sábado, 6 de julho de 2013

Estudos de Anatomia na Idade Média: chega de mentira!






mondino
Ilustração: MONDINO DE LUZZI
realizando uma dissecação pública.
Não basta inventar que foram queimadas milhões de “bruxas” na Inquisição; não é suficiente dizer que os medievais acreditavam que a Terra era plana. Não… Os sabichões também gostam de espalhar por aí que a Igreja atrasou em séculos o desenvolvimento da medicina, proibindo a dissecação de cadáveres durante a Idade Média.
Em primeiro lugar, a restrição à dissecação de cadáveres humanos nasceu em entre os pagãos, não entre os cristãos. E o maior difusor dessa restrição foi o romano Galeno de Pérgamo, o mais célebre médico da Antiguidade, ao lado de Hipócrates. Viveu no século II e produziu mais de 200 obras dedicadas à Medicina.
Galeno era um grande cientista e fez importantes descobertas, mas cometeu alguns erros teóricos, justamente porque não fazia autópsia em corpos humanos, mas somente em animais (em especial, em macacos e porcos). Isso era motivado por sua crença religiosa pagã. Galeno influenciou fortemente as práticas médicas dos séculos seguintes, e seus conceitos foram bem absorvidos pela civilização cristã. Por isso, de fato, as autópsias em cadáveres humanos foram deixadas de lado por muito tempo.
Entretanto, com o passar dos anos, os médicos passaram a questionar as restrições de Galeno, e assim a prática da dissecação de corpos humanos foi retornando progressivamente.
Nos artigos e livros que citam o tema do desenvolvimento da Medicina, quase sempre o professor Mondino de Luzzi, da Universidade de Bolonha (uma instituição católica) é citado como aquele que reiniciou as dissecações em cadáveres humanos, após séculos de proibições. Isso teria ocorrido em 1315. Entretanto, essa informação contraria alguns dados históricos e arqueológicos, que apresentamos a seguir.
Há poucos meses, arqueólogos descobriram o mais antigo corpo humano dissecado, e este data de 1200, ou seja, mais de 100 anos antes dos estudos de Mondino. Segundo os cientistas, quem dissecou o cadáver era bem experiente, o que revela indícios de um projeto de educação médica contínua, e não de um fato pontual.
Dentro do coração de Sta. Clara de Montefalco
foi encontrado um pequeno crucifixo
O historiador James Hannam diz que a Igreja medieval não só não proibia autópsias, como até mesmo as ORDENAVA. Isso ocorria eventualmente, com a finalidade de procurar sinais de santidade no corpo de uma pessoa. Em 1308, por exemplo, foi dissecado o corpo da abadessa Clara de Montefalco, que seria canonizada em 1881.
Outro dado: em 1286 um médico italiano realizou autópsias a fim de identificar a origem de uma epidemia, o que sugere que não havia proibição. Quem afirma isso é Philippe Charlier, médico e cientista forense do Hospital Universitário R. Poincaré, na França. Assim, é provável que Mondino, tenha feito a primeira dissecação pública de um cadáver humano, em 1315; porém, as dissecações sistemáticas para fins educacionais já aconteciam em Bolonha muito tempo antes.
Ok… E qual a origem, então, desse papo de que a Igreja vetava as autópsias? Segundo Hannam, isso é fruto da propaganda anticatólica iluminista. E aí virou modinha dizer que tudo de bom – ciência, artes, medicina – floresceu somente após o fim da “tenebrosa” Idade Média, dominada pela Igreja opressora.


Hannam afirma que a partir deste sentimento anticatólico surgiu um grande número de mitos, como a ideia de que todos acreditavam que o mundo era plano até Cristóvão Colombo navegar para a América. “Eles não pensavam nada do tipo”, disse. 
Da mesma forma, os propagandistas do Renascimento espalharam o boato de que a igreja cristã medieval proibia autópsias e dissecação humana, segurando o progresso da medicina. 
Fonte: Site Live Science. Artigo: “Grotesque Mummy Head Reveals Advanced Medieval Science”. Artigo traduzido: Site Hype Science

Como não poderia deixar de ser, tem dedo podre de iluminista nessa parada. A 16ª edição da “Histoire Litteraire de la France” diz que a Igreja retardou por séculos o avanço da Medicina por meio da publicação de uma bula do Papa Bonifácio VIII, “De sepulturis”. Lorota!
A “Histoire Litteraire de la France” era produzida e publicada pelos monges beneditinos. Porém, após a Revolução Francesa, coube ao “Institut de France” dar continuidade à publicação. Aí entrou na história o Pinóquio, digo, o historiador Pierre Claude François Daunou, que inseriu no texto da obra o trecho que deturpava completamente o sentido da bula papal.
Mas o que motivou a tal bula? Bem, os cruzados morriam aos montes nos campos de batalha, longe da pátria natal. Seus parentes, naturalmente, desejavam que os corpos fossem enviados para eles. Como a distância era grande, e seria terrível deixar o corpo se decompor no caminho, o pessoal teve a ideia de cortar em pedaços e ferver os corpos. Assim saía toda a carne e ficava só o esqueleto, que era enviado ao país de origem do defunto.
A Igreja considerou essa prática bárbara, desrespeitosa e abusiva. Então, condenou-a severamente, por meio da bula “De sepulturis”. A restrição não atingia as autópsias. Quem quiser estudar melhor o assunto, leia o artigo “The Popes and the History of Anatomy”, do graduadíssimo Dr. James J. Walsh (acesse aqui).
daunou_pinoquio
Alguns historiadores levantam a hipótese de que, ainda que a “De sepulturis” não condenasse as autópsias, as autoridades eclesiásticas a interpretaram dessa forma. Bem, a gente sabe que burro é um bicho que marca presença em todas as épocas e lugares. Porém, os dados históricos evidenciam que, caso tenha realmente havido alguma interpretação “jumentosa” da bula, isso foi raro.
Afinal, era uma prática comum embalsamar os corpos dos papas e autoridades civis (e, para embalsamar, era necessário abrir o corpo e retirar diversos órgãos). Outra evidência vai contra essa teoria da “má interpretação”: em 1302, apenas três anos após a promulgação da bula de Bonifácio VIII, uma junta médica de Bolonha decidiu realizar uma autópsia para verificar se o conde Azzolino degli Onesti tinha morrido por envenenamento. O caso mereceu registro, pois só se costumava dissecar corpos de bandidos e indigentes, e não de homens nobres (Fonte: “The Casebook of Forensic Detection”, Colin Evans, John Wiley & Sons, 1996).
Pra quem se interessar, o blog “Tu Es Petrus” publicou a tradução de uma artigo de Christopher Howse, um colunista de religião do jornal The Telegraph. Howse conta como abandonou a crença popular de que a Igreja medieval impediu a autópsia em corpos humanos, após ler um livro da professora Katharine Park, de Harvard (leia aqui).

“Cada vez que eu leio algo no New York Times sobre como Leonardo da Vinci teve que esconder o fato que que estava fazendo dissecação, e cada vez que eu escuto um guia turístico na Itália contar essas histórias, isso me mata. Eu não sei mais o que fazer para eliminar esse mito”. 
- Katharine Park. Site Harvard Gazette. Tradução de um trecho do artigo “Debunking amyth


Fonte: O Catequista


Torre de Babel I: O que diz a ciência sobre a Torre de Babel? Existiu? Sobrou algo? Onde? Por que ruiu?




Torre de Babel, representação artística
O episódio da Torre de Babel e dispersão da humanidade é um dos assuntos mais presentes na memória dos povos. 


Prefigurou também momentos caóticos que se repetiriam em muitos lugares em épocas históricas posteriores, inclusive nos dias de hoje. Além de ser uma imagem da imensa confusão que vai prevalecer no fim do mundo.


Entretanto, sabe-se pouco sobre essa torre. 


Como era ela: retangular, circular, elíptica? Quanto media de altura? Foi uma mera torre ou um templo?


Onde ficava? Existem ainda vestígios? Quem a concebeu? 


Foi Deus quem puniu? Por que puniu? Deus derrubou a Torre? Se não foi Deus, quem foi? 


Por que ela ficou como o símbolo da maldição? Para onde foram seus construtores? 


Os homens que fizeram as pirâmides do Egito, dos maias ou outras semelhantes têm algo a ver com os arquitetos da Torre de Babel?




Significado e época


A Torre de Babel paradigmática, de que nos fala o Gênesis e da qual procede a diversidade das línguas humanas, está envolvida em densas nuvens de interrogações. 


Sua construção constituiu sem dúvida um dos momentos mais pecaminosos da história da humanidade, deixando um rastro de desgraças que sofremos até hoje.


“Babel” significa “confusão”.


Estima-se que sua construção se deu por volta do ano 2.420 a.C., quer dizer, aproximadamente 130 anos após o Dilúvio. 


Portanto, bem antes do início da Grande Pirâmide do Egito (por volta de 2.170 a.C.), do nascimento de Abraão (1.976 a.C.) e da fundação do reino de Babilônia (por volta de 1.894 a.C.).


Usamos a escala do tempo que aponta a criação de Adão no ano aproximado de 4.000 a.C.


A Torre de Babel é, pois, o mais antigo monumento de grande importância do qual se tem noticia.


O Gênesis


A Bíblia Sagrada é o documento mais digno de Fé e a fonte histórica mais séria e pormenorizada.


A Torre foi construída por descendentes próximos de Noé, num tempo em que o reduzido número da humanidade de então vivia reunido e falava uma mesma língua, provavelmente a mesma de Adão e Noé.


Segundo a tradição, Nemrod, bisneto do patriarca Noé, foi o “rei” que comandou a construção da Torre: 

Nemrod dirigiu a construcao da Torre de Babel,
pintura de Frans Francken II, Museo del Prado, Madri
“Nemrod foi o primeiro homem poderoso da terra (Gênesis 10,8), e “Ele estabeleceu o seu reino primeiramente em Babilônia, Arac, Acad e em Calane, na terra de Senaar”. (Gênesis, 10,10).


Supõe-se habitualmente que a Torre de Babel foi erguida no sul da Mesopotâmia. Ou seja, no atual Iraque, não longe da cidade de Babilônia, fundada muito depois; ou no máximo no sul do Irã. 


Há outras teorias sobre o local, apoiadas em diversos raciocínios, porém também carentes de fundamentos arqueológicos ou materiais.


Lemos no Gênesis:

“Façamos uma torre cujo cimo atinja os céus”,
quadro de Hendrick III van Cleve (1525-1589).
1. Toda a terra tinha uma só língua, e servia-se das mesmas palavras.


2. Alguns homens, partindo para o oriente, encontraram na terra de Senaar uma planície onde se estabeleceram.


3. E disseram uns aos outros: “Vamos, façamos tijolos e cozamo-los no fogo.” Serviram-se de tijolos em vez de pedras, e de betume em lugar de argamassa.


4. Depois disseram: “Vamos, façamos para nós uma cidade e uma torre cujo cimo atinja os céus. Tornemos assim célebre o nosso nome, para que não sejamos dispersos pela face de toda a terra.”


5. Mas o senhor desceu para ver a cidade e a torre que construíram os filhos dos homens.


6. “Eis que são um só povo, disse ele, e falam uma só língua: se começam assim, nada futuramente os impedirá de executarem todos os seus empreendimentos. 
7. Vamos: desçamos para lhes confundir a linguagem, de sorte que já não se compreendam um ao outro.”



8. Foi dali que o Senhor os dispersou daquele lugar pela face de toda a terra, e cessaram a construção da cidade.


9. Por isso deram-lhe o nome de Babel, porque ali o Senhor confundiu a linguagem de todos os habitantes da terra, e dali os dispersou sobre a face de toda a terra. (Gênesis, 11, 1-9)


Foi por causa do orgulho dos homens que empreenderam a construção da famosa Torre que Deus lhes confundiu a linguagem, fazendo com que não se entendessem pelos diferentes idiomas que falavam.


Incapazes de se porem de acordo, os homens se dispersaram em todas as direções.


Outros testemunhos

Estela de Nabucodonosor II, The Schøyen Collection

Fora da Bíblia, o testemunho mais explícito encontra-se gravado numa placa babilônica de pedra escura conservada hoje na famosa The Schøyen Collection, (MS 2063) com sede em Oslo e Londres. 


Nessa placa o rei de Babilônia Nabucodonosor II mandou escrever, no ano 570 a.C.:

“Um antigo rei construiu o Templo das Sete Luzes da Terra, mas ele não completou a sua cabeça. Desde um tempo remoto, as pessoas tinham-no abandonado, sem poderem expressar as suas palavras. Desde aquele tempo terremotos e relâmpagos tinham dispersado o seu barro secado pelo sol; os tijolos da cobertura tinham-se rachado, e a terra do interior tinha sido dispersada em montes”.


Desta maneira, o próprio rei Nabucodonosor nos fornece, no ano 570 a.C., uma ideia do que tinha restado da Torre de Babel. 


Também nos informa que ele próprio ordenou recolher os últimos elementos aproveitáveis para construir uma nova Torre, não sobrando nada da torre originária.



A nova Torre de Babel foi provavelmente o zigurat (torre-templo) conhecido como Marduk ou Etemenanki, na cidade de Babilônia. Para o imenso trabalho que significou, Nabucodonosor escravizou os judeus e levou-os para Babilônia. 


A nova Torre de Babel representada na referida placa em pedra, tinha sete (ou oito) andares e 91 metros de altura. O historiador grego Heródoto a descreveu no ano 440 a. C.:

“A parede exterior da Babilônia é a principal defesa da cidade. Há, contudo, uma segunda parede interior. (...)


“O centro de cada divisão da cidade era ocupado por uma fortaleza. Numa ficava o palácio dos reis, (...) na outra estava o sagrado recinto de Belus, um cercado quadrado de 201 m de cada lado, com portões de latão sólido, que também lá estavam no meu tempo. 

Maqueta do zigurat de Etemenanki, de Nabucodonosor II

“No meio do recinto estava uma torre de alvenaria sólida, de 201 m de comprimento e de largura, sobre a qual estava erguida uma segunda torre, e nessa uma terceira, e assim até oito. 


“A ascensão até o topo está do lado de fora, por um caminho que rodeia todas as torres. 


“Quando se está a meio do caminho, há um lugar para descansar e assentos, onde as pessoas podem sentar-se por algum tempo no seu caminho até o topo. 


“Na torre do topo há um templo espaçoso, e dentro do templo está um sofá de tamanho invulgar, ricamente adornado, com uma mesa dourada ao seu lado. Não há estátua de espécie alguma nesse sítio”.


Esta segunda Torre de Babel acabou ruindo. O rei Alexandre Magno (356 a.C.—323 a.C.), conquistador vindo da Macedônia, mandou recolher os restos para reconstruí-la, desfazendo o que tinha sobrado. 


Mais foi surpreendido pela morte na própria Babilônia. Nada foi concluído e o material foi dispersado.


Desta maneira, da Torre de Babel originária não sobraram nem os restos dos restos. 


A segunda Torre de Babel feita por Nabucodonosor é por vezes confundida com a primeira. Registramos aqui estes dados históricos para efeitos de esclarecimento. Não voltaremos a falar dela, concentrando-nos apenas na primeira Torre.


Sobre ela, o historiador hebreu Flávio Josefo (37 ou 38 d.C. – 100 d.C.), em seu livro “Antiguidades Judaicas” (1.4.3) fornece a seguinte narração:

“Foi Nemrod quem os excitou a praticar semelhante afronta na presença de Deus. Ele foi o neto de Ham, filho de Noé, homem corajoso e de grande força de mando. Nemrod persuadiu-os a não atribuir sua obra a Deus, como se fossem felizes somente por si próprios, e acreditarem que só seu esforço lhe daria a felicidade. 


Ele foi transformando seu governo numa tirania, procurando afastar os homens do temor de Deus, e mantê-los numa constante dependência de seu poder... 


Então a multidão estava sempre prestes a obedecer as ordens de Nemrod e julgar amostra de covardia se submeter a Deus. 

O desentendimento tomou conta dos homens.
Quadro de Lodewyk Toeput (1550-1605)

Eles construíram uma torre, não poupando nenhum esforço e em nada sendo negligentes no trabalho. 


E por causa das muitíssimas mãos empregadas, a torre subiu muito rapidamente, mais rápido do que se podia esperar. 


Sua espessura era tão grande e estava tão solidamente construída, que sua grande altura parecia, de qualquer ponto de vista, ser menor do que realmente era. 


Foi feita de tijolos cozidos cimentados com uma argamassa feita de betume que não permitia filtrações de água. 


Quando Deus viu que agiam com tanta maldade Ele decidiu não exterminá-los totalmente, posto que não tinham progredido em sabedoria após a destruição dos pecadores que os precederam [no Dilúvio]; mas Ele gerou um tumulto entre eles fazendo que falassem línguas diferentes, e tornando-os incapazes de se entenderem um com o outro. 


O local onde construíram a torre hoje é chamado Babilônia por causa da confusão das línguas, sendo que antes se compreendiam facilmente. 


Pela palavra Babel, os hebreus entendem confusão...”


Tanto pelo que ensina a Bíblia quanto pelo que explica o historiador Flávio Josefo, vemos que a causa da punição foi o orgulho contido num sonho completamente laico de grandeza humana. 


Movidos por ele os homens da Torre de Babel tencionaram erigir uma obra “cujo cimo atinja os céus” para assim tornarem “célebre o nosso nome” (Gen, 11, 4)




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