Chegada dos cruzados a Antioquia, Sébastien Mamerot, Les Passages d’Outremer, Fr 5594, BnF |
O monge armênio Hovannés [João] que morava em Antioquia durante o sítio cruzado, assistiu à sua subsequente invasão, ao sítio maometano e, por fim à libertação final, num combate humanamente inexplicável, deixou uma crônica bastante pormenorizada de como aconteceram esses fatos:
“(…) Naquele ano [Nota: fala das operações militares do ano 1098] o Senhor visitou o
seu povo, segundo está escrito: “Eu não vos abandonarei nem me afastarei de
vós”.
“O braço todo poderoso de Deus foi o nosso guia.
“O braço todo poderoso de Deus foi o nosso guia.
[Os Cruzados] trouxeram o
estandarte da Cruz de Cristo, e depois de ostentá-lo pelo mar, massacraram uma
multidão de infiéis e puseram os outros a fugir pela terra.
Tomaram a cidade de Nicéia e a
sitiaram por cinco meses.
Depois vieram ao nosso país, na
região da Cilícia e da Síria, e atacaram, postando-se em volta da metrópole de
Antioquia.
Durante nove meses, fizeram a cidade
e as regiões vizinhas passarem por momentos difíceis.
Por fim, como a captura de uma cidade
de tal maneira fortificada não estava na capacidade dos homens, Deus
todo-poderoso, por meio de seus conselhos, obteve a salvação e abriu a porta da
misericórdia.
Tomaram a cidade e com o fio da espada mataram o
arrogante dragão com suas tropas.
Mas, após um ou dois dias, uma imensa
multidão de maometanos reuniu-se ao pé das muralhas, para trazer socorro a seus
congêneres.
Em virtude de seu grande número, os
infiéis menosprezavam o pequeno número de cristãos; eram insolentes, como o foi
o faraó, proferindo este frase: “Eu os matarei com minha espada, minha mão
dominar-vos-á”.
Sitio de Antioquia, f 52, Sébastien Mamerot, Les Passages d’Outremer, Fr 5594, BnF. |
Durante quinze dias, os cruzados
ficaram reduzidos à maior das angústias, e esmagados pela aflição, pois
faltavam os alimentos necessários para a vida dos homens e dos animais.
Muito debilitados e espantados pelo
número imenso de infiéis, reuniram-se na grande basílica do Apóstolo São Pedro
e, com um poderoso clamor e uma chuva abundante de lágrimas, pediram numa só
voz, mais ou menos isto:
“Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, em quem nós
esperamos e por cujo nome nesta cidade nós somos reconhecidos como cristãos,
Vós nos conduzistes até este local. Se nós pecamos contra Vós, tendes todos os
meios para nos punir, mas livrai-nos dos infiéis, a fim de que eles,
intumescidos de orgulho não possam dizer: ‘onde está o seu Deus?’”
Cruzados formam em ordem de batalha, f 71, Sébastien Mamerot, Les Passages d’Outremer, Fr 5594, BnF |
“E, tomados pela graça da oração, uns encorajavam
os outros, dizendo: ‘O Senhor dará força a seu povo; o Senhor abençoará o seu
povo na paz’”.
E cada qual se lançou sobre o cavalo e correram
contra os ameaçadores inimigos dispersando-os, pondo-os em fuga e os
massacraram até o pôr do Sol.
Tudo isso causou grande alegria aos
cristãos, e houve abundância de trigo e de cevada, como nos tempos de Eliseu às
portas de Samaria.
Por isso eles aplicaram a si mesmos o cântico
profético: “Eu te glorifico, Senhor, porque Vós cuidastes de mim, e Vós fostes
causa de eu não alegrar a meu inimigo”.
(Fonte: Récitdu moine
arménienHovannés (Jean) à lafin d’unmanuscritcopié par luiaumonastère de
saint-Barlaam, danslaville haute d’Antioche, pendant lesopérationsmilitaires de
1098. Traduitdulatin de latraductionfaitesurletextearménien par lepèrePeeters,
« MiscellaneaHistorica Alberti de Meyer », Louvin, 1946, p. 376, apud Internet
Medieval Sourcebook)
Retirado do Blogue: As Cruzadas
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