sábado, 30 de novembro de 2013

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas! — 29 de Novembro: As últimas vontades dos mortos (Parte XXX)



Nota do blogue:  Acompanhe esse Especial AQUI.

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!
30 meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas
por Monsenhor Ascânio Brandão

Livro de 1948 - 243 pags
Casa da U.P.C.
Pouso Alegre





29 de Novembro

AS ÚLTIMAS VONTADES DOS MORTOS


                                         
Somos obrigados a executar com justiça e cons­ciência as últimas vontades dos nossos mortos. O que no leito de morte nos pediram, o que deixaram em testamento seja respeitado, porque daremos contas severas a Deus desta tremenda injustiça se lesarmos os direitos dos mortos e não cumprirmos suas últi­mas vontades.

As pobres almas do purgatório são vítimas da Justiça de Deus, porque devem expiar seus pecados, e muitas vezes também vítimas das injustiças dos homens. Herdeiros que defraudam os bens dos mor­tos e nem se lembram de lhes sufragar a pobre alma com uma só Missa! Filhos que discutem e se odeiam por uma miserável herança e cometem toda sorte de injustiças, lesando-se mutuamente numa louca ambi­ção, ao invés de em paz honrarem a memória dos pais e cumprirem as cláusulas dos testamentos. É uma das mais tremendas injustiças. Lesar os vivos é um pecado, mas lesar os mortos tirando-lhes os sufrá­gios por injustiça, é um pecado que só pode atrair a vingança de Deus. Diz o Espírito Santo que haverá um juízo sem misericórdia para quem não usou de misericórdia. “Que juízo tremendo e duro não há de ser o de quem defraudou os direitos dos mortos ? Lesar um pobre, disse o Quarto Concilio de Cartago, é se fazer assassino do pobre”. Que não será o que lesa o direito das pobres almas?

Cumpramos as últimas vontades de nossos mor­tos com muito escrúpulo e cuidado, porque, ai de nós se não o fizermos! Têm-se visto castigos tremendos pesar sobre os que roubam os direitos dos defuntos. Se deixaram legados para Missas, dinheiros para obras de caridade, propriedades para determinados fins, respeitemos estas vontades! Façamos executar o mais depressa possível os testamentos. Principalmente não retardemos as Missas que deixaram para serem ce­lebradas. É um perigo! Tomemos bem nota das úl­timas recomendações dos agonizantes. O Concilio de Trento recomenda aos Bispos que velem atentamen­te o cumprimento dos legados feitos pelos fiéis de­funtos. Vários concílios chegam a lançar excomu­nhão sobre os que cometem injustiças e fraudes nos legados, sobretudo de Missas. É preciso cumprir com fidelidade os testamentos o mais depressa que for possível. As demoras muita vez importam em grande sofrimento no purgatório para os defuntos e prejuízo para os vivos.

Muito cuidado com os testamentos! Procurai não entregar, a não ser em mãos seguras, os legados de Missas. São os mais sérios e importantes. Segundo muitas revelações particulares, estas injustiças têm custado anos e até séculos de purgatório a muitos! Não se roube o que é do direito dos fiéis defuntos!

Lembremo-nos das expressões severas do Conci­lio de Cartago: “Egentium necatores” — são assassi­nos das almas necessitadas, os que lesam os testa­mentos e não cumprem as últimas vontades dos mor­tos. Depressa, sem hesitação sejamos fidelíssimos e pressurosos em cumprir as últimas vontades dos mortos. Com isto nos livraremos de muitos castigos. Não se brinca com o severo juízo de Deus na defesa dos direitos dos mortos!

'Fora da consciência... ainda há salvação?'




Até o Concílio Vaticano II, dizia-se: extra ecclesiam nulla salus (“Fora da Igreja, não há salvação”).  
Ao que parece, essa verdade inconteste vem cedendo lugar a outra afirmação (será este o único dogma da Igreja nova?): Fora da fidelidade à consciência,  não há salvação!  
Não é essa a mais perfeita “revivescência” do modernismo, condenado por São Pio X há mais de um século?






Raphael de la Trinité


‘A reta razão’

A capacidade de conhecer o bem objetivo mediante a consciência subjetiva é expressa pelo catolicismo com o conceito clássico de sindérese, definido pelo Catecismo como "a percepção dos princípios da moralidade" (art. 1780; cf. também Santo Tomás de Aquino, Summa theologiae, I, q. 79, a. 12). O termo vem do latim, synderesis, que reproduz o grego syneidesis, isto é, precisamente "consciência". A sindérese expressa a capacidade luminosa de cada consciência humana de reconhecer o bem, mesmo prescindindo do próprio interesse e das diversas circunstâncias históricas e geográficas — a capacidade de saber se se está fazendo o bem ou não, ou seja, a capacidade de juízo responsável, a qual é fundada na liberdade efetiva de que gozamos. Normalmente, segundo essa acepção, fala-se em "luz da consciência" ou “voz da consciência". As expressões “consciência pesada” ou “remorso de consciência”, por exemplo, são empregadas em sentido afim. Noutros termos, visto que a nossa consciência conhece os princípios básicos da Lei Natural, sempre que nos desviamos da observância dos mesmos, o “tribunal” da consciência (ou seja, “a reta razão”) nos acusa. A isso Nosso Senhor se refere quando afirma: “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça”. (Jo, 7, 19 a 30).

A tradição católica é clara a esse respeito. Assim diz a Bíblia: "A consciência de um homem às vezes costuma perceber melhor do que sete sentinelas colocadas no alto para espiar" (Eclesiástico, 37, 14). Na mesma direção afirma São Paulo: "Tudo o que não vem da consciência é pecado" (Romanos 14, 23). Nosso Senhor, igualmente, disse: "Por que não julgam por si o que é certo?" (Lucas 12, 57).

Contudo, uma objeção primeira se levanta: pode ocorrer que acha um choque entre o que diz a consciência, de um lado, e o que preceitua a Fé, de outro?


Há incompatibilidade entre razão e fé?


A fé e razão não se opõem entre si, porque ambas procedem de Deus; são como que dois raios que têm um só foco de luz. Ensina o Concílio Vaticano I (Sessão III, capítulo IV): o mesmo Deus, que revelou os mistérios e nos comunica a fé, infundiu no espírito humano a luz da razão. Ora, Deus não pode negar-se a si mesmo; sendo a própria verdade, não pode contradizer-Se. Aquilo que é verdadeiro nunca poderá entrar em contradição com a mesma verdade.

A razão natural é uma luz que Deus nos concedeu para adquirir os conhecimentos abarcados pela ordem natural, e, como lampejo da luz divina, descortina, de forma prodigiosa, as verdades naturais mais recônditas.

A fé, por sua vez, é também uma luz; porém, luz superior, sobrenatural, a qual nos desvenda as coisas que, embora se achando fora de Deus e pertencentes à ordem natural, Deus Se dignou revelar-nos. Dentre estas, muitas não podemos conhecer; relativamente a outras, estribados tão-só com nossas forças naturais, nem mesmo somos capazes de suspeitar de sua existência.

Certas realidades estão muito acima de nossa razão, mas não são contrárias à mesma. Podemos exemplificar com o seguinte paralelo: são como o telescópio para os olhos — ou seja, aquilo que a olho nu não se pode ver nem alcançar, graças ao telescópio torna-se acessível à nossa visão.

As contradições que os inimigos da Religião Católica afirmam haver entre a fé e a ciência, ou entre a fé e a razão, são apenas aparentes. Com efeito, eis a lição que nos proporciona o supracitado Concílio Vaticano I: essa (falsa) oposição só se verifica quando os dogmas da fé não são compreendidos e expostos de acordo com a doutrina e o espírito da Igreja, ou, quando os caprichos da imaginação humana são tidos como axiomas pela razão.

Ao contrário do que afirmam pessoas mal intencionadas ou mal informadas, a razão jamais será compelida — nem por Deus, nem pela Igreja — a aceitar sem provas a Revelação, como se a inteligência devesse curvar-se à força aos ditames de uma fé nebulosa ou enigmática.

Ao contrário, a Sagrada Escritura nos admoesta a “não crer em qualquer espírito sem provar que vem de Deus” (1ª João, IV, 1).

Fiel à máxima de São Paulo, segundo o qual todos os nossos atos de culto devem ser feitos em conformidade com a razão (Rom. XII, 1), a Igreja ensina que o ato de fé é obséquio razoável. Significa: a) um ato de culto em serviço ou louvor à Divindade; b) realizado em concordância com a razão.

Para isso, não é indispensável que as verdades da fé sejam evidentes por si (evidência da verdade); basta que estejamos seguros quanto à autoridade da pessoa que as formula (evidência da credibilidade da verdade). Sábios ou ignorantes a todo instante acreditamos cegamente em muitas realidades da ordem natural que não compreendemos, ou não somos capazes de demonstrar. Contudo, ao admitirmos tais realidades, fazemo-lo porque temos a convicção segura de que outros homens já as comprovaram. Eis o que pede a razão.

Um exemplo característico é a fé de Abraão. Deus lhe prometera numerosa descendência. Mais tarde, porém, mandou-lhe imolar o seu filho único. Como explicar esse paradoxo? Abraão não hesitou, pondo-se logo a executar a ordem divina, pois estava convicto acerca da veracidade de Deus, isto é, tinha plena certeza de que Ele manteria a palavra, como de fato sucedeu. Conforme sabemos, no último momento, o anjo enviado por Deus reteve o cutelo de Abraão, impedindo-o de imolar Isaac.

Como atuam os modernistas em face disso?

Eis como o Papa São Pio X relata o quadro:

Diante deste incognoscível, seja que ele se ache fora do homem e fora de todas as coisas visíveis, seja que ele se ache oculto na subconsciência do homem, a necessidade de um quê divino, sem nenhum ato prévio da inteligência, como o quer o fideísmo, gera no ânimo já inclinado certo sentimento particular, e este, seja como objeto seja como causa interna, tem envolvida em si a mesma realidade divina e assim, de certa maneira, une o homem com Deus. É precisamente a este sentimento que os modernistas dão o nome de fé e tem-no como princípio de religião. http://www.vatican.va/holy_father/pius_x/encyclicals/documents/hf_p-x_enc_19070908_pascendi-dominici-gregis_po.html  [grifos nossos]

A Igreja Católica sempre rejeitou o fideísmo, isto é, a vontade de acreditar contra a razão.

Santo Agostinho, junto com muitos outros autores cristãos, é testemunha de uma fé que se exercita com a razão, que pensa e convida a pensar. Neste caminho, Santo Anselmo dirá, em seu Proslogion, que a fé católica é fides quaerens intellectum, e que a busca da inteligência é um ato interior do acreditar. Será especialmente São Tomás de Aquino quem lidará com a razão dos filósofos, mostrando a força fecunda e sempre nova do empenho racional que inunda o pensamento humano a partir dos princípios e das verdades da fé cristã.

A fé católica é razoável e tem confiança na razão humana. O concílio Vaticano I, na constituição dogmática Dei Filius, disse que a razão é capaz de conhecer com certeza a existência de Deus através da criação, e que apenas a fé tem a oportunidade de conhecer “facilmente, com certeza absoluta e sem erro “(DS 3005) as verdades sobre Deus, à luz da graça. O conhecimento da fé, pois, não é contrário à razão.


O Papa Francisco e a “consciência”


Em face disso, pergunta-se: será que cada um pode seguir a sua concepção do bem e do mal, firmando-se em sua própria consciência?

"A questão para quem não crê em Deus está obedecer à própria consciência", escreveu o papa a Scalfari. E aqui a acusação é de subjetivismo, porque, se cada um deve fazer o que a sua consciência lhe dita como bem e combater o que ela lhe aponta como mal, desapareceria o bem entendido como valor objetivo, haveria uma espécie de imunidade e de impenetrabilidade em relação ao juízo da consciência, a Igreja perderia a sua função de guia e de controle das almas, não haveria mais bem graça nem pecado, e não restaria nada mais do que uma "luta de todos contra todos, uma luta estrênua, por ser realizada pelo bem e não pelo ganho ou por outro contingente". Segundo De Marco, é por isso que as visões particulares "devem ser reguladas por um soberano", isto é, por uma autoridade externa, sejam as leis humanas, ou a lei de Cristo, que "não tem nenhuma nuance concessiva em termos individualistas".

Reiterando o mesmo pensamento, o Papa Francisco, em seu documento recém-lançado, afirma:  Os não-cristãos fiéis à sua consciência podem, por gratuita iniciativa divina, viver “justificados por meio da graça de Deus” e, assim, “associados ao mistério pascal de Jesus Cristo”. http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html


Pergunta-se: Quem decide o que é certo e o que é errado?

A Igreja deixou de ser mestra infalível da verdade?

Até o Concílio Vaticano II, dizia-se: extra ecclesiam nulla salus (“Fora da Igreja, não há salvação”).

Ao que parece, essa verdade inconteste vem cedendo lugar a outra afirmação (será o único dogma da Igreja nova?): Fora da fidelidade à consciência,  não há salvação!

Não é essa a mais perfeita “revivescência” do modernismo, condenado por São Pio X há mais de um século?

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas! — 28 de Novembro: Como evitar o purgatório? (Parte XXIX)



Nota do blogue:  Acompanhe esse Especial AQUI.

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!
30 meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas
por Monsenhor Ascânio Brandão

Livro de 1948 - 243 pags
Casa da U.P.C.
Pouso Alegre







28 de Novembro

COMO EVITAR O PURGATÓRIO?


Pode-se evitar o purgatório?


Há em geral entre muitos a idéia de que é im­possível entrar no céu logo depois da morte, princi­palmente quando se pensa na Justiça de Deus, na San­tidade Divina e a miséria humana. O purgatório não é sempre inevitável. Pode-se evitar o purgatório e é vontade de Deus que façamos tudo neste mundo para merecer logo o céu. É impossível! É dificílimo!... Sim, difícil, não há dúvida, mas impossível, nunca! Não digamos como tantos: contanto que eu arranje um lugar no purgatório... Por humildade, e em ver­dade, podemos falar assim, mas por covardia e para afrouxarmos no trabalho da nossa perfeição, nunca o podemos dizer, nem proceder assim. Havemos de fazer tudo para evitar o purgatório. “Aqui, disse Santa Catarina de Genova, pagamos com um, a dívi­da de mil, e na outra vida precisamos de mil para pa­gar um... Está em nossas mãos ganhar muito e pre­parar a entrada do céu logo depois da morte.

Santa Teresa viu almas entrarem no céu sem terem passado pelo purgatório. Procurar evitar o purgatório é o melhor meio de se livrar dele. Evite­mos o pecado venial, sejamos fiéis ao nosso dever, tenhamos uma grande pureza de intenção em nossos atos. Façamos muitas obras de caridade, fujamos de toda vaidade e hipocrisia em nossas ações, sejamos sinceros, humildes, simples, tenhamos paciência em nossos sofrimentos, sejamos resignados à vontade de Deus em todas as coisas. Quantos meios ao nosso alcance para evitarmos o purgatório! Zelemos a pu­reza de consciência e a pureza de intenção. Não é im­possível escapar do purgatório. Está em nossas mãos. Uma alma fervorosa se abrasa neste mundo nas cha­mas do Divino Amor que purifica cada dia mais e se santifica de tal modo, que logo se lhes abram as por­tas do céu.

Fazer esforços para evitar o purgatório não é, como dizem alguns, uma covardia. É glorificar a Deus, é estimular a nossa perfeição, é corresponder à graça com generosidade, enfim, é um dos meios mais poderosos e eficazes de santificação. Temos mui­ta miséria e fraqueza. Vivamos num estado de compunção, contritos e humildes. Não tenhamos a pre­sunção que perde tantas almas e as leva a esperar o céu com tão pouco sacrifício!

Enquanto estamos neste mundo, somos os milio­nários da graça e dos tesouros da Redenção. Somos mais felizes do que os Santos do céu e as almas do purgatório. Eles não podem mais merecer, nem tra­balhar para a salvação e para a glória do céu, como nós agora. Então, por que não aproveitarmos estas riquezas de valor infinito? Um dos maiores tormentos das pobres almas é o remorso. Que verme roedor! Pensarem elas que poderiam ter sofrido tão pouco e trabalhado um pouco mais, e já estariam no céu e te­riam salvo tantas almas e feito tanto bem quando estavam neste mundo, e desperdiçaram os tesouros do Sangue Precioso de Jesus e agora padecem tanto! Poderiam ter evitado o purgatório... E nós?

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas! — 27 de Novembro: As aparições de almas do purgatório (Parte XXVIII)



Nota do blogue:  Acompanhe esse Especial AQUI.

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!
30 meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas
por Monsenhor Ascânio Brandão

Livro de 1948 - 243 pags
Casa da U.P.C.
Pouso Alegre







27 de Novembro

AS APARIÇÕES DE ALMAS DO PURGATÓRIO


Que são as aparições?


Contam-se fatos prodigiosos e muitas aparições de almas do purgatório. Isto poderia talvez impres­sionar a alguns e julgarem que podemos desejar ou procurar, com certa curiosidade, indagar a sorte dos mortos ou facilmente ter comunicação com as almas do purgatório. Quanta ilusão perigosa e quanta su­perstição e crendice em torno disto! É mister discer­nirmos bem as verdadeiras das falsas aparições, e mostrarmos o pensamento da Igreja e dos Santos Doutores para que se evitem confusões e ilusões nu­ma matéria tão grave e delicada, porque tão sujeita a enganos e erros.

Que é uma aparição? É uma manifestação do outro mundo, de alguém que nos vem dizer o que lá se passa. Podemos acreditar nas aparições?

Há dois extremos igualmente prejudiciais. Um dos que facilmente aceitam toda sorte de aparições sem exame e não têm a prudência de estudar e esperar a opinião de pessoas criteriosas, teólogos ou autoridades eclesiásticas e superiores, que possam dis­cernir com segurança a verdade de tais aparições. É uma leviandade. Assim o diz a Escritura: “Qui cito credit, levis est corde”[1], quem facilmente em tudo crê, é leviano de coração, é um espírito leviano. Todavia, rejeitar sistematicamente e obstinadamente toda aparição, todos os fatos sobrenaturais, mesmo que tenham os sinais de verdadeiros, é prova de mui­to ceticismo, de orgulho, e pode levar à infidelidade a graça, como insinua a Escritura: “Qui incredulus est infideliter agit”[2], quem é duro em acreditar, procede contra a piedade.

É mister um equilíbrio neste caso entre os dois extremos. Uma alma verdadeiramente humilde e obe­diente nunca poderá se enganar. Outra questão é se as almas do outro mundo podem se comunicar com os vivos. Podem voltar à terra quando queiram ou quando desejem os vivos? Respondemos sem hesitar, com a boa doutrina da Igreja e dos teólogos: — não e não! Isto só se dá por uma especialíssima permis­são de Deus, raras vezes, e por milagre, para ensina­mento e confirmação da imortalidade da alma, para lição dos vivos ou para pedir socorro e sufrágios.

Desde que nossa alma se separou do corpo pela morte, não tem mais órgãos para se comunicar com os homens, é puro espírito, e só por milagre se pode tornar sensível. E demais, quando a alma deixou o corpo, já foi entregue à Divina Justiça, e está no lu­gar que mereceu: o céu, o inferno ou o purgatório. Não pode, sem milagre, entrar em comunicação com os homens. Este milagre das aparições nós os encontramos na Sagrada Escritura. Samuel apareceu à Pitonisa de Endor e repreendeu a Saul porque havia perturbado o repouso dos mortos. Mostrou o castigo que lhe estava reservado por esta curiosidade vã. Na morte de Nosso Senhor, conta São Mateus que os túmulos se abriram e muitos mortos apareceram e foram vistos em Jerusalém. Nas vidas dos Santos encontramos inúmeras aparições, e a Santa Igreja, ao elevar à honra dos altares os servos de Deus, sub­mete a um rigoroso processo todos os fatos e prodí­gios que deles narraram, embora não se pronuncie sobre eles. Portanto, há verdadeiras aparições.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas! — 26 de Novembro: O cemitério (Parte XXVII)



Nota do blogue:  Acompanhe esse Especial AQUI.

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!
30 meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas
por Monsenhor Ascânio Brandão

Livro de 1948 - 243 pags
Casa da U.P.C.
Pouso Alegre





26 de Novembro

O CEMITÉRIO


Que é um cemitério?


O cemitério é simplesmente o lugar do repouso dos mortos. A palavra cemitério vem do latim: caemeterium, que literalmente significa dormitório, co­mo a palavra grega donde se origina. Dormitório! Lugar de descanso. Lá estão aqueles sobre os quais reza a Igreja, dizendo: Requiem aeternam dona eis, Domine! — Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno. Os corpos dos fiéis cristãos dormem, à espera da res­surreição. A Igreja chama o cemitério o lugar onde dormem os fiéis. O Ritual Romano fala na bênção “do lugar onde dormem os fiéis”... Que expressões!

Na linguagem cristã, o cemitério chama-se tam­bém campo santo. E há lugares onde o denominam também campo de Deus. Os povos pagãos tinham do cemitério uma idéia ou supersticiosa ou muito gros­seira e materialista. Os romanos o denominavam putreolli — lugar onde se apodrece. Os pagãos moder­nos têm horror do cemitério e pensam mesmo em aboli-lo, substituindo-o pelos macabros fornos cre­matórios. Entretanto, é um lugar sagrado, uma lição perene para os vivos, é a recordação do nosso nada, da nossa miséria, mas também da nossa imortalida­de e da ressurreição da carne. É um lugar sagrado.

Tem este caráter sagrado, por mais que o laicismo tente reduzi-lo a um simples depósito de cadáveres destinados ao apodrecimento. Nosso corpo e sagrado, é o templo do Espírito Santo. Ainda depois de sepa­rado da alma, há de merecer todo respeito, porque um dia ressuscitará.

A Liturgia tem uma bênção solene para os ce­mitérios, reservada aos Bispos. Nele se planta uma cruz bem grande. É a lembrança de nossa Redenção. O cemitério é a terra da cruz. Tudo ali nos fala da cruz de Jesus Cristo. Em cada sepultura, o símbolo da Redenção. Como é triste verem-se, ainda hoje, tú­mulos pagãos donde baniram a cruz, substituída por uma coluna partida ou qualquer outro símbolo de dor e desespero. O cristianismo santificou a sepultura. Os primeiros cristãos eram sepultados nas catacum­bas, com honras e piedosas preces. Como são belas as inscrições que nos deixaram! Todas falam da imortalidade e do céu. Às vezes uma só palavra dizia tudo: Vixit! Viveu!

A Igreja, que consagra os cemitérios, abençoa as sepulturas cristãs e pede ao Senhor mande um An­jo guardar cada uma delas. Eis a bela oração da bên­ção do túmulo: “Ó Deus, cuja misericórdia dá o re­pouso às almas dos fiéis, dignai-vos abençoar esta sepultura e enviar o vosso Anjo para a guardar. Dig­nai-vos também livrar dos laços dos seus pecados as almas daqueles cujos corpos estão aqui sepultados, a fim de que gozem continuamente e eternamente a felicidade junto com os vossos Santos”...

Que laços são estes dos pecados? Naturalmente os laços que prendem as pobres almas na expiação, nas chamas do purgatório. Eis como a Igreja san­tifica o cemitério e nossa sepultura, e deseja que aprendamos ali o que somos: pó! E... uma alma imortal destinada à felicidade eterna no seio de Deus.

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas! — 25 de Novembro: A Missa dos defuntos (Parte XXVI)



Nota do blogue:  Acompanhe esse Especial AQUI.

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!
30 meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas
por Monsenhor Ascânio Brandão

Livro de 1948 - 243 pags
Casa da U.P.C.
Pouso Alegre





25 de Novembro

A MISSA DOS DEFUNTOS


As cerimônias


O simbolismo tocante e belo das cerimônias da Missa dos defuntos não pode ser ignorado de quantos querem assistir com proveito ao melhor e o maior dos sufrágios que se pode oferecer pelos mortos — o San­to Sacrifício dos nossos Altares.

Esta Missa é celebrada com o paramento de cor preta, simbolizando o luto. Não tem o Glória. É se­melhante às Missas do tempo da Paixão. Mostra a dignidade do cristão assemelhado a Jesus Cristo na Paixão. Não tem o Salmo Judica me, porque nele se diz: quare tristis est anima mea et quare conturbas me? Por que perguntar à alma porque esta triste quando já foi julgada?

O sinal da cruz que o sacerdote faz sobre si nas outras Missas, aqui é feito sobre o Missal, para di­zer que tudo é agora para os mortos, os frutos e mé­ritos da cruz. Nem o padre nem o diácono beijam o Missal, simbolizando que as almas não receberam o ósculo da paz de Deus no céu.

Escreveu o piedoso Mons. Olier: “Não se beija o Missal no fim do Evangelho primeiro, porque as al­mas do purgatório morreram em sinal da fé — insigno fidei — não têm necessidade de uma profissão de fé no Evangelho Pelo mesmo motivo a Missa dos defuntos não tem Credo, que é a manifestação públi­ca da nossa fé. No ofertório não há bênção da água que é posta no cálice com o vinho, porque a água sim­boliza os fiéis, e a Igreja não tem jurisdição sobre os fiéis defuntos na outra vida, pois estão em Graça com Deus. No Agnus Dei não há paz, a cerimônia do Pax tecum. As almas já estão na paz de Deus e livres dos perigos do pecado que tira a verdadeira paz. Elas sofrem muito, mas em doce paz. No Agnus Dei não se diz Miserere nobis, mas “dai lhes o descanso”. Im­ploramos o eterno descanso para as pobres almas so­fredoras e em tormentos do purgatório. Elas não pre­cisam de paz, mas de um descanso eterno no seio do Deus. Não há bênção no fim da Missa porque as al­mas não ouviram ainda de Nosso Senhor: “Vinde, benditas de meu Pai, receber a recompensa...”.

Ao invés do Ite, Missa est — “acabou-se a Mis­sa”, a ordem de dispersar os fiéis e anunciar o fim da Missa, diz o sacerdote: Requiescant in pace — “Descansem em paz”. É um convite ao povo, também, para que reze pelos fiéis defuntos e para dizer que todo aquele Augusto Sacrifício foi oferecido para descan­so dos pobres irmãos do purgatório. Eis as cerimô­nias especiais e variantes das Missas dos defuntos. O Introito é uma súplica pelo descanso das almas. “Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno e que lhes res­plandeça a luz perpétua”. No gradual, a mesma sú­plica. No Trato: “Livrai, Senhor, as almas dos fiéis defuntos das cadeias dos seus pecados. E que o so­corro da vossa graça consiga evitar o Juízo da Vin­gança e gozem a bem-aventurança da luz eterna”. Na Communio é ainda o pedido do eterno descanso: “Que a luz eterna lhes resplandeça com os vossos Santos por todos os séculos, ó Senhor, pois sois tão bom!”.

E pede de novo: “dai-lhes o descanso e a luz perpétua, pois sois tão bom, Senhor”.

Que belas súplicas pelas pobres almas!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...