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Há
um grande vazio no pensamento de Messori. Estas são as duas insuficiências
teológicas: a quase ausência do Espírito Santo. Diria mais, ele comete
o erro teológico do cristomonismo, ou seja, somente Cristo conta. Não há lugar para o
Espírito Santo. Tudo na Igreja se resolve somente com Cristo, algo que o Jesus
dos evangelhos não quer. Por que digo isto? Porque o que Messori lamenta é a
“imprevisibilidade” da ação pastoral desse Papa.
Quiçá
no futuro, a sede do primado não estará em Roma e a Cúria, com todas as suas
contradições, denunciadas pelo papa Francisco na reunião dos cardeais e dos
prelados da Cúria com palavras que só poderiam sair da boa de Lutero e com
menor força em meu livro condenado [sic!] pelo
cardeal J. Ratzinger “A Igreja, carisma e poder” (1984), (mas) aí onde vive a
maioria dos católicos: na América, África ou Ásia. Seria este um sinal próprio
da verdadeira catolicidade da Igreja dentro do processo da globalização do fenômeno
humano.
Sem
o Espírito Santo, a igreja se transforma numa instituição pesada, enfadonha,
forte, sem criatividade, e chega um momento em que ela não tem nada a dizer ao
mundo, a
não ser doutrinas, sempre mais doutrinas, que não suscitam a esperança e a
alegria de viver.
[NOTA RAPHAEL DE LA TRINITÉ – A TESE DO HEREGE JOAQUIM DE FLORA]
*** * ***
Li
com um pouco de tristeza o artigo crítico de Vittorio Messori no Corriere della Sera precisamente no dia menos apropriado: a noite de
Natal, festa de luz e alegria: “As opções de Francisco: as dúvidas sobre o rumo
do papa Francisco”.
O
autor tem tentado prejudicar essa alegria do bom pastor de Roma e do mundo, o
papa Francisco. Porém em vão, porque ele não conhece o sentido de misericórdia
e de espiritualidade desse Papa, virtude que seguramente Messori não demonstra.
O uso que ele faz das palavras compaixão e compreensão contem por dentro
veneno. E ele o faz em nome de muitos outros que se escondem atrás dele e não
têm a coragem de aparecer em público.
Proponho-me
a fazer outra leitura do papa Francisco, como contrapeso à de Messori, um
convertido que, na minha opinião, ainda deve levar a cabo sua conversão com a
recepção do Espírito Santo, para que ele não volte a dizer as coisas que tem
escrito.
Messori
demonstra três insuficiências: duas de natureza teológica e outra de
compreensão da Igreja do Terceiro Mundo.
Messori
tem se escandalizado com a “imprevisibilidade” desse pastor porque ele “não
cessa de perturbar a tranquilidade do católico médio”.
É
necessário se perguntar sobre a qualidade desses “católicos médios”, que têm
dificuldade em aceitar um pastor que exala o odor das ovelhas e anuncia “a
alegria do Evangelho”. Eles são, em geral, católicos culturais acostumados com
a figura faraônica de um Papa com todos os símbolos do poder dos imperadores
pagãos romanos.
Agora
surge um Papa franciscano “que ama os pobres”, que não veste Prada”, que faz
uma dura crítica do sistema que produz a miséria em grande parte do mundo, que
abre a igreja não somente aos católicos, mas também a todos aqueles que levam o
nome de “homens e mulheres”, sem julgá-los e acolhendo-nos no espírito da
“revolução da ternura”, como ele pediu aos bispos da América Latina reunidos no
ano passado no Rio de Janeiro.
Há
um grande vazio no pensamento de Messori. Estas são as duas insuficiências
teológicas: a quase ausência do Espírito Santo. Diria mais, ele comete o erro
teológico do cristomonismo, ou seja, somente Cristo conta. Não há
lugar para o Espírito Santo. Tudo na Igreja se resolve somente com Cristo, algo
que o Jesus dos evangelhos não quer. Por que digo isto? Porque o que Messori
lamenta é a “imprevisibilidade” da ação pastoral desse Papa.
Ora,
essa é a característica do Espírito, como o afirma São João: “O Espírito sopra
onde quer, você ouve sua voz, mas não sabe de onde vem nem para onde vai” (3,
8). Sua natureza é a súbita irrupção com seus dons e carismas. Francisco de
Roma, seguindo a vereda de Francisco de Assis, deixa-se conduzir pelo
Espírito.
Messori
é refém de uma visão linear, própria do seu “bem amado Joseph Ratzinger” e de
outros papas anteriores. Infelizmente, foi essa visão linear que fez da Igreja
uma cidadela, incapaz de compreender a complexidade do mundo moderno, isolada
entre as outras igrejas e outros caminhos espirituais, sem dialogar e aprender
com os outros, também iluminados pelo Espírito. Significa blasfemar contra o
Espírito Santo achar que os outros têm pensado equivocando-se.
Por
tudo isso, é sumamente importante uma igreja aberta como a quer Francisco de
Roma. É necessário que ela esteja aberta às irrupções do Espírito, chamado por
alguns teólogos “a fantasia de Deus”, por causa de sua criatividade e novidade,
na sociedade, no mundo, na história dos povos, nos indivíduos, nas igrejas e
também na Igreja católica.
Sem
o Espírito Santo, a igreja se transforma numa instituição pesada, enfadonha,
forte, sem criatividade, e chega um momento em que ela não tem nada a dizer ao
mundo, a não ser doutrinas, sempre mais doutrinas, que não suscitam a esperança
e a alegria de viver.
É um
dom do Espírito Santo que esse Papa venha de fora da velha cristandade
europeia. Ele não surge como um teólogo sutil, mas como um pastor que realiza o
que Jesus pediu a Pedro: “Confirma os irmãos na fé” (Lc 22, 31). Francisco
carrega consigo a experiência das igrejas do Terceiro Mundo, especificamente a
da América Latina.
Há
outra insuficiência no pensamento de Messori: não valorizar o fato de que hoje
o cristianismo é uma religião do Terceiro Mundo, como repetiu tantas vezes o
teólogo alemão Johan Baptist Metz. Na Europa vivem apenas 25% dos católicos;
72,56% no Terceiro Mundo (48,75% na América Latina).
Por
que não pode vir dessa maioria alguém que o Espírito fez bispo de Roma e Papa
universal? Por que não aceitar as novidades que derivam dessas igrejas, que já
não são mais igrejas-imagens das velhas igrejas europeias, mas
igrejas-emergentes com seus mártires, seus confessores e seus teólogos?
Quiçá
no futuro, a sede do primado não estará em Roma e a Cúria, com todas as suas
contradições, denunciadas pelo papa Francisco na reunião dos cardeais e dos
prelados da Cúria com palavras que só poderiam sair da boa de Lutero e com
menor força em meu livro condenado[sic!]
pelo cardeal J. Ratzinger “A Igreja, carisma e poder” (1984), (mas) aí onde
vive a maioria dos católicos: na América, África ou Ásia. Seria este um sinal
próprio da verdadeira catolicidade da Igreja dentro do processo da globalização
do fenômeno humano.
A
verdade é que esperava maior inteligência e abertura da parte de Vittorio
Messori, com seus méritos de católico, fiel a um tipo de Igreja e escritor
renomado. Esse papa Francisco tem levado esperança e alegria a muitos,
muitíssimos católicos e a outros cristãos. Não percamos esse dom do Espírito
com base em raciocínios muito mais negativos sobre ele.
Fonte: Católicos de Ribeirão Preto
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