu Positivismo, se liberta
definitivamente de qualquer influência racional do Catolicismo. Se a Cristo se chega sem “preambula
fidei”, sem argumentações apologéticas, sem as cinco vias de São Tomás,
entre mundo moderno e Igreja a incomunicabilidade é total. Dissolve-se a ideia
de realeza social de Cristo, que o calendário litúrgico reformado se apressou a
relegar no esquecimento do último domingo do tempo comum, enquanto no anterior
era colocada no mês dedicado às missões. Evapora até mesmo a mais modesta
perspectiva de um Estado pluralista, mas respeitoso da lei natural, no qual
todas as religiões são toleradas, mas matar o inocente não nascido ou doente é
delito para todos.
Não
obstante, este é o panorama evocado quando um papa faz um duo com a imprensa
voltairiana concordando que “Cada um de nós tem uma visão particular do Bem
e também do Mal. Nós devemos incitá-lo a proceder em direção àquilo que ele
pensa seja o Bem”. E, depois, ao ser-lhe requerido que precisasse a sua
lição sobre a autonomia da consciência, esclarece: “E aqui o repito.
Cada um tem uma sua própria ideia do Bem e do Mal e deve escolher seguir o Bem
e combater o Mal como ele os concebe. Bastaria isso para melhorar o mundo”.
Mas a consciência não pode ser um guia arbitrário e caprichoso, sem qualquer
referência à verdade. Não se pode falar da verdade como “relação” ao invés de
“absoluto”, quando a lei natural se baseia precisamente em absolutos morais, ou
seja, a existência de atos que são sempre e de qualquer maneira intrinsicamente
maus. A verdade para os católicos é o próprio Cristo: caminho, verdade e vida. Vladimir
Soloviov[24] conclui os seus “Fundamentos
espirituais da vida” com um capítulo sobre a imagem de Cristo como
verificação da consciência, em que explica que “A tarefa final da moral
individual e social consiste no fato de que Cristo seja formado em todos e em
tudo. (...). Pode-se nunca matar, nem roubar, nem infringir nenhuma lei
criminal e estar, todavia, desesperadamente longe do Reino de Deus”.
A consciência não é um instrumento infalível, pode errar. E, quando é errônea, o sujeito agente é normalmente culpado, uma vez que, geralmente, não fez todo o possível para se formar corretamente e reconhecer o erro. A consciência errônea se torna argumento de exclusão da culpabilidade do sujeito apenas quando o erro é invencível: esta condição talvez possa dizer respeito a um indígena da Papuásia, mas dificilmente pode dizer respeito a homens nascidos, crescidos e vividos em contato com a Igreja, com o anúncio do Evangelho, com a sua doutrina, como é o caso do entrevistador voltairiano educado pelos jesuítas[25]. De acordo com a doutrina católica, é dever dos pastores formar as consciências, ensinando a todos a verdade integral. Se, ao contrário, a escondem para “justificar com a ignorância” o indivíduo que peca, assumem para si uma grave responsabilidade: o explicou com força o “especialista do Logos” Joseph Ratzinger em um livro de 1997, “Céu e Terra”.
A consciência não é um instrumento infalível, pode errar. E, quando é errônea, o sujeito agente é normalmente culpado, uma vez que, geralmente, não fez todo o possível para se formar corretamente e reconhecer o erro. A consciência errônea se torna argumento de exclusão da culpabilidade do sujeito apenas quando o erro é invencível: esta condição talvez possa dizer respeito a um indígena da Papuásia, mas dificilmente pode dizer respeito a homens nascidos, crescidos e vividos em contato com a Igreja, com o anúncio do Evangelho, com a sua doutrina, como é o caso do entrevistador voltairiano educado pelos jesuítas[25]. De acordo com a doutrina católica, é dever dos pastores formar as consciências, ensinando a todos a verdade integral. Se, ao contrário, a escondem para “justificar com a ignorância” o indivíduo que peca, assumem para si uma grave responsabilidade: o explicou com força o “especialista do Logos” Joseph Ratzinger em um livro de 1997, “Céu e Terra”.
Por
mais que sejam extemporâneas as homilias de Papa Francisco, erraríamos em não
reconhecer uma coerência do pensamento que expressam. Há uma forte ligação
entre a exaltação da consciência, a ênfase sobre um Cristianismo de baixa taxa
doutrinal e o que ele diz sobre a oração. “A chave que abre a porta à
fé é a oração”, explicou na homilia dedicada aos cristãos
ideológicos. “Quando um cristão não reza, acontece isso. E o seu
testemunho é excelente testemunho soberbo... É um soberbo, é um orgulhoso, é
alguém seguro de si mesmo. Não é humilde. Procure a própria promoção... Quando
um cristão reza, não se afasta da fé, fala com Jesus... Eu digo ‘rezar’, não
digo ‘dizer orações’, porque esses doutores da lei diziam muitas orações... Uma
coisa é ‘rezar’, e outra coisa é ‘dizer orações’... Estes não rezam, abandonam
a fé e a transformam em ideologia moralista, casuística, sem Jesus”[26].
A fé hipo-doutrinal, resolvida em um
simples encontro, acaba por ver no aspecto formal da Igreja um obstáculo ao
próprio manifestar-se. E seria difícil demostrar que papa Bergoglio, desde
a noite de sua eleição, não tenha mostrado, com as palavras e os fatos, a sua
aversão à forma e à formalidade. Daqui vem a contraposição entre o “dizer
orações” e o “rezar”, que é bem mais do que um trocadilho, porque questiona
a harmonia entre a “lex orandi” e a “lex credendi”. “Dizer
orações” sempre foi um rezar com a Igreja, tanto para a velhinha
com o terço na mão, como para o Cardeal Newman ou um monge de clausura. Cada um
por sua parte e sua competência, mas todos juntos, membros do mesmo Corpo
Místico, como em coro, sem saber da existência um do outro, mas certos de
estarem ali juntos, ao mesmo tempo, para rezar da mesma forma, como quer a “lex
orandi”, e para confessar a mesma fé, como quer a “lex credendi”.
Mas,
precisa de disciplina, precisa da ascese, que o atual pontífice pula por cima
rapidinho para voltar-se logo para a mística. “Aquele que cessa de rezar com
regularidade”, escreve o Cardeal Newman, em um sermão sobre a oração em
1829, “perde o principal meio para lembrar que a vida espiritual é
obediência ao Legislador, não um mero sentimento ou gosto”. E, novamente,
em 1835, diz que, quem “deseja trazer em seu coração a presença de
Cristo deve apenas ‘louvar a Deus’ e garantir que as palavras do santo saltério
de Davi lhe sejam familiares, um serviço cotidiano, sempre repetidas e,
todavia, ainda sempre novas e sempre sagradas. Reze e, sobretudo, permita a
intercessão. Não duvide do fato de que a força da fé e da oração age sobre
todas as coisas com Deus”.
Soa
impiedoso o juízo de quem despreza o “dizer orações” sem imaginar que, no fundo
daquelas fórmulas, das quais ninguém pode mudar sequer um iota, há
os que veem as chagas de Cristo e, talvez, chegue a tocá-las e a beijá-las.
Naquelas palavras consideradas pedras de tropeço para uma fé autêntica, está,
ao contrário, contida uma sabedoria que abre ao sentido mais profundo dos instantes
terríveis que toda criatura terá que viver desde o limiar do último suspiro.
São ritmos celestes que encantam a alma e a arrancam ao mundo e a nutrem com
aquela antecipação de vida sobrenatural que é a cerimônia. “Penso poder
falar em nome de muitos outros convertidos”, escrevia Chesterton, “quando
digo que a única coisa que pode despertar de algum modo saudade ou remorso
romântico, uma vaga sensação de falta de sua própria casa em alguém que a casa
a encontrou verdadeiramente, é o ritmo da prosa de Cranmer[27]”. O anglicano “Livro da Oração Comum” do
Século XVI ainda tinha uma musicalidade tal como fosse uma sereia. “A razão”,
diz o convertido inglês, “pode ser reportada em uma frase: tem estilo,
tradição, religiosidade; foi redigido por católicos renegados. É eficaz, mas
não como o primeiro livro protestante, mas como o último livro católico”.
Os católicos da Cornuália e de Devon
se deixaram massacrar para não aceitar o “Book of Common prayer”. Dá
calafrios só de pensar de que modo seriam julgados pelo pensamento dominante da
Igreja de hoje, onde é celebrada a missa em um missal que se assemelha ao de
Cranmer. Talvez seriam julgados como “amantes do formato ideológico em
versão cristã”, assim como aqueles carolas que mendigam Tradição, reduzidos
a clandestinos pelo “catolicismo da ternura”, como os “sans papiers de l’
Église”.
Tradução
e notas: Giulia d’Amore.
Artigo retirado do blogue: Pale Ideas
[1] Gilbert Keith Chesterton, conhecido como G.
K. Chesterton, foi um escritor, poeta, narrador, ensaísta, jornalista,
historiador, biógrafo, teólogo, filósofo, desenhista e conferencista britânico.
Nascido de família anglicana, converteu-se ao catolicismo em 1922 por
influência do escritor católico Hilaire Belloc, de quem era amigo
desde 1900. Criou, juntamente com seu amigo Belloc, uma teoria econômica
baseada nos princípios evangélicos e nos ensinamentos Papais, especialmente na
encíclica do Papa Leão XIII, “Rerum Novarum”. O Distributismo propõe o
direito à propriedade privada. Ao falecer, deixou todos os seus bens para a
Igreja Católica. Encontra-se sepultado no Cemitério Católico Romano, Beaconsfield,
Buckinghamshire, na Inglaterra. A sua obra foi reunida em quase quarenta
volumes contendo os mais variados temas sob os mais variados gêneros. O Papa
Pio XI foi grande admirador de Chesterton a quem conhecera pessoalmente. Em uma
de suas principais obras, “Ortodoxia”, defende os valores cristãos
contra os chamados valores modernos, a saber, o cientificismo reducionista e
determinista. Dono de uma retórica exemplar, coloca em debate crítico ideias
como as de Mark Twain e Nietzsche. No Brasil existe um site criado em homenagem
a Chesterton chamado Sociedade
Chesterton Brasil.
[2] Amarcord vem do dialeto romano e
significa “em me lembro”, e deu título a um célebre filme do diretor italiano
Frederico Fellini, em 1973. É a evocação nostálgica do passado.
[3] Em francês, significa “sem documentos”, mas é
utilizado especificamente para os imigrantes clandestinos que não tem permissão
para estar no País. Aqui, é usado no sentido de “clandestinos dentro da
Igreja”.
[4] Cardeal e Arcebispo emérito italiano. Por ter
mais de oitenta anos de idade, não é mais um cardeal eleitor. Em 1969, quando
ainda pároco, escreveu um pamphlet irônico intitulado “O Quinto
Evangelho” no qual finge a descoberta de um novo evangelho que “corrige” os
demais (cf. http://www.lavitacattolica.cremona.it/base1.php?id=skarticolo&data=2009-10-01&idrec=806). Em 2000, levou para um conferência em Bologna,
as ideias de Soloviov sobre o Anticristo, o qual seria um proeminente
filantropo que promove as ideias do ecumenismo, do vegetarianismo e do
pacifismo. Essas ideias de Soloviov foram repropostas por ele durante os
Exercício Espirituais quaresmais à Cúria e a Bento XVI em 2007. (cf. http://www.fattisentire.org/modules.php?name=News&file=article&sid=2482). Em setembro de 2004, o muçulmano
neo-convertido de origem italiana, Abdel Smith, o denunciou junto às
autoridades de Bologna por ter se recusado a retirar afrescos do século XIV da
Basílica de São Petrônio, inspirados na Divina Comédia que representavam Maomé
no Inferno, nu e atormentado pelos demônios, após ter repetidamente requerido a
retirada. A denúncia não deu em nada.
[5] É a reza diária do Pai Nosso, da Ave Maria e
do Glória ao Pai.
[6] “Santella” é uma capelinha muito comum na
Itália, nas cidades e pelas rodovias e estradas de fazenda. O nome deriva da
italianização do dialeto “santéla”, ou seja “lugar dos santos”. Esse erano solitamente
affrescate con scene di santi in adorazione di Maria, oppure riservate ad un
solo particolare santo, a cui la famiglia dedicataria era particolarmente
devota. O lugar onde surgiam tinha uma característica
particular: eram construídas usualmente em percursos muito utilizados ou em
pontos de bifurcação de uma estrada. Eram lugares ligados a eventos narrados
pela tradição oral. Algumas santellas, próximas ao vilarejo, eram alcançadas,
em determinados dias do ano, ou em períodos de particular seca, por cerimonias
religiosas chamadas “rogações”.
[7] Oras, se não se trata da Teologia da
Libertação...
[8] Não esqueçamos que Bento XVI não restaurou
nada, apenas lembrou aos católicos, e em particular aos
reticentes bispos progressistas, que a Missa de sempre nunca havia sido proibida. Mas acabou
por cometer mais um erro em seu pontificado, ao relegá-la a uma situação
“extraordinária”, deixando a “ordinariedade” (em vários sentidos) à missa
protestantizada do Vaticano II.
[9] “Ai de vós, porque construís túmulos para os
profetas; no entanto, foram os vossos pais que os mataram. Com isto, sois
testemunhas e aprovais as obras dos vossos pais, pois eles mataram os profetas
e vós construís os túmulos. É por isso que a sabedoria de Deus disse:
‘Enviar-lhes-ei profetas e apóstolos. Eles matá-los-ão e persegui-los-ão, a fim
de que se peça contas a esta geração do sangue de todos os profetas, derramado
desde a criação do mundo, desde o sangue de Abel até ao sangue de Zacarias, que
foi morto entre o altar e o santuário’. Sim, Eu vos digo: pedirão contas disso
a esta geração. Ai de vós, especialistas em leis, porque vos apoderastes da
chave da ciência. Vós mesmos não entrastes e impedistes os que queriam entrar”.
S. Lucas 11,47-52.
[10] A expressão latina “stat rosa pristina
nomine, nomina nuda tenemus” (a rosa antiga permanece no nome, nada
temos além dos nomes) é um verso do poema “De Contemptu Mundi” de Bernardo
Morliacense, monge beneditino do século XII. A frase se tornou célebre na
atualidade graças a Umberto Eco, no livro que os autores mencionam. Cf. http://pt.wikipedia.org/wiki/Stat_rosa_pristina_nomine,_nomina_nuda_tenemus.
[11] Guilherme de Ockham (em inglês William of
Ockam), criador da Teoria da Navalha de Occam, foi um frade
franciscano, filósofo, lógico e teólogo escolástico inglês, considerado como o
representante mais eminente da escola nominalista, principal corrente oriunda
do pensamento de Roscelino de Compiègne (1050-1120). Guilherme,
conhecido como o “doutor invencível” (Doctor Invincibilis) e o “iniciador
venerável” (Venerabilis Inceptor), nasceu na vila de Ockham, nos arredores de
Londres, na Inglaterra, em 1285, e dedicou seus últimos anos ao estudo e à
meditação num convento de Munique, onde morreu em 9 de abril de 1347, vítima da
peste negra. Acusado de heresia, foi processado pela Inquisição de Avinhão, em
1324, resultando na condenação de 51 de seus enunciados teológicos por parte do
Papa João XXII. Em 1349, foi absolvido por Papa VI [sic!]. Em Avinhão, conheceu o ministro geral dos franciscanos,
Miguel de Cesena, com o qual compartilhava um ideal de pobreza radical da qual
discordava o Papado. Para evitar uma punição do Papa por causa disso, fugiu
para Pisa, onde se alinhou com o Imperador Ludovico o Bávaro na questão entre
Império e Igreja, recebendo lá mesmo a excomunhão. Por causa disso, resolveu
seguir o imperador até a Bavária, junto com Miguel de Cesena, com o qual
continuou a polêmica contra o Papa. Após a morte do Imperador e do franciscano,
Guilherme teria tentado se reaproximar da Igreja, mas morreu antes que isso
acontecesse. Ele era convencido da independência entre fé e
razão: para ele as verdades da fé não são nada evidentes, e a razão não as pode
indagar; apenas a fé, dom gratuito de Deus, as pode iluminar. Mas,
continua ele, se entre Deus e o mundo não se pode por ligação alguma, a não ser
a pura vontade de Deus, segue disso que o único conhecimento é o conhecimento
do homem, dai que ruem os sistemas aristotélicos e tomistas, se negam os
conceitos de substância, não tem sentido falar de poder e de ato, o
conhecimento é apenas empírico, temos a reviravolta nominalista na disputa
sobre os universais, tramonta de vez a Escolástica, pois um dos pilares era
justamente a indagação racional da fé. Sua posição a respeito antecipa a
Reforma Protestante de Lutero.
[12] Escritor italiano que se tornou famoso
mundialmente com o livro “Em Nome da Rosa”, mencionado pelos autores,
que trata da investigação de uma série de crimes misteriosos ocorridos em uma
abadia medieval. No romance, Eco relembra a problemática suscitada pelo
Nominalismo entre o que é essencial, que parece ser o nome da rosa como nome,
em si um conceito, portanto um universal, dessa forma, eterno, imutável,
imortal, e de sua contraposição à rosa particular, individual no mundo, flor de
existência única na realidade, que por acontecer, também é passageira, mortal e
transitória. O próprio nome do livro suscita uma questão que relembra a questão
dos universais e dos particulares, que se refere a saber se o nome da rosa é
universal ou particular.
[13] Período histórico correspondente ao Século XX
e que foi marcado por grandes mudanças sociais e ideológicas, e também por duas
grandes guerras mundiais. Cf. http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_XX.
[14] Um dos defensores do Estado Absolutista
moderno, foi um jurista francês (1530-1596), membro do Parlamento de Paris e
professor de Direito em Toulouse. Adepto do direito divino dos reis, Bodin é
considerado o pai da Ciência Política e ficou conhecido como o Procurador Geral
do Diabo, por sua participação na Inquisição, que, contudo, acabou por condenar
alguns de seus livros por clara influência calvinista (Huguenotes). Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Bodin.
[15] Maquiavel escreveu “O Príncipe”, que sempre
esteve no Index da Igreja Católica, em parte porque desmontava
desonestamente as teorias políticas cristãs como as de Santo Agostinho e São
Tomás de Aquino, mas, sobretudo, porque Maquiavel anulava qualquer nexo entre
ética e política: segundo ele, um príncipe deve procurar parecer magnânimo,
religioso, honesto e ético, mas, na realidade os deveres de um príncipe não lhe
permitem possuir qualquer uma dessas virtudes. O livro desafiou a Escolástica
da Igreja, e sua leitura contribuiu à fundação do pensamento iluminista e,
portanto, do mundo moderno.
[16] Lembrem-se que Gnocchi e Palmaro ainda
esperam estar lidando com a Igreja de Cristo. Apesar de tudo que vêm observando
e dizendo, ainda não “ligaram o nome à pessoa”.
[17] O Bundestag (traduzido do alemão, “Dieta
Federal”) é o Parlamento da Alemanha.
[18] Fideísmo (do latim fides, fé) é
uma doutrina religiosa que prega que as verdades metafísicas, morais e
religiosas, como a existência de Deus, a justiça divina após a morte e a
imortalidade, são inatingíveis pela razão, e só serão compreendidas por intermédio
da fé. Foi
condenado pela igreja católica, pelo Papa Pio IX, no século XIX, através do
Concílio Vaticano I. Os fideístas procuram esquivar-se de qualquer tipo de
argumentação para que possam apoiar sua fé em Deus sem qualquer tipo de
racionalização. Porém, esta corrente teológica é flagrada em contradição quando
utiliza a própria razão para expor sua doutrina e depois negar seu emprego em
questões de fé. A principal critica ao fideísmo está relacionada a esta
contradição, como diz certo Norman Geisler: “Se alguém não tem razão para não
usar a razão, então essa posição é indefensável. Não há razão para que se
aceite o fideísmo”.
[19] François Marie Arouet, mais conhecido como
Voltaire, foi um escritor, ensaísta e filósofo iluminista francês. Conhecido
por sua defesa das liberdades civis [SIC!],
inclusive a liberdade religiosa e do livre comércio, é uma dentre muitas
figuras do Iluminismo cujas obras e ideias influenciaram pensadores tanto da
Revolução Francesa quanto da Americana. Voltaire produziu cerca de 70 obras em
quase todas as formas literárias, assinando peças de teatro, poemas, romances,
ensaios, obras científicas e históricas, mais de 20 mil cartas e mais de 2 mil
livros e panfletos. Um polemista satírico, frequentemente usou suas obras para
criticar a Igreja Católica e as instituições francesas do seu tempo. Esporte de
muitos hoje também. O conjunto de ideias de Voltaire constitui uma tendência de
pensamento conhecida como Liberalismo. Exprime na maioria dos seus
textos a preocupação pela defesa da liberdade, sobretudo do pensar, criticando
a censura e a Escolástica, como observamos na seguinte frase, escrita por
Evelyn Beatrice Hall como tentativa de descrever o espírito de Voltaire: "Não
concordo com nem uma das palavras que me diz, mas lutarei até com minha vida se
preciso for, para que tenhas o direito de dizê-las". Slogan dos
modernistas tolerantes com seus pecados e intolerantes com a opinião alheia,
sobretudo se for de crítica. Ele foi enterrado na mesma igreja que tentou
destruir para a Maçonaria: a abadia de Scellières. Dizem haver um documento
escrito de próprio punho no qual ele declararia ter recebido os sacramentos
antes de morrer, mas seus antigos companheiros negam a veracidade dele. Os
revolucionários retiraram seus restos da abadia e os levaram em triunfo ao
Panteão de Paris – a antiga igreja de Santa Genoveva – diante da tumba do
inimigo Rousseau. Seus livros estão no Index.
[20] Enzo Bianchi (1943) é um escritor italiano,
fundador e atual prior da Comunidade monástica de Bose, uma comunidade formada
por monges de ambos os sexos, oriundos das diversas confissões prétero-cristãs,
que, segundo alegam, vivem no celibato, na comunhão fraterna dos bens
(comunismo), na obediência ao Evangelho. Não fazem votos. A comunidade nasceu
em 8 dezembro de 1965, dia em que nasceu o Concílio Vaticano II. Do primeiro
grupo, fazia parte um pastor protestante e uma mulher. O bispo local, Carlo
Rossi, interditou o local por causa disso, mas o Cardeal Michele Pellegrino –
número 84 da lista Pecorelli de
maçons infiltrados na Igreja, de codinome Palmi – intercedeu para remover a
interdição e aprovou, em 1973, a regra monástica, para os primeiros sete
“irmãos”. Em 2010, o bispo local, Gabriele Mana, confirmou a aquisição da
personalidade jurídica canônica e aprovou modificações na regra. Hoje, há 85
pessoas, homens e mulheres, alguns protestantes e ortodoxos, cinco presbíteros
e um pastor. A única missão é viver como Jesus Cristo, seguindo a vida
cenobítica segundo os ensinamentos de São Pacômio, São Basílio e São Bento:
oração e trabalho. Fonte:http://it.wikipedia.org/wiki/Comunit%C3%A0_monastica_di_Bose.
[21] Zygmunt Bauman é um sociólogo e filósofo
hebraico-polonês, para quem, na modernidade, a moral é a regulação coercitiva
do agir social através da proposta de valores ou leis universais a que nenhum
homem razoável pode se subtrair. Não se pode falar, segundo ele, em moral
pós-moderna porque o fim das ideologias do Novecentos tornou impossível a
“pretensão” das verdades absolutas, e portanto pode haver muitas morais. Bauman
propõe um tipo de moral: a moral nasce como (e é essencialmente) o entregar-se
inteiramente do eu ao tu (ou seja, de mim ao outro). É um fato absoluta e
totalmente individual e livre. Pois não pode haver uma terceira pessoa que me
diga se minha ação é moral ou não, não há mais sociedade, a qual necessita
sempre de pelo menos três pessoas. Na prática isso se realiza assim, segundo
ele: esta liberdade de doar-se é sempre dentro de certos vínculos e construções
dados por uma estrutura que é, justamente, a sociedade. Ou seja, ele se
contradiz e tudo bem, é ovacionado mesmo assim.
[22] Carlo Maria Martini foi um cardeal e
arcebispo italiano, jesuíta, líder da corrente modernista defensora do chamado
“espírito do Concílio Vaticano II”, lançou, junto com outro cardeal jesuíta e
modernista, Roberto Tucci, um site chamado “Viva o Concílio”. Já antes de
Bergoglio, e junto com Madre Teresa de Calcutá, afirmava que “não se pode
tornar Deus católico” (in “Vita Diocesana”, n. 11). O próprio Bergoglio
reivindica a importância que Marini teve em sua formação.
[23] Hans Kelsen, jurista positivista e filósofo
austríaco, morto em 1973. Publicou cerca de quatrocentos livros e artigos,
entre os quais o “Teoria Pura do Direito” (‘‘Reine Rechtslehre’’). Judeu, Hans
Kelsen, durante a Segunda Guerra, foi para os Estados Unidos, onde exerceu o
magistério na Universidade de Berkeley, vindo a falecer nesta mesma cidade
californiana. Kelsen assume pressupostos caros à modernidade iluminista, como o
contratualismo e o individualismo. Assim é que ele compreende a sociedade como
ordem jurídica e estatal, na qual o indivíduo, despido de uma pretensa liberdade
natural, vive sob a coerção normativa heterônoma, emanada do poder político.
[24] Vladimir Soloviov foi um filósofo, teólogo,
poeta e crítico literário russo do fim do Século XIX.
[26] Não julgueis, e não sereis julgados. Porque
do mesmo modo que julgardes, sereis também vós julgados e, com a medida com que
tiverdes medido, também vós sereis medidos (S. Mat. 7,1-2)... Mas, claro, isso
só se aplica aos outros, não ao papa...
[27] Tomás Cranmer foi um herege reformador
(1533-1556) que, durante os reinados de Henrique VIII e Eduardo VI, foi
declarado arcebispo da Cantuária. A ele é creditada a autoria dos dois
primeiros volumes do “Livro de Oração Comum”, o qual estabeleceu a estrutura
básica da liturgia anglicana por séculos e influenciou a língua inglesa. Ele
foi queimado em 1556 por heresia pela Igreja Católica, por ser uma das figuras
mais importante da Reforma Protestante Anglicana. Com o advento de Maria I de
Inglaterra, herdeira legítima do trono inglês, ele foi primeiramente acusado e
condenado por traição por seu apoio a Jane Grey como Rainha, mas Maria poupou
sua vida, resolvendo julgá-lo por heresia, mantendo-o preso até
fevereiro de 1556. Em novembro de 1554, o cardeal Reginald Pole foi à
Inglaterra para restaurar no País o Catolicismo, sendo indicado como Arcebispo
da Cantuária em 1556. Entrementes, Cranmer, depois de dois anos de prisão,
declarou vários arrependimentos, reafirmando sua crença na Transubstanciação e
na Supremacia Papal, embora tenha dito, posteriormente, que o fez a fim de
evitar sua execução (coisa que não tem nada de mártir, como a igreja anglicana
o considera). Cranmer foi sentenciado à morte pela fogueira. É considerado
mártir pela igreja anglicana, apesar de ter "amarelado"...
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