Putin não teria como sustentar uma guerra por muito tempo. Inclusive, há muita divisão política interna. Isso só não aparece devido aos métodos do bandido Putin, que cala a todos. Aliás, alguém já explicou as mortes dos adversários políticos de Putin? – comentário de uma leitora
Chamo a sua atenção para o fato de que, em várias cidades russas já começaram os protestos contra a decisão de Putin. E especialmente destaco o fato de que uma petição assinada por mais de 70 mil membros da população étnica russa dentro da Ucrânia pediu a Putin para não invadir país. Então, é uma falsidade achar que a população que se sente culturalmente ligada à Rússia no leste da Ucrânia está pedindo uma invasão.
Eis o que afirma, durante uma visita a Viena, o historiador britânico Timothy Snyder. Ele é professor do Departamento de História da Universidade de Yale, em Connecticut, escreveu dois livros sobre a Ucrânia e tem publicado artigos sobre a crise na antiga república soviética em que alertou para o desfecho de uma intervenção militar.
*** * ***
A crise na Ucrânia é séria demais, diz historiador britânico. Putin não deve se iludir de que tropas russas vão ser bem recebidas
|
Nessa foto de 1988 é possível ver o atual primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin, que na época era agente do KGB soviético, se passando por turista para espionar o então presidente dos Estados Unidos. |
“Não me surpreendo em nada com o
que aconteceu neste sábado,” afirma, durante uma visita a Viena, o
historiador britânico Timothy Snyder. Ele é professor do Departamento de
História da Universidade de Yale, em Connecticut, escreveu dois livros sobre a
Ucrânia e tem publicado artigos sobre a crise na antiga república soviética em
que alertou para o desfecho de uma intervenção militar.
O livro mais recente de Snyder
é Bloodlands, EuropeBetween Hitler and Stalin (2010), uma
elogiada história do genocídio de 14 milhões de civis praticado em nome de duas
utopias, a de classe, por Stalin, e a da raça, por Hitler.
O professor é cauteloso na
previsão do desdobramento da decisão de Vladimir Putin de formalizar a
intervenção no parlamento russo, mas alerta que a crise entrou num território
em que algo terrível pode acontecer. A seguir, a entrevista do Professor Snyder
ao Estado.
Porque o senhor classificou, num
artigo recente, a evolução da crise ucraniana de uma guerra de propaganda?
O que aconteceu na Ucrânia foi
uma revolução popular contra um autocrata, mas seu governo, com apoio da
Rússia, rotulou os manifestantes de fascistas de extrema direita. O governo foi
deposto, mas a Rússia continua a propagar esta ideia. Chamo a sua atenção para o fato de que, em várias cidades russas já
começaram os protestos contra a decisão de Putin. E especialmente destaco o
fato de que uma petição assinada por mais de 70 mil membros da população étnica
russa dentro da Ucrânia pediu a Putin para não invadir país. Então, é uma
falsidade achar que a população que se sente culturalmente ligada à Rússia no
leste da Ucrânia está pedindo uma invasão.
Se o senhor não se surpreende com
o que aconteceu, qual seria o próximo passo lógico de Putin?
É muito difícil fazer previsões
sobre Putin e não vou arriscar aqui. O voto unânime da câmara alta do
parlamento russo autorizando a intervenção, isso era previsível. O
problema é que, em poucas horas, Putin já foi longe demais, violando dois
acordos internacionais. Ele violou o acordo assinado com os Estados Unidos e a
Grã-Bretanha em 1994 de respeitar a independência ucraniana em troca de a
Ucrânia abrir mão de seu arsenal nuclear. E, em 2010, A Rússia assinou um
acordo para renovar sua base militar em Sevastopol, sob a condição de que suas
tropas não poriam as botas fora do perímetro da base.
O senhor concorda com
observadores que disseram que a situação na Ucrânia não deve ser comparada a
2008, quando a Rússia invadiu a Geórgia, mas a 1968, quando invadiram a
Checoslováquia?
Vejo semelhanças não só nos
tanques soviéticos em Praga, em 1968, como na invasão da Hungria, em 1956,
especialmente na escalada de propaganda que precedeu as ações. Mas, nós temos
memória curta. Nos dois casos, um movimento reformista num país vizinho
começa a ser bem sucedido e a ação militar é justificada como combate à
opressão do fascismo. O discurso agora é muito parecido com o da antiga União
Soviética. Uma diferença é que não houve revoluções populares como a que vimos
na Ucrânia.
Como o senhor responde à
pergunta, agora repetida, “voltamos à Guerra Fria”?
Não podemos voltar à Guerra Fria
porque a China é poderosa demais. A Guerra Fria era bilateral. Além disso, os
europeus são mais independentes dos Estados Unidos, com seus 500 milhões de
habitantes e seu poder econômico. A outra questão é que a Guerra Fria era sobre
política externa. E a escalada da crise ucraniana é um substituto para uma
política doméstica. Vladimir Putin precisa de aventuras no exterior porque ele
não pode fazer as reformas estruturais necessárias para a Rússia. Putin não
terá um legado de reforma interna.
Barack Obama conversa com
Vladimir Putin (Foto Casa Branca)
Como o senhor vê a reação do
governo Obama à crise? A oposição republicana usa a Ucrânia como exemplo de que
Barack Obama é ingênuo e não inspira respeito de seus adversários no exterior.
Antes de tudo, vamos deixar claro
que este não é o momento para politicagem partidária. A crise é séria demais. O
Obama não é particularmente interessado na Europa, na herança da Guerra Fria e
sua equipe de política externa reflete isto. Acho que foi ingênua a política
inicial de “reset” com a Rússia, ainda sob o Medvedev, a ideia de que, se os
Estados Unidos se comportarem bem, a Rússia faria o mesmo. O Obama não tem sido
realista em relação a Moscou nos últimos anos e os russos têm razão quando
argumentam que Obama não prestou atenção na Rússia. Onde eles podem se enganar
é em subestimar a capacidade de Washington de prestar atenção partir de agora.
O senhor se refere ao poder de
retaliação? Se a reação militar é descartada, o que resta?
De novo, não vou arriscar
previsões, mas não consigo imaginar que a resposta de Obama não vá ser séria. O
que ele deve fazer agora é ser discreto e não fazer nada por algum tempo. Mas o
Ocidente pode machucar a Rússia e muito, com sanções financeiras. Lembro que
toda a oligarquia russa coloca seu dinheiro e educa seus filhos na Europa e nos
Estados Unidos. Um cenário em que a elite russa tenha seus bens bloqueados e
não possa viajar cria um problema grande para Putin.
Qual é, em sua opinião, o maior
risco da crise no momento?
Eu sabia que chegaríamos a este ponto e um dos meus grandes temores é que Putin acredite no que diz, a respeito da Ucrânia, que o país não é um Estado ou uma nação real, deve ser parte da Rússia. Mesmo os ucranianos que se identificam mais com a Rússia consideram seu país uma nação soberana. Se Putin acha que as tropas russas vão ser saudadas como liberadoras, a ilusão pode ter consequências terríveis.
Eu sabia que chegaríamos a este ponto e um dos meus grandes temores é que Putin acredite no que diz, a respeito da Ucrânia, que o país não é um Estado ou uma nação real, deve ser parte da Rússia. Mesmo os ucranianos que se identificam mais com a Rússia consideram seu país uma nação soberana. Se Putin acha que as tropas russas vão ser saudadas como liberadoras, a ilusão pode ter consequências terríveis.
COMENTÁRIOS DE LEITORES
(...) Ao
contrário de muitos, os ucranianos tem memória. É muito fácil para quem nunca
ouviu nem sequer falar em HOLODOMOR, quando entre 8 e 10 milhões de ucranianos morreram de fome em um genocídio
artificial, criado pela Rússia para acabar com a Ucrânia. Ainda mais não
sabem o que é passar 70 anos sob o jugo comunista, sem sequer poder manifestar
sua cultura, quando tudo era proibido. Um vizinho era obrigado a vigiar o
outro. O terror era total. Se um vizinho não denunciasse o outro era morto com
sua família. Assim como o outro vizinho. Isso com todo alarde, pois quanto mais
gente soubesse, maior seria o medo e as pessoas ficariam ainda mais submissas.
Isso era a KGB, e o senhor sabe quem é Putin? Putin foi chefe da KGB, um
assassino sanguinário. Antes de escrever bobagem, o senhor deveria ler, aí mesmo no
estadão, a coluna de Gilles Lapouge, Ele sim tem uma visão de quem é Putin. Eu
posso falar, pois tenho parentes na Ucrânia, sou descendente. Esse povo que
está apoiando a Rússia são justamente os "russificados". A Rússia,
primeiro, matou os ucranianos no Holodomor, depois povoou o território com a
russada, isso por volta de 1933. E até hoje, a Rússia continua tentando
russificar a Ucrânia. Tanto que esse povo ucraniano que restou na parte
russificada foi manipulado aos poucos para apoiar a Rússia. E muitos
inclusive apoiam a Rússia por medo, pois viveram os tempos do terror comunista
e sabem o que os espera se a Rússia tomar conta de novo, por isso já baixaram a
guarda. Eu não acredito que ainda não deu para as pessoas perceberem o que
Putin está fazendo. Os ucranianos conhecem Putin tanto que o chamam de bandido
e era justamente contra esse bandido, que ia minando aos poucos a Ucrânia, que
o povo lutou na Praça da Independência. O povo ucraniano tem sangue nas
veias. E, imagino que o senhor vai dizer que esse é um discurso passional, não
deixa de ser, mas o senhor sabe por que Putin quer a Ucrânia? A Ucrânia é a
porta da Europa para a Rússia. O senhor
sabe como Hitler iniciou sua empreitada rumo a dominação da Europa? Invadindo a
Tchecoslováquia com o argumento que lá havia minorias alemãs. Em seguida ele
invadiu a Polônia. A Europa e os EUA precisam reagir o mais rápido possível,
seja por vias diplomáticas, seja pela força. Aliás, os EUA, França e Inglaterra
também têm armas nucleares. E mais, a Europa sabe muito bem das intenções de
Putin, tanto que na União Europeia já foi colocada em pauta a votação do
retorno do arsenal nuclear na Ucrânia. Aliás, retirado de lá sob o pretexto de
que a Rússia iria proteger a soberania e a integridade do território ucraniano.
Belo plano o de Putin, não? Se a Ucrânia é berço da Rússia, não vejo argumento
mais furado do que dizer que, por isso, a Rússia tem o direito de invadir a
Ucrânia. Então Portugal tem o direito de tomar a Espanha e a Alemanha de tomar
a Franca. Como já disse, tenho parentes na Ucrânia e isso que o senhor diz, que
a minoria fala ucraniano, é pra quem não conhece a Ucrânia. Essas outras
línguas são minorias, assim como o russo, mais da metade da população fala
ucraniano. Meus tios do Brasil foram pra lá recentemente e fala-se
ucraniano em todo o território. Há inclusive, hoje, nacionalistas que costumam
falar russo, mas que estão apoiando a causa ucraniana. E mais, isso só acontece
na Ucrânia, de muitos falarem russo justamente devido à empreitada russa de
dominar a Ucrânia. O senhor primeiro se informe, com fontes seguras para depois
ficar dando opinião como se tivesse conhecimento de causa. Pesquisar na
internet não vale. Os jornais brasileiros, por exemplo, têm falado um monte de
coisas que fariam qualquer europeu com o mínimo de conhecimento sobre história
da Europa rolar de rir. Até as integrantes da Pussy Riot disseram que a Rússia
é bem mais fraca do que se imagina. Não teria como sustentar uma guerra por
muito tempo. Inclusive há muita divisão política interna. Isso só não aparece
devido aos métodos do bandido Putin, que cala a todos. Aliás, alguém já
explicou as mortes dos adversários políticos de Putin?
Fonte: Estadão
Fonte: Estadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário