Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!
30 meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas
por Monsenhor Ascânio Brandão
Livro de 1948 - 243 pags
Casa da U.P.C.
Pouso Alegre
30 meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas
por Monsenhor Ascânio Brandão
Livro de 1948 - 243 pags
Casa da U.P.C.
Pouso Alegre
28
de Novembro
COMO
EVITAR O PURGATÓRIO?
Pode-se
evitar o purgatório?
Há
em geral entre muitos a idéia de que é impossível entrar no céu logo depois da
morte, principalmente quando se pensa na Justiça de Deus, na Santidade Divina
e a miséria humana. O purgatório não é sempre inevitável. Pode-se evitar o
purgatório e é vontade de Deus que façamos tudo neste mundo para merecer logo o
céu. É impossível! É dificílimo!... Sim, difícil, não há dúvida, mas
impossível, nunca! Não digamos como tantos: contanto que eu arranje um lugar no
purgatório... Por humildade, e em verdade, podemos falar assim, mas por
covardia e para afrouxarmos no trabalho da nossa perfeição, nunca o podemos
dizer, nem proceder assim. Havemos de fazer tudo para evitar o purgatório.
“Aqui, disse Santa Catarina de Genova, pagamos com um, a dívida de mil, e na
outra vida precisamos de mil para pagar um... Está
em nossas mãos ganhar muito e preparar a entrada do céu logo depois da morte”.
Santa
Teresa viu almas entrarem no céu sem terem
passado pelo purgatório. Procurar evitar o purgatório é o melhor meio de se
livrar dele. Evitemos o pecado venial, sejamos fiéis ao nosso dever, tenhamos
uma grande pureza de intenção em nossos atos. Façamos muitas obras de caridade,
fujamos de toda vaidade e hipocrisia em nossas ações, sejamos sinceros,
humildes, simples, tenhamos paciência em nossos sofrimentos, sejamos resignados
à vontade de Deus em todas as coisas. Quantos meios ao nosso alcance para
evitarmos o purgatório! Zelemos a pureza de consciência e a pureza de
intenção. Não é impossível escapar do purgatório. Está em nossas mãos. Uma
alma fervorosa se abrasa neste mundo nas chamas do Divino Amor que purifica
cada dia mais e se santifica de tal modo, que logo se lhes abram as portas do
céu.
Fazer
esforços para evitar o purgatório não é, como dizem alguns, uma covardia. É
glorificar a Deus, é estimular a nossa perfeição, é corresponder à graça com
generosidade, enfim, é um dos meios mais poderosos e eficazes de santificação.
Temos muita miséria e fraqueza. Vivamos num estado de compunção, contritos e
humildes. Não tenhamos a presunção que perde tantas almas e as leva a esperar
o céu com tão pouco sacrifício!
Enquanto
estamos neste mundo, somos os milionários da graça e dos tesouros da Redenção.
Somos mais felizes do que os Santos do céu e as almas do purgatório. Eles não
podem mais merecer, nem trabalhar para a salvação e para a glória do céu, como
nós agora. Então, por que não aproveitarmos estas riquezas de valor infinito?
Um dos maiores tormentos das pobres almas é o remorso. Que verme roedor!
Pensarem elas que poderiam ter sofrido tão pouco e trabalhado um pouco mais, e
já estariam no céu e teriam salvo tantas almas e feito tanto bem quando
estavam neste mundo, e desperdiçaram os tesouros do Sangue Precioso de Jesus e agora
padecem tanto! Poderiam ter evitado o purgatório... E nós?
Meios
de evitar o purgatório
O
primeiro e o único verdadeiro é evitar o pecado venial e toda imperfeição,
exceto aquelas quase impossíveis à fragilidade humana. Sem privilégio especial
não é possível ao homem evitar todas as faltas, diz o Concilio de Trento. Pelo
menos, lutemos e tenhamos boa vontade. Tenhamos horror ao pecado, mesmo venial.
Demos muita importância ao que é de perfeição, sobretudo os Religiosos à
observância da Santa Regra. Há outros meios de evitar o purgatório. Entre
eles, os meios sacramentais — o Batismo. Uma alma recém batizada que morre está
livre de toda pena, tem o céu imediatamente. Felizes as criancinhas inocentes
e felizes, os que morreram com a inocência batismal!
A
confissão frequente, bem praticada, com sincero arrependimento, com emenda de
vida cada dia mais, é um meio poderoso de vigilância, de combate às faltas e
imperfeições. Uma confissão semanal ou de quinze em quinze dias para lucrar as
indulgências, e confissão sem rotina, bem preparada, bem contrita, como
purifica a alma e vai fazendo seu purgatório nesta vida! Como é poderosa a
absolvição que nos dá o sacerdote; e a penitência sacramental, embora tão
pequena, tem muito valor para a remissão da pena temporal.
E
a Eucaristia? Não apaga o pecado venial e nos purifica cada vez mais, dando-nos
força para a luta? Ó, as almas eucarísticas, unidas ao Senhor na intimidade do
seu Amor, abrasadas nas chamas deste Amor, podem temer as chamas do purgatório?
Purifiquem-se muito bem para a Comunhão aqui na terra, que estarão se
purificando para a Visão eterna do céu logo após a morte. Uma alma
verdadeiramente eucarística
não teme o purgatório. Depois, temos a riqueza da Extrema Unção e da Bênção
apostólica na hora da morte. Falaremos depois destes meios, chaves do céu e
libertadores do purgatório. E demais, os religiosos, por exemplo, têm os méritos
da vida comum, as indulgências da Ordem ou Instituto religioso, as
penitências, as meditações, as boas leituras, enfim a multidão dos recursos
espirituais que bem aproveitados, escrupulosamente, cada dia, sem ser mister
que se entreguem a coisas extraordinárias e difíceis e até impossíveis,
quantos meios para evitarem o purgatório com a simples fidelidade à Regra! A
perfeita observância, como diz São Bernardo, pode levar da cela para o céu.
“De cella ad coelum”.
Evitarão
o purgatório as almas simples e inocentes, aqueles pobrezinhos ignorantes que
sempre viveram numa profunda humildade a servirem a Deus na simplicidade do seu
coração. Quantos destes pequeninos amados de Nosso Senhor após os sofrimentos
desta vida não passam diretamente para o céu!
Enfim,
é o segredo de Deus, o mistério insondável. E a caridade? Não nos foi prometido
cem por um e o reino do céu pelas boas obras de misericórdia? Quem pode duvidar
que uma alma caridosa que passou a vida a fazer o bem aos pobres e
desgraçados, não tenha o céu logo após a morte? Ó, sim, podemos evitar o
purgatório, e direi mais, devemos evitar o purgatório. Esta é a vontade de
Deus!
A
Extrema Unção e indulgência apostólica
A
Extrema Unção tem o poder de nos abrir logo as portas do céu. É a opinião do
angélico Santo Tomás: “A Extrema Unção acaba a cura espiritual do homem e faz
desaparecer de sua alma tudo quanto poderia impedi-lo de entrar na glória e
consuma sua preparação para a vida eterna”.
Supõe
naturalmente que o enfermo a receba com as devidas disposições. A Extrema Unção
é como que o complemento da penitência. Esta redime os pecados e aquela faz
desaparecer os restos do pecado. Um dos efeitos da Extrema Unção é fortificar a
alma contra o temor exagerado da morte e ajudá-la a se conformar inteiramente
à vontade de Deus. Só este ato de conformidade, diz Santo Afonso, pode levar
uma alma logo para o céu sem passar pelo purgatório, porque é um ato de
caridade de grande valor. Enfim, que tesouro desconhecido é a Extrema Unção, e
tantos deixam de a receber na hora extrema porque os parentes e amigos, com
receio de assustar o enfermo, o privam deste recurso! Na sua Teologia moral, Santo Afonso conta
esta visão: Percebeu no purgatório a alma de um homem seu conhecido e foi-lhe
revelado que este homem não teria morrido da doença que o levou a sepultura, se
tivesse recebido a Extrema Unção. A virtude do Sacramento o teria curado e
teria se livrado de um purgatório tão doloroso e menos longo do que o que
estava padecendo [1].
Por
que então deixar os enfermos sem a Extrema Unção, sob o pretexto de que é o
sacramento que mata, apressa a morte e assusta o enfermo? Um dos efeitos do
Sacramento é curar também o corpo, e o maior de todos, curar a alma de todos os
males e consequências do pecado, e abrir-lhes as portas do céu. A Igreja, nossa
Mãe, tem outro tesouro à nossa disposição na hora derradeira: é a Indulgência plenária ou apostólica. Esta indulgência
nos pode abrir logo o céu. Vejam as preces do sacerdote ao dá-la aos enfermos:
“Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus Vivo, que deu ao Bem-aventurado
Apóstolo Pedro o poder de ligar e desligar, pela sua piíssima misericórdia,
receba a tua confissão e te restitua a estola primeira que recebeste no
Batismo. E eu, pela faculdade que me foi dada pela Sé Apostólica te concedo a
indulgência plenária e a remissão de todos os pecados em nome do Padre e do
Filho e do Espírito Santo”.
Que
beleza! A inocência do Batismo restituída a um pecador na hora da morte! Não é
a porta do céu? E o sacerdote acrescenta, para confirmar a absolvição: “Pela
Sacrossanta Humanidade e pelos mistérios da reparação humana, o Deus
Onipotente te perdoe todas as penas desta e da futura vida, te abra as portas
do paraíso e te leve à felicidade eterna”.
Haverá
maior riqueza para um cristão? Até as penas da outra vida, isto é, as do
purgatório estão remidas pela indulgência plenária. Meditemos bem as orações e
o rito da Extrema Unção, procuremos nos preparar sempre para recebermos na hora
derradeira com as devidas disposições a Indulgência plenária ou Apostólica.
Eis
aí quantos meios de evitar o purgatório à nossa disposição! Não é pois verdade
que podemos nos livrar do purgatório?
Exemplo
As
Irmãs auxiliadoras do purgatório
Em
21 de Novembro de 1855 uma jovem piedosa lia num opúsculo, “O Mês do Purgatório”, por um autor
desconhecido, esta página profética e suplicante:
“Ó
Espírito Santo, vós suscitastes, em épocas diferentes, ordens religiosas de
toda espécie para todas as necessidades da Igreja militante. Ó Pai das Luzes,
cheios de compaixão e de zelo pelos mortos, nós vos suplicamos, suscitai também
em favor da Igreja padecente uma nova ordem cujo fim principal seja se ocupar
dia e noite no alívio e na libertação das almas do purgatório...”.
Quem
lia isto, comovida e inspirada, era a senhorita Eugênia Maria José
Desmet.
Sempre foi uma alma piedosa e desde pequenina teve uma devoção ardente pelas
almas do purgatório e uma inclinação pelos pobres e miseráveis, aos quais
procurava sempre amparar caridosamente. Ao ter a inspiração tão forte da
fundação de uma obra para socorro das almas do purgatório, não pode mais ter
sossego. Era uma alma sincera, um espírito muito equilibrado e nada sujeito a
fantasias. Neste mesmo dia 1.º de Novembro, ao sair da igreja, a senhorita Desmet encontra uma amiga
que lhe fala na necessidade de uma associação em favor das almas do purgatório.
Era uma coincidência muito estranha! A piedosa jovem sabia que era necessário
agir, mas tinha medo de ilusões, e pediu a Nosso Senhor alguns sinais da sua
Santa Vontade. Queria cinco graças: a bênção do Papa para a obra — a aprovação
de diversos Bispos — a extensão rápida da Associação — um certo número de almas
piedosas que se destinassem a este apostolado — e um padre que tivesse a mesma
idéia.
Em
menos de dois anos alcançou tudo quanto desejava. O projeto foi apresentado a
Pio IX, que o aprovou de todo coração. Diversos senhores Bispos, e entre eles o
Arcebispo de Paris, deram a sua bênção e aprovação rapidamente. O padre que
tivesse a mesma idéia, seria o Santo Cura d’Ars. A senhorita Desmet nunca viu nem
escreveu ao Cura d’Ars, mas através
do Pe. Tocanier coadjutor do Santo, foi este consultado. São João Maria
Vianney disse:
“Diga a ela, referia-se a M. Desmet, diga a ela que
estabeleça uma congregação pelas almas do purgatório quando ela quiser”.
Não
ficou satisfeita ainda a senhorita. Queria que o Santo Cura d’Ars meditasse e rezasse
para saber se era da vontade de Deus o projeto. Assim o fez. Num dia de
finados, o Santo passou de joelhos longa hora, rezou muito e levantando-se com
os olhos banhados em lágrimas, disse ao Pe. Tocanier: “A obra é inspirada por
Deus, foi Deus quem inspirou uma tal dedicação. Duas coisas pode ter certeza: que aprovo a vocação
dessa senhorita à vida religiosa e a fundação desta congregação, que há de se
estender rapidamente pela Igreja; está aí uma obra que Nosso Senhor pede há
muito tempo”.
A
respeito do noviciado, disse o Cura d’Ars: “Poucas para começar,
mas bem escolhidas e de boa semente...”.
O Pe. Olivant poderia mais tarde
dizer das fundadoras: é um punhado de almas de elite.
Qual
o fim do Instituto nas obras? Foi ainda o Cura d’Ars quem o inspirou: trabalhar pelas almas
do purgatório, dedicando-se às obras de caridade. “Realizareis, disse
ele às fundadoras, realizareis a plenitude do espírito de Jesus Cristo,
aliviando ao mesmo tempo os seus membros sofredores na terra e no purgatório”.
Em
19 de Janeiro de 1856, Eugênia Smet chegou a Paris e se
retirou com algumas companheiras, suscitadas por Deus, numa residência modesta
. Três dias depois foi procurar o Arcebispo Mons. Sibour, que a recebeu com
muito carinho e prometeu fazer tudo pela obra. Em Junho do mesmo ano estava a
Congregação estabelecida. Vieram muitas provações.
Em
pouco tempo a morte do Arcebispo e do Santo Cura d’Ars. Não obstante, a obra
prosperou. Em 27 de Fevereiro de 1871, Pio IX deu o Breve de aprovação e Leão
XIII, em 1878, aprovou as Constituições. As Irmãzinhas do Purgatório abriram
casas em outras nações e foram até para a China realizar o seu programa:
glorificar a Deus socorrendo as almas do purgatório, aliviando todas as
misérias humanas.
Madre
Maria da Providência foi o nome da senhorita Smet em religião.
Foi
admirável esta santa criatura! Passou dolorosas provações, mas tudo venceu
heroicamente. O Cura d’Ars lhe havia profetizado
muitas cruzes: “Vossas cruzes são flores que hão de dar muitos frutos. Só vós
haveis de saber um dia quanto sofrimento vos há de custar para firmar vossa
obra. Porém se Deus está convosco, quem será contra vós?”. A profecia se
realizou. “A Igreja padecente deve ter mártires neste mundo, dizia Madre Maria
da Providência”. Dizia ela também, gemendo de dor na doença: “Amar sofrendo e
sofrer amando para vos dar almas, ó meu Jesus!”. É preciso sofrer para pagar
tantas graças!
No
Instituto das Irmãzinhas do Purgatório duas devoções se cultivam com amor: a do
Sagrado Coração de Jesus e da Providência Divina. A piedade e devoção a Maria
Santíssima é tudo na obra sob a invocação de Nossa Senhora da Divina
Providência. Cada dia e a cada hora hão de repetir as Irmãs: “Meu Deus, nós vos
oferecemos pelas almas do purgatório todos os atos de amor pelos quais o
Sagrado Coração de Jesus vos glorificou nesta mesma hora, quando estava na
terra”.
Não
é uma bela invocação que podemos também adotar?
Rezar,
sofrer, trabalhar! Era o lema da Madre Maria da
Providência,
fundadora das Irmãzinhas do Purgatório. Seja o nosso lema: rezar, sofrer e trabalhar pelas almas do
purgatório! — (Vie de la R, M. Marie de la
Providence).
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