domingo, 12 de maio de 2013

Questões embaraçosas sobre os réprobos - Objeções à Fé



Nota do blog: Foram introduzidas 
algumas modificações no texto 
para melhor compreensão.




1-             POR QUE NÃO HÁ UMA SEGUNDA ‘OPORTUNIDADE’ PARA OS RÉPROBOS SE CONVERTEREM?


Como explicar a misericórdia de Deus, uma vez que Ele não concede mais uma chance para que os réprobos possam converter-se? Por exemplo, Deus não poderia postergar indefinidamente a morte do pecado, até o momento em que este afinal se converta?
Como se resolve esse aparente impasse?

A duração do Inferno não conhece fim. Longe de ser um fator arbitrário da parte de Deus, a duração incessante do Inferno se apresenta como decorrência lógica da ordem das coisas.

Com efeito, a fé e a razão ensinam que a alma humana, por sua natureza mesma, é imortal. Isto implica que, entrando a alma num estado de castigo após a separação do corpo, este estado será tão duradouro quanto o respectivo sujeito; será, pois, incessante, a menos que a alma mesma, ou o próprio Deus, acarretem mudança em tal situação. Todavia:


a) Por parte do réprobo exclui-se a possibilidade de mudança. A passagem da desgraça do Inferno para a bem-aventurança do Céu supõe que o condenado quisesse deixar de odiar a Deus para amá-Lo. Isto, porém, não se verifica, nem se pode verificar, em absoluto. A alma é dependente do corpo tanto no seu processo intelectivo como no volitivo. É o que faz que somente quando unida ao corpo neste mundo é que a alma possa mudar suas disposições e paixões. O réprobo, embora muito sofra, de modo nenhum quer, nem pode querer (por sua constituição psicológica natural), deixar a causa de seu mal-estar, que é a rebelião contra Deus. De certo modo compraz-se em viver em revolta contra o Soberano Senhor.

Deus, por sua parte, não intervém nesta obstinação, mas respeita-a, já que é a atitude livremente abraçada por uma criatura feita para ser livre. Não força a criatura a participar de uma vida (comunhão com Deus) que ela rejeita. Tal é a atenção que o Criador tributa à livre opção do homem; não o quer rebaixar, tratando-o como máquina ou como criancinha. Constranger a criatura livre seria, sim, propriamente um castigo infligido por Deus, seria ferir a maior dignidade do homem. Ademais, o réprobo não suportaria conviver na sociedade de Deus, não suportaria um colóquio com o Amor, que ele odeia.


b) Da parte de Deus, embora o perdão não seja dado a quem não o queira, poder-se-ia ao menos esperar que o Senhor aniquilasse o réprobo.

Sem dúvida, Deus poderia pôr termo à desgraça do condenado pelo aniquilamento. Todavia isto seria menos condizente com a Sabedoria divina. O Senhor criou o homem para ser, e ser sempresempre feliz).

A modalidade de ser feliz, Deus a entregou à livre opção do homem; este a pode frustrar. Contudo, o bem fundamental que é serexistir, Deus quis tomá-Lo aos Seus exclusivos cuidados; o Criador dá-nos os bens irrevogavelmente; não o retira, mesmo que o homem não cumpra a sua parte, abusando do dom do Benfeitor. O homem existirá sempre, como Deus planejou bondosamente, mesmo que, em conseqüência de uma livre opção sua,  não exista felizE esta existência imortal, ainda que vivida num estado de desgraça, não deixa de ser um bem; continua a representar um valor no conjunto das criaturas, não constitui um absurdo, a tal ponto que deva ser aniquilado. O réprobo, justamente por sua desventura, proclama que Deus é bom; a sua dor provém precisamente do fato de que ele reconhece em Deus a Perfeição Máxima; do seu modo, pois, ela afirma veementemente a grandeza e a Bondade do Criador. Por conseguinte, tem um significado positivo na perspectiva do universo.

É por isto que Deus conserva a existência do réprobo; embora destituída de sentido para o indivíduo, é muito expressiva no conjunto da criação; entra no coro de louvor que todas as criaturas, cada qual na sua modalidade, cantam a Deus; ao passo que os e justos reconhecem a Perfeição Divina e, percebendo-se familiares a ela, se sentem sumamente felizes, os réprobos reconhecem igualmente a Perfeição Divina, mas, percebendo-se incompatibilizados com ela, se sentem sumamente infelizes. Por uma disposição estupenda da Sabedoria, o Inferno representa o modo próprio das criaturas, mesmo rebelando-se contra Deus, realizarem, não obstante, o fim comum preestabelecido a todo ser: proclamar a glória do Criador.

O tempo de conversão, estabelecido por Deus, é o tempo em que cada qual permanece em seu corpo biológico. Esse é o tempo plenamente suficiente. E não existe uma extensão desse tempo, como reencarnação, porque morremos uma só vez, depois da morte vem o Juízo, como está escrito:

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“E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo, (Hebreus 9 ,27)” “Porque teremos de comparecer diante do tribunal de Cristo. Ali cada um receberá o que mereceu, conforme o bem ou o mal que tiver feito enquanto estava no corpo. (II Coríntios 5,10)” 
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Mas o curioso é que o Livre Arbítrio perdura enquanto permanecemos na terra. Quando vivemos mais tempo, atua também durante mais tempo também como aliado da nossa salvação, como observamos na parábola do Senhor:

E dizia esta parábola: Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha, e foi procurar nela fruto, não o achando; disse ao vinhateiro: Eis que há três anos venho procurar fruto nesta figueira, e não o acho. Corta-a; por que ocupa ainda a terra inutilmente? E, respondendo ele, disse-lhe: Senhor, deixa-a este ano, até que eu a escave e a esterque; e se der fruto, ficará e, se não der, depois a mandarás cortar. (Lucas 13,6-9) 

Entretanto, em alguns casos, tempo maior, pode significar perdição, como está escrito:

Com efeito, se aqueles que renunciaram às corrupções do mundo pelo conhecimento de Jesus Cristo nosso Senhor e Salvador, nelas se deixam de novo enredar e vencer, seu último estado torna-se pior do que o primeiro. (II Pedro 2,20) 

Deus quer que sejamos felizes livremente.

A felicidade, Deus a quer para nós, mas devemos escolhê-la; às vezes escolhemos a direção errada (quando rejeitamos Deus), ou seja, a felicidade depende de cada pessoa;

O ser não depende de nós, pois não somos nosso próprio princípio, e é por isso que Deus não vai aniquilar o réprobo.

Também podemos pensar assim: Deus quer que existamos. Se por causa de nossa escolha para o inferno, Deus "mudar" de vontade fazendo que com os réprobos não existam, Deus seria, de certa maneira, vencido por um ato volitivo nosso; isso é impossível.

Muitos se esquecem de que o Inferno tem sentido, não por visar à correção do homem, mas para a proclamação da Perfeição de Deus. Para que o homem moderno admita esta asserção, é preciso que se desembarace do modo de ver antropocêntrico que domina nossa mentalidade e se coloque num ângulo visual teocêntrico. O mundo não foi feito primariamente para promover a felicidade do homem, mas para afirmar a glória de Deus; este é o seu fim principal, que justifica plena e soberanamente a existência de qualquer criatura.

O Senhor, porém (e isto é importante) quis fazer com que a glorificação do Criador incluísse em si a felicidade do homem, caso este aceitasse livremente o plano de Deus. Contudo, mesmo quando não a aceita, o homem nunca deixaa de proclamar a glória de Deus, embora o faça num estado de rebeldia e infelicidade. De fato, a Santidade, o Amor, a Verdade e a Justiça são valores independentes da bem-aventurança particular do homem, embora sejam os constitutivos normais desta bem-aventurança, sempre prontos a promovê-la.

Se alguém em pecado mortal vier a morrer, para que se salve, é preciso que diga a Deus "perdão Senhor", em algum momento antes da sua morte, com arrependimento perfeito na alma (pesar profundo de ter ofendido a Deus por ser Deus quem é, ou seja, sumamente bom e amável e digno de ser amado sobre todas as coisas).

Às vezes, quando se prolonga a vida, as chances de o pecador empedernido se converter serão muito menores. Na verdade, quanto mais tempo ele viver no pecado, mais difícil será a sua conversão.

É preciso lembrar que o Cristianismo — ao contrário, por exemplo, do que afirma o espiritismo — no ensina: sem as boas obras ninguém se salva, mas, além de praticá-las, é necessário exercer o nosso livre arbítrio, isto é, escolhermos fazer tudo por amor a Deus.

Esta escolha, nós fazemos através das nossas obras, no dia a dia, mas também pode manifestar-se — embora seja raro — num arrependimento completo, a exemplo do "bom ladrão", que estava ao lado de Jesus na cruz.

A contrição do coração é a peça chave. Certa vez um bandido colocou uma arma engatilhada em minha cabeça, lembrei que não estava em estado de graça e, de maneira automática, disse:

- Nossa Senhora da Boa Morte, rogai por nós.

Isso pode ter sido um ato de contrição perfeita, não pelo ato em si (que é bem diferente dos exemplos de ato de contrição que os catecismos apresentam), mas por representar a contrição interna, aquela que parte do coração.

A contrição deve ter como objeto o arrependimento dos pecados, seja por amor a Deus (perfeita), seja por medo do Inferno ou outro motivo (imperfeita ou atrição). No caso de um arrependimento para poder receber a Eucaristia (uma vergonha do pecado), considero que tal contrição foi imperfeita e, dentro do sacramento da Penitência, ela já atende aos requisitos para o perdão. Todavia, se não houve detestação dos pecados cometidos, mas uma mera confissão dos pecados por causa da vontade comungar, a pessoa não está perdoada (falta um dos elementos essenciais do sacramento da Penitência); sendo assim, não pode comungar.

Contrição é uma dor interior e detestação do pecado que se cometeu, com o propósito de não mais pecar no futuro.

Por esta definição vemos que a contrição abrange dois elementos:

a) um sentimento da alma;

b) um ato de vontade.

O primeiro elemento diz respeito ao passado: considera o homem culpado, a sua falta; vê quanto contraria e injuria a bondade divina; vê quanto é feia e horrenda intrinsecamente; vê quantos castigos espantosos provoca. E fica profundamente aflito. Mas, vale notar, tal dor não tem de ser necessariamente externada por um padecimento sensível.

O segundo elemento diz respeito ao porvir. A coerência e a lógica mandam que tomemos resoluções para o futuro. Não detestaria seu pecado quem estivesse pronto a cometê-lo de novo (o que é diferente de dizer que, de um ponto de vista natural, saiba que, infelizmente, é provável volte a pecar no futuro).

Visto isso a respeito dos réprobos, alguém pode ainda perguntar: por que criou Deus tais indivíduos que Ele sabia haveriam de se condenar?

Deus quis criar seres mais dignos do que os irracionais; quis, portanto, que houvesse também criaturas inteligentes e livres, os mais fiéis reflexos da Perfeição Divina. Este ato magnânimo da bondade divina implicava naturalmente um grande “risco”: dar a liberdade de arbítrio a seres limitados era “sujeitar-se” a ver o livre arbítrio empregado com deficiência, isto é, para a prática do mal. De fato, é o que mais ocorre no decorrer da História... A rigor, Deus poderia impedir que esse risco existisse, não permitindo, por exemplo, que o “poder agir mal” se tornasse uma realidade.

Se o impedisse, porém, faria obra menos digna da bondade divina, já que estaria mutilando um dom outorgado. Com efeito, é harmonioso que cada uma das naturezas criadas, no Universo, atue e desdobre todas as suas potencialidades; por conseguinte, é conveniente que, no plano da natureza humana, onde há seres livres, capazes de optar ou pelo bem ou pelo mal, alguns, de fato, optem pelo bem, outros pelo mal. Dito em outras palavras: pertence à ordem normal das coisas que, ao lado dos santos, bons administradores dos dons de Deus, haja indivíduos deficientes, maus dispensadores do seu livre arbítrio.

E Deus, na obra da criação, quis fazer justamente o normal, não o anormal. Eis porque não criou unicamente indivíduos que se salvassem; teria como que mutilado a natureza humana considerada no conjunto de suas potencialidades. Mais uma vez: tudo isso só pode ser entendido numa perspectiva teocêntrica.




*** * ***




2- Os réprobos podem nos infernizar como os demônios?




Tanto Pe. Gabriele Amorth como o Pe. J.A. Fortea respondem pela afirmativa: sim, têm o poder de infestar.

O lugar de pena dos demônios até o dia do juízo é o ar (S. Th., I, q.64, a.4) , e sofrem em sua vontade (não nos sentidos, porque não podem sofrer dor sensível), por saberem que a prisão do inferno lhes é destinada (S. Th., I, q.64, a.4, ad.3). Por isso podem infernizar (exercer ação infernal), porque lhes cabe povoar o ar tenebroso, isto é, a atmosfera.

Santo Tomás dá a entender que, mesmo após o juízo, a dor dos demônios será uma dor da vontade, embora não menor do que a dor das almas condenadas.

"Como se vê, quando falamos do Além, sempre gaguejamos. Sabemos tão pouca coisa que o próprio Santo Tomás nos convida a levar em consideração a revelação privada dos santos. Tinha de formular essa premissa, embora com todas as questões que levanta, para valorizar ao máximo os dados da Revelação e as regras de comportamento que a Revelação nos sugere, sem nos espantar demasiado com o que não conhecemos."

(Padre Gabriele Amorth, Exorcistas e Psiquiatras, 2ª  edição, Editora Palavra e prece).

O anjo pode mover-se de um local para outro, embora não esteja, como o corpo, contido em um lugar, num espaço delimitado; é melhor dizer que o anjo que é que o contém, como a alma contém o corpo, e não o contrário (S. Th., I, q.52, a.1).

Uma alma do céu pode aparecer, sim, e Deus pode permitir que uma alma do inferno apareça. Contudo, para tomar a forma de um corpo, seria preciso que o ser tenha poder sobre a matéria (S. Th., I, q.51, a.2), e, nesse caso, só os anjos possuem.

A alma de Samuel apareceu a Saul, e outros santos também apareceram a pessoas vivas

O autor de Eclesiástico diz que foi Samuel quem apareceu naquela sessão de Saul com a necromante (Eclo 46,23).

No entanto, essa espécie de aparições, como a de Samuel, ou como de todas as pessoas que tiveram visões do inferno e das almas que lá estavam, não deveriam ser classificadas propriamente como uma visão, ao pé da letra.

Noutros termos, alguém pode ter uma visão de São Francisco de Assis, porque Deus sabe que tal visão teria um significado para mim... Ele poderia até me dizer algo, mas na verdade não seria a alma dele que teria saído do céu para vir até o nosso mundo conversar com essa pessoa. O sentido é outro: é que Deus concedeu, àquela pessoa, a graça de uma visão espiritual.

Já os anjos, estes sim, podem realmente vir até ao nosso mundo, como foi com Nossa Senhora e com Tobias, por exemplo.

Nossa Senhora não é anjo, e não há nenhum impedimento para que as próprias almas apareçam aos vivos. Mas há um impedimento para que uma alma possua um corpo, já que uma alma separada não é um anjo, e são os anjos que têm poder sobre a matéria, inclusive para tomar a forma de corpos.

Consta, num dos livros da série “Explicação histórica, dogmática, moral, litúrgica e canônica do catecismo”, do Abade Ambrosio Guillois — obra honrada com um Breve do Papa Pio IX —, que os mortos podem voltar do outro mundo e aparecer aos homens. Não há nada nisto, de acordo com o Abade Guillois, que exceda a onipotência de Deus ou repugne à sã razão (Tomo I, págs. 449-450).

Diz Bergier: “Deus pode, decerto, depois que a alma se separa do corpo, fazê-la aparecer de novo; restituir-lhe o mesmo corpo, que anteriormente era o seu, ou atribuir-lhe outro, e repor a pessoa em estado de exercer as mesmas funções que exercia antes da morte. Este meio de instruir os homens [...] é um dos mais admiráveis que Deus possa empregar” (Bergier, Diccion. de theologia, palavra Apparições).

A seguir, o Abade Guillois dá os seguintes exemplos: Moisés e Elias, no monte Tabor; Jeremias aparecendo a Judas Macabeu, acompanhado do santo pontífice Onias, e lhe dando uma espada de ouro; Samuel aparecendo diante de Saul, rei de Israel; e também alguns outros exemplos colhidos da obra de santos e Padres da Igreja.

Os exemplos do Velho Testamento, como Samuel, Jeremias, Onias e Moisés (com exceção de Elias, que se encontra provavelmente transladado para o paraíso terrestre), podem ser justificados pelo fato de que tais almas, até aquele instante, estavam no limbo.

A alma humana não tem nenhum poder sobre a matéria, porque a relação da alma com o corpo é de outra ordem; a alma é a forma do corpo. Se a alma se relacionasse com o corpo da mesma forma que o demônio, seria impossível a possessão (S. Th., I, q.52, a.3).

Não é verdade que a experiência esteja acima da razão. Isso seria empirismo, e leva aos erros do agnosticismo moderno.

As almas dos falecidos não estão na nossa atmosfera tenebrosa; estão no céu ou nos infernos. Os demônios povoam o ar tenebroso. Os santos que defenderam isso têm como base as Escrituras:

"Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares". (Ef 6,12)

QUE SE OUÇA TAMBÉM A OUTRA PARTE...



O princípio do contraditório e da ampla defesa está consubstanciado na máxima AUDIATUR ET ALTERA PARS (‘QUE SE OUÇA TAMBÉM A OUTRA PARTE...’).
Seguem depoimentos que permitem ao leitor formar um quadro de conjunto a respeito do melindroso assunto.


‘A impressão, pelo relato, é de que aquilo deve ter sido um calvário tão doloroso que valeria uma nota preta hoje, os beneficiados com as indenizações da Comissão da Anistia sabem do que eu estou falando’.


SOBRE A ‘COMISSÃO DA VERDADE..’


A Verdade - Eu Menti



Eu, de minha parte, vou dar uma contribuição à Comissão da Verdade, e contar tudo: eu era uma subversivazinha medíocre e, tão logo fui aliciada, já “caí” (jargão entre militantes para quem foi preso), com as mãos cheias de material comprometedor.

Despreparada e “festiva”, eu não tivera nem o cuidado de esconder os exemplares d'A Classe Operária, o jornal da organização clandestina a que eu pertencia (a AP-ML, ala vermelha maoísta do PC do B, a mesma que fazia a Guerrilha do Araguaia, no Pará).

Os jornais estavam enfiados no meio dos meus livros numa estante, daquelas improvisadas, de tijolos e tábuas, que existiam em todas as repúblicas de estudantes, em Brasília naquele ano de 1973.

Já relatei o que eu fazia como militante http://bit.ly/vNUwyb (texto reproduzido abaixo). Quase nada. A minha verdadeira ação revolucionária foi outra, esta sim, competente, profícua, sistemática: MENTI DESCARADAMENTE DURANTE QUASE 40 ANOS!* (O primeiro texto fala em 30 anos. Eu fui fazer as contas, são quase 40 anos, desde que comecei a mentir sobre os “maus tratos”. Façam as contas, fui presa em 20 de junho de 73. Em 2013, terão se passado 40 anos.)

Repeti e escrevi a mentira de que eu tinha tomado choques elétricos (por pudor, limitei-me a dizer que foram poucos, é verdade), que me interrogaram com luzes fortes, que me ameaçaram de estupro quando voltava à noite dos interrogatórios no DOI-CODI para o PIC e que eu passava noites ouvindo “gritos assombrosos” de outros presos sendo torturados (aconteceu uma única vez, por um curto período de tempo: ouvi gritos e alguém me disse que era minha irmã sendo torturada. Os gritos cessaram – achei, depois, que fosse gravação – e minha irmã, que também tinha sido presa, não teve um único fio de cabelo tocado).

Eu também menti dizendo que meus “algozes”, diversas vezes, se divertiam jogando-me escada abaixo, e, quando eu achava que ia rolar pelos degraus, alguém me amparava (inventei um “trauma de escadas”, imagina). A verdade: certa vez, ao descer as escadas até a garagem no subsolo do Ministério do Exército, na Esplanada dos Ministérios, onde éramos interrogados, alguém me desequilibrou e outro me segurou, antes que eu caísse.

Quanto aos “socos e empurrões”, de que eu dizia ter sido alvo durante os dias de prisão, não houve violência que chegasse a machucar; nada mais que um gesto irritado de qualquer dos “inquisidores”; afinal, eu os levava à loucura, com meu “enrolation”. Sou rápida no raciocínio, sei manipular as palavras, domino a arte de florear o discurso. Um deles repetia sempre: “Você é muito inteligente. Já contou o pré-primário. Agora, senta e escreve o resto”.

Quem, durante todos esses anos, tenha me ouvido relatar aqueles dias em que estive presa, tinha o dever de carimbar a minha testa com a marca de “vítima da repressão”. A impressão, pelo relato, é de que aquilo deve ter sido um calvário tão doloroso que valeria uma nota preta hoje, os beneficiados com as indenizações da Comissão da Anistia sabem do que eu estou falando. Havia, sim, ameaças, gritos, interrogatórios intermináveis e, principalmente, muito medo (meu, claro).

Ma va! Torturada?! Eu?! As palmadas que dei em meus filhos podem ser consideradas “tortura inumana” se comparadas ao que (não) sofri nas mãos dos agentes do DOI-CODI.

Que teve gente que padeceu, é claro que teve. Mas alguém acha que todos nós que saíamos da cadeia contando que tínhamos sido “barbaramente torturados”, falávamos a verdade?

Não, não é verdade. A maioria destas “barbaridades e torturas” era pura mentira! Por Deus, nós sabemos disto! Ninguém apresentava a marca de um beliscão no corpo. Éramos “barbaramente torturados” e ninguém tinha uma única mancha roxa para mostrar! Sei, técnica de torturadores. Não, técnica de “torturado”, ou seja, mentira. Mário Lago, comunista até a morte, ensinava: “quando sair da cadeia, diga que foi torturado. Sempre”.

Na verdade, a pior coisa que podia nos acontecer naqueles “anos de chumbo” era não ser preso (sic). Como assim, todo mundo ia preso e nós não? Ser preso dava currículo, demonstrava que éramos da pesada, revolucionários perigosos, ameaça ao regime, comunistas de verdade! Sair dizendo que tínhamos apanhado, então! Mártires, heróis, cabras bons.

Vaidade e mau-caratismo puros, só isto. Nós saíamos com a aura de heróis e a ditadura com a marca da violência e arbítrio. Era mentira? Era, mas, para um revolucionário comunista, a verdade é um conceito burguês, Lênin já tinha nos ensinado o que fazer.

E o que era melhor: dizer que tínhamos sido torturados escondia as patifarias e “amarelões” que nos acometiam, quando ficávamos cara a cara com os "ômi". Com esta raia miúda que nós éramos, não precisava bater. Era só ameaçar, a gente abria o bico rapidinho.

Quando um dia, durante um interrogatório, perguntaram-me se eu queria conhecer a “Marieta”, pensei que fosse uma torturadora braba. Mas era choque elétrico (parece que “Marieta” era uma corruptela de “maritaca”, nome que se dava à maquininha usada para dar choque elétrico). Eu não a quis conhecer. Abri o bico, de novo.

Relembrar estes fatos está sendo frutífero. Criei coragem e comecei a ler um livro que tenho desde 2009 (é mais um que eu ainda não tinha lido): "A Verdade Sufocada – A história que a esquerda não quer que o Brasil conheça", escrito pelo coronel Carlos Alberto Brilhante Ulstra. Editora Ser, publicado em 2007. Serão quase 600 páginas de “verdade sufocada”?
Vou conferir.



 *** * ***




Honestino Guimarães(*), o “democrata”




Meu compromisso é com a verdade, eu não discuto com a realidade, eu a aceito assim como ela se me apresenta. As coisas são como são. Vou contar uma experiência pessoal, com a ressalva de que eu era uma “inocente inútil”, sem qualquer importância como quadro revolucionário.

Eu fui presa em junho de 1973, em Brasília, numa operação-arrastão em que foram presas cerca de 150 pessoas, pouco antes da prisão de Honestino Guimarães (ele foi visto pela última vez, em setembro daquele ano). Eu fazia parte de uma célula da Ação Popular Marxista Leninista – APML – a mesma organização de Honestino. Na verdade, eu nem sabia direito a que eu estava ligada, o “segredo” fazia parte das normas da casa. Se alguém caíssse...

Já no colegial (no meu tempo, chamava-se “científico”), eu tinha sido seduzida pela “revolução socialista”. Uma colega de minha irmã tinha amigos que eram presos políticos, gente que tinha participado da luta armada desde o final dos anos 60. Revolucionários de fibra, a quem a tortura não tinha quebrado o ânimo de implantar no Brasil a ditadura do proletariado. A palavra mágica não era “ditadura”, claro. Era “proletariado”!

Quando entrei na Universidade de Brasília, em 72, eu estava pronta, era só aliciar. E fui imediatamente aliciada. Durante alguns meses, eu recebi aulas de doutrinação marxista em reuniões com militantes da organização que eram meus colegas na Universidade de Brasília, em casa ou no campus da UnB. Outras reuniões, poucas, eram secretas, cercadas de rigorosas normas de segurança: tinha de trocar de táxi várias vezes, ninguém sabia ou pronunciava o nome de ninguém, eu não contava nem para o namorado ou gente da família o que fazia.

Com 19 anos, participar da “revolução” era o máximo. Passada a fase de aliciamento e doutrinação, eu já estava sendo preparada para a “práxis”: tinha sido escalada para trabalhos com a “massa”, na periferia do Distrito Federal, mas fui presa antes, graças a Deus (sic).

Eu cheguei a visitar um tal de “círculo operário”, em Taguatinga, nos arredores de Brasília. Até estranhei, o lugar mais parecia uma associação comunitária assistencial, acho que estavam testando a minha disposição de “ir à luta”.

As análises do “momento histórico” nessas reuniões tinham enfoque nitidamente revolucionário. A proposta era de destruição do Estado burguês capitalista, instalação da ditadura do proletariado/ campesinato (a APML era maoísta) e nenhuma negociação com a velha ordem burguesa.

Usar os instrumentos da democracia, como eleições, liberdade de imprensa, aparato jurídico, habeas corpus, etc. – para permitir e acelerar a tomada do poder para a implantação do comunismo – era um dever do militante revolucionário.

Marx e Lênin nos explicavam que “liberdades democráticas” eram apenas instrumentos da burguesia para oprimir o verdadeiro sujeito da História: o povo trabalhador. (Comunismo democrático é contradição em termos, todos sabemos).

A instalação de uma ditadura comunista era a proposta de todos os grupos de luta armada no Brasil, àquela altura. E também de grande parte da esquerda não engajada diretamente nas organizações. Admitamos e confessemos: todos nós sonhávamos com o comunismo. A fórmula é esta: a vanguarda revolucionária luta para tomar o poder, que será concentrado em suas mãos para que ela faça as modificações que achar necessárias à transformação radical da vida humana e do mundo. E, por lutar para concretizar tão nobre (e hipotético) futuro, o revolucionário está acima de qualquer julgamento da espécie humana. No final, a História o absolverá.

Esta é a essência da mentalidade revolucionária até hoje. Esta é a verdadeira ideologia que a organização a que pertencia Honestino Guimarães professava. Não sou eu que quero assim. É assim, foi assim. As provas documentais de que esta é a verdade estão à disposição de quantos queiram conhecê-la(s). Existem dezenas de páginas só de fontes primárias sobre o assunto.

Se Honestino Guimarães é herói de tantos que o cultuam como “o mártir que a ditadura militar assassinou”, nada tenho a ver com escolhas pessoais. O meu assunto é outro. Eu estou interessada na verdade.

Repito: é inegociável a condenação incondicional da tortura, da violência e do desrespeito aos direitos humanos de militantes da esquerda. O Estado não pode torturar, matar e desaparecer com um único cidadão.

(*) http://bit.ly/i98cJC 

Observações

1)   Fonte: O Blog da autora: http://blogdemirianmacedo.blogspot.com


 
2) A autora é Jornalista.
3) As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores e não representam, necessariamente, o pensamento da Academia Brasileira de Defesa. 





*** * ***


Comissão da inverdade
Jair Bolsonaro


É notório que a esquerda quer passar para a história como a grande vítima que lutou pelo Estado democrático atual, invertendo o papel dos militares


Os militares só conseguem manter a hierarquia e a disciplina porque a verdade está para eles como a fé está para os cristãos.

A mentira e a traição fazem parte da vida política brasileira, em que os vitoriosos se intitulam espertos, pois, afinal, dessa forma estarão sempre no poder.

A esquerda no Brasil chegou ao poder pelo voto, graças aos militares que impediram em 1964 a implantação de uma ditadura do proletariado. Os perdedores, nos anos subsequentes, financiados pelo ditador Fidel Castro, partiram para a luta armada, aterrorizando a todos com suas ações, que ainda fazem inveja ao crime dito organizado dos dias atuais.

Foram 20 anos de ordem e de progresso. Os guerrilheiros do Araguaia foram vencidos, evitando-se que hoje, a exemplo da Colômbia, tivéssemos organizações como as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) atuando no coração do Brasil.

O nosso povo vivenciou sequestros de autoridades estrangeiras e de avião, dezenas de justiçamentos, tortura, execuções como a do adido inglês e a do tenente da Força Pública de São Paulo no Vale do Ribeira, bombas no aeroporto de Recife e carro-bomba no QG do 1º Exército, respectivamente com mortes de um almirante e de um recruta, latrocínios, roubos etc.

O regime, dito de força, negociou e foi além das expectativas dos derrotados ao propor anistia até mesmo para crimes de terrorismo praticados pela esquerda. Agora, no poder, eles querem escrever a história sob sua ótica, de olhos vendados para a verdade.

Projeto do Executivo, ora em tramitação na Câmara, cria a dita Comissão da Verdade, composta por sete membros, todos a serem indicados pela presidente da República, logo ela, uma das atrizes principais dos grupos armados daquele período, que, inclusive, foi saudada pelo, então, demissionário ministro José Dirceu, como "companheira em armas".

Ninguém pode acreditar na imparcialidade dessa comissão, que não admite a participação de integrantes dos Clubes Naval, Militar e de Aeronáutica. Essa é a democracia dos "companheiros".

Ainda pelo projeto, apurar-se-iam apenas crimes de tortura, mortes, desaparecimentos forçados e ocultação de cadáveres, não tratando de sequestros, atentados a bomba, latrocínios, recebimento de moeda estrangeira de Cuba, sequestro de avião e justiciamentos.

É notório que a esquerda quer passar para a história como a grande vítima que lutou pelo Estado democrático atual, invertendo completamente o papel dos militares, que, em 1964, por exigência da imprensa, da Igreja Católica, de empresários, de agricultores e de mulheres nas ruas, intervieram para que nosso país não se transformasse, à época, em mais um satélite da União Soviética.

Os militares sempre estiveram prontos para quaisquer chamamentos da nação, quando ameaçada, e, se a verdade real é o que eles querem, as Forças Armadas não se furtarão, mais uma vez, a apoiar a democracia.

Se hoje nos acusam de graves violações de direitos humanos no passado, por que não começarmos a apurar os fatos que levaram ao sequestro, à tortura e à execução do então prefeito Celso Daniel em Santo André? Ou será que, pela causa, tudo continua sendo válido, até mesmo não extraditar o assassino italiano Cesare Battisti, por temer o que ele possa revelar sobre seu passado com terroristas brasileiros hoje no poder?

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