segunda-feira, 22 de julho de 2013

Santa Maria Madalena: Contrição perfeita que levou à santidade


Quando todos os Apóstolos fugiram por ocasião da Paixão, um grupo de mulheres, entre elas Maria Madalena, permaneceu fielmente junto a Nossa Senhora aos pés da Cruz
Plinio Maria Solimeo
Os Santos Evangelhos referem-se a uma Maria pecadora (Lc 7, 36-50), a uma Maria irmã de Marta e Lázaro (Lc 10, 38-42, Jo 11), e a uma Maria Madalena. Os Padres gregos entendem que elas são três pessoas distintas. Os Padres latinos, entretanto –– desde Tertuliano, Santo Ambrósio, São Jerônimo, Santo Agostinho, São Gregório Magno, até São Bernardo e Santo Tomás de Aquino –– reconhecem nas três uma e mesma pessoa: a Santa Maria Madalena penitente, que seguiu Nosso Senhor durante a Paixão.
Baseados nesta autorizada opinião, que foi adotada pela Igreja, seguiremos os traços da vida de Santa Maria Madalena –– cuja festa é celebrada a 22 de julho –– seguindo os Santos Evangelhos e as várias tradições que chegaram até nós.

A pecadora da cidade de Magdala
Maria Madalena teria nascido em Betânia, cidade da Judéia, de pais muito ricos, tendo por irmãos Marta e Lázaro. Como parte de sua herança, recebera o castelo de Magdala, de onde lhe veio o nome.
Uma lenda fala de sua esplêndida formosura, cabeleira famosa, de seu engenho, e apresenta-a casada com um doutor da Lei que, muito ciumento, a trancava em casa quando saía. Cheia de vida, altiva e impetuosa, Maria teria sacudido esse jugo e fugido com um oficial das tropas do César. Estabeleceram-se no castelo de Magdala, perto de Cafarnaum, de onde em breve o rumor de suas desordens e escândalos encheu a região.
Enquanto isso, o divino Salvador havia iniciado sua peregrinação, e a fama de seus milagres e santidade de vida estendia-se pelas terras da Palestina.
Atormentada por demônios e pelos remorsos de sua consciência culpada, Maria foi procurar o grande Taumaturgo que alguns apontavam como sendo o Messias prometido. Não sabia que seus irmãos já se tinham tornado seus discípulos e rezavam fervorosamente por sua conversão.
O Senhor apiedou-se dela e livrou-a de sete demônios (Mc 16, 9), tocando-lhe também profundamente o coração.

Lágrimas de compunção sincera


Madalena enxuga os pés de Nosso Senhor com seus cabelos

A partir de então, começou para Madalena a completa conversão. Horrorizada ante seus inúmeros pecados, e cativada pela bondade e mansidão de Jesus, ela procurava uma ocasião em que pudesse mostrar-Lhe seu reconhecimento e profundo arrependimento.
Essa ocasião surgiu na casa de Simão — um fariseu, provavelmente de Cafarnaum —, que havia convidado o Mestre para uma refeição. O ágape seguia seu curso normal, quando inesperadamente Madalena irrompeu na sala, foi diretamente até Jesus, rompeu um vaso de alabastro que levava apertado ao peito, e “começando a banhar-Lhe os pés com lágrimas, enxugava-os com os cabelos da sua cabeça, beijava-os e os ungia com o bálsamo” (Lc 7, 38).
Simão tomou a mal esse ato. Como ousava uma pecadora pública entrar assim no santuário de seu lar e profaná-lo com sua presença? Ademais, cogitou ele, “se este fosse profeta, com certeza saberia quem e qual é a mulher que o toca, pois é pecadora”. O divino Salvador, lendo seu pensamento, respondeu-lhe com uma parábola: “Um credor tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos denários, o outro cinqüenta. Não tendo eles com que pagar, perdoou a ambos a dívida. Qual deles o amará mais?”. Simão respondeu acertadamente: “Creio que aquele a quem perdoou mais”. Respondeu-lhe Jesus: “Julgaste bem”. E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: “Vês esta mulher? Entrei em tua casa, não me deste água para os pés; e esta, com as suas lágrimas, banhou os meu pés e enxugou-os com os seus cabelos. Não me deste o ósculo (da paz), porém esta, desde que entrou, não cessou de beijar os meus pés. Não ungiste a minha cabeça com bálsamo; entretanto, esta ungiu com bálsamo os meus pés. Pelo que te digo: são-lhe perdoados muitos pecados, porque muito amou” (Id., ib. 39-50).

“Maria escolheu a melhor parte”
Perdoada, convertida, despojada de suas galas mundanas, Maria Madalena foi viver com seus irmãos em Betânia.
Foi lá que as duas irmãs receberam a visita do Messias prometido. Lázaro, parece, estava ausente. Maria sentou-se junto ao Salvador para absorver suas palavras divinas, enquanto Marta afanava-se nos afazeres domésticos para bem receber seu divino Hóspede. E julgou que sua irmã fazia mal, pois em vez de ajudá-la, estava ali sentada esquecida da vida. Disse Jesus: “Marta, Martaafadigas-te e andas inquieta com muitas coisas. Entretanto uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada” (Lc 10, 38-42).
Mais tarde Lázaro ficou muito doente, e o Mestre divino estava longe. As duas irmãs mandaram-lhe uma mensagem: “Senhor, eis que está enfermo aquele que amais”. Mas Jesus não apareceu, e Lázaro morreu. Quando foi a Betânia, Lázaro jazia no sepulcro havia já quatro dias.
Nosso Senhor, que amava Lázaro, comoveu-se diante da dor das duas irmãs, e foi uma das raras ocasiões em que chorou. Depois, diante de muita gente, inclusive de fariseus, ressuscitou Lázaro (Jo 11, 1-46). Milagre estupendo, que provava sua divindade.
Em outra visita do divino Mestre a Betânia, Maria Madalena, já não mais “a pecadora”, ungiu novamente os pés do Redentor com precioso perfume, o que levou Judas a reclamar do “desperdício”, pois podiam vender o perfume e “dar o dinheiro aos pobres”. Nosso Senhor interveio: “Deixai-a; ela reservou isso para o dia da minha sepultura; porque sempre tendes os pobres convosco, mas a mim não tendes sempre” (Jo 12, 1-8). Advertência muito válida hoje em dia para os que, com o pretexto de amor aos pobres, pretendem acabar com as pompas sagradas da Igreja!

Aos pés da cruz junto com Nossa Senhora


Chegou o momento da Paixão. São Pedro negou o Mestre, e todos os Apóstolos fugiram. Somente algumas santas mulheres percorreram a Via Dolorosa junto ao divino Redentor. Aos pés da cruz, Maria Madalena encontrou-se acompanhando Nossa Senhora e São João Evangelista. Quando o corpo de Jesus foi depositado no sepulcro novo de José de Arimatéia, Madalena estudou bem o modo como ele era feito e a pedra com que selaram sua entrada.






Reconhecendo o Redentor, ela só pôde
exclamar: “Raboni!” (Jesus Cristo no Jardim –
Fra Angélico, séc. XV. Museu de
São Marcos, Florença)

Narra São João: “No primeiro dia da semana, foi Maria Madalena ao sepulcro, de manhã, sendo ainda escuro, e viu a pedra retirada do sepulcro”. Surpresa, ela pensou primeiro em avisar os discípulos. Relatou o que vira a São Pedro, que com São João Evangelista correu para o sepulcro, e os seguiu. E acrescenta São João: “Entretanto, Maria Madalena conservava-se na parte externa do sepulcro, chorando. Enquanto chorava, inclinou-se e olhou para o sepulcro, e viu dois anjos vestidos de branco, sentados no lugar onde fora posto o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. Eles disseram-lhe: Mulher, por que choras? Respondeu-lhes: Porque levaram o meu Senhor e não sei onde o puseram”. Então voltou-se e viu Nosso Senhor. Mas, devido à penumbra e pela veste, julgou ser o jardineiro. Perguntou-lhe Jesus: “Mulher, por que choras? A quem procuras?”.Ela, sempre pensando que fosse o jardineiro, respondeu-lhe: “Se tu o levaste, dize-me onde o puseste; eu irei buscá-lo”. Nosso Senhor lhe disse então: “Maria!”. Reconhecendo o Redentor, ela só pôde exclamar: “Raboni!”, que em hebraico quer dizer Mestre (Jo 20, 1-18).

Maria Madalena nas Gálias, segundo a tradição
Mais tarde, depois do martírio de Santo Estevão, de acordo com os Atos dos Apóstolosdesencadeou-se uma perseguição tão violenta dos judeus contra os cristãos em Jerusalém, que todos os fiéis, com exceção dos Apóstolos, se retiraram da cidade para a Judéia e a Samaria. O que leva a supor que também Maria Madalena e seus irmãos saíssem da Cidade Santa dirigindo-se para a Galiléia. Quando a perseguição cessou, voltaram eles para Jerusalém, onde permaneceram até o ano de 45, mas houve uma segunda grande perseguição. São Pedro partiu então para Roma, e a Virgem Santíssima foi conduzida por São João Evangelista a Éfeso. Os Padres gregos afirmam que para lá foi também Santa Maria Madalena, tendo morrido e sido enterrada naquela cidade.
Mas outra tradição, não menos vigorosa, afirma que ela e seus irmãos, mais alguns outros cristãos, foram presos pelos judeus em Jerusalém e colocados no mar num barco sem remo, sem leme, e sem as mínimas condições para navegar, a fim de perecerem num naufrágio. Alguns afirmam que São Maximino, um dos 72 discípulos do Senhor, e Sidônio (o cego de nascença de que fala o Evangelho, e que foi curado por Nosso Senhor) e mesmo José de Arimatéia sofreram a mesma sorte.
Entretanto, o barco dirigiu-se milagrosamente para a Sicília, e de lá para a França, chegando finalmente a Marselha, que era então um dos principais portos das Gálias.


A Santa aos pés da Cruz
São Maximino foi bispo de Aix, e São Lázaro encarregou-se da igreja de Marselha. Santa Marta reuniu em Tarascão uma comunidade de virgens, e Maria Madalena, depois de ter trabalhado eficazmente na conversão dos marselheses, retirou-se para viver na solidão, refugiando-se numa gruta que se encontra na igreja de São Vítor, em Marselha. Mas, como não julgasse tal lugar suficientemente recolhido, afastou-se para uma montanha entre Aix, Marselha e Toulon, “La Sainte Baume” (a Santa Montanha ou Santa Gruta), como dizem os habitantes do lugar. Lá permaneceu cerca de trinta anos, levando vida contemplativa e penitencial.
Enfim, estando para morrer, os anjos levaram-na para junto de São Maximino, de quem recebeu os últimos sacramentos, entregando sua alma a Deus. Seu corpo foi então, segundo a tradição, levado para um povoado vizinho –– a Villa Lata, depois São Maximino –– onde esse bispo havia construído uma capela.
No século VIII, por temor dos sarracenos, suas relíquias foram trasladadas para um lugar seguro, tendo ficado esquecidas até que Carlos II, rei da Sicília e Conde da Provença, as encontrou em 1272. Entretanto, a urna de Santa Maria Madalena desapareceu no século XVI, durante as guerras de religião entre católicos e protestantes.



Fonte: Catolicismo
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Obras consultadas:
- Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, Bloud et Barral, Paris, 1882, tomo VIII, pp. 583 e ss.
- Edelvives, El Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoça, 1948, tomo IV, pp. 221 e ss.
- Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madri, 1945, tomo III, pp. 166 e ss.
- Hugo Pope, Saint Mary Magdalen, The Catholic Encyclopedia, Robert Appleton & Company, 1910, Online edition, www.NewAdvent.org
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