sábado, 5 de outubro de 2013

FRANCISCO, A COQUELUCHE DA ESQUERDA?




EM ROMA, HÁ TEÓLOGO QUE FAZ NOTAR: O RESPEITO QUE TRIBUTAMOS AO PAPA PODE VIR ACOMPANHADO DA “OBRIGAÇÃO DE FALAR CONTRA ELE [PAPA FRANCISCO] E ATÉ DE LHE RESISTIR, PORQUE, ALÉM DE NÃO SEREM PARTICULARMENTE ÚTEIS, ESSAS DECLARAÇÕES [RECENTES] SÃO FRANCAMENTE CONTRAPRODUCENTES, E ATÉ PERIGOSAS”.





TRADUÇÃO DAS PARTES MAIS FRISANTES
Raphael de la Trinité


Eis um sinal: o mundo de esquerda se rejubila diante do Papa Francisco. Libération publicou três páginas que não poderiam ser mais cordiais, embelezadas de fotos sorridentes desse Papa que “tira a Igreja de sua bolha [envoltório, invólucro, cápsula, empola]”. Desconcertante aprovação da parte de um quotidiano anárquico-bancário, mais conhecido como vetor de um anticatolicismo mesquinho e de um espírito libertário sem limites (...).

Nesse caso, fazendo uma paráfrase de Alain Juppé, o Papa nos colocaria diante de um sério problema.

Ele (Papa Francisco) que detesta as entrevistas e diz precaver-se contra os seus primeiros impulsos, passou a emitir, um após outro, ditos e frases para a mídia, tal como se deu na entrevista com o ateu Scalfari, publicada por La Repubblica. Não são encíclicas, e tais afirmações não empenham de nenhum modo a sua autoridade de papa. São, porém, muito bem recebidas, várias vezes reproduzidas e comentadas pela mídia, bem mais que declarações de peso. Adivinha-se que será por esse motivo que Francisco se acha inclinado a deixá-las escapar...

Contudo, até o Padre Frederico Lombardi, porta-voz do Vaticano — não obstante, jesuíta —, vê-se na obrigação de clarificar as coisas, relegando duas matérias de teor bem diverso — de um lado, a entrevista, repleta de reflexões, que Francisco concedeu à Civiltà Cattolica, e de outro, a conversa mais descontraída com Eugenio Scalfari — à categoria de “declarações informais...”. Suas palavras: “Não se trata de documento do magistério”.

Temos, portanto, toda liberdade para acolhê-las com circunspecção, manifestando a nossa surpresa ao ver que o Papa Francisco, sem revelar nenhum embaraço, afirma o contrário de seu predecessor, que ainda vive. Consideremos a insistência com que faz menção de um progressista, o Cardeal Martini; igualmente, quando afirma que irá ver o que será possível ver com o seu G-8 cardinalício — teria sido este um dos compromissos dos quais dependeu a sua eleição —; por fim, [a sua obsessão] em se apresentar como um novo São Francisco de Assis... Entretanto, o Poverello de Assis não impôs a sua regra de vida a toda a Igreja, nem suscitou a controvérsia [que está provocando o atual Pontífice] (...).

Os rumores que circulam em Roma exprimem pelo menos prudência diante do que é imprudente. E, falando sob o coberto do anonimato, um teólogo, ao mesmo tempo em que recorda o respeito que tributamos ao Papa, observa que esse respeito pode vir acompanhado da “obrigação de falar contra ele [Papa Francisco] e até de lhe resistir, porque, além de não serem particularmente úteis, essas declarações são francamente contraproducentes, e até perigosas”. Nada disso impede a consideração, nem o afeto...


Afinal, não foi o Papa Francisco o primeiro a solicitar que o criticássemos? 

*** * ***



François, le chéri de la gauche ?



Extrait d’un article de Jeanne Smits, dans Présent

C’est un signe : le monde de gauche jubile devant le pape François. Libération a publié trois pages on ne peut plus aimables, agrémentées de photos souriantes de ce pape qui « sort l’Eglise de sa bulle ». Ahurissante approbation de la part du quotidien anarcho-bancaire mieux connu comme vecteur d’un anticatholicisme mesquin et d’un libertarisme sans limites.

551436-pope-francis-leads-an-audience-with-the-knights-of-the-holy-sepulchre-in-paul-vi-hall-at-the-vatican

Serait-il touché par la grâce ? Par la parole et le geste de ce François qui dénonce l’esprit courtisan de la Curie, qui semble bousculer la morale sinon le dogme ? Qui qualifie le prosélytisme de « pompeuse absurdité » ? Libé, attiré par la radicalité du Christ ? On n’y croit pas un instant, pas plus qu’il ne faut croire l’exégèse des propos de François par la presse, trop ravie de ne pas faire les distinctions qui s’imposent.
Car on ne peut pas (on ne veut pas…) imaginer que ce pape, qui cherche à porter le Christ dans tous les cœurs, et qui sermonne quotidiennement les fidèles sur leurs péchés mignons à la manière d’un curé de paroisse, ne veuille pas convaincre de la véracité de la foi qui l’anime. Et il est vrai qu’on ne convertit pas, ordinairement, par A + B, mais avec l’amour et la grâce du Christ.
Barack Obama lui aussi aime bien le pape Bergoglio. Il s’est dit « énormément impressionné par les déclarations du pape », par toute son attitude « embrassante » à l’égard des plus pauvres : « Il ressemble à quelqu’un qui vit pleinement les enseignements du Christ. » « Son sourire change de la mine austère de son prédécesseur », écrivait Libération.
On comprend la manœuvre d’Obama, engagé dans un bras de fer avec les évêques catholiques américains qui luttent pour échapper aux éléments tyranniques de l’« Obamacare » imposant la couverture de la contraception. Politiquement, c’est tout bon pour lui.
Alors, ce pape commencerait-il à poser un sérieux problème, pour paraphraser Alain Juppé ?
Lui qui déteste les interviews et se méfie de ses premiers mouvements multiplie désormais les petites phrases en direction des médias, telle l’interview avec l’athée Scalfari publiée par La Repubblica. Ce ne sont pas des encycliques et ces propos n’engagent nullement son autorité pontificale – mais ils sont accueillis, repris, commentés, par les médias bien plus que ses textes de fond. On devine même que c’est pour cette raison que François y prend goût…
Mais voici que même le porte-parole du Vatican, le P. Frederico Lombardi – jésuite pourtant ! – se voit contraint de clarifier les choses, reléguant aussi bien l’entretien très réfléchi donné à la Civilta Cattolica et la conversation plus décontractée avec Eugenio Scalfari à des propos « informels » : « Il ne s’agit pas d’un document du magistère. »
Nous sommes donc libres de les accueillir avec circonspection, et de nous étonner de voir le pape François prendre sans délicatesse le contrepied de son prédécesseur qui vit encore. Voyez son insistance à citer un cardinal progressiste, Carlo Maria Martini, à annoncer qu’on va voir ce qu’on va voir avec son « G8 » cardinalice – dont la constitution relève pour lui d’une sorte d’engagement d’élection – à se présenter comme un nouveau saint François. Mais le Poverello n’avait pas imposé sa règle de vie à toute l’Eglise, et il n’avait pas rejeté la beauté et la richesse de la liturgie. Le siècle qui suscita François fut aussi celui des Dominicains, des débuts de l’explosion luxuriante du gothique, et d’une chrétienté sans pareille.
Au temps de François d’Assise, Thomas Becket
« portait une chemise de crin sous ses ors et cramoisis, et il y a beaucoup à dire en faveur de cette association, car Becket avait le bénéfice de la chemise de crin tandis que l’homme de la rue profitait des ors et des cramoisis » :
Chesterton pensait au saint anglais, saint Louis – ce modèle de gouvernance chrétienne – fit de même, en France.
Les bruits qui viennent de Rome traduisent pour le moins une prudence devant l’imprudent, et parlant sous couvert d’anonymat un théologien rappelle le respect dû au pape qui peut se doubler d’une « obligation de parler contre lui, voire de lui résister ». Car ses propos peuvent « ne pas être particulièrement utiles – et même carrément contre-productifs, voire dangereux ».
Cela n’empêche ni le respect, ni même l’affection – mais François n’est-il pas le premier à solliciter la critique ?

JEANNE SMITS

Fonte: Itinerarium

Liberdade do Papa em relação ao dogma alimenta questionamentos



SOBRE A ENTREVISTA DO PAPA FRANCISCO A SCALFARI, FUNDADOR DO JORNAL ‘LA REPUBBLICA’ - O porta-voz Lombardi partiu do princípio que a entrevista "foi gravada e que é verdadeira".


O Papa Francisco mostrou-se relativista - inclinado a não dar valor absoluto ao dogma - em sua entrevista ao jornal "La Repubblica", consideram especialistas do Vaticano, que detectaram inquietações dos ciclos católicos a respeito dessa liberdade de expressão papal. 

Duas declarações em particular ecoaram nos círculos católicos: quando ele disse que "o proselitismo é um erro", e quando deu a impressão de relativizar o dogma cristão. 

"Cada um de nós tem a sua visão do bem e do mal (...). Todos devem optar por seguir o bem e combater o mal como o concebe. Isso seria o suficiente para melhorar o mundo". 

Pressionado com as perguntas, o padre Lombardi observou que essa entrevista não é "um texto do magistério, mas uma transcrição de uma conversa com uma pessoa que foi autorizada a publicá-la".
O porta-voz partiu do princípio que a entrevista "foi gravada e que é verdadeira". 

De acordo com o padre jesuíta, o Papa inaugura "um novo modo de expressão ao qual não estamos habituados". "É outra novidade do Papa, um terreno novo". 

"Os maiores males que afligem o mundo são o desemprego dos jovens e a solidão em que os idosos são deixados", disse Francisco, incorporando questões sociais que são queridas para ele. [SIC! SIC! SIC! SIC! SIC! SIC! SIC!]

*** * ***

Igreja deve reforçar o seu diálogo com os não-crentes, afirmou o Papa.
Pontífice também disse que Igreja está formada por pecadores.







O Papa Francisco mostrou-se relativista - inclinado a não dar valor absoluto ao dogma - em sua entrevista ao jornal "La Repubblica", consideram especialistas do Vaticano, que detectaram inquietações dos ciclos católicos a respeito dessa liberdade de expressão papal.

A coletiva de imprensa convocada nesta quarta-feira (2) pelo padre Federico Lombardi para falar sobre o "G8 dos cardeais" e a reforma da Igreja deu lugar a muitas perguntas sobre as condições em que a entrevista foi conduzida pelo fundador ateu do jornal, Eugenio Scalfari, o nível de confiabilidade das declarações do Papa e a fidelidade das frases transcritas.

A Igreja deve reforçar o seu diálogo com os não-crentes, afirmou o Papa nesta entrevista. Mas ele também acusou líderes da Igreja de "serem muitas vezes narcisistas", confidenciando sentir-se, às vezes, "anticlerical".

Duas declarações em particular ecoaram nos círculos católicos: quando ele disse que "o proselitismo é um erro", e quando deu a impressão de relativizar o dogma cristão.

"Cada um de nós tem a sua visão do bem e do mal (...). Todos devem optar por seguir o bem e combater o mal como o concebe. Isso seria o suficiente para melhorar o mundo".

Pressionado com as perguntas, o padre Lombardi observou que essa entrevista não é "um texto do magistério, mas uma transcrição de uma conversa com uma pessoa que foi autorizada a publicá-la".

O porta-voz partiu do princípio que a entrevista "foi gravada e que é verdadeira".

De acordo com o padre jesuíta, o Papa inaugura "um novo modo de expressão ao qual não estamos habituados". "É outra novidade do Papa, um terreno novo".

"Esta entrevista, sem preconceitos ou filtros, demonstra a sua disponibilidade para com um mundo descrente nem sempre benevolente", considerou.

"Não houve nenhuma revisão do texto" antes de sua publicação, garantiu o padre Lombardi.

"Não havia nenhuma razão para fazer correções. Se o Papa tivesse a intenção de negar ou afirmar que houve má interpretação, ele teria dito", comentou o porta-voz.
O fato de ela ter sido reproduzida pelo jornal do Vaticano, "L'Osservatore Romano", "dá-lhe uma autenticidade", disse ainda.

Além de nesta quarta-feira, em sua audiência-geral, Francisco afirmar que o fato de padres, cardeais e papas serem pecadores não muda o fato de que a Igreja é santa, na véspera ele fez contundentes observações após iniciar os trabalhos do G8 clerical.

Ele declarou desejar uma Igreja mais engajada socialmente, que dialogue com os não-crentes e livre da corrupção.

"É o início de uma Igreja concebida como uma organização não somente vertical, mas também horizontal", explicou o Papa na longa entrevista ao jornal La Repubblica.

Nesta ocasião, ele lamentou uma "visão muito vaticano-centrada que ignora o mundo ao seu redor", anunciando que fará o possível para mudar isso.

A publicação da entrevista de três páginas concedida a um jornal de esquerda, antes da abertura do "G8" para reavivar a Igreja Católica, é em si uma revolução.
Para isso, Francisco recebeu na semana passada na residência Santa Marta o fundador ateu do jornal, Eugenio Scalfari, com quem já havia dialogado em colunas interpostas no "La Repubblica", em setembro.

Nesta entrevista, o Papa e o jornalista discutiram a fé e a descrença, os valores éticos, do clericalismo e do espírito, o marxismo, com espantosa liberdade de tom.

Outras passagens marcantes desta entrevista são a crítica virulenta aos "cortesões da Igreja", e a denúncia do "liberalismo social".

"Os maiores males que afligem o mundo são o desemprego dos jovens e a solidão em que os idosos são deixados", disse Francisco, incorporando questões sociais que são queridas para ele. [SIC! SIC! SIC! SIC! SIC! SIC! SIC!]

O "liberalismo selvagem" resulta em "tornar o forte mais forte, os fracos mais fracos e os excluídos mais excluídos", denunciou.

O pontífice pediu à Igreja que se comprometa mais com o mundo moderno e afirmou que "os chefes da Igreja geralmente têm sido narcisistas, amantes da adulação e excitados de forma negativa por seus cortesões".

"A corte é a lepra do papado", declarou Francisco.


O pontificado de Francisco, conservador em relação a obediência à Igreja e a moral, mas radical sobre o desenvolvimento social, continua a ser paradoxal.


Fonte: G1
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...