Ainda que tudo o que
é desonesto é indecente, nem tudo o que é indecente se pode chamar desonesto.
Não se confunda, pois a indecência com a desonestidade. Conversas e expressões
referentes a coisas baixas e inconvenientes são falsamente julgadas desonestas.
O mesmo se deve pensar de certas conversas sobre namoros, modas e diversões
profanas, em que não se diz qualquer coisa menos conveniente.
Nas mesmas
expressões impuras devemos distinguir aquelas que são aberta e diretamente más
e que ordinariamente arrastam à impureza, e aquelas que só remota e
encobertamente se referem a coisas impuras e apenas levemente induzem ao
pecado. Estas expressões, principalmente quando ditas por gracejo ou leviandade
e sem complacência e impureza, não são tão pecaminosas como as
outras; todavia o seu perigo cresce à medida que os interlocutores são
falhos de virtude e inclinados à luxúria. O pecado será tanto mais grave,
quanto maior for o perigo.
Não se esqueça de que os pensamentos maus a ninguém
escandalizam, ao passo que as conversas livres más, por leviandade,
brincadeira, ou ‘ara divertir a companhia’ como se costuma dizer, dão quase
sempre ocasião a maus pensamentos e desejos de pecados talvez gravíssimos,
tanto internos como externos. Que tristes efeitos resultam das conversas
levianas e impuras!
Uma criada de servir
tinha o costume de entremear sempre nas suas conversas palavras levianas e
frases inconvenientes, apesar das admoestações constantes duma companheira que
não cessava de dizer:
— À hora da
morte, chorarás amargamente esse mau costume, mas talvez sem proveito.
Uma tarde foram as
duas visitar a criada duma vizinha gravemente enferma, a qual, depois de ter
suplicado que orassem por ela para que lhe concedesse uma boa morte,
acrescentou:
— Uma coisa,
sobretudo me aflige: ter misturado nas minhas conversas, palavras e frases
obscenas. O meu confessor bem me dizia: quantos maus pensamentos e talvez
más ações cometidas pelo próximo, que te serão imputadas à hora da
morte! Agora vejo eu quanta razão ele tinha! Peço-vos que esqueçais as
minhas más palavras, não siga meus exemplos, e dizei o mesmo às minhas
companheiras. Todas as vezes que entrardes no cemitério e deitardes água benta
sobre a minha campa, pensai que me ouvis dizer lá debaixo da terra: Guardai-vos
de conversas desonestas, que pesam terrivelmente sobre o coração no leito da
morte.
Todas as pessoas
presentes ficaram profundamente impressionadas, e, mais que todas, a leviana
criada, que na volta disse à companheira:
— Parecia-me
que estava sobre brasas; prometo a Deus que nunca mais hei de sujar meus lábios
com palavras desonestas.
Como é verdadeira a
palavra do Salvador: ‘Ai daquele homem por quem vem o escândalo!’.
Havendo justo motivo para falar de coisas
impuras ou perigosas, empregue-se o maior recato e sobriedade, evite-se
toda a má intenção e haja todo o cuidado em não escandalizar as pessoas com
quem se fala.
Quanto a assistir a
conversas desonestas ou indecentes, nota o seguinte: Não gostando das coisas
que se dizem, mas somente do modo como se dizem, não é pecado grave ouvi-las. Mas,
se mostras agrado, rindo-te, e dás assim calor a quem fala para continuar, e,
aos outros, ocasião de escândalo, então há perigo de pecares mortalmente.
Não haverá pecado
se, quando a conversa descamba para coisas torpes, te retiras ou, não o podendo
fazer, procuras levá-la para outro assunto.
Há, porém, ocasiões em que nenhum destes meios é
exequível. Então necessário se torna não consentires; e para não haver
escândalo, deves mostrar-te desgostoso e desaprovar externamente tais conversas
baixando os olhos, ponde-te sério, ou de qualquer outra maneira.
Os pais e superiores estão obrigados a cortar
energicamente todas as conversas impuras ou indecentes entre as pessoas que
lhes estão subordinadas.
(O Cristão no Tribunal da Penitência pelo Fr. Frutuoso Hockenmaier, O.F.M, tradução do P. Inôcencio do Nascimento, 3ª edição, 1949.)
Fonte: Católicos Tradicionais
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