quinta-feira, 11 de abril de 2013

Em 1921, o Papa Bento XV condenou o crucifixo retorcido!

Fonte: Domine Canes

Crucificação, da via-sacra de Servaes, 1919.
Há uma história conectada com a férula Scorzelli, a da cruz de Albert Servaes (1883-1966). Servaes tinha feito, em 1919, quatorze desenhos em carvão sobre papel branco que representam as estações da Via Crucis impregnados de um forte pathos e uma deformação constante dos corpos em sua expressão de dor extrema. Este é um claro exemplo de "expressionismo" aplicado ao sagrado.

Servaes é um dos artistas da Escola de Laethem, que se caracteriza por uma busca agressiva de um primitivismo "exótico" na escola de Laethem-Saint-Martin, em Flandes. O grupo Laethem, dos quais o expoente mais conhecido é Gustave de Smet, partiu de uma crítica ao Impressionismo, que sentia como demasiado próxima a sensibilidade positivista e incapazes de captar os contrastes e ebulições no caminho da Primeira Guerra Mundial.

Férula de Scorzelli.

O expressionismo do grupo Laethem se converteu assim numa rebelião contra as folhas de estilo, delicadas da língua francesa, através do descobrimento de uma realidade trágica na qual o artista é o intérprete.
A rebelião social e individual do artista, no caso de Laethem também ao mercantilismo típico dos círculos expressionistas em Paris.

A condenação da Via Crucis de Servaes por parte do Santo Ofício, depois da aprovação direta do Papa Bento XV, é um documento chave, já que não é uma simples condenação de um trabalho específico, senão a proibição de um estilo completo ou escola de arte: Albert de Servaes apresentou a mão de Jesus como uma garra...








Decreto que CONDENA as imagens sagradas de uma ESCOLA PICTÓRICA (publicado em 30 de março de 1921 pelo Santo Ofício).

Os eminentíssimos e reverendíssimos senhores cardeais reunidos com os inquisidores gerais em matéria de fé e moral, em sessão ordinária celebrada na segunda-feira, 23 de fevereiro de 1921, publicamente declararam censuradas as imagens sagradas da nova escola pictória que se exibe no folheto intitulado A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo de Cyril Vershaeve (imagens compostas por Albert Servaes. Bruxelas e Paris. Librairie National d'art e d'histoire et G. van Oest e editores, 1920), pela prescrição do cânon 1399, n.º 12, que as proibe pela lei e portanto devem ser retiradas imediatamente de igrejas, oratórios etc. e em todo lugar que forem expostas. Na quinta-feira seguinte, 24 do mesmo mês e ano, Sua Santidade, o Papa Bento XV, na Audiência CONSEJEROS, aprovou a resolução que se lhe havia mostrado, e ordenou-lhes que a partir desta, ficasse estabelecido e confirmado.

Dado em Roma, em São Pedro, escritório de imprensa, 30 de março de 1921.

A. Castellana

Notário.

DECRETUM DAMNANTUR SACRAE IMAGINES 
CUIUSDAM NOVAE SCHOLAE PICTORICAE


Emi ac Rmi Domini Cardinales in rebus fidei et morum Inquisitores Generales, in ordinario consessu habito feria iv, die 23 februarii 1921, publice declarandum censuerunt: Imagines sacras cuiusdam novae scholae pictoricae, quarum specimen exhibetur in opusculo cui titulus: La Passion de Notre-Seigneur Jésus-Christ par Cyril Verschaeve (ornée de compositions d'Albert Servaes. Bruxelles et Paris. Librairie Natio- nale d'art et d'histoire G. van Oest et Ci e Editeurs, 1920), ad praescriptum canonis 1399, n. 12,prohiberi ipso iure, ideoque statim removendas esse ab Ecclesiis, Oratoriis, etc., in quibus forte expositae inveniantur. Et insequenti feria v, die 24 eiusdem mensis et anni, Sanctissimus D. N. Benedictus divina Providentia Papa XV, in solita audientia R. P. D. Assessori S. Officii impertita, relatam sibi Emorum Patrum resolutionem approbavit, mandans ad quos spectat ut eam servent et servare faciant. Datum Romae, ex aedibus S. Officii, die 30 martii 1921. A. Castellano, Supremae S. C. S. Off. Notarius. 


A condenação de toda uma "nova escola de pintura" é singular quando lida à luz das mudanças que se introduziram no enfoque da arte da Igreja coma  Sacrosanctum Concilium, em 1963. O anúncio da ausência de "estilos próprios da Igreja" em S.C. 123, já que pode ser questionável, sublinha, contudo, que a Igreja recusou certos estilos em oposição à fé e a tradição. E o caso do expressionismo belga realista, emblemático neste sentido.

Papa Francisco retoma a férula de Paulo VI
A férula Scorzelli não é mais do que a repetição daquele expressionismo. E "a vinganza de Servaes proclamou-se ao mundo em 1965".

Certamente, a férula existiu por muitos anos, de alguma maneira perdeu seu significado original no imaginário coletivo e adotou o aspecto de um símbolo do pontificado de João Paulo II. Contudo, deve-se notar que o Papa Francisco escolheu um anel que pertencia ao arcebispo Pasquale Macchi, ex-secretário do Papa Paulo VI.

É um fato curioso que este anel tenha sido testemunha de uma saída repentina do sarcófago de outro cardeal mumificado: o cardeal Re. Ele, que foi prefeito da Congregação para os Bispos, sem ter sido nem bispo diocesano, sequer pároco, sugeriu ao Papa Francisco a escolha deste anel. Bergoglio e ele o escolheram devido a sua dimensão estética estar estreitamente relacionada com a época paulino. Época de subversão estética dirigida por LercarosFrancias Fallanis. Período iconoclasta por excelência.

Do original, em Fides et Forma.
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