Fonte: Tradição em Foco
Nota do blog: Foram introduzidas
algumas modificações no texto
para melhor compreensão.
Como explicar a misericórdia de Deus, uma vez que
Ele não concede mais uma chance para que os réprobos possam converter-se? Por
exemplo, Deus não poderia postergar indefinidamente a morte do pecado, até o
momento em que este afinal se converta?
Como se resolve esse aparente impasse?
A duração do Inferno não conhece fim. Longe de ser
um fator arbitrário da parte de Deus, a duração incessante do Inferno se
apresenta como decorrência lógica da ordem das coisas.
Com efeito, a fé e a razão ensinam que a alma humana, por sua natureza mesma, é imortal. Isto implica que, entrando a alma num estado de castigo após a separação do corpo, este estado será tão duradouro quanto o respectivo sujeito; será, pois, incessante, a menos que a alma mesma, ou o próprio Deus, acarretem mudança em tal situação. Todavia:
a) Por parte do réprobo exclui-se a possibilidade de mudança. A passagem da desgraça do Inferno para a bem-aventurança do Céu supõe
que o condenado quisesse deixar de odiar a Deus para amá-Lo. Isto, porém, não
se verifica, nem se pode verificar, em absoluto. A alma é dependente do corpo
tanto no seu processo intelectivo como no volitivo. É o que faz que somente
quando unida ao corpo neste mundo é que a alma possa mudar suas disposições e
paixões. O réprobo, embora muito sofra, de modo nenhum quer, nem pode querer
(por sua constituição psicológica natural), deixar a causa de seu mal-estar,
que é a rebelião contra Deus. De certo modo compraz-se em viver em revolta
contra o Soberano Senhor.
Deus, por sua parte, não intervém nesta obstinação, mas respeita-a, já que é a atitude livremente abraçada por uma criatura feita para ser livre. Não força a criatura a participar de uma vida (comunhão com Deus) que ela rejeita. Tal é a atenção que o Criador tributa à livre opção do homem; não o quer rebaixar, tratando-o como máquina ou como criancinha. Constranger a criatura livre seria, sim, propriamente um castigo infligido por Deus, seria ferir a maior dignidade do homem. Ademais, o réprobo não suportaria conviver na sociedade de Deus, não suportaria um colóquio com o Amor, que ele odeia.
Deus, por sua parte, não intervém nesta obstinação, mas respeita-a, já que é a atitude livremente abraçada por uma criatura feita para ser livre. Não força a criatura a participar de uma vida (comunhão com Deus) que ela rejeita. Tal é a atenção que o Criador tributa à livre opção do homem; não o quer rebaixar, tratando-o como máquina ou como criancinha. Constranger a criatura livre seria, sim, propriamente um castigo infligido por Deus, seria ferir a maior dignidade do homem. Ademais, o réprobo não suportaria conviver na sociedade de Deus, não suportaria um colóquio com o Amor, que ele odeia.
b) Da parte de Deus, embora o perdão não seja dado a quem não o
queira, poder-se-ia ao menos esperar que o Senhor aniquilasse o réprobo.
Sem dúvida, Deus poderia pôr termo à desgraça do condenado pelo aniquilamento. Todavia isto seria menos condizente com a Sabedoria divina. O Senhor criou o homem para ser, e ser sempresempre feliz).
A modalidade de ser feliz, Deus a entregou à livre opção do homem; este a pode frustrar. Contudo, o bem fundamental que é ser, existir, Deus quis tomá-Lo aos Seus exclusivos cuidados; o Criador dá-nos os bens irrevogavelmente; não o retira, mesmo que o homem não cumpra a sua parte, abusando do dom do Benfeitor. O homem existirá sempre, como Deus planejou bondosamente, mesmo que, em conseqüência de uma livre opção sua, não exista feliz. E esta existência imortal, ainda que vivida num estado de desgraça, não deixa de ser um bem; continua a representar um valor no conjunto das criaturas, não constitui um absurdo, a tal ponto que deva ser aniquilado. O réprobo, justamente por sua desventura, proclama que Deus é bom; a sua dor provém precisamente do fato de que ele reconhece em Deus a Perfeição Máxima; do seu modo, pois, ela afirma veementemente a grandeza e a Bondade do Criador. Por conseguinte, tem um significado positivo na perspectiva do universo.
É por isto que Deus conserva a existência do réprobo; embora destituída de sentido para o indivíduo, é muito expressiva no conjunto da criação; entra no coro de louvor que todas as criaturas, cada qual na sua modalidade, cantam a Deus; ao passo que os e justos reconhecem a Perfeição Divina e, percebendo-se familiares a ela, se sentem sumamente felizes, os réprobos reconhecem igualmente a Perfeição Divina, mas, percebendo-se incompatibilizados com ela, se sentem sumamente infelizes. Por uma disposição estupenda da Sabedoria, o Inferno representa o modo próprio das criaturas, mesmo rebelando-se contra Deus, realizarem, não obstante, o fim comum preestabelecido a todo ser: proclamar a glória do Criador.
O tempo de conversão, estabelecido por Deus, é o tempo em que cada qual permanece em seu corpo biológico. Esse é o tempo plenamente suficiente. E não existe uma extensão desse tempo, como reencarnação, porque morremos uma só vez, depois da morte vem o Juízo, como está escrito:
.
“E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo, (Hebreus 9 ,27)” “Porque teremos de comparecer diante do tribunal de Cristo. Ali cada um receberá o que mereceu, conforme o bem ou o mal que tiver feito enquanto estava no corpo. (II Coríntios 5,10)”
.
Mas o curioso é que o Livre Arbítrio perdura enquanto permanecemos na terra. Quando vivemos mais tempo, atua também durante mais tempo também como aliado da nossa salvação, como observamos na parábola do Senhor:
E dizia esta parábola: Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha, e foi procurar nela fruto, não o achando; disse ao vinhateiro: Eis que há três anos venho procurar fruto nesta figueira, e não o acho. Corta-a; por que ocupa ainda a terra inutilmente? E, respondendo ele, disse-lhe: Senhor, deixa-a este ano, até que eu a escave e a esterque; e se der fruto, ficará e, se não der, depois a mandarás cortar. (Lucas 13,6-9)
Entretanto, em alguns casos, tempo maior, pode significar perdição, como está escrito:
Com efeito, se aqueles que renunciaram às corrupções do mundo pelo conhecimento de Jesus Cristo nosso Senhor e Salvador, nelas se deixam de novo enredar e vencer, seu último estado torna-se pior do que o primeiro. (II Pedro 2,20)
Deus quer que sejamos felizes livremente.
A felicidade, Deus a quer para nós, mas devemos escolhê-la; às vezes escolhemos a direção errada (quando rejeitamos Deus), ou seja, a felicidade depende de cada pessoa;
O ser não depende de nós, pois não somos nosso próprio princípio, e é por isso que Deus não vai aniquilar o réprobo.
Também podemos pensar assim: Deus quer que existamos. Se por causa de nossa escolha para o inferno, Deus "mudar" de vontade fazendo que com os réprobos não existam, Deus seria, de certa maneira, vencido por um ato volitivo nosso; isso é impossível.
Muitos se esquecem de que o Inferno tem sentido, não por visar à correção do homem, mas para a proclamação da Perfeição de Deus. Para que o homem moderno admita esta asserção, é preciso que se desembarace do modo de ver antropocêntrico que domina nossa mentalidade e se coloque num ângulo visual teocêntrico. O mundo não foi feito primariamente para promover a felicidade do homem, mas para afirmar a glória de Deus; este é o seu fim principal, que justifica plena e soberanamente a existência de qualquer criatura.
O Senhor, porém (e isto é importante) quis fazer com que a glorificação do Criador incluísse em si a felicidade do homem, caso este aceitasse livremente o plano de Deus. Contudo, mesmo quando não a aceita, o homem nunca deixaa de proclamar a glória de Deus, embora o faça num estado de rebeldia e infelicidade. De fato, a Santidade, o Amor, a Verdade e a Justiça são valores independentes da bem-aventurança particular do homem, embora sejam os constitutivos normais desta bem-aventurança, sempre prontos a promovê-la.
Se alguém em pecado mortal vier a morrer, para que se salve, é preciso que diga a Deus "perdão Senhor", em algum momento antes da sua morte, com arrependimento perfeito na alma (pesar profundo de ter ofendido a Deus por ser Deus quem é, ou seja, sumamente bom e amável e digno de ser amado sobre todas as coisas).
Às vezes, quando se prolonga a vida, as chances de o pecador empedernido se converter serão muito menores. Na verdade, quanto mais tempo ele viver no pecado, mais difícil será a sua conversão.
É preciso lembrar que o Cristianismo — ao contrário, por exemplo, do que afirma o espiritismo — no ensina: sem as boas obras ninguém se salva, mas, além de praticá-las, é necessário exercer o nosso livre arbítrio, isto é, escolhermos fazer tudo por amor a Deus.
Sem dúvida, Deus poderia pôr termo à desgraça do condenado pelo aniquilamento. Todavia isto seria menos condizente com a Sabedoria divina. O Senhor criou o homem para ser, e ser sempresempre feliz).
A modalidade de ser feliz, Deus a entregou à livre opção do homem; este a pode frustrar. Contudo, o bem fundamental que é ser, existir, Deus quis tomá-Lo aos Seus exclusivos cuidados; o Criador dá-nos os bens irrevogavelmente; não o retira, mesmo que o homem não cumpra a sua parte, abusando do dom do Benfeitor. O homem existirá sempre, como Deus planejou bondosamente, mesmo que, em conseqüência de uma livre opção sua, não exista feliz. E esta existência imortal, ainda que vivida num estado de desgraça, não deixa de ser um bem; continua a representar um valor no conjunto das criaturas, não constitui um absurdo, a tal ponto que deva ser aniquilado. O réprobo, justamente por sua desventura, proclama que Deus é bom; a sua dor provém precisamente do fato de que ele reconhece em Deus a Perfeição Máxima; do seu modo, pois, ela afirma veementemente a grandeza e a Bondade do Criador. Por conseguinte, tem um significado positivo na perspectiva do universo.
É por isto que Deus conserva a existência do réprobo; embora destituída de sentido para o indivíduo, é muito expressiva no conjunto da criação; entra no coro de louvor que todas as criaturas, cada qual na sua modalidade, cantam a Deus; ao passo que os e justos reconhecem a Perfeição Divina e, percebendo-se familiares a ela, se sentem sumamente felizes, os réprobos reconhecem igualmente a Perfeição Divina, mas, percebendo-se incompatibilizados com ela, se sentem sumamente infelizes. Por uma disposição estupenda da Sabedoria, o Inferno representa o modo próprio das criaturas, mesmo rebelando-se contra Deus, realizarem, não obstante, o fim comum preestabelecido a todo ser: proclamar a glória do Criador.
O tempo de conversão, estabelecido por Deus, é o tempo em que cada qual permanece em seu corpo biológico. Esse é o tempo plenamente suficiente. E não existe uma extensão desse tempo, como reencarnação, porque morremos uma só vez, depois da morte vem o Juízo, como está escrito:
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“E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo, (Hebreus 9 ,27)” “Porque teremos de comparecer diante do tribunal de Cristo. Ali cada um receberá o que mereceu, conforme o bem ou o mal que tiver feito enquanto estava no corpo. (II Coríntios 5,10)”
.
Mas o curioso é que o Livre Arbítrio perdura enquanto permanecemos na terra. Quando vivemos mais tempo, atua também durante mais tempo também como aliado da nossa salvação, como observamos na parábola do Senhor:
E dizia esta parábola: Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha, e foi procurar nela fruto, não o achando; disse ao vinhateiro: Eis que há três anos venho procurar fruto nesta figueira, e não o acho. Corta-a; por que ocupa ainda a terra inutilmente? E, respondendo ele, disse-lhe: Senhor, deixa-a este ano, até que eu a escave e a esterque; e se der fruto, ficará e, se não der, depois a mandarás cortar. (Lucas 13,6-9)
Entretanto, em alguns casos, tempo maior, pode significar perdição, como está escrito:
Com efeito, se aqueles que renunciaram às corrupções do mundo pelo conhecimento de Jesus Cristo nosso Senhor e Salvador, nelas se deixam de novo enredar e vencer, seu último estado torna-se pior do que o primeiro. (II Pedro 2,20)
Deus quer que sejamos felizes livremente.
A felicidade, Deus a quer para nós, mas devemos escolhê-la; às vezes escolhemos a direção errada (quando rejeitamos Deus), ou seja, a felicidade depende de cada pessoa;
O ser não depende de nós, pois não somos nosso próprio princípio, e é por isso que Deus não vai aniquilar o réprobo.
Também podemos pensar assim: Deus quer que existamos. Se por causa de nossa escolha para o inferno, Deus "mudar" de vontade fazendo que com os réprobos não existam, Deus seria, de certa maneira, vencido por um ato volitivo nosso; isso é impossível.
Muitos se esquecem de que o Inferno tem sentido, não por visar à correção do homem, mas para a proclamação da Perfeição de Deus. Para que o homem moderno admita esta asserção, é preciso que se desembarace do modo de ver antropocêntrico que domina nossa mentalidade e se coloque num ângulo visual teocêntrico. O mundo não foi feito primariamente para promover a felicidade do homem, mas para afirmar a glória de Deus; este é o seu fim principal, que justifica plena e soberanamente a existência de qualquer criatura.
O Senhor, porém (e isto é importante) quis fazer com que a glorificação do Criador incluísse em si a felicidade do homem, caso este aceitasse livremente o plano de Deus. Contudo, mesmo quando não a aceita, o homem nunca deixaa de proclamar a glória de Deus, embora o faça num estado de rebeldia e infelicidade. De fato, a Santidade, o Amor, a Verdade e a Justiça são valores independentes da bem-aventurança particular do homem, embora sejam os constitutivos normais desta bem-aventurança, sempre prontos a promovê-la.
Se alguém em pecado mortal vier a morrer, para que se salve, é preciso que diga a Deus "perdão Senhor", em algum momento antes da sua morte, com arrependimento perfeito na alma (pesar profundo de ter ofendido a Deus por ser Deus quem é, ou seja, sumamente bom e amável e digno de ser amado sobre todas as coisas).
Às vezes, quando se prolonga a vida, as chances de o pecador empedernido se converter serão muito menores. Na verdade, quanto mais tempo ele viver no pecado, mais difícil será a sua conversão.
É preciso lembrar que o Cristianismo — ao contrário, por exemplo, do que afirma o espiritismo — no ensina: sem as boas obras ninguém se salva, mas, além de praticá-las, é necessário exercer o nosso livre arbítrio, isto é, escolhermos fazer tudo por amor a Deus.
Esta escolha, nós fazemos através das nossas obras, no dia a dia, mas também pode manifestar-se — embora seja raro — num arrependimento completo, a exemplo do "bom ladrão", que estava ao lado de Jesus na cruz.
A contrição do coração é a peça chave. Certa vez um bandido colocou uma arma engatilhada em minha cabeça, lembrei que não estava em estado de graça e, de maneira automática, disse:
- Nossa Senhora da Boa Morte, rogai por nós.
Isso pode ter sido um ato de contrição perfeita, não pelo ato em si (que é bem diferente dos exemplos de ato de contrição que os catecismos apresentam), mas por representar a contrição interna, aquela que parte do coração.
A contrição deve ter como objeto o arrependimento dos pecados, seja por amor a Deus (perfeita), seja por medo do Inferno ou outro motivo (imperfeita ou atrição). No caso de um arrependimento para poder receber a Eucaristia (uma vergonha do pecado), considero que tal contrição foi imperfeita e, dentro do sacramento da Penitência, ela já atende aos requisitos para o perdão. Todavia, se não houve detestação dos pecados cometidos, mas uma mera confissão dos pecados por causa da vontade comungar, a pessoa não está perdoada (falta um dos elementos essenciais do sacramento da Penitência); sendo assim, não pode comungar.
Contrição é uma dor interior e detestação do pecado que se cometeu, com o propósito de não mais pecar no futuro.
Por esta definição vemos que a contrição abrange dois elementos:
a) um sentimento da alma;
b) um ato de vontade.
O primeiro elemento diz respeito ao passado: considera o homem culpado, a sua falta; vê quanto contraria e injuria a bondade divina; vê quanto é feia e horrenda intrinsecamente; vê quantos castigos espantosos provoca. E fica profundamente aflito. Mas, vale notar, tal dor não tem de ser necessariamente externada por um padecimento sensível.
O segundo elemento diz respeito ao porvir. A coerência e a lógica mandam que tomemos resoluções para o futuro. Não detestaria seu pecado quem estivesse pronto a cometê-lo de novo (o que é diferente de dizer que, de um ponto de vista natural, saiba que, infelizmente, é provável volte a pecar no futuro).
Visto isso a respeito dos réprobos, alguém pode ainda perguntar: por que criou Deus tais indivíduos que Ele sabia haveriam de se condenar?
Deus quis criar seres mais dignos do que os irracionais; quis, portanto, que houvesse também criaturas inteligentes e livres, os mais fiéis reflexos da Perfeição Divina. Este ato magnânimo da bondade divina implicava naturalmente um grande “risco”: dar a liberdade de arbítrio a seres limitados era “sujeitar-se” a ver o livre arbítrio empregado com deficiência, isto é, para a prática do mal. De fato, é o que mais ocorre no decorrer da História... A rigor, Deus poderia impedir que esse risco existisse, não permitindo, por exemplo, que o “poder agir mal” se tornasse uma realidade.
Se o impedisse, porém, faria obra menos digna da bondade divina, já que estaria mutilando um dom outorgado. Com efeito, é harmonioso que cada uma das naturezas criadas, no Universo, atue e desdobre todas as suas potencialidades; por conseguinte, é conveniente que, no plano da natureza humana, onde há seres livres, capazes de optar ou pelo bem ou pelo mal, alguns, de fato, optem pelo bem, outros pelo mal. Dito em outras palavras: pertence à ordem normal das coisas que, ao lado dos santos, bons administradores dos dons de Deus, haja indivíduos deficientes, maus dispensadores do seu livre arbítrio.
E Deus, na obra da criação, quis fazer justamente o normal, não o anormal. Eis porque não criou unicamente indivíduos que se salvassem; teria como que mutilado a natureza humana considerada no conjunto de suas potencialidades. Mais uma vez: tudo isso só pode ser entendido numa perspectiva teocêntrica.
*** * ***
2- Os réprobos podem nos infernizar como os demônios?
Tanto Pe. Gabriele Amorth como o Pe. J.A. Fortea respondem
pela afirmativa: sim, têm o poder de infestar.
O lugar de pena dos demônios até o dia do juízo é o ar (S. Th., I, q.64, a.4) , e sofrem em sua vontade (não nos sentidos, porque não podem sofrer dor sensível), por saberem que a prisão do inferno lhes é destinada (S. Th., I, q.64, a.4, ad.3). Por isso podem infernizar (exercer ação infernal), porque lhes cabe povoar o ar tenebroso, isto é, a atmosfera.
Santo Tomás dá a entender que, mesmo após o juízo, a dor dos demônios será uma dor da vontade, embora não menor do que a dor das almas condenadas.
"Como se vê, quando falamos do Além, sempre gaguejamos. Sabemos tão pouca coisa que o próprio Santo Tomás nos convida a levar em consideração a revelação privada dos santos. Tinha de formular essa premissa, embora com todas as questões que levanta, para valorizar ao máximo os dados da Revelação e as regras de comportamento que a Revelação nos sugere, sem nos espantar demasiado com o que não conhecemos."
(Padre Gabriele Amorth, Exorcistas e Psiquiatras, 2ª edição, Editora Palavra e prece).
O anjo pode mover-se de um local para outro, embora não esteja, como o corpo, contido em um lugar, num espaço delimitado; é melhor dizer que o anjo que é que o contém, como a alma contém o corpo, e não o contrário (S. Th., I, q.52, a.1).
Uma alma do céu pode aparecer, sim, e Deus pode permitir que uma alma do inferno apareça. Contudo, para tomar a forma de um corpo, seria preciso que o ser tenha poder sobre a matéria (S. Th., I, q.51, a.2), e, nesse caso, só os anjos possuem.
A alma de Samuel apareceu a Saul, e outros santos também apareceram a pessoas vivas
O autor de Eclesiástico diz que foi Samuel quem apareceu naquela sessão de Saul com a necromante (Eclo 46,23).
No entanto, essa espécie de aparições, como a de Samuel, ou como de todas as pessoas que tiveram visões do inferno e das almas que lá estavam, não deveriam ser classificadas propriamente como uma visão, ao pé da letra.
Noutros termos, alguém pode ter uma visão de São Francisco de Assis, porque Deus sabe que tal visão teria um significado para mim... Ele poderia até me dizer algo, mas na verdade não seria a alma dele que teria saído do céu para vir até o nosso mundo conversar com essa pessoa. O sentido é outro: é que Deus concedeu, àquela pessoa, a graça de uma visão espiritual.
Já os anjos, estes sim, podem realmente vir até ao nosso mundo, como foi com Nossa Senhora e com Tobias, por exemplo.
Nossa Senhora não é anjo, e não há nenhum impedimento para que as próprias almas apareçam aos vivos. Mas há um impedimento para que uma alma possua um corpo, já que uma alma separada não é um anjo, e são os anjos que têm poder sobre a matéria, inclusive para tomar a forma de corpos.
Consta, num dos livros da série “Explicação histórica, dogmática, moral, litúrgica e canônica do catecismo”, do Abade Ambrosio Guillois — obra honrada com um Breve do Papa Pio IX —, que os mortos podem voltar do outro mundo e aparecer aos homens. Não há nada nisto, de acordo com o Abade Guillois, que exceda a onipotência de Deus ou repugne à sã razão (Tomo I, págs. 449-450).
Diz Bergier: “Deus pode, decerto, depois que a alma se separa do corpo, fazê-la aparecer de novo; restituir-lhe o mesmo corpo, que anteriormente era o seu, ou atribuir-lhe outro, e repor a pessoa em estado de exercer as mesmas funções que exercia antes da morte. Este meio de instruir os homens [...] é um dos mais admiráveis que Deus possa empregar” (Bergier, Diccion. de theologia, palavra Apparições).
A seguir, o Abade Guillois dá os seguintes exemplos: Moisés e Elias, no monte Tabor; Jeremias aparecendo a Judas Macabeu, acompanhado do santo pontífice Onias, e lhe dando uma espada de ouro; Samuel aparecendo diante de Saul, rei de Israel; e também alguns outros exemplos colhidos da obra de santos e Padres da Igreja.
Os exemplos do Velho Testamento, como Samuel, Jeremias, Onias e Moisés (com exceção de Elias, que se encontra provavelmente transladado para o paraíso terrestre), podem ser justificados pelo fato de que tais almas, até aquele instante, estavam no limbo.
A alma humana não tem nenhum poder sobre a matéria, porque a relação da alma com o corpo é de outra ordem; a alma é a forma do corpo. Se a alma se relacionasse com o corpo da mesma forma que o demônio, seria impossível a possessão (S. Th., I, q.52, a.3).
Não é verdade que a experiência esteja acima da razão. Isso seria empirismo, e leva aos erros do agnosticismo moderno.
As almas dos falecidos não estão na nossa atmosfera tenebrosa; estão no céu ou nos infernos. Os demônios povoam o ar tenebroso. Os santos que defenderam isso têm como base as Escrituras:
"Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares". (Ef 6,12)
O lugar de pena dos demônios até o dia do juízo é o ar (S. Th., I, q.64, a.4) , e sofrem em sua vontade (não nos sentidos, porque não podem sofrer dor sensível), por saberem que a prisão do inferno lhes é destinada (S. Th., I, q.64, a.4, ad.3). Por isso podem infernizar (exercer ação infernal), porque lhes cabe povoar o ar tenebroso, isto é, a atmosfera.
Santo Tomás dá a entender que, mesmo após o juízo, a dor dos demônios será uma dor da vontade, embora não menor do que a dor das almas condenadas.
"Como se vê, quando falamos do Além, sempre gaguejamos. Sabemos tão pouca coisa que o próprio Santo Tomás nos convida a levar em consideração a revelação privada dos santos. Tinha de formular essa premissa, embora com todas as questões que levanta, para valorizar ao máximo os dados da Revelação e as regras de comportamento que a Revelação nos sugere, sem nos espantar demasiado com o que não conhecemos."
(Padre Gabriele Amorth, Exorcistas e Psiquiatras, 2ª edição, Editora Palavra e prece).
O anjo pode mover-se de um local para outro, embora não esteja, como o corpo, contido em um lugar, num espaço delimitado; é melhor dizer que o anjo que é que o contém, como a alma contém o corpo, e não o contrário (S. Th., I, q.52, a.1).
Uma alma do céu pode aparecer, sim, e Deus pode permitir que uma alma do inferno apareça. Contudo, para tomar a forma de um corpo, seria preciso que o ser tenha poder sobre a matéria (S. Th., I, q.51, a.2), e, nesse caso, só os anjos possuem.
A alma de Samuel apareceu a Saul, e outros santos também apareceram a pessoas vivas
O autor de Eclesiástico diz que foi Samuel quem apareceu naquela sessão de Saul com a necromante (Eclo 46,23).
No entanto, essa espécie de aparições, como a de Samuel, ou como de todas as pessoas que tiveram visões do inferno e das almas que lá estavam, não deveriam ser classificadas propriamente como uma visão, ao pé da letra.
Noutros termos, alguém pode ter uma visão de São Francisco de Assis, porque Deus sabe que tal visão teria um significado para mim... Ele poderia até me dizer algo, mas na verdade não seria a alma dele que teria saído do céu para vir até o nosso mundo conversar com essa pessoa. O sentido é outro: é que Deus concedeu, àquela pessoa, a graça de uma visão espiritual.
Já os anjos, estes sim, podem realmente vir até ao nosso mundo, como foi com Nossa Senhora e com Tobias, por exemplo.
Nossa Senhora não é anjo, e não há nenhum impedimento para que as próprias almas apareçam aos vivos. Mas há um impedimento para que uma alma possua um corpo, já que uma alma separada não é um anjo, e são os anjos que têm poder sobre a matéria, inclusive para tomar a forma de corpos.
Consta, num dos livros da série “Explicação histórica, dogmática, moral, litúrgica e canônica do catecismo”, do Abade Ambrosio Guillois — obra honrada com um Breve do Papa Pio IX —, que os mortos podem voltar do outro mundo e aparecer aos homens. Não há nada nisto, de acordo com o Abade Guillois, que exceda a onipotência de Deus ou repugne à sã razão (Tomo I, págs. 449-450).
Diz Bergier: “Deus pode, decerto, depois que a alma se separa do corpo, fazê-la aparecer de novo; restituir-lhe o mesmo corpo, que anteriormente era o seu, ou atribuir-lhe outro, e repor a pessoa em estado de exercer as mesmas funções que exercia antes da morte. Este meio de instruir os homens [...] é um dos mais admiráveis que Deus possa empregar” (Bergier, Diccion. de theologia, palavra Apparições).
A seguir, o Abade Guillois dá os seguintes exemplos: Moisés e Elias, no monte Tabor; Jeremias aparecendo a Judas Macabeu, acompanhado do santo pontífice Onias, e lhe dando uma espada de ouro; Samuel aparecendo diante de Saul, rei de Israel; e também alguns outros exemplos colhidos da obra de santos e Padres da Igreja.
Os exemplos do Velho Testamento, como Samuel, Jeremias, Onias e Moisés (com exceção de Elias, que se encontra provavelmente transladado para o paraíso terrestre), podem ser justificados pelo fato de que tais almas, até aquele instante, estavam no limbo.
A alma humana não tem nenhum poder sobre a matéria, porque a relação da alma com o corpo é de outra ordem; a alma é a forma do corpo. Se a alma se relacionasse com o corpo da mesma forma que o demônio, seria impossível a possessão (S. Th., I, q.52, a.3).
Não é verdade que a experiência esteja acima da razão. Isso seria empirismo, e leva aos erros do agnosticismo moderno.
As almas dos falecidos não estão na nossa atmosfera tenebrosa; estão no céu ou nos infernos. Os demônios povoam o ar tenebroso. Os santos que defenderam isso têm como base as Escrituras:
"Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares". (Ef 6,12)