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Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!
30 meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas
30 meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas
por Monsenhor Ascânio Brandão
Livro de 1948 - 243 pags
Livro de 1948 - 243 pags
Casa da U.P.C.
Pouso Alegre
Pouso Alegre
1 de Novembro
O MÊS DAS ALMAS
Novembro é o mês consagrado pela nossa devoção ao
sufrágio das almas do purgatório. Ainda estamos no Mês do Rosário, porque S. S. Leão XIII,
quando estendeu a toda Igreja o Mês do Rosário, quis que a rainha das devoções
a Maria fosse compreendida na devoção dos fiéis como a devoção que une as três
Igrejas. Vai o Mês do Rosário até 2 de Novembro, para que o tesouro da rainha
das devoções marianas possa beneficiar a Igreja padecente. Novembro é dedicado
ao culto dos mortos, à devoção às almas do purgatório. De primeiro a trinta
deste mês, vamos relembrar nossos deveres de justiça e de caridade para com
nossos defuntos, vamos sufragar-lhes as pobres almas que estão sofrendo no
purgatório. Como é bela e utilíssima esta devoção!
Nos dois primeiros dias, unidos à Mãe Santíssima
do Rosário, comecemos devota e fervorosamente o Mês
das Almas. Mês da saudade e mês do sufrágio. A
Igreja nos dá cada ano alguns meses destinados a incentivar algumas devoções: Março,
o mês do querido Patriarca São José; Maio,
o belo mês de Maria.
Cantamos o louvor de Nossa Senhora e estimulamos nosso amor e devoção à Mãe de
Deus e nossa Mãe. Junho traz-nos
a piedade do Coração Santíssimo de Jesus.
É o mês do fervor, do amor d’Aquele Coração que tanto amou os homens, mês de
reparação. Outubro,
o belo mês do Rosário pelo
qual a Igreja quer incentivar nos fiéis zelo e amor pela rainha das devoções a
Maria. Finalmente, aí vem Novembro,
o mês das Almas.
Porque em Novembro? Outubro veio a ser o mês do Rosário porque nele está a
festa da Virgem do Rosário. Em Novembro temos a festa da Comunhão dos Santos —
e o dias dos mortos.
Que mês seria mais próprio para o mês dos mortos, o mês das almas do
purgatório?
Vamos, pois, incentivar nossa devoção, direi melhor,
nossa compaixão pelas almas sofredoras. Neste mês meditemos, rezemos, soframos,
façamos tudo que nos seja possível para que o purgatório receba mais sufrágios
e para que as lições deste dogma terrível e consolador a um tempo, nos
aproveitem bem.
Tenhamos compaixão das pobres almas! Si soubéssemos
o que elas padecem! Si tivermos uma fé mais viva, sentiremos a necessidade de
fazermos tudo ao nosso alcance para que este mês seja rico de boas obras, rico
de preces fervorosas e sobretudo de Santas Missas e indulgências em favor do
purgatório.
Neste mês podemos lucrar ricas indulgências...
...Uma indulgência de três anos uma vez cada dia,
si fizermos qualquer exercício em sufrágio das almas; uma indulgência plenária
para os que fizerem todo o Mês das Almas, contanto que confessem e comunguem e
rezem pela intenção do Santo Padre o Papa num dia do mês. Aos que assistirem os
exercícios, indulgência de sete anos cada dia do mês. E indulgência plenária na
forma do costume. (P. P. O. 543.)
No dia 2 de Novembro há grande indulgência. Uma
indulgência plenária cada vez a quem visitar as igrejas rezando seis Padre Nossos e Ave Marias
nas intenções do Sumo Pontífice.
Vamos, pois, façamos tudo pelas almas neste mês!
O dogma da Comunhão dos Santos
Rezamos no Credo: Creio na Comunhão dos Santos! Quanta
gente não pergunta curiosa, porque o ignora: “Que vem a ser Comunhão dos Santos?” .Antes de começarmos a meditar nestes dias de Novembro o dogma do purgatório, é
mister, no dia de Todos os Santos, no dia em que a Igreja vive o dogma da
Comunhão dos Santos, lembrarmos o que ele é e as riquezas espirituais que nos
trás. É o dogma da solidariedade dos fiéis. Santos, são os cristãos na graça de Deus. Os primeiros
cristãos eram assim chamados. Santos,
são os justos no céu, os que se salvaram e estão na posse de Deus. Santos,
são os justos que padecem no purgatório. Não são verdadeiramente santas aquelas
almas confirmadas na graça e à espera da eterna visão do céu? Pois comunhão ou comunicação é
a união dos fiéis da terra, do céu e do purgatório. Formam eles as três Igrejas
— a Igreja militante, somos nós os que combatemos neste mundo; a Igreja triunfante, os fiéis já no céu no triunfo eterno da glória; e
a Igreja padecente,
os fiéis que se purificam nas chamas do purgatório. Todos são membros de
Cristo. Todos formam o Corpo Místico de Cristo, nossa Cabeça. Estamos todos
unidos em Jesus Cristo como os membros unidos à cabeça. Que sublime doutrina!
Cristo Nosso Senhor é glorificado no céu pelos
membros triunfantes; sofre no purgatório nos seus membros padecentes; luta
conosco neste mundo com os membros militantes. Pois com esta doutrina admirável
do Corpo Místico, podemos nos auxiliar uns aos outros nesta sublime
solidariedade em Cristo e por Cristo.
As almas do purgatório já não podem mais merecer, dependem de nós os que ainda temos à nossa disposição os tesouros da Redenção e os méritos de Cristo. Podemos ajudá-las, podemos socorrê-las e dependem de nós. Por sua vez os Santos do céu juntos de Deus, na posse da eterna felicidade podem nos valer nesta vida, podem interceder por nós. Então recorremos à Igreja triunfante, pedindo socorro, e ajudamos por nossa vez à Igreja padecente. Eis aí o que é o dogma da Comunhão dos Santos. Podem os Santos dos céu ajudar as almas do purgatório? Há relações entre a Igreja triunfante e a Igreja padecente? Cremos que sim. Santo Tomás de Aquino o afirma.
As almas do purgatório já não podem mais merecer, dependem de nós os que ainda temos à nossa disposição os tesouros da Redenção e os méritos de Cristo. Podemos ajudá-las, podemos socorrê-las e dependem de nós. Por sua vez os Santos do céu juntos de Deus, na posse da eterna felicidade podem nos valer nesta vida, podem interceder por nós. Então recorremos à Igreja triunfante, pedindo socorro, e ajudamos por nossa vez à Igreja padecente. Eis aí o que é o dogma da Comunhão dos Santos. Podem os Santos dos céu ajudar as almas do purgatório? Há relações entre a Igreja triunfante e a Igreja padecente? Cremos que sim. Santo Tomás de Aquino o afirma.
Muitos autores o ensinam. Os Santos não podem
merecer no céu como nós aqui na terra. Portanto, satisfazer pelas almas não
podem, mas pedir e interceder por elas muitos teólogos o afirmam com muito
fundamento. E demais, há uma oração da Igreja que nos autoriza esta crença.
Ei-la: “Ó Deus, que perdoais aos pecadores e que desejais
a salvação dos homens, imploramos a vossa clemência por intercessão da
Bem-aventurada Maria sempre Virgem e de todos os Santos, em favor de nossos
irmãos, parentes e benfeitores que saíram deste mundo, a fim de que alcancem a
bem-aventurança eterna”.
Outra oração, “Fidelium”, repete a mesma súplica. Os primeiros cristãos
sepultavam os mortos junto do túmulo dos Santos para lhes implorar a intercessão.
Podemos pois crer que os Santos, não como nós, mas intercedendo e pedindo,
podem ajudar o purgatório.
Como os Santos ajudam as almas?
Já vimos que a sorte das almas está em nossas mãos,
porque só nós podemos merecer e ganhar por elas. É vontade de Deus que elas
dependam de nós. “Deus, escreve o Pe.
Faber, nos deu tal poder sobre a sorte dos mortos, que esta sorte parece
depender mais da terra que do céu”.
Somos nós os salvadores e auxiliadores das almas do purgatório. A Igreja definiu
que nossas orações podem valer aos mortos, mas não há uma definição sobre a
oração dos Santos neste sentido. Por quê? Naturalmente, não houve necessidade
de qualquer definição. Os protestantes negaram o valor da intercessão dos
Santos em nosso favor, mas nada disseram a respeito da intercessão dos Santos
em favor das almas, porque negavam o purgatório. Ora, a Igreja implora no
Ritual a intercessão dos Santos pelos mortos: “Subvenite...
Santos do céu, vinde em seu auxílio, Anjos do céu, vinde, recebei a sua alma... Como, pois, os Santos ajudam os mortos?
1º Pedem que as satisfações dos vivos sejam aceitas
perante Deus.
2º Pedem a Deus que os vivos sejam levados a ajudar
os mortos e satisfazer por eles, que a devoção pelas almas sofredoras se
incentive cada vez mais.
3º Podem pedir a Nosso Senhor que a libertação das
almas se faça mais depressa por uma intensidade das penas que abrevie este
tempo mais longo de sofrimento.
4º Podem rogar a Nosso Senhor que pelos méritos e
satisfações que tiveram eles quando estavam neste mundo, possam ser utilizados
estes méritos pelas almas e poderão também oferecer os méritos do Cristo, de
Maria e de outros Santos.
Enfim, dizem seguros teólogos, há muitos meios dos
Santos poderem ajudar as santas almas do purgatório. Esta crença é muito
antiga na Igreja. Encontramo-la nos monumentos, as devoções populares de
séculos, e é já tradicional na devoção de todo mundo católico, recorrer à
intercessão dos Santos em favor das almas do purgatório.
No dia de Todos os Santos a Igreja nos convida a
meditar na grandeza e no poder da santidade. Mostra-nos os modelos e pede-nos
que os imitemos. Glorifica os eleitos na beleza da sua Liturgia, cantando o
triunfo dos seus filhos no céu. Depois, ao cair da tarde, já se ouvem dobrar os
sinos, já nas Vésperas tudo se muda. Após as Vésperas festivas de Todos os
Santos, vem o luto e o Ofício dos defuntos. Sucedem-se os
Misereres e os De
Profundis. É a vez da Igreja padecente. Nestes
dois dias, 1.º e 2 de Novembro, vivemos o dogma da Comunhão dos Santos. As
três Igrejas unidas, orando, e numa admirável comunicação de graças e de
méritos e de sufrágios.
Este dia, dizia o Ven.
Olier, é talvez o maior dia da Liturgia da
Igreja para os fiéis. É o dia do Cristo Total, do Cristo unido a nós, do Corpo
Místico de Cristo, cabeça das três Igrejas. Como podemos utilizar a
intercessão dos Santos em favor das almas? Certamente, não há dúvida alguma,
eles na glória podem interceder por nós e nos protegerem. Pois utilizemos esta
intercessão em favor das almas. Que eles nos ajudem a ajudar as almas. Que nos
inspirem muita compaixão e devoção pelas almas, que nos façam anjos de
caridade das benditas almas sofredoras. Eis como os Santos podem ajudar as
almas.
Exemplo
A Obra Expiatória de Montligeon publicou com
aprovação da autoridade eclesiástica, o seguinte fato:
No mês de Setembro de 1870, uma religiosa do
Mosteiro das Irmãs Redentoristas de Malines, na Bélgica, sentiu repentinamente
uma profunda tristeza que não a deixava dia e noite. A pobre Soror Maria
Serafina do Sagrado Coração tornou-se um enigma para si própria e a comunidade.
Pouco depois, chega a notícia da morte do pai da boa Irmã, nos campos de
combate. Desde este dia, a religiosa começou a ouvir gemidos angustiosos e uma
voz que lhe diz sempre:
— Minha filha querida, tem piedade de mim! Tem
piedade de mim!
No dia 4 de Outubro novos tormentos para a Irmã e
uma dor de cabeça insuportável. No dia 14 à noite, ao deitar-se, viu ela entre
a cama e a parede da cela o pai cercado de chamas e imerso numa tristeza
profunda. Não pôde reter um grito de dor e de espanto. No dia 15 à mesma hora,
ao recitar a Salve Rainha, viu de novo o pai entre chamas. A esta vista,
perguntou a Irmã ao pai se havia ele cometido alguma injustiça nos seus
negócios.
— Não, responde ele, não cometi injustiça alguma.
Sofro pelas minhas impaciências contínuas e outras faltas que não te posso
dizer.
No dia 27, nova aparição. Desta vez não estava
cercado de chamas. Queixou-se de que não era aliviado porque não rezaram
bastante por ele.
— Meu pai, não sabes que nós religiosas não podemos
rezar o dia todo, temos os trabalhos da Regra?
— Eu não peço isto, diz ele, quero que apliquem por
mim as intenções, as indulgências. Se não me ajudares, eu te hei de atormentar.
Deus o permitiu! Oh! Minha filha, lembra-te que te ofereceste a Nosso Senhor
como vítima. Eis a consequência. Olha, olha, minha filha, esta cisterna cheia
de fogo em que estou mergulhado! Somos aqui centenas. Oh! Se soubessem o que é
o purgatório, haviam de sofrer tudo, tudo para evitar e para aliviar as almas
que lá estão cativas. Deves ser uma religiosa muito santa, minha filha, e
observar bem a Santa Regra, ainda nos pontos mais insignificantes. O
purgatório das religiosas, oh! É uma coisa terrível, filha!
Soror Maria Serafina viu, realmente, uma cisterna
em chamas donde saiam nuvens negras de fumo. E o pai desapareceu como que
abrasado, sufocado horrorosamente, sedento, a abrir a boca mostrando a língua
ressequida:
— Tenho sede, minha filha, tenho sede!
No dia seguinte a mesma aparição dolorosa:
— Minha filha, há muito tempo que eu não te vejo!
— Meu pai, ontem mesmo...
— Oh! Parece-me uma eternidade... Se eu ficar no
purgatório três meses, será uma eternidade... Estava condenado a diversos anos,
mas devo a Nossa Senhora, que intercedeu por mim, ficar reduzida a pena a
alguns meses apenas.
Esta graça de poder vir pedir orações, o bom homem
alcançou pelas suas boas obras, pois era extremamente caridoso e devoto de
Maria. Comungava em todas as festas da Virgem e ajudou muito na fundação de
uma casa de caridade das Irmãzinhas dos pobres da Diocese.
Soror Maria Serafina fez diversas perguntas ao pai:
— As
almas do purgatório conhecem os que rezam por elas e podem rezar por nós?
—Sim, minha filha.
— Estas almas sofrem ao saberem que Deus é ofendido no meio de suas famílias e no mundo?
— Estas almas sofrem ao saberem que Deus é ofendido no meio de suas famílias e no mundo?
— Sim.
A Irmã, orientada pelo seu confessor e pela Superiora,
continuou a interrogar o pai:
— É verdade, meu pai, que todos os tormentos da
terra e dos mártires estão muito abaixo do sofrimento do purgatório?
— Sim, minha filha, é bem verdade tudo isso. . .
Perguntou se todas as pessoas que pertencem à
Confraria do Carmo são libertadas no primeiro sábado depois da morte do
purgatório.
— Sim, respondeu ele, mas é preciso ser fiel às
obrigações da Confraria.
— É verdade que há almas que devem ficar no
purgatório até cinquenta anos?
— Sim. Algumas estão condenadas a expiar os seus
pecados até o fim do mundo. São almas bem culpadas e estão abandonadas. Há três
coisas que Deus pune e que atrai a maldição sobre os homens: a violação do dia
do domingo pelo trabalho, o vício impuro que se tornou muito comum, e as
blasfêmias. Oh! Minha filha, as blasfêmias são horríveis e provocam a ira de
Deus.
Desde este dia até à noite de Natal, sempre aparecia a Soror Maria Serafina a alma atormentada do seu bom pai, pela qual ela e a
comunidade oravam e faziam penitências. Na primeira missa do Natal, a boa Irmã
viu seu pai à hora da elevação, brilhante como o sol, de uma beleza
incomparável.
— Acabei meu tempo de expiação, filha, venho te
agradecer e às tuas Irmãs as orações e sufrágios. Rezarei por todas no céu.
E ao entrar na cela, de madrugada, viu a Irmã
Serafina mais uma vez a alma do pai resplandecente de luz é de beleza, dizendo:
— Pedirei para tua alma, filha, perfeita conformidade com a vontade de Deus e a graça de entrar no céu sem passar pelo purgatório.
— Pedirei para tua alma, filha, perfeita conformidade com a vontade de Deus e a graça de entrar no céu sem passar pelo purgatório.
E desapareceu num oceano de luz e de beleza.
Estes fatos se deram de Outubro a Dezembro de
1870 e passaram pelo crivo de um severo e rigoroso exame das autoridades
eclesiásticas antes de serem publicados e divulgados amplamente pela
Obra Expiatória de Nossa Senhora de Montiglion, na França.
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