Por Raphael de la Trinité
Repete-se
todo o esquema da Segunda Guerra Mundial.
Como
Hitler é contra as 'democracias liberais' e a 'ordem mundial capitalista', é
preciso [SIC!] apoiá-lo, ainda que
isso redunde num favorecimento do comunismo. Já naquela época, Hitler dizia
(Goëring e outros, também) que o comunismo aplainara o caminho, fora uma
preparação para o nazismo. Hitler foi muito claro a respeito: 'Para que
precisamos nós socializar os bancos e as fábricas? Socializamos os homens’
(Adolfo Hitler, apud Hermann Rauschning, ‘Hitler m´a dit’, Coopération, Paris
1939, pp. 218-219). Mesmo assim, legiões de pessoas que se afirmavam anticomunistas,
sem pestanejar, entoavam a cantilena suicida: Hitler é a solução!
Também o
Führer, naqueles idos, era visto como uma espécie de ‘novo’ Carlos Magno.
Afinal, defendia a 'ordem', falava em deus, reportava-se às religiões da
suástica (alguns altos dignitários foram iniciados nos cultos tibetanos) e nos brumosos
mitos pagãos do Valhalla (mais ou menos como, hoje, Putin dá a entender que
pretende restaurar o 'passado mítico' russo). Mais. O Führer acenava para a
volta da monarquia alemã, criticava a 'degeneração moral' do Ocidente (embora
as SAsNazistas, de Ernst Röhm, fossem uma pepineira de arruaceiros homossexuais,
que Hitler houve por bem, para efeito de propaganda, extinguir depois, via
massacre programado) e tivesse assinado uma Concordata com a Igreja Católica
(que, tão logo quanto possível, violaria de forma acintosa, perseguindo
violentamente os católicos).
Inovando
pouco em relação ao quadro da Segunda Guerra Mundial, também agora Putin se
apresenta como um velho 'cristão', meio disfarçado nas ‘operosas’ fileiras da
KGB... Aliado, pois, da 'renovada' Igreja autodenominada ortodoxa russa, que,
sem muitos disfarces, fez aliança aberta com os comunistas, após a Revolução
bolchevista de 1917, e que, servindo docilmente aos manejos publicitários de
Moscou, durante décadas atou como força-auxiliar, quase um departamento de
propaganda estatal do regime comunista...
A
História se repete.
'Nada
há de novo sob o sol' (Eclesiastes).
A
História é 'mestra da vida'. Enquanto os inteligentes aprendem, os recalcitrantes reproduzem
as mesmas lengalengas que já iludiram tantos.
Muito procedente, nessa direção, o
comentário do conhecido pensador espanhol Donoso Cortéz: 'o espírito humano tem
sede do absurdo e do ridículo'.
Quanto à surrada
balela de que a Rússia soviética teria tido um papel heroico na celebrada resistência
russa diante do avanço nazista, existe argumentação borbulhante em sentido
contrário.
De fato, não fosse pelo apoio
descarado do Ocidente, pela entrega de armas, dinheiro e toda espécie de apoio
logístico do Ocidente aos ‘aliados’ comunistas (traição manifesta de Churchill,
Roosevelt e outros), desde o início da Segunda Guerra, muito provavelmente, a
URSS teria sido, sem muito tardar, carta fora do baralho. Manifestação
inconfundível dessa inépcia do Exército Vermelho (que sofrera colossais
expurgos de seus melhores quadros, por parte do Partido comunista): a imensa dificuldade
que experimentara a URSS de Stalin, em 1939, para subjugar... a Finlândia do
general Mannerheim!
O
próprio tirano vermelho, anos depois, quando houve um avanço decisivo dos
alemães, chegou a acreditar que seria deposto por outros comunistas, menos poltrões
e fracassados do que ele. E, fazendo jus aos artifícios de sempre, quando as tropas alemãs estavam
perto de Moscou, despudoradamente, foi à rádio e fez um apelo: 'Meus filhos,
salvemos a SANTA Rússia!'
Nessa mesma ocasião e em
circunstâncias sucessivas, lançou toda espécie de promessas lisonjeiras:
liberdade, eleições, e assim por diante. Enquanto isso, as populações do Leste
aclamavam as tropas alemãs como libertadoras do domínio comunista.
Entretanto, em face das atrocidades
inomináveis perpetradas pelos nazistas — os quais intentavam uma espécie de extermínio
dos eslavos, tidos por eles como 'raça inferior' —, que se poderia esperar da
população, senão que resistisse? Entre dois fogos ou dois déspotas
sanguinários, melhor ficar com o da própria raça, sem dúvida... Numa carta, Rosenberg
denunciara a absurda política autodestrutiva adotada por Hitler.
Se,
pelo contrário, nas regiões da URSS que estavam sendo 'libertadas', Hitler tivesse
formado governos provisórios e tratado bem as populações locais, é inconteste
que teria levado de roldão Stalin e apaniguados. Mormente, ao que se crê, caso
tivesse desferido desde logo ataque decisivo contra Moscou, não se deixando
envolver nas malhas de Stalingrado (conforme opinam não poucos estrategistas e
estudiosos do assunto).
Stalin
chegou a pensar em fugir de Moscou, e criar um governo fantoche num local
remoto da Rússia. Por um triz não se concretizou o plano, que poderia haver
determinado a debacle do colosso soviético.
TUDO
ISSO APARECE DOCUMENTADO, PROCEDENTE ATÉ DOS ARQUIVOS QUE VIERAM A LUME
DEPOIS DA IMPLOSÃO DA RÚSSIA SOVIÉTICA (1989). Há uma literatura tão farta sobre
isso, que nem haveria tempo para transcrever aqui.
De forma exemplificativa, citemos um
livro, dentre dezenas de outros, que demonstram à saciedade o que está referido
acima: 'Stálin, os Nazistas e o Ocidente — a Segunda Guerra entre duas paredes',
Laurence REES, Larousse do Brasil, São Paulo, 2009.
Apesar disso, eximindo-se da
responsabilidade de se informar, estudar e analisar os acontecimentos, adeptos da hilariante (tragicômica) ‘mise-en-scène’ Viva Putin 'cristão' irrompem desinibidos. Simplesmente difundem chavões, ditos
primários e grosseiros, fazem propaganda tosca e inconsequente do que apregoam
ser a nova 'anti' ordem mundial — algo que, reduzido a miúdos, não é muito
diverso do mesmo conluio de sempre, em prol da república universal, talvez com
tintura ou verniz um pouco diverso daquilo que é propalado sob a expressão de 'homem
pardo da ONU', conforme o figurino traçado e até aqui vigente.
É possível não perceber que, fundamentalmente,
caminham em direção ao mesmo objetivo, apenas com um ziguezague pelo misticismo
'esotérico' de Hitler e apaniguados — desta feita, sob uma exuberante roupagem,
colhida talvez das estepes russas? Dugin, Soral, e outros, sem pejo nem meias-medidas,
chegam a falar em 'nacional-comunismo'...
Também
na época de Hitler dicotomia análoga estava na ordem do dia: enquanto os
comunistas falavam em 'luta de classes', os alemães do Terceiro Reich trombeteavam
em favor da 'luta de raças'... ‘Grande’ diferença!...
Agora,
tendo o comunismo caído de podre, os mentores do chamado pós-comunismo
resolveram caiar a parede da casa: que tal uma pitada de religiosidade pelo
meio?
Por que, afinal, não trocar o grosseiro
materialismo das origens — seco, árido, espinhoso, cruel e assassino —, por uma
demão de 'tradicionalismo esotérico'? Não ficaria, assim, mais ‘palatável’
(como se diz comumente), bem mais fácil de digerir, uma pílula furta-cor, qual
seja a de um remanejado‘comunismo-religioso’?
Nada do
que se afirma aqui é elaboração fátua ou conjetura em torcicolo. Basta
pesquisar e confrontar documentos com as realidades de ontem e de hoje — desde
que esse cotejo seja feito sem facciosismos nem preconceitos, é claro.
Onde buscar a fórmula? No Ocidente,
ninguém duvida de que a Teologia da Libertação (a qual, conforme definiu o
ex-frei Boff, é ‘marxismo na Teologia’) constitui o modelo ou parâmetro ideal
para isso. Por que não estender aos Urais essa convidativa e desconcertante
simbiose comunista-cristã?
No dolorosíssimo
caso da Rússia, tendo sido a população aparvalhada e robotizada por décadas de
doutrinação ateia, que de melhor do que lhes proporcionar alguma ilusão de
ordem mística, dado que o povo é altamente sentimental e fatalista? Sim, no
fundo, anseiam por um Czar, isto é, por alguém que simbolize aquela
legitimidade que lhes foi roubada após o satânico massacre da Família Imperial
russa.
Por
que, então, não excogitar uma figurinha da KGB travestida de 'czar
pós-moderno', arauto das 'antigas tradições’, cultivadas com esmero pelos velhos camponeses
russos? Nada como um bom tempero para uma comida requentada há décadas, que já
ninguém conseguia deglutir...
Dado que, obviamente, os arautos da
hilariante (tragicômica) ‘mise-en-scène’ Viva
Putin 'cristão' se acham desprovidos de argumentos concludentes, pois
diametralmente oposto à evidência dos fatos, como respondem ao serem
interpelados? Ficam apenas em acrobacias ou piruetas de linguagem, que a
ninguém convence.
A isso se circunscreve o ‘debate'.
A isso se circunscreve o ‘debate'.