DESTAQUE
Em Cartago, recorda Salviano de Marselha, dançava-se e banqueteava-se na véspera da invasão dos Vândalos, e em São Petersburgo, de acordo com o testemunho do jornalista americano John Reed, enquanto que os bolcheviques se apoderavam do poder, os teatros e restaurantes continuavam a ficar lotados.
Pode-se negar a existência de uma confusão absoluta?
O tango que foi dançado em 17 de dezembro de 2014 por ocasião do aniversário do papa Francisco lembra outra música; aquela tocada no Titanic na noite da tragédia. Porém naquele tempo a ponta do iceberg surgiu de repente, enquanto que os dançarinos estavam inconscientes do desastre iminente. Hoje o iceberg é visível e há aqueles que brindam ao impossível naufrágio da Barca de Pedro. Todavia muitas pessoas estão alertas e têm a forte sensação, como disse o cardeal Burke, de que a Igreja seja um navio à deriva.
Le Figaro, um jornal de centro-direita, famoso por sua moderação, consagrou seu suplemento de dezembro, “Le Figaro Magazine“, à Guerra secreta no Vaticano. Como o papa Francisco agita a Igreja: 11 páginas, escritas por Jean-Marie Guénois, considerado como um dos vaticanistas mais sérios e competentes.
“Algo parece ter virado na Igreja desde o Sínodo sobre a família do outono de 2014, escreve Guénois, e o acumulo dos indícios permite se perguntar: a Igreja não corre o risco de enfrentar uma tormenta no fim de 2015, depois da segunda sessão do sínodo sobre a família?“ Guénois revela a existência de uma “guerra secreta” entre cardeais que não têm como propósito a conquista do poder. O que está em curso é uma batalha de ideias, que tem como alvo principal a doutrina da Igreja sobre a família e o matrimônio. O papa Francisco é acusado dentro da Cúria de uma gestão autocrática do poder, que o jornalista francês resume na fórmula: “Quando decide, o Papa não é delicado“, mas o verdadeiro problema é sua visão eclesial, inspirada e aconselhada pelas correntes mais progressistas do Vaticano.
De acordo com Guénois, três teólogos definem os novos objetivos: o cardeal alemão Walter Kasper, o bispo italiano Bruno Forte e o arcebispo argentino Victor Manuel Fernandez. “É este trio que atiçaram o fogo durante o sínodo sobre a família!”.
*** * ***
Provavelmente
os historiadores de amanhã se lembrarão que em 2014, na praça de São Pedro,
dançava-se tango enquanto os cristãos eram massacrados no oriente e a Igreja
estava à beira de um cisma. Essa atmosfera de leveza e de inconsciência não é
nova na história. Em Cartago, recorda Salviano de Marselha, dançava-se e
banqueteava-se na véspera da invasão dos Vândalos, e em São Petersburgo, de
acordo com o testemunho do jornalista americano John Reed, enquanto que os
bolcheviques se apoderavam do poder, os teatros e restaurantes continuavam a
ficar lotados. O Senhor, como diz a Escritura, cega aqueles que ele quer perder
(Jo 2, 27-41).
O
principal drama do nosso tempo não é, todavia, a agressão que vem do exterior,
mas esse misterioso processo de auto-demolição da Igreja que alcança suas
últimas consequências, depois de ter sido denunciado pela primeira vez por
Paulo VI em seu famoso discurso ao Seminário Lombardo de 7 de dezembro de
1968. A auto-demolição não é um processo fisiológico. É um mal que tem responsáveis.
E os responsáveis são, nesse caso, esses homens da igreja que sonham em
substituir o Corpo Místico de Cristo por um novo organismo, submisso a uma
perpétua evolução sem verdades nem dogmas.
Um quadro impressionante da situação foi oferecido no fim de 2014 por dois dossiês sobre a Igreja publicados respectivamente pelo jornal diário francês Le Figaro e pelo cotidiano italiano la Repubblica.
Le Figaro, um jornal de centro-direita, famoso por sua moderação, consagrou seu suplemento de dezembro, “Le Figaro Magazine“, à Guerra secreta no Vaticano. Como o papa Francisco agita a Igreja: 11 páginas, escritas por Jean-Marie Guénois, considerado como um dos vaticanistas mais sérios e competentes.
“Algo parece ter virado na Igreja desde o Sínodo sobre a família do outono de 2014, escreve Guénois, e o acumulo dos indícios permite se perguntar: a Igreja não corre o risco de enfrentar uma tormenta no fim de 2015, depois da segunda sessão do sínodo sobre a família?“ Guénois revela a existência de uma “guerra secreta” entre cardeais que não têm como propósito a conquista do poder. O que está em curso é uma batalha de ideias, que tem como alvo principal a doutrina da Igreja sobre a família e o matrimônio. O papa Francisco é acusado dentro da Cúria de uma gestão autocrática do poder, que o jornalista francês resume na fórmula: “Quando decide, o Papa não é delicado“, mas o verdadeiro problema é sua visão eclesial, inspirada e aconselhada pelas correntes mais progressistas do Vaticano.
De acordo com Guénois, três teólogos definem os novos objetivos: o cardeal alemão Walter Kasper, o bispo italiano Bruno Forte e o arcebispo argentino Victor Manuel Fernandez. “É este trio que atiçaram o fogo durante o sínodo sobre a família!”. Desse modo, ele considera que Kasper é o testa de ferro pela admissão dos divorciados recasados aos sacramentos, Forte é o promotor da legalização da homossexualidade e Fernández um importante expoente da teologia peronista do povo.
Guénois entrevistou em seguida o cardeal Burke sobre o Sínodo, que, como de costume, se expressou com uma clareza cristalina: “O sínodo foi uma experiência difícil. Houve uma linha, a do cardeal Kasper, poder-se-ia dizer, atrás da qual se colocaram aqueles que tinham em mãos a direção do sínodo. De fato, o documento intermediário parecia já ter sido escrito antes das intervenções dos padres sinodais! E segundo uma linha única, em favor da posição do cardeal Kasper… Também introduziram a questão homossexual, que não tem nada a ver com a questão do matrimônio, buscando aí elementos positivos. (…) Logo, foi muito desconcertante. Assim como o fato de ter mantido, no relatório final, certos parágrafos sobre a homossexualidade e sobre os divorciados recasados que não foram, todavia, adotados pela maioria requerida pelos bispos. (…) Logo, estou muito preocupado, e chamo os católicos, os leigos, sacerdotes e bispos a se comprometerem, daqui até a próxima assembleia sinodal, a fim de realçar a verdade sobre o matrimônio”.
Que as preocupações do cardeal Burke sejam justificadas o demonstra o suplemento semanal “Il Venerdì de laRepubblica” de 27 de dezembro de 2014, completamente dedicado a uma “Investigação sobre a Igreja”: 98 páginas com 20 artigos, nos quais é descrita “a nova era de Francisco, entre adversários, santos, perseguidos e pecadores”.
O protagonista do La Repubblica é o cardeal Reinhard Marx, arcebispo de Munique e Freising, que confirma sua abertura aos divorciados recasados e aos pares homossexuais, nega a decadência moral do ocidente e afirma que “a pretensa secularização é um desenvolvimento necessário da liberdade. Uma sociedade livre é um progresso, segundo o verdadeiro ponto de vista do Evangelho“. Francisco, explica ele, “quer conduzir a Igreja à força original de seu testemunho. Ele tem uma visão clara do que quer, mas ele não segue um plano fixo, pessoal ou pré-determinado, nem um programa de governo. Ele lança sinais e dá exemplos, como ele fez durante o Sínodo consagrado ao matrimônio e à família“.
Dentro do dossiê, Marco Ansaldo, numa entrevista com o título “Franzoni, a vingança do antigo padre vermelho”, concede amplo espaço a Giovanni Franzoni, antigo abade da Basílica de São Paulo Fora dos Muros, que insiste sobre o fato de que as posições pelas quais ele foi condenado se aproximam atualmente das do Vaticano. Franzoni foi demitido do estado clerical (em 1976) por ter dito sim à lei sobre o divórcio e o aborto, e por suas declarações de voto em favor do Partido Comunista. Casado com uma jornalista ateia japonesa, hoje ele não renega suas ideias e afirma ter “descoberto a sexualidade como enriquecimento total e não como privação de energias que poderiam ser dedicadas ao Senhor“.
De acordo com algumas indiscrições, o Papa teria a intenção de admitir ao sacerdócio alguns leigos casados (a pretensa viriprobati) e de reintegrar na administração dos sacramentos padres já casados, reduzidos ao estado laico, como o próprio Franzoni ou o antigo franciscano e teólogo alterglobalista Leonardo Boff, que vive atualmente no Brasil com uma companheira.
Em 17 de novembro, Boff, que passou da teologia da libertação àeco-teologia, confirmou à agência Ansa ter enviado ao Papa, a pedido dele, material para sua próxima encíclica, e, em 28 de dezembro, em polêmica com Vittorio Messori, ele expressou no “Noi siamochiesa” seu apoio ao papa Francisco contra um escritor nostálgico, com essas palavras: “Por tudo isso, é sumamente importante uma igreja aberta como a quer Francisco de Roma. É necessário que ela esteja aberta às irrupções do Espírito, chamado por alguns teólogos “a fantasia de Deus”, por causa de sua criatividade e novidade, na sociedade, no mundo, na história dos povos, nos indivíduos, nas igrejas e também na Igreja católica. Sem o Espírito Santo, a igreja se transforma numa instituição pesada, enfadonha, forte, sem criatividade, e chega um momento em que ela não tem nada a dizer ao mundo, a não ser doutrinas, sempre mais doutrinas, que não suscitam a esperança e a alegria de viver”.
Pode-se negar a existência de uma confusão absoluta?
O tango que foi dançado em 17 de dezembro de 2014 por ocasião do aniversário do papa Francisco lembra outra música; aquela tocada no Titanic na noite da tragédia. Porém naquele tempo a ponta do iceberg surgiu de repente, enquanto que os dançarinos estavam inconscientes do desastre iminente. Hoje o iceberg é visível e há aqueles que brindam ao impossível naufrágio da Barca de Pedro. Todavia muitas pessoas estão alertas e têm a forte sensação, como disse o cardeal Burke, de que a Igreja seja um navio à deriva. Estamos entre eles, e por essa razão não saudamos 2015 com danças e fogos de artifício, mas com a firme intenção de acolher o apelo do próprio cardeal Burke e lutar, daqui até o próximo Sínodo, e além, a fim de defender a verdade do Evangelho sobre o matrimônio.
Fonte: Católicos de Ribeirão Preto
Nenhum comentário:
Postar um comentário