quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Um triste debate sem vencedores; só perdemos nós


DESTAQUE


Só serviu para mostrar como o nosso país está pobre de lideranças políticas, falido de novas ideias e vazio de propostas

Trata-se de uma tragicomédia mambembe, que se arrasta sempre no mesmo diapasão, com ataques mútuos entre os candidatos, velhos jargões de outras campanhas, números para cá e para lá, textos de marqueteiros repetidos dos programas eleitorais, nada de novo que possa mudar o rumo da campanha eleitoral.

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Por Ricardo Kotscho

"Quem ganhou?, costumam me perguntar sempre no dia seguinte ao destes debates entre candidatos transmitidos ao vivo por redes de televisão, como se fosse fácil dar a resposta. Depois de perder mais de duas horas da minha vida, preencher 16 páginas de anotações e de lutar bravamente contra o sono, acordei nesta quarta-feira sem nenhuma vontade de escrever sobre o assunto. Me deu um sentimento misto de tristeza, fastio e vergonha alheia diante do que vi e ouvi.
Espero que nenhum estrangeiro tenha assistido a este primeiro debate entre os presidenciáveis, promovido, como de hábito, pela Rede Bandeirantes, que só serviu para mostrar como o nosso país está pobre de lideranças políticas, falido de novas ideias e vazio de propostas para nos dar alguma esperança de que algo possa mudar para melhor nas eleições de 5 de outubro, qualquer que seja o resultado.
Para responder com honestidade à pergunta que abre este texto, sou obrigado a dizer que, infelizmente, não houve vencedores, apenas derrotados: nós, os eleitores. Um debate com sete candidatos e quatro jornalistas, empregando as mesmas regras rígidas e burocráticas do século passado, é um verdadeiro massacre para quem dele participa e para quem o assiste.
Trata-se de uma tragicomédia mambembe, que se arrasta sempre no mesmo diapasão, com ataques mútuos entre os candidatos, velhos jargões de outras campanhas, números para cá e para lá, textos de marqueteiros repetidos dos programas eleitorais, nada de novo que possa mudar o rumo da campanha eleitoral.
Vou deixar de lado meu calhamaço de anotações sobre os muitos embates entre os que querem presidir o nosso país, que nada acrescentaram ao que todos já pensávamos deles antes do programa começar. Ninguém surpreendeu ninguém, ganhou ou perdeu votos. A cobertura completa pode ser encontrada aqui mesmo no R7, não preciso repetir. Para não aborrecer o leitor, limito-me a transcrever algumas conclusões a que cheguei nos intervalos do debate.
Dos sete personagens perfilados ao lado de Ricardo Boechat no palco, na verdade apenas três estão de fato disputando a eleição, desde o início da campanha: Dilma, Marina e Aécio (este cada vez com menos chances de ir ao segundo turno, como se pode ver no post anterior). Os outros só fazem figuração. Todos os nanicos juntos registraram apenas 3% no último Ibope, quer dizer, estão fora do jogo, mas fazem de conta que a candidatura deles é para valer. "Eu eleito presidente da República...", repetiu um deles à exaustão ao iniciar suas intervenções. E a gente finge que acredita.
Parece um disco quebrado. Qualquer que seja a questão, os três que buscam uma vaga no segundo turno dão um jeito de puxar o assunto para seus bordões: Dilma declama todas as realizações dos governos petistas e atribui todos os problemas da economia à crise internacional; Marina prega a reinvenção da política com um governo de união nacional, sem explicar como pretende fazer isso, e Aécio não consegue sair do discurso sobre todas as desgraças nacionais causadas pelo atual governo, sem deixar de falar das belezas promovidas por ele nas suas administrações em Minas Gerais. Ficamos nisso.
O resultado dessa chatice também foi medido pelo Ibope, que acabara de divulgar a nova pesquisa presidencial e registrou a audiência do debate: com 5% de média, a Bandeirantes ficou em quarto lugar. A cada ano, o interesse pelo programa _ e pela política _ diminui.
Vida que segue.

Fonte: R7

A BOMBA QUE O PT NÃO QUER QUE ESTOURE


DESTAQUE


Calcula-se que o desvio de dinheiro público por intermédio desses “empréstimos” é tão grande que o Mensalão será completamente esquecido por ter sido apenas um ‘roubozinho’, sem a ‘menor importância’. Lembrem-se de que os empréstimos foram feitos em moeda estrangeira, dólares, bilhões deles! Se o Brasil tiver a sorte de ter como relator da matéria um Luiz Fux ou um Gilmar Mendes, o PT estará com seus dias contados, pois o roubo é tão grande que ninguém é capaz de avaliar o quanto. Vamos torcer para que seja um desses dois ministros o relator, porque se cair nas mãos de Barroso, Toffoli, Lewandowski ou daquele gaúcho… Bom, melhor esperar pra vermos.


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Por Lourinaldo Teles Bezerra



Por iniciativa do valoroso e único parlamentar de quem se pode esperar atitudes, o STF se posicionará através de seu ministro presidente sobre o pedido do Senador Álvaro Dias (PSDB-PR) de que sejam revelados todos os meandros dos empréstimos de financiamento de obras no exterior, em especial em Cuba, Venezuela e Angola. Assim o Sen. Álvaro Dias se pronunciou sobre o caso: 

“Não se pode admitir que o governo faça empréstimos vultosos sem que aqueles que pagam impostos saibam de informações como o valor dos empréstimos, o prazo de carência para o seu resgate, taxas de juros. Não vejo outro assunto que revolte tanto a população como saber que o governo empresta dinheiro dos brasileiros para a construção de um porto em Cuba, para o metrô de Caracas, para a construção de uma hidrelétrica na Venezuela, entre outras tantas obras em países controlados por ditadores”. 

Eu, até então, desconhecia a extensão dos empréstimos e para que eles serviam nesses países. Sabe-se agora que não foi apenas para se construir o Porto de Mariel, em Cuba, que o nosso suado dinheirinho foi empregado. Enquanto São Paulo e, principalmente, Salvador sofrem com a falta de transporte via metrô, o BNDES financia completamente o metrô de Caracas. Se o ministro Joaquim Barbosa topar a parada – ele teve uma reunião fechada com o Senador tucano, ontem, a esse respeito – a coisa vai feder insuportavelmente para o lado do vigarista de Caetés. 

Calcula-se que o desvio de dinheiro público por intermédio desses “empréstimos” é tão grande que o Mensalão será completamente esquecido por ter sido apenas um ‘roubozinho’, sem a ‘menor importância’. Lembrem-se de que os empréstimos foram feitos em moeda estrangeira, dólares, bilhões deles! Se o Brasil tiver a sorte de ter como relator da matéria um Luiz Fux ou um Gilmar Mendes, o PT estará com seus dias contados, pois o roubo é tão grande que ninguém é capaz de avaliar o quanto. Vamos torcer para que seja um desses dois ministros o relator, porque se cair nas mãos de Barroso, Toffoli, Lewandowski ou daquele gaúcho… Bom, melhor esperar pra vermos. O pedido de Álvaro Dias é uma ação direta contra a Presidenta Dilma Rousseff, o ministro Mauro Borges (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Alvaro Dias fez seu pedido ao STF com base na Lei nº 12.527, de 2011, (Lei de Acesso à Informação) que, conforme preceitua seu art. 1º, tem a finalidade de “garantir o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal”. dessa ação judicial dependerá o futuro de Rousseff e seu séquito de ladrões, incluído aí o chefão de todos: Lulalarápio da Silva!

O último mistério - o silêncio das Irmãs. Mas, ‘quem cala’…


DESTAQUE

Também eu, como outros autores, em 2006 publiquei um livro, “O quarto segredo de Fátima”, onde mostrava que faltava a parte, escrita e enviada depois, com as palavras de Nossa Senhora, que explicavam a mesma visão.

O volume que sai agora — publicação oficial do Carmelo de Coimbra, onde viveu e morreu (em 2005) a Irmã Lúcia dos Santos, a última vidente. Intitula-se “Um caminho sob o olhar de Maria” e é uma biografia da Ir. Lúcia, escrita por suas co-irmãs, com preciosos documentos inéditos da própria vidente —, de fato, é escrito a partir das cartas da Irmã Lúcia e do Diário inédito, intitulado “O meu caminho”. Impressionante, entre os episódios inéditos, é a narração de como a Irmã Lúcia superou o terror que lhe impedia de escrever o Terceiro Segredo.

A ponta da lança como chama que se desprende, toca o eixo da terra, – Ela estremece: montanhas, cidades, vilas e aldeias com os seus moradores são sepultados. O mar, os rios e as nuvens saem dos seus limites, transbordam, inundam e arrastam consigo num redemoinho, moradias e gente em número que não se pode contar, é a purificação do mundo pelo pecado em que se mergulha. O ódio, a ambição, provocam a guerra destruidora! Depois senti no palpitar acelerado do coração e no meu espírito o eco duma voz suave que dizia: – No tempo, uma só Fé, um só Batismo, uma só Igreja, Santa, Católica, Apostólica. Na eternidade, o Céu! Esta palavra Céu encheu a minha alma de paz e felicidade, de tal forma que quase sem me dar conta, fiquei repetindo por muito tempo: – O Céu! O Céu!”.

Assim lhe foi dada a força para que escrevesse o Terceiro Segredo.

O inédito (que acabei de citar) é um documento muito interessante, no qual os que se dedicam a este tema encontram facilmente a confirmação para a reconstrução histórica pela qual o Terceiro Segredo está composto de duas partes: uma, a visão, foi escrita e enviada antes, enquanto a outra – aquela que nas palavras de Nossa Senhora é o “significado” da própria visão – foi escrita e enviada sucessivamente.

É o famoso e misterioso “anexo” ao qual se referia Capovilla. É o texto ainda não publicado, onde presumivelmente está a parte que mais assustava a Irmã Lúcia. A mesma parte que assustou João XXIII (e, antes dele, Pio XII) e que Roncalli decidiu não publicar porque – como advertia – poderia ser apenas um pensamento da Irmã Lúcia e não ter origem sobrenatural [SIC! SIC! SIC!].

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Por Antonio Socci | Tradução: Fratres in Unum.com


Apareceu uma novidade no suspense acerca do “terceiro segredo de Fátima”, uma profecia que atravessa todo o século XX e parece apontar para a sua realização final.

A novidade está numa publicação oficial do Carmelo de Coimbra, onde viveu e morreu (em 2005) a Irmã Lúcia dos Santos, a última vidente. Intitula-se “Um caminho sob o olhar de Maria” e é uma biografia da Ir. Lúcia, escrita por suas co-irmãs, com preciosos documentos inéditos da própria vidente.

Antes de vê-los, precisamos recordar bem a história de Fátima. 


A HISTÓRIA DE UM SÉCULO

No inflamar-se da Grande Guerra, em 13 de maio de 1917, Nossa Senhora apareceu, no vilarejo português, a três pastorinhos.

Os jornais laicos zombavam dos “ingênuos”, desafiando a Virgem a dar um sinal público de sua presença. Ela anuncia às três crianças que dará um sinal e, na última aparição, em 13 de outubro, 70 mil pessoas vindas à Cova da Iria assistem aterrorizadas o dançar do sol no céu. Um fenômeno que no dia seguinte seria noticiado pelos jornais (também pelos anticlericais).

Na aparição de 13 de julho, Nossa Senhora tinha confiado às crianças uma mensagem para todo o mundo. Era a grande profecia sobre as décadas vindouras, se a humanidade não voltasse para Deus.

Efetivamente, tudo se cumpriu: a revolução bolchevique na Rússia, a difusão do comunismo no mundo, as sanguinárias perseguições contra a Igreja e, enfim, a segunda trágica guerra mundial.

Além disso, havia uma terceira parte daquele segredo que se deveria revelar – disse Nossa Senhora – em 1960. Chegando aquela data, João XXIII resolveu deixá-la sob segredo, porque o seu conteúdo era terrível.

Provocou, assim, uma série de hipóteses. No ano 2000, João Paulo II tornou público o texto do terceiro segredo que contém a famosa visão do “bispo vestido de branco”, com o Papa que atravessa uma cidade destruída e tantos cadáveres, e depois o martírio do Santo Padre, dos bispos, padres e fiéis.

Por muitos elementos, podia-se intuir que não continha tudo. Também eu, como outros autores, em 2006 publiquei um livro, “O quarto segredo de Fátima”, onde mostrava que faltava a parte, escrita e enviada depois, com as palavras de Nossa Senhora, que explicavam a mesma visão.

O próprio secretário de João XXIII, Mons. Capovilla, que tinha vivido tudo em primeira pessoa, numa conversa com SolideoPaolini, acenou para a existência de um misterioso “anexo”.

Pela parte eclesiástica, desmentiu-se que exista e que houvesse profecias relativas aos tempos hodiernos.



RATZINGER 2010

Mas uma clamorosa confirmação implícita veio do próprio Bento XVI, que, durante uma improvisada peregrinação a Fátima, em 13 de maio de 2010, afirmou: “Iludir-se-ia quem pensasse que a missão profética de Fátima esteja concluída”.

Acrescentou: “estão indicadas realidades que dizem respeito ao futuro da Igreja, que pouco a pouco se desenvolvem e se revelam… e, portanto, são sofrimentos da Igreja que se anunciam”.

Mas quais profecias poderiam ser encontradas naquele texto?

Estas duas frases do Papa, pronunciadas naquele discurso em Fátima, nos fazem refletir: “O homem pôde desencadear um ciclo de morte e de terror, mas não consegue interrompê-lo”. E depois: “A fé em amplas regiões da terra corre o risco de apagar-se como uma chama que não é mais alimentada”.

As palavras de Papa Bento nos fazem intuir que haja, portanto, algo a mais no Terceiro Segredo, e é dramático para o mundo e para a Igreja. Talvez seja devido àquela visita do Papa a publicação deste livro, que deixa escapar outro pedaço da verdade.

O volume, de fato, é escrito a partir das cartas da Irmã Lúcia e do Diário inédito, intitulado “O meu caminho”. Impressionante, entre os episódios inéditos, é a narração de como a Irmã Lúcia superou o terror que lhe impedia de escrever o Terceiro Segredo.



O INÉDITO 

Por volta das 16h do dia 3 de janeiro de 1944, na capela do convento, diante do sacrário, Lúcia pediu a Jesus que lhe fizesse conhecer a Sua vontade: “senti então, que uma mão amiga, carinhosa e maternal me toca no ombro”. 

É “a Mãe do Céu” que lhe diz: “Está em paz e escreve o que te mandam, não, porém, o que te é dado entender do seu significado”, querendo aludir ao significado da visão que a própria Virgem lhe tinha revelado.

Logo depois – diz a Irmã Lúcia – “senti o espírito inundado por um mistério de luz que é Deus e N’Ele vi e ouvi, – A ponta da lança como chama que se desprende, toca o eixo da terra, – Ela estremece: montanhas, cidades, vilas e aldeias com os seus moradores são sepultados. O mar, os rios e as nuvens saem dos seus limites, transbordam, inundam e arrastam consigo num redemoinho, moradias e gente em número que não se pode contar, é a purificação do mundo pelo pecado em que se mergulha. O ódio, a ambição provocam a guerra destruidora! Depois senti no palpitar acelerado do coração e no meu espírito o eco duma voz suave que dizia: – No tempo, uma só Fé, um só Batismo, uma só Igreja, Santa, Católica, Apostólica. Na eternidade, o Céu! Esta palavra Céu encheu a minha alma de paz e felicidade, de tal forma que quase sem me dar conta, fiquei repetindo por muito tempo: – O Céu! O Céu!”.

Assim lhe foi dada a força para que escrevesse o Terceiro Segredo.

O inédito que acabei de citar é um documento muito interessante, no qual os que se dedicam a este tema encontram facilmente a confirmação para a reconstrução histórica pela qual o Terceiro Segredo está composto de duas partes: uma, a visão, foi escrita e enviada antes, enquanto a outra – aquela que nas palavras de Nossa Senhora é o “significado” da própria visão – foi escrita e enviada sucessivamente.

É o famoso e misterioso “anexo” ao qual se referia Capovilla. É o texto ainda não publicado, onde presumivelmente está a parte que mais assustava a Irmã Lúcia. A mesma parte que assustou João XXIII (e, antes dele, Pio XII) e que Roncalli decidiu não publicar porque – como advertia – poderia ser apenas um pensamento da Irmã Lúcia e não ter origem sobrenatural.

É uma parte tão explosiva que ainda se continua oficialmente a negar sua existência. E a abertura de Bento XVI em 2010, que levou também à publicação deste volume, hoje fechou-se novamente.



QUEM CALA… 

Prova disso é o que aconteceu com Solideo Paolini, o maior estudioso italiano de Fátima, que, vendo as páginas deste livro que lhe enviei, escreveu ao Carmelo de Coimbra, pedindo para poder consultar as duas obras inéditas, mencionadas no volume, considerando que ali existissem mais detalhes sobre a parte em segredo.

A carta chegou ao destino (testifica-o o recibo), mas não teve resposta. Então, Paolini escreveu de novo, entrando no mérito da questão e perguntando se a Irmã Lúcia tinha alguma vez esclarecido o “significado da visão” que do Alto lhe tinha sido dado compreender, e que, naquele dia 3 de janeiro, evitou anotar, sob sugestão de Nossa Senhora: “nas obras que lhe pedi para consultar há alguma referencia a ‘algo a mais’, relativo ao Segredo de Fátima, que ainda hoje seja textualmente inédito?”.

A carta chegou em 6 de junho. Mas também esta não teve resposta. E, do mesmo modo, seria simples responder que “não”. Evidentemente, a resposta era “sim”, mas não pode ser dada, porque seria explosiva. Deste modo, calam.

Entretanto, a visão que acabo de citar remete a dois elementos que presumivelmente estariam contidos no texto inédito do Segredo: a profecia de uma terrível catástrofe para o mundo e uma grande apostasia e crise da Igreja. Uma prova apocalíptica, em cujo término – Nossa Senhora em pessoa o disse, em Fátima – “o meu Imaculado Coração triunfará”.

Bento XVI fez referência a este esperado “triunfo” em 2010: “Possam estes sete anos que nos separam do centenário das Aparições (2017) apressar o prenunciado triunfo do Coração Imaculado de Maria, para a glória da Santíssima Trindade”.

Significa que hoje, em 2014, já entramos na prova assustadora? De fato, se lermos os jornais…

Antonio Socci

Em “Libero”, 17 de agosto de 2014


O Calvário da Romênia


DESTAQUE


A história da perseguição e do martírio romeno não encontra similares no século vinte ou em nenhum outro.
Enquanto os ataques anticatólicos se fortaleciam, o mesmo se dava com a defesa dos leigos. Quando agentes da polícia secreta romena, a securitate, pretendiam prender o monastério inteiro em bixad, a população local forçou o destacamento a abortar a missão. Entretanto, poucos dias depois, quinze caminhões cheios de agentes retornaram e levaram os monges remanescentes enquanto cercavam as pessoas com suas armas. Os monges apanharam e eram obrigados a renunciar ao papa. Eles se recusaram. Um membro do grupo securitate gritou: “esses monges idiotas se importam mais com o papa do que com deus e a igreja. Vamos ver se depois de calarmos suas bocas o papa virá salvá-los” 10. Padres, monges e freiras ortodoxos foram instalados à força nesse e em outros monastérios, conventos e igrejas. Onde houvesse resistência, eram presos e mandados à cadeia. Mas o povo freqüentemente boicotava o novo regime religioso.

As catedrais de blaj, oradea, cluj e lugoj foram “reconsagradas” como ortodoxas por bispos ortodoxos colaboradores. Em lugoj, os fiéis tiveram de ser expulsos. Um deles, observando que a polícia estava lacrando as portas, gritou: “lacrem quantas quiserem, senhores; os judeus também lacraram a tumba de cristo, mas ele ressuscitou no terceiro dia”


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Queridos irmãos em Cristo, estou postando um artigo de muita importância, referindo-se a perseguição sofrida pela Igreja Católica pelos comunistas, uma parte da história não divulgada pela mídia, não contada nas escolas e universidades, e omissa pela maioria dos Padres que deveriam divulgar, para que os fiéis católicos saibam o que ocorreu e ainda ocorre pelo mundo vitimando milhóes de cristãos, católicos, ortodoxos e protestantes por todo o mundo. Nós, católicos, nunca ficamos sabendo sobre as perseguições que sofremos, como salientou o professor Alexandre del Valle, professor de Relações Internacionais na Universidade de Metz, França, e consultor de Geopolítica em diversas importantes instituições europeias, “as notícias divulgadas pela mídia são apenas a ponta do iceberg da perseguição que os cristão sofrem”. Por esse motivo, cabe a nós divulgarmos todas as atrocidades cometidas contra nós que professamos a fé em Jesus Cristo.


O Calvário da Romênia


O Cristianismo chegou primeiramente na Romênia em 106 a.C., quando os exércitos do imperador romano Trajano conquistaram a região conhecida como Dacia, levando com eles a nova fé. 

Embora a Romênia, situada na Europa oriental, sofresse naturalmente influência eslávica há muitos séculos — principalmente pelas invasões búlgaras nos séculos seis e sete — ela conservou uma profunda conexão com a civilização latina. E mesmo hoje, quase dois mil anos após a conquista romana, o Romeno é classificado por lingüistas como uma língua basicamente latina. No decurso da longa história do Cristianismo romeno, a população dividia-se entre os Ortodoxos, de longe a maior denominação, abrangendo cerca de 87 por cento da população, os Católicos somando 6 por cento, e os Protestantes com 5 por cento. Embora as cifras do censo não sejam inteiramente confiáveis, isso significa que, em termos concretos, havia cerca de 1.560.000 católicos na Romênia antes do advento do Comunismo em 1948. (Em contraste, o Partido Comunista na Romênia não possuía mais do que mil membros quando o regime Marxista foi imposto à Nação através de tramas internas e pressão soviética.) Porém, após cinqüenta anos de uma das piores perseguições do século, ainda existiam mais de meio milhão de católicos na Romênia
1.

Os católicos romenos dividiam-se principalmente em dois grandes grupos. A Igreja Católica Romana de rito latino situava-se primeiramente em Timisoara (uma grande cidade de uma região cujos católicos eram predominantemente de ascendência alemã) e na Transilvânia (uma área de concentrações relativamente grandes de católicos húngaros). Essa Igreja Latina, embora fortemente pressionada, provou-se surpreendentemente resistente às perseguições do comunismo romeno, devido talvez à sua particular composição étnica. Infelizmente isso não ocorreu com a Igreja Católica Grega romena. Conforme ocorrido na Ucrânia liderada pelos soviéticos, as autoridades comunistas romenas organizaram um conselho ilegítimo de padres dessa igreja, o qual nenhum bispo católico romeno, mesmo sob tortura e outras pressões, concordou em participar. O conselho foi forçado a declarar que era desejo dos fiéis tornarem-se ortodoxos, embora a Ortodoxia romena estivesse disponível como opção para qualquer um que desejasse se converter há muitos séculos. Em outubro de 1948, a Igreja Católica Grega foi liquidada, suas milhares de igrejas confiscadas e convertidas para o uso ortodoxo. A data foi escolhida para entrar em atrito, visto ser o 250º. Aniversário da Declaração de Unificação da Igreja com o Vaticano em 1698. A justificativa pelo ato foi propaganda pura: a de que os bispos católicos gregos “haviam se distanciado das pessoas para servir a interesses imperialistas, obedecendo ao Papa de Roma” 2. Havia seis bispos católicos gregos na Romênia nessa época. Todos foram presos no fim de 1948. Cinco morreram na prisão (IonSuciu, Valeriu Traian Frentiu, AlexandruRusu, Vasile Aftenie e IonBalan). O único sobrevivente, o bispo de Cluj-Gherla, IuliuHossu, ficou os próximos vinte dois anos na prisão e em prisão domiciliar antes de sua morte, ainda sob detenção3.

Os secretários de dois bispos também foram aprisionados: os padres Alexander Rusu e Foisor. Mas a limpeza foi ainda maior: forças de segurança apreenderam o Vigário Geral de Blaj Victor Macavei, cônegos Victor e Nicholae Pop, IonMoldovan, DumitruNeda e IonFolea, juntamente com os professores de Teologia SeptimiusTodoran e Eugen Popa. A Côrte de Bucareste inteira foi presa: os padres LiviuChinezu, IonChertes e Mare Vasile, e muitos outros. Em todos os lugares os detidos eram claramente escolhidos para enfraquecer a liderança católica: na cidade de Cluj, o padre Joseph Bal e o cônego Dumitru Manu; em Oradea, o cônego JuliuHirtea; e em Lugoj, o padre Vasile Teglasiu4. IonPloscaru, consagrado bispo em 1948, foi também aprisionado no ano seguinte.

No início, todos os bispos eram mantidos em Dragoslavele, a residência de verão do patriarcado ortodoxo. O patriarca Justinian visitava-os freqüentemente, insistindo para que se tornassem ortodoxos. O Governo criara propaganda informando que os bispos estariam fora devido a um “retiro espiritual” 5. O regime necessitava que pelo menos um bispo cometesse apostasia para alegar a unificação da Igreja Católica com a Ortodoxa como lícita. Nenhum bispo os favoreceu. Quando falhou a persuasão por meios não violentos, os bispos foram então separados e mandados para diferentes localidades. Em 10 de maio de 1950, Vasile Aftenie, após sofrer terríveis torturas na prisão de Vacaresti, enlouqueceu e morreu, embora fosse ainda relativamente jovem e gozasse de boa saúde6. Os destinos dos outros bispos logo seguiram passos similares. Seiscentos membros do clero foram presos, cerca de um terço deles na União Soviética; apenas a metade sobreviveu7. O papa Pio XII reagiu à esse massacre com um tocante manifesto, na carta apostólica Veritatem Facientes, de 27 de março de 1952: “Desejamos beijar as correntes daqueles que, aprisionados injustamente, choram e se afligem pelos ataques contra a Religião, a ruína das instituições sagradas, pela salvação eterna de seu povo, agora correndo perigo, mais do que pelos seus próprios sofrimentos e liberdade perdida”.

Infelizmente, mais ou menos um quarto do clero católico grego romeno desistiu e se tornou formalmente ortodoxo durante a perseguição, temendo as repercussões para si mesmos e suas famílias. Como, antes do início do regime comunista, houvesse diversas oportunidades para que esses homens se tornassem parte da majoritária Igreja Ortodoxa Romena caso o desejassem, não há razão para acreditarmos que nenhuma dessas conversões “voluntárias” fosse sincera. (Muitos se retrataram mais tarde8). Os meios necessários para convencê-los são a prova: um padre foi atirado num esgoto cheio de ratos por dois dias. Acabou cedendo. Outro foi lançado num pântano, com resultados similares. Na cidade de Oradea, o padre Damian foi submetido à tortura por fogo e eletricidade até que cedesse. Em Sibiu, padre Onofreiu sobreviveu miraculosamente após ser pendurado, quando a corda arrebentou. Ele ainda se recusava a aceitar a Ortodoxia, e foi então declarado como louco e liberado — temporariamente. É fácil compreender porque um quarto do clero, sujeitado a tratamento desse quilate em tantos lugares diferentes, não foi forte o suficiente para opor-se a tudo isso.

O povo católico grego, porém, não se sujeitou facilmente a essa mudança forçada. O bispo de Oradea, IonSuciu, antes de sua prisão, apelou ao seu povo por apoio financeiro após a suspensão do pagamento dos professores católicos pelo Governo. Os paroquianos responderam fervorosamente: o bispo recebeu mais do que o necessário para manter as escolas funcionando9. Enquanto os ataques anticatólicos se fortaleciam, o mesmo se dava com a defesa dos leigos. Quando agentes da polícia secreta romena, a Securitate, pretendiam prender o monastério inteiro em Bixad, a população local forçou o destacamento a abortar a missão. Entretanto, poucos dias depois, quinze caminhões cheios de agentes retornaram e levaram os monges remanescentes enquanto cercavam as pessoas com suas armas. Os monges apanharam e eram obrigados a renunciar ao Papa. Eles se recusaram. Um membro do grupo Securitate gritou: “Esses monges idiotas se importam mais com o papa do que com Deus e a Igreja. Vamos ver se depois de calarmos suas bocas o Papa virá salvá-los” 10. Padres, monges e freiras ortodoxos foram instalados à força nesse e em outros monastérios, conventos e igrejas. Onde houvesse resistência, eram presos e mandados à cadeia. Mas o povo freqüentemente boicotava o novo regime religioso.

As catedrais de Blaj, Oradea, Cluj e Lugoj foram “reconsagradas” como ortodoxas por bispos ortodoxos colaboradores. Em Lugoj, os fiéis tiveram de ser expulsos. Um deles, observando que a polícia estava lacrando as portas, gritou: “Lacrem quantas quiserem, senhores; os judeus também lacraram a tumba de Cristo, mas ele ressuscitou no terceiro dia” 11. Desnecessário dizer que a doutrina ortodoxa não permite conversão forçada ou o confisco de igrejas de seita diferenciada. Setenta e seis corajosos padres ortodoxos recusaram-se a se responsabilizar por igrejas confiscadas e participar desse abuso de poder político e religioso. Foram, então, encarcerados12. E pelo menos um bispo ortodoxo que se recusou a colaborar com os outros, Nicolas Popovici, foi preso e morreu — talvez por envenenamento — em 195813. Mas no geral a liderança ortodoxa foi responsável por grande injustiça contra os católicos.

Entretanto, os próprios ortodoxos também sofreram. Os antigos metropolitanos ortodoxos, Mihalcescu e Criveanu, não sendo simpáticos ao Comunismo, foram trocados pelo Governo por “abades do povo”. Para atingir esse objetivo, os abades e o regime difamaram os antigos líderes e pressionaram as instituições religiosas a removê-los de seus cargos. O próprio Mihalcescu teve provavelmente uma morte digna de um mártir. Após sua substituição e exílio em um monastério, onde gozava somente de liberdade limitada, é provável que tenha sido envenenado14.

Ironicamente, algumas das personalidades católicas marcadas pelo sofrimento foram generosas com os ortodoxos quando a situação se reverteu. De 1940 a 1944, a Hungria ocupou parte da Romênia, e o bispo IuliuHossu defendeu os direitos dos judeus15 e também dos ortodoxos, particularmente o bispo de Cluj, NicolaeColan. Porém, quando o regime comunista ganhou poder, o mesmo bispo Colan confiscou e reconsagrou a catedral do bispo que havia sido seu benfeitor16. Compreensivelmente, eventos como esse e outros supracitados criaram um profundo racha entre ortodoxos e católicos durante todo os anos de governo comunista e nos anos pós-comunismo.

Em Paris, o superior de mosteiro Stefan Lucaciu escreveu ao Papa pedindo que rezasse para que fosse dada graça abundante aos católicos perseguidos. Em outra carta, ele lamentou o tratamento dado aos católicos gregos e romanos na Romênia, advertindo: “O oportunismo religioso que o regime comunista exibe hoje, amanhã se voltará furiosamente contra a Igreja Ortodoxa, pretendendo-se transformar lentamente numa plataforma política para alcançar objetivos políticos” 17. De fato, o governo romeno logo estaria perseguindo todos os grupos religiosos: Judeus, Ortodoxos, Católicos e Protestantes. Um dos mais emocionantes e aclamados relatos da perseguição nesse período é do pastor protestante Richard Wurmbrand, em seu Torturado por Cristo18. O rabino chefe da Romênia, Alexandru Safran foi sumariamente deposto e exilado. A campanha anti-católica, em razão da colocação religiosa e social especial dos católicos na Romênia, foi particularmente virulenta.

Ainda assim a cruel campanha não foi completamente bem sucedida. Em 1949, o ministro de cultos Stoian Stanciu, reclamou num discurso público dos sentimentos pró-catolicismo de alguns intelectuais19. “Pró-catolicismo” aqui pode significar tanto um apoio real à Igreja quanto uma simpatia generalizada pelos cristãos injustiçados. Em ambos os casos, porém, havia claramente uma séria oposição secular à política religiosa. Havia um precedente histórico para as inclinações pró-católicas entre os intelectuais romenos. I. C. Bratianu, figura de liderança político democrata no século dezenove, converteu-se ao Catolicismo em seu leito de morte. E IuliuManiu, líder do Partido Camponês Nacional, o mais importante político anti-fascista e democrata da nação, era um devotado católico grego (morreu nos anos 50 numa prisão comunista). Dentre a liderança ortodoxa, entretanto, a pressão governamental e a longa crença de que o catolicismo grego era ilegítimo na Romênia acabaram causando atos vergonhosos. O ilustre catedrático de religião Mircea Eliade externou a simpatia dos romenos pelos irmãos e irmãs católicos da época e lamentou que “não soubesse de um único bispo ortodoxo que tenha declarado publicamente seu desagravo à violência” 20.

O patriarca romeno Justinian teve um papel particularmente ruim nesse processo. Após a queda do Comunismo, seu nome foi lembrado com muita afeição pelos ortodoxos romenos pelos seus enérgicos esforços em favor da Igreja Ortodoxa21. Eliade, porém, pontificou que o patriarca brincava com fogo: “Hoje, em todo o mundo, o Cristianismo está sendo inteiramente atacado sem piedade, é atacado por aqueles que tempos atrás o condenaram à morte, e essas mesmas pessoas são as mesmas que acolheram Justinian... Hoje ou amanhã os bispos ortodoxos poderão estar junto aos seus irmãos na prisão e no exílio. Eles também serão mártires, mas após terem sido expostos e degradados sob os olhos dos fiéis”. Reconhecendo que ninguém tem o direito de exigir que outro se torne um mártir, Eliade apelou aos bispos que aceitassem que, sem o desejo de se tornar mártir pela verdade, os assessores do bispo tornam-se apenas madeira e metal.

Quaisquer que fossem as racionalizações históricas dos líderes ortodoxos contra a legitimidade da Igreja Católica Grega romena, elas não poderiam ser usadas também contra a Igreja católica Romana de rito latino. As igrejas romanas estavam, em sua maioria, localizadas na Transilvânia e na Moldavia e eram ligadas por etnias minoritárias historicamente conectadas à Roma desde os séculos XII e XIII. Essas igrejas estavam florescendo, e contavam com cerca de 1.200.000 adeptos antes do advento do Comunismo. Ainda assim, seus direitos plenos não poderiam ser reconhecidos sem o risco de reivindicações do reconhecimento do Estado das igrejas católicas gregas também. O reconhecimento de qualquer uma dessas igrejas nunca foi uma real possibilidade. Gheorghiu-Dej, Secretário do Partido Comunista, anunciou peremptoriamente em fevereiro de 1948 que o único obstáculo à “democracia” na Romênia era a Igreja Católica22. E continuou: “A nova Constituição romena não permitirá que os cidadãos católicos submetam-se às diretrizes de um mandante estrangeiro; não será permitido aos romenos serem tentados pelo filhote de ouro americano, em cujos pés o Vaticano deseja levar seus fiéis.” 23.

Quando as igrejas católicas romanas insistiram no reconhecimento oficial, o Regime Comunista romeno adotou a dupla estratégia de tentar silenciá-los com uma mão enquanto, com a outra, encorajava uma Igreja Católica Romana dividida e subserviente ao Estado — tudo isso sob a cobertura legal de impedimento dos “agentes do imperialismo” e proteção da “segurança do Estado”. Dois bispos foram acusados em nome de atitudes anti-democráticas: Aron Marton de Alba Julia na Transilvânia e Anton Durcovici de Jassy na Moldavia. Atos secretos começaram a ser usados para extirpar o clero recalcitrante. Em junho de 1949, Anton Bisoc, o Superior franciscano, recebeu um telegrama, provavelmente do bispo Durcovici, pedindo que fosse vê-lo imediatamente. Bisoc partiu e nunca mais foi visto novamente. Seu assistente, padre Herciu, foi procurá-lo. Ele também desapareceu sem deixar vestígios24. A mensagem era clara: a insistência da Igreja Romana seria tratada da mesma forma que com os católicos gregos.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Talleyrand - Gastronomia e política


DESTAQUE


À ceia sempre havia convidados ilustres. Freqüentá-la era sinal de prestigio, ocasião para comer bem e com fartura. Apesar dos inúmeros serviçais, o anfitrião trinchava pessoalmente os assados, com a destreza protocolar. Numa ceia, exibiu-se para um grupo formado por um cardeal, um príncipe, um marquês, um conde e um barão, usando uma enorme faca e um garfo, ambos de ouro maciço.

É célebre sua resposta ao rei Luis XVIII, que insistia em lhe dar recomendações na partida para o Congresso de Viena. “Majestade, perdoe-me, mas necessito mais de panelas do que instruções. Consiga-me um bom cozinheiro e bastante queijo brie que eu me arranjo com o resto”.

Descendente de antiga família nobre, ele dominava a arte de presidir a mesa. Além de gourmand, animava a conversa. Conseguia ser ao mesmo tempo teatral e lacônico. Entremeava as prosas com minutos de silêncio, provocando expectativa na plateia. Foi um dos maiores conversadores de seu tempo.


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Talleyrand - Gastronomia e política

J. A. Dias Lopes




O príncipe de Talleyrand, gastrônomo traquejado, político e diplomata francês, serviu a diferentes regimes e só se manteve fiel ao queijo brie


Nunca houve um vira-casaca tão assombroso quanto o príncipe de Talleyrand-Périgord, político e diplomata francês. Serviu aos diferentes regimes que governaram seu país entre 1789 e 1838, período assinalado pela tomada da Bastilha, a ascensão e queda de Napoleão e a restauração monárquica. Tirou proveito de todos, até mesmo financeiro, sem se conservar leal a nenhum. Também poucas vezes se viu um gastrônomo tão pródigo.

O escritor Eugène Sue, seu contemporâneo, inspirou-se em uma das predileções habituais de Talleyrand, como ficou conhecido, para afirmar que em toda a vida ele só se manteve fiel ao queijo brie. Saboreava essa iguaria diariamente, acompanhada de velhos tintos de Bourdeaux. Protagonista brilhante do Congresso de Viena — a assembléia que reuniu os paises europeus após a queda de Napoleão, entre os anos de 1814-15, a fim de restabelecer o equilíbrio continental de poderes e definir novas fronteiras nacionais — colocou a Inglaterra e a Áustria contra a Prússia e a Rússia. Ao mesmo tempo, fez com que a França saísse da reunião com o território intacto e, sobretudo, reconhecida como grande potência.

A tradição espalha que Talleyrand obteve do Congresso de Viena a proclamação do brie como “rei dos queijos”. No final de um dos banquetes que se sucederam, cada país inscreveu um ou mais candidatos. Eram 52 queijos, a maioria à base de leite de vaca. O príncipe de Metternich, representante da Áustria, renomado apóstolo da reação contra o liberalismo, apresentou um queijo da Boêmia; o conde Nesselrode, da Rússia, exibiu um em formato de salsicha; o duque de Wellington, futuro presidente do Conselho de Ministros da Inglaterra, ofereceu o ceshire, cujo sabor especial deriva do leite produzido por vacas que pastam nos capins ligeiramente salobros da fronteira com o País de Gales. O vencedor foi o brie levado pelo príncipe de Talleyrand, feito por certo Baulny, da região de Ile-de-France, perto de Paris, a mesma do Palácio de Versailles. Coincidentemente, era o queijo que proporcionara um dos últimos prazeres gustativos ao rei Luis XVI, antes de ser preso, conduzido à prisão e guilhotinado pela Revolução Francesa.

Talleyrand era gastrônomo traquejado. Onde estivesse, exigia cozinha e mesa impecáveis. Por 11 anos contou com os serviços de Antonin Carême, considerado o melhor chef de todos os tempos.

Talleyrand só fazia uma refeição por dia: a da noite. Seu desjejum era frugal. Ao meio dia, ele tomava apenas chá. Ainda de manhã, recebia o chef com as sugestões para a ceia. Discutia com ele as receitas e os pontos de cozimento, questionava molhos e acompanhamentos. O cardápio se compunha de diversas sopas, quatro entradas, dois pratos de mar, quatro intermediários, dois assados e vários doces, além do invariável queijo brie. À ceia sempre havia convidados ilustres. Freqüentá-la era sinal de prestígio, ocasião para comer bem e com fartura. Apesar dos inúmeros serviçais, o anfitrião trinchava pessoalmente os assados, com a destreza protocolar. Numa ceia, exibiu-se para um grupo formado por um cardeal, um príncipe, um marquês, um conde e um barão, usando uma enorme faca e um garfo, ambos de ouro maciço.

Descendente de antiga família nobre, ele dominava a arte de presidir a mesa. Além de gourmand, animava a conversa. Conseguia ser ao mesmo tempo teatral e lacônico. Entremeava as prosas com minutos de silêncio, provocando expectativa na platéia. Foi um dos maiores conversadores de seu tempo. Por um defeito físico, não deixaram que seguisse a carreira militar. Um acidente na infância o deixou coxo.

Mesmo não demonstrando vocação religiosa, a família o lançou na carreira eclesiástica. Ajudado por um tio arcebispo, escalou rapidamente a hierarquia da Igreja Católica e, apesar da vida devassa, foi nomeado arcebispo de Autun, na Borgonha. Além de culto e fluente, era bom orador. Pronunciou sermões empolgantes. Elegeu-se deputado à Assembléia Nacional e apresentou projeto colocando os bens do clero sob o controle da nação.

O Papa o condenou durante a Revolução Francesa e ele abandonou a Igreja, dedicando-se à diplomacia. Chegou a ocupar o Ministério do Exterior da França. A certa altura de suas Memórias, publicadas em cinco volumes, Talleyrand revela ter sido educado por preceptores. Jamais permaneceu uma semana inteira com os pais. Isso o marcou profundamente. O talento verbal vinha da mãe, com quem jamais se deu bem. Mesmo assim, procurava-a na adolescência, para assimilar seu modo diferente de falar.

A mãe empregava a linguagem engenhosa das reuniões elegantes do século 18, a mesma que o filho usou no salão de madame de Genlis, impressionando a aristocracia parisiense.

Certa vez, Napoleão perguntou a Talleyrand como havia se transformado em brilhante conversador. Ele respondeu: “Bem, da mesma maneira que sua majestade escolhe o campo de batalha para combater, só aceito falar quando tenho alguma coisa a dizer. Nunca respondo perguntas inesperadas. Em geral, não me deixo questionar por ninguém, exceto por vós. E, caso me indaguem alguma coisa e eu respondo, é porque sugeri a pergunta”.

Não por acaso, Talleyrand foi um dos maiores diplomatas do passado. A gastronomia funcionou como seu instrumento político. Amigos e inimigos o descreveram como “uma pessoa irresistível à mesa”. É célebre sua resposta ao rei Luis XVIII, que insistia em lhe dar recomendações na partida para o Congresso de Viena. “Majestade, perdoe-me, mas necessito mais de panelas do que instruções. Consiga-me um bom cozinheiro e bastante queijo brie que eu me arranjo com o resto”.


O queijo aclamado


O brie se tornou conhecido mundialmente no Congresso de Viena, realizado no século 19, quando Talleyrand conseguiu aclamá-lo “rei dos queijos”. Mas os franceses, seu criadores, conhecem-no há muito mais tempo. Surgiu na pequena cidade de Melun, a 40 quilômetros de Paris, na região de Ile-de-France, quando ainda existia a Gália Transalpina, que abrangia a França e a Bélgica. Entre os anos 58 e 50 a.C., esse território foi conquistado pelo romano Julio César, após extensa campanha bélica. Carlos Magno, rei dos francos e imperador do Ocidente (742-814), provou o brie ao passar por ali e se encantou, introduzindo-o no seu palácio. Ao contrário do que alguns acreditam, o camembert descende do brie. É queijo muito mais novo: só apareceu no século 18, durante a Revolução Francesa. Um padre foragido, vindo da terra do brie, revelou seu segredo a uma fazendeira chamada Marie Harel – e ela o reproduziu na Normandia.

O queijo predileto de Talleyrand usa leite de vaca. São necessários 23 litros para fazer uma unidade. Apresenta-se redondo e achatado. Mede entre 20 e 35 centímetros de diâmetro e possui cerca de 3 centímetros de altura. A crosta é enrugada, ligeiramente avermelhada, com bolor branco. A pasta se mostra alva quando fresca, tornando-se amarelada após 6 a 8 semanas de cura. A textura é suave e cremosa. O sabor, leve e delicado. Com o tempo, a pasta amolece. O queijo vai adquirindo cor amarelo-palha e sabor a noz. Os tradicionalistas preferem o “fermier” ou colono, artesanal. O outro, industrial, é chamado de “laitier”. Mas ambos podem exibir qualidade.

O brie procede de quatro localidades, todas na região de Ile-de-France. Os mais famosos vêm de Melun e Meaux. O primeiro possui tamanho menor e produção idem: são 190 toneladas anuais contra 5650 do outro. A maturação, porém, é mais demorada e ocorre em caves mais frias. Também existe o brie de Melun sem cura, conhecido como bleu. O de Meaux já foi maior. Antigamente, ultrapassava os 50 centímetros de diâmetro. Constituía um problema para os fabricantes, porque é preciso virar o queijo diversas vezes durante a cura, numa operação delicada. Qualquer descuido pode rachá-lo.

Para homenagear o gosto de Talleyrand ou por compatibilidade natural, o queijo de Melun combina com os tintos de Bordeaux, enquanto os de Meaux vão bem com os da Borgonha. O ideal é saboreá-los puros, acompanhados ou não de pão. Come-se o brie com a casca, que esconde sabores deliciosos e faz bem à saúde. É queijo ainda usado em cozinha. As famosas bombinhas de massa folhada denominadas “bouchées à la reine”, criadas em homenagem à polonesa Maria Leszczynski, mulher de Luis XV, costumam ser recheadas com brie. Os italianos, que a exemplo dos brasileiros imitam com perfeição o produto original, usam-no nos crostini.


(Cf. O Estado de São Paulo, 17-5-2002 – Caderno 2 – pagina 18)
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