sábado, 24 de agosto de 2013

Globo faz apologia do aborto em novela



A TV Globo mais uma vez usa de engenharia social para mudar a opinião dos brasileiros.

No capítulo exibido no dia 23 de Agosto de 2013, a personagem Pércio (Mouhamed Harfouch) se recusa a socorrer uma paciente a beira da morte, por esta ter abortado.

Repetidas vezes é dito durante a cena que milhares de mulheres pobres morrem vitimas de abortos mal feitos, enquanto mulheres ricas tem a comodidade de matar seus filhos com segurança.

Sem escandalizar pelo assassinato (aborto), mas apenas pela má conduta religiosa e pela falta de aborto "seguros", a novela da enfase durante toda a cena de como seria a postura correta, ou seja, lutar contra a "hipocrisia religiosa" e liberar o aborto como politica pública.

Fonte: Santa Igreja

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Desertores norte-coreanos relatam à ONU horrores de campos de detenção


Descrição: Descrição: Shin Dong-hyukresponde a perguntas durante audiência de comissão da ONU, em Seul Foto: Reuters
Shin Dong-hyuk responde a perguntas durante audiência de comissão da ONU, em Seul Foto: Reuters    

     
Execuções públicas e torturas são ocorrências cotidianas nas prisões da Coreia do Norte, segundo o dramático testemunho de ex-detentos a uma comissão de inquérito da ONU que começou a funcionar nesta terça-feira em Seul.
Essa é a primeira vez que a situação dos direitos humanos na Coreia do Norte é examinada por uma comissão de especialistas, embora o regime comunista norte-coreano não reconheça a legitimidade da comissão e não tenha autorizado visitas dos investigadores.
Desertores hoje radicados na Coreia do Sul fizeram horripilantes relatos sobre como os guardas cortaram o dedo de um homem, forçavam presos a comerem sapos, e obrigaram uma mãe a matar seu próprio bebê.
"Não fazia nem ideia, achava que minha mão inteira seria decepada no pulso, então fiquei grato por ter só meu dedo arrancado", disse Shin Dong-hyuk, punido por deixar cair uma máquina de costura.
Nascido em uma prisão chamada Campo 14 e obrigado a assistir à execução da sua mãe e do seu irmão, que ele entregou para garantir sua própria sobrevivência, Shin é o mais conhecido desertor e sobrevivente de prisões da Coreia do Norte. Ele disse considerar que a comissão da ONU é a única forma de melhorar a situação dos direitos humanos no seu miserável e isolado país natal.
"Uma vez que o povo norte-coreano não pode pegar em armas como na Líbia e na Síria, eu pessoalmente acho que essa é a primeira e última esperança que resta", disse Shin. "Há muito para eles acobertarem, embora eles não admitam nada."
Estimativas independentes apontam para 150 a 200 mil pessoas detidas nos campos prisionais norte-coreanos, e desertores dizem que os presos ficam desnutridos e trabalham até morrer.
Jee Heon-a, 34 anos, contou à comissão que desde o primeiro dia de prisão, em 1999, percebeu que sapos salgados eram um dos poucos alimentos disponíveis. "Os olhos de todos estavam afundados. Todos pareciam animais. Os sapos eram pendurados em botões nas suas roupas, colocados em um saco plástico e tinham a pele arrancada, disse ela. "Eles comiam sapos salgados, então comi também."
Em voz baixa, ela suspirou profundamente ao contar em detalhes como uma mãe teve de matar seu bebê. "Era a primeira vez que eu via um recém-nascido, e fiquei feliz. Mas de repente houve passos, e um guarda de segurança chegou e disse à mãe para virar o bebê de cabeça para baixo em uma vasilha com água", contou a mulher.
"A mãe implorou ao guarda para poupá-la, mas ele continuou batendo nela. Então a mãe, com as mãos trêmulas, pôs o rosto do bebê na água. O choro parou, e uma bolha subiu quando ele morreu. Uma avó que havia entregado o bebê discretamente o levou embora."
Poucos especialistas esperam que a comissão tenha um impacto imediato sobre a situação dos direitos humanos, mas ela servirá para divulgar uma campanha que tem pouca visibilidade global.
"A ONU já tentou de várias formas pressionar a Coreia do Norte ao longo dos anos no campo dos direitos humanos, e essa é uma forma de intensificar um pouco a pressão", disse Bill Schabas, professor de direito internacional na Universidade de Middlesex, na Grã-Bretanha. "Mas é óbvio que a Coreia do Norte é um osso duro de roer, e os meios da ONU são limitados. Haveria a necessidade de profundas mudanças políticas na Coreia do Norte para que houvesse avanços no campo dos direitos humanos."


Fonte: TERRA

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Uma questão de bom senso



Monsenhor de Ségur



Fora em 1837. Dois jovens subtenentes, recém-saídos de Saint-Cyr, visitavam os monumentos e curiosidades de Paris. Entraram na igreja da Assunção, perto de Tulherias, e puseram-se a observar os quadros, as pinturas e demais detalhes artísticos da bela rotunda. Não pensavam em rezar, de modo algum.



Próximo ao confessionário, um deles notara um jovem padre de sobrepeliz, adorando o Santíssimo Sacramento. 

“Vê bem este padre, disse a seu camarada; dir-se-ia que espera alguém. 

– Talvez a ti, respondera o outro. 

– A mim! E por que tal?

– Quem sabe? Para confessar-te, talvez. 

– Confessar-me! Pois bem, queres apostar que vou para lá? 

– Tu? Ir confessar? Bah!” E puseram-se a rir, sacudindo as espáduas.

“Que queres tu apostar? retorquiu o jovem oficial, com aspecto fanfarrão e decidido. Apostemos um jantar, com direito a champanha espumante. – Vá para comer e beber. Eu te desafio de entrar naquela caixa.”

Acabara de dizer isso quando o outro, dirigindo-se ao jovem padre, sussurra algo em sua orelha; ele levantou-se, entrou no confessionário, enquanto o penitente improvisado lançava ao camarada um olhar triunfante e se ajoelhava, como se fosse confessar. 

“Esse aí é atrevido!”, murmurou o outro; e sentou-se para assistir ao que ia acontecer.

Esperara cinco minutos, dez, quinze. “Que ele está fazendo? perguntava-se com leve e impaciente curiosidade. Que poderia ele ainda estar falando depois desse tempo todo?”

Finalmente, abriu-se o confessionário: o padre saiu, animado o rosto e grave; depois de saudar o jovem militar, entrara na sacristia. A seu turno, levantou-se o oficial, vermelho como um camarão, cofiando o bigode com 
aparência um tanto conturbada; fez sinal para que o amigo o seguisse, para saírem da igreja.

“Pois então, disse o amigo, que foi que te aconteceu? Saibas que ficaste lá cerca de vinte minutos com o padre. Por um instante pensei que fosses te confessar à vera, é sério. De qualquer modo, ganhaste o jantar. Queres para esta noite? 

– Não, respondeu o outro com mau humor; não, hoje não. Vamos ver um outro dia. Tenho mais que fazer; tenho de ir agora.” Apertando a mão do companheiro, afastou-se bruscamente, com aspecto perturbado.

Que se passou, de fato, entre o subtenente e o confessor? Eis aqui:
Mal abrira o padre a rótula do confessionário, percebera pelo tom do jovem que se tratava duma brincadeira. Este fora impertinente até ao ponto de dizer, ao encerrar uma frase qualquer: “Eu faço pouco da religião e da confissão!”.

O padre era homem espirituoso. “Parai um pouco, meu caro senhor, lhe disse interrompendo-o com candura; bem vejo que não estais a levar a sério. Deixemos a confissão um pouco de lado e, se quiserdes, conversemos um instante. Gosto muito de militares. E além disso, me pareces tu um rapaz bom e afável. Dizei-me, qual é vossa patente?”

O oficial começava a pensar que cometera uma estupidez. Contente de encontrar um meio de se livrar da situação, respondeu educadamente: 

“Sou um mero subtenente. Acabo de sair de Saint-Cyr. 

– Subtenente? Permanecereis muito tempo como subtenente? 

– Não sei direito; uns dois, três anos, talvez quatro. 

– E depois? 

– Depois? Passarei para tenente? 

– E depois? 

– Depois? Serei capitão. 

– Capitão? A que idade um pessoa pode ser capitão? 

– Se eu tiver sorte, disse o outro sorrindo, serei capitão com vinte oito ou vinte nove anos. 
– E depois? 

– Oh, aí é difícil; a pessoa permanece muito tempo como capitão. Depois, passa-se a chefe de batalhão, a tenente-coronel, e depois, coronel. 

– Pois bem, eis aí vós coronel, com quarenta, quarenta e dois anos. E depois disso? 

– Depois? Tornar-me-ei general de brigada, e aí general de divisão. 

- E depois? 

E depois? - Só fica faltando um galão para marechal. Mas minhas pretensões não chegam a tal. 

– Seja; mas não pretendeis vos casar? 

– Claro, claro. Quando for oficial superior. 

– Pois bem, eis-vos casado, oficial superior, general, general de divisão, quem sabe até mesmo marechal de França. E depois, senhor? acrescentou o padre com autoridade. 

– Depois? Depois? replicou o oficial um tanto intrigado. Oh, minha nossa, não sei o que virá depois.”

“Vede como é curioso, disse o padre com um tom cada vez mais grave. Sabeis tudo o que se passará até aí, mas não o que virá depois. Contudo, eu o sei, e vou dizer-vos. Depois, senhor, depois o senhor morrerá. Depois da vossa morte, comparecereis diante de Deus, e sereis julgado. E a continuar a fazer o que fazeis, sereis condenado e queimareis eternamente no inferno. Eis o que vai acontecer depois!”

Como o jovem estivesse confuso e aborrecido deste final, parecia esquivar-se: “Um momento, senhor! acrescentara o padre. Tenho ainda algo a vos dizer. Tendes honra, não é verdade? Pois então, também eu. Zombastes de mim gravemente; me deveis uma reparação. Peço-vo-la, e exijo-a, em nome da honra. Ademais, será bem simples. Vais me dar a palavra de que, durante oito dias, todas as noites antes de se deitar, vos poreis de joelhos e direis em alta voz: “Um dia, morrerei; mas eu não me importo. Depois de meu julgamento, serei condenado; mas eu não me importo. Irei queimar eternamente no inferno; mas eu não me importo.” É só isso. Mas me dareis a palavra de honra de não faltar ao dever, não é?

Cada vez mais aborrecido, querendo a todo custo sair da enrascada, o subtenente prometeu tudo; o bom padre despedira-o com bondade, falando ainda: “Escusado dizer, meu bom amigo, que vos perdôo de coração. Ainda que de mim não tivesses necessidade, sempre me encontraríeis aqui a postos. Somente não vos esqueceis da palavra dada.” Mais a frente, despediram-se, como já víramos. 

O jovem oficial jantou sozinho. Estava claramente envergonhado. À noite, no momento de se deitar, hesitou um pouco; mas dera a palavra, e executara-se:

“Eu morrerei, serei julgado, irei talvez para o inferno...”. Não teve coragem de acrescentar: “Eu não me importo.”

Ainda se passaram alguns dias assim. Sua “penitência” retornava-lhe ao espírito sem cessar, parecia-lhe tinir aos ouvidos. No fundo, como noventa e nove por cento dos jovens, ele era mais confuso que mau. Não havia terminado a oitava, e lá estava ele de volta, desta vez só, na igreja da Assunção, confessando-se de boa vontade; saiu do confessionário com o rosto banhado em lágrimas e alegria no coração.

Desde então, tornou-se, como me asseguraram, um digno e fervoroso cristão.

Fora a meditação sobre o inferno que, com a graça de Deus, operou a metamorfose. Ora, se ela mudara a alma do jovem oficial, por que não mudaria a vossa, amigo leitor? É preciso refletir com sinceridade.
É preciso refletir: é uma questão pessoal - como se não fosse - e, acrediteis, terribilíssima. Ela se impõe a cada um de nós, e, de bom ou mau-grado, forçoso é uma solução positiva.


Iremos, se vós o quiserdes, examinar juntos, breve mas cuidadosamente, duas coisas: 1º se de fato existe um inferno e, 2º que é o inferno.

Aqui faço apelo tão-só à vossa boa fé e a vossa fé

Sancte Michael Archangele, defende nos in prælio; contra nequitiam et insidias diaboli esto præsidium.Imperet illi Deus, supplices deprecamur: tuque, Princeps militiæ cælestis, Satanam aliosque spiritus malignos, qui ad perditionem animarum pervagantur in mundo, divina virtute in infernum detrude. Amen


PRÓLOGO do Livro: O Inferno, de Monsenhor de Ségur.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Pecados Capitais



Imagem: unfils


A. Boulenger

(Doutrina Católica – Manual de Instrução Religiosa – 2ª Parte - Moral)


Vocábulos


1º. Pecados capitais. 1º. O termo pecado tem, nesta lição, duplo sentido. Significa: a) vício, quando se consideram a soberba, a avareza, a luxúria, etc., como maus hábitos que levam ao pecado; b) pecado atual, quando se trata de um ato transitório, seja ele causado por uma disposição habitual ou não. Assim muitos cometerão o pecado de orgulho, sem ter o vício de soberba.



2º. Capitais (do latim "caput": cabeça, fonte). De acordo com a própria etimologia da palavra, esses pecados tem tal nome: a) porque podem ser pecados gravíssimos, dignos da pena de morte; b) porque, nos primeiros séculos da Igreja, eram equiparados a outros muito graves, como a idolatria, o homicídio, o adultério, e condenados a uma penitência pública; c) porque são origem, fonte de vários outros, ainda que não sejam necessariamente e sempre, pecados mortais.



PECADOS CAPITAIS



Há sete pecados, ou vícios, que podem ser tidos como graves, quer quanto à sua natureza, quer quanto às suas conseqüências. Estes sete pecados capitais são: 1) Soberba; 2) Avareza; 3) Luxúria; 4) Inveja; 5) Gula; 6) Ira; e 7) Preguiça. Alguns: soberba, avareza, inveja, ira e preguiça, quando desídia do intelecto, são mais especialmente pecados do espírito. A luxúria e a gula, pelo contrário, são pecados do corpo.



1. SOBERBA



1º. Natureza. Soberba é a estima excessiva da própria pessoa. Manifesta-se principalmente de três maneiras:



a) o soberbo mostra-se ufano das qualidades que tem, não se lembra que deve por elas dar glória a Deus: "Que tens tu, diz São Paulo, sem o teres recebido? E se o recebeste, como é que te glorias, como se aquilo fosse teu?" (I Cor IV, 7);

b) atribui-se dotes que não possui;

c)rebaixa as vantagens dos outros. É parecido com o fariseu que coteja suas virtudes com os senões do próximo.


2º. Derivadas da soberba. A soberba produz a ambição, a presunção, e a vanglória.



A. Ambição é o desejo descomedido de glória, honras, fortuna, poder, etc. o ambicioso anda atrás das posições de destaque e das dignidades. "Apreciam o primeiro lugar nos banquetes, os assentos mais elevados nas sinagogas" (Mt XXIII, 6) diz Nosso Senhor, falando dos Escribas e dos Fariseus.


B. Presunção é demasiada confiança em si próprio. Presunção e ambição não raro andam a par. O presunçoso exagera seus talentos, julga-se preparadíssimo para qualquer encargo. E trata de meter-se em negócios e empregos altos, para os quais lhe falecem habilidades e competência.


C. Vanglória é a mania de se envaidecer por predicados, mais brilhantes e espalhafatosos, do que reais e sólidos; de colher louvores, e pasmar os circunstantes, quanto não há motivo para tanto. Este gaba-se de uma estirpe nobre, de linhagem ilustre; aquele é altaneiro por causa do palacete; este outro, é pela roupa, ou pelo automóvel. Esquecidos, todos, de que se houver glória nisso, não é a eles que deve nimbar (não quer dizer que todo luxo é soberba e impostura. Não é, quando fica em relação natural com a posição que se ocupa na sociedade. Então, justifica-se no ponto de vista hierárquico e econômico. Quem não atendesse às exigências da fortuna que possui cairia no excesso oposto que entra no segundo pecado capital [avareza]).



A vanglória, por sua vez, gera:



a) a jactância. A jactância, a bazófia, ou gabolice está doida pelos elogios. Baba-se por eles, suplica-os. E quando não os consegue logo, vai-se, o sujeito, encomiando a si mesmo. Nas palestras, não deixa os outros falar. Só ele, só dele. Não aprecia os companheiros, nem se importa com eles, e por isso, conta, o que fez e não fez, mandou e desmandou, suas boas obras, virtudes, esmolas (em dois casos é permitido dar a conhecer o bem que se obrou: a) para livrar-se de censura imerecida; b) para instruir e edificar o próximo, como o pratica São Paulo na Epístola aos Gálatas);

b) a hipocrisia é outro fruto espúrio da vanglória. As felicitações que os gabolas se outorgam nos seus alardes palavrosos, o hipócrita quer granjeá-las por seus atos fiteiros, e suas virtudes de aparato. Anda deslembrado dos conselhos de Nosso Senhor: "Tende cuidado em não fazer vossas boas obras para serdes vistos pelos homens ... quando dais esmola, não toqueis trombeta, como costumam os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para que vos honrem os homens’ (Mt VI, 1,2); citemos, ainda, o aferro, a obstinação, a teimosia, três vocábulos mais ou menos sinônimos, exprimindo o apego que se tem ao próprio parecer, não querendo que vingue a opinião dos outros, nem até quando a razão está com eles.



3º. Malícia da soberba. É pecado grave, quando o orgulho quer elevar-se acima de Deus e dos superiores. É tido como fonte de todos os males.



4º. Remédios. Os meios para curar a chaga do orgulho são:

a)um exame atento, demorado, sincero, das nossas misérias, das nossas falhas e fraquezas; da inconsistência dessas coisas que nos envaidecem;

b)a contemplação da humildade de Nosso Senhor, que, sendo Deus, se rebaixou a ponto de revestir-se da humanidade, e sujeitar-se a todas as contingências mais triviais e vis da nossa natureza; depois, a todos os ultrajes.


2. AVAREZA


1º. Natureza. Avareza é o amor desregrado às riquezas. Assume duas modalidades:

a) É avarento o que anda aflito por ganhar mais dinheiro, sempre excogita artes de aumentar seus cabedais, e antes trata os bens como donos do que como servos. A fortuna, para ele, é um fim, e não o meio de prover às necessidades da existência.


b) É avarento mais encontradiço, o que está afeiçoado a seus tesouros. Sovina. Não dá nada. E quando precisa gastar, parece que lhe arrancam um pedaço da alma. A economia é outra coisa. Consiste em regular as despesas pelos rendimentos,: aquelas não excedendo estes. Não é vício. É virtude preciosa, estímulo do trabalho, e mãe da prosperidade. A avareza tanto se aninha no coração do pobre, como no do rico. Avulta, não raro, com a idade. Recrudesce com a velhice.



2º. Efeitos. Da avareza nascem:



a) a injustiça para com o próximo: fraudes, trapaças, roubos;

b) a traição: Judas vendeu seu Mestre por trinta moedas;

c) o empedernir do coração para com os indigentes. O avarento não se compadece da miséria: nunca abre a mão para obsequiar, para dar esmola aos pobres.


3º. Malícia. A avareza pode vir a ser pecado grave:



a) contra Deus: o avarento prefere, com efeito, a tudo, o dinheiro. Adora o ouro. É seu ídolo. Deus não existe mais para ele.

b) contra o próximo: o avarento, certo é que não cumpre o dever de caridade. E este dever, em determinados casos, constitui obrigação imperiosa.



4º. Remédios. Dois remédios podem fazer bem ao avarento:



a) lembre-se amiúde que tudo passa neste mundo; que são perecedouros, frágeis, e de pouquíssimo valor, os bens da terra. Caducam rapidamente. Única riqueza de verdade é amar a Deus.

b) medite nos exemplos de Jesus Cristo. Era riquíssimo, quis nascer, viver e morrer, paupérrimo.




3. LUXÚRIA


Luxúria, ou lascívia, é o vício contrário à pureza, proibido pelo 6º e 9º Mandamentos da Lei de Deus.



I. A pureza. 6º e 9º Mandamentos



1º. Excelência da virtude da pureza. A castidade, ou pureza, consiste na abstenção dos prazeres carnais ilícitos. Nenhuma virtude tem mais valor do que a castidade, porque ela, melhor que as outras, é o domínio do espírito sobre a carne, da alma sobre o corpo. Por isso, não é de estranhar que esta virtude, preceito ou lei natural muito embora, fique sendo como que apanágio e monopólio da religião católica. É a pura verdade afirmar que não a conheceu o mundo pagão, e que, hoje em dia, desabrocha e viceja apenas no ambiente do Catolicismo.



2º. Objeto do 6º e 9º Mandamentos. O 6º e 9º Mandamentos da Lei de Deus proíbem os pecados de luxúria, contrários à virtude da pureza. Única diferença entre os dois, é que o 9º, repetindo o 6º, vai além, reforça a proibição, abarcando a mais os maus pensamentos e maus desejos. Assim, enquanto o 6º Mandamento veda atos, olhares e palavras ofensivas da modéstia cristã, o 9º atalha o mal na própria fonte, e condena o simples pensamento impuro, o simples desejo desonesto: de um lado, pois, os atos exteriores, e do outro, os atos interiores, como sendo, estes, causa daqueles, e comparáveis à fagulha que ateia o incêndio. Na explanação desta matéria, andaremos lembrados, de contínuo, dos prudentes avisos de Santo Afonso de Ligório e São Francisco de Sales, concordes nisso, e ambos com São Paulo, dizendo que não é bom, tocar em termos muito explícitos nestes assuntos, e que já se ofende a castidade, só com o nomear a impureza.



II. O que é proibido pelo sexto Mandamento da Lei de Deus.



O 6º Mandamento da Lei de Deus proíbe:



1º. As más ações. Há certas coisas indecentes que o menino não se atreveria a praticar à vista de seus pais ou de seus mestres, e que desonram e envergonham os autores, quando essas coisas vêm a ser conhecidas. Ora, aquilo, ainda que fique ignorado dos homens, não está escondido aos olhos de Deus. Logo, é pecado mortal por natureza. Sempre. Esteja, o culpado, só, ou na companhia de outras pessoas. Entretanto, a malícia varia segundo a qualidade destas pessoas e segundo as coisas más que se fazem.



2º. Maus olhares. Consistem em demorar a vista, por gosto e sem necessidade, nos objetos ou nas pessoas que podem excitar as paixões: por exemplo, estátuas, imagens ou pessoas que não têm a devida decência.



3º. Escritos e palavras desonestas. Quer dizer, qualquer escrito (maus livros e maus jornais), qualquer palavra (cantigas ou conversas despudoradas) que ofendem o recato, ou abertamente, às escâncaras, ou disfarçadamente, por meio de equívocos, ambiguidades, reticências. Nada mais prejudicial do que as más leituras. Quanto às más conversas, afirma São Paulo (I Cor XV, 33) "que corrompem os bons costumes".



III. O que proíbe o 9º Mandamento



O 9º Mandamento proíbe:



1º. Os maus pensamentos. O pecado de pensamento, que os teólogos, chamam de "deleitação morosa", consiste em se demorar, voluntariamente, na imaginação de uma coisa ruim, sem querer mesmo chegar à prática da mesma. Tal deleitação, ou gozo, é chamada morosa, do vocábulo latim "mora" atraso, diz Santo Tomás, porque a razão, em lugar de repelir sem tardança, como fôra de mister, as cogitações impuras que se apresentam, se demora nelas (immoratur), as acolhe com agrado, e nelas se compraz livremente (por aí se vê que vai grande diferença entre "deleitação morosa" e "sugestão má". Esta independe da vontade. É uma tentação, nem mais nem menos). Quem se entregou à deleitação morosa [PROLONGADA] tem que declarar na confissão, a natureza específica deste pensamento; por exemplo, se tem voto de castidade, ou se as cogitações diziam respeito a uma parenta, ou a uma pessoa casada. É pecado mortal, quando a coisa é mesmo ruim, e o consentimento pleno. Do contrário, é venial. E não há pecado nenhum, quando se combate e se afugenta a representação do mal, e se reprova.



2º. Os maus desejos. O desejo é mais do que o pensamento, porque, com a imaginação do ato mau, está a intenção e vontade de praticá-lo. Perante Deus, é a mesmíssima coisa: querer ver, ouvir ou fazer, coisas impudicas, e ver, ouvir, ou fazer. Agora os desejos desonestos são como os pensamentos: culpados, exatamente na proporção em que são voluntários.



IV. Gravidade dos atos contra a pureza.



É facílimo avaliar a gravidade dos atos contra a pureza, pela meditação das conseqüências desastradas que acarretam na alma e no corpo:



a) Na alma. Nublam, entenebrecem, e materializam, a inteligência. Cegam-na para as coisas de Deus (I Cor II, 14). Desmoralizam e embrutecem o coração que, então, se separa e afasta de Deus, abandona a religião, cai na impiedade.



b) No corpo. A impureza estraga a saúde, exaure as forças, traz as doenças mais repugnantes e vergonhosas, as enfermidade mais asquerosas, e, não raro, fim prematuro. Portanto, são mortais, geralmente, os pecados de impureza, a não ser que a irreflexão diminua esta gravidade.



V. Causas que levam à impureza.



As causas determinantes de pecados contra a castidade podem se classificar em: exteriores e interiores.



1º. Causas exteriores. São as que deparamos fora do nosso espírito viciado e do nosso coração corrupto pelo pecado original:



a) As más leituras. Esta rubrica geral abrange os livros ímpios, licenciosos, jornal ruim, revista ruim, e em especial, folhetins e romances que pintam ou encarecem o vício: denominam-se realistas ou naturalistas, e o que querem, é estadear o crime em todos seus pormenores, toda a hediondez, sem rebuços; ou denominam-se psicológicos, pretendendo escalpelar as almas com seus sentimentos mais abjetos, em todos seus refolhos. Uns e outros provocam desgraças. Não há iludir ou anestesiar a consciência. Ninguém se imuniza contra este tóxico violento, traiçoeiro e fatal. Dirão que procuram unicamente as belezas literárias, o encanto das descrições, a magia do estilo. É verdade. Isca fementida. Engodo. Procura-se tudo isso, e encontra-se mais alguma coisa: o veneno, que a alma engole por doses pequenas ou grandes, e que mata. Não se hão de perlustrar pântanos lodosos e pestilenciais sem apanhar pingos de lama. É absurdo. E será mesmo tão minguada a nossa literatura, que só nesses charcos se poderão descobrir modelos de estilo, de bela dição, de alta cultura clássica?



b) Espetáculos. Teatros e cinemas não são maus por índole, por natureza, é claro. Haveriam mesmo de aformosear a alma, educar a vontade, e nobilitar o coração. Infelizmente, sucede quase sempre o contrário. E passam a ser verdadeiras escolas do crime e da imoralidade. Glorificação do vício, apoteose e triunfo da impureza, e menosprezo ou escárnio da virtude, isto é que é. Alexandre Dumas o disse alto e bom som: a mãe prudente não assiste aos espetáculos, e muito menos levaria aí sua filha.



c) Dança e baile. Sendo exercício corporal, a dança é ginástica nada reprovável. A Bíblia refere, em muitas passagens, sem nota alguma pejorativa, as danças praticadas pelas moças e senhoras de Israel, para divertimento (Juízes XXI, 21, 23; Jerem. XXXI, 4,13) antes religioso, manifestação de piedade, do que mundano. A filha de Jefté vai ao encontro do pai, e vai dançando com uma porção de companheiras (Juízes XI, 34). Quando Davi, vencedor de Golias, regressa triunfante, as mulheres de Israel o ovacionam e celebram, com danças, a glória dele (Reis XVIII, 6, 7; XXI, 11). Davi ia dançando diante da Arca da Aliança, que ele mandava recolher, com inaudita pompa (II Reis VI, 5). Nota-se, entretanto, que, as mais das vezes, dançavam, as jovens, sozinhas, separadas dos moços (Ex XV, 20; I Samuel XVIII, 6).


A dança moderna, conhecida por nomes variadíssimos, é outra coisa. Altamente condenável, por causa da liberdade infrene que nela reina, dos encontros que ali se realizam. Excetuando determinadas reuniões de família, a regra geral é que não se deve dançar. Muito menos ainda, se hão de frequentar bailes públicos, ou bailes mascarados, que são os mais perigosos. Em que conta teremos os tais bailes de caridade? São organizados para angariar donativos, para aliviar os desamparados, ou as vítimas de alguma calamidade: inundação, seca, incêndio, etc.; motivo de beneficência. Ora, para saber o que vale este sistema, examinemos o caso. Será, um baile, mais puro e menos arriscado, porque o fim é a esmola? Que tem uma coisa com outra? Onde é que se viu alterada a essência de uma coisa porque se lhe mudou o destino?



d) Reuniões mundanas e más companhias. "Dize-me com quem andas, que te direi quem és". A frequentação, os passeios, as amizades, ou familiaridade com pessoas levianas, frívolas, em busca de passatempos quaisquer, e que gastam o dia no ócio e na moleza, são também causas de muitos pecados de impureza.



e) Modas desonestas. Nos trajes femininos, a moda apresenta, por vezes, excentricidades que constituem verdadeiro desafio e insulto ao bom gosto e ao pudor. Tais modas são reprovadas pela religião, pela moral, e até pelo senso comum.



2º. Causas interiores. As causas provenientes de nós mesmos são:



a) Orgulho. Deus não ama os que "se ensoberbecem nos seus juízos", desampara-os, e deixa-os "entregues a paixões de ignomínia" (Rm I, 21,26).

b) Intemperança. "Não vos embebedeis com vinho, diz São Paulo, isto é, fonte de devassidão: mas inebriai-vos do Espírito Santo" (Ef V, 18). Quem anda atrás dos deleites dos festins, dá a mão às tentações da carne e da concupiscência.

c) Ócio. A preguiça é mãe de todos os vícios, e São Jerônimo afirma, desassombrado que, se está um demônio solicitando ao mal o homem que trabalha, estão mais de cem demônios tentando o que está desocupado.


VI. Remédios contra a impureza.



1º. Meios naturais.



a) é preciso lembrar, primeiro, a fuga das ocasiões que podem levar ao pecado, quer dizer, a supressão, de vez, de todas as causas acima mencionadas.



A ocasião se diz remota ou próxima.



a) Ocasião remota é a que conduz, de modo muito indireto, até a ofensa a Deus. Tais ocasiões enxameiam pelo mundo, não há como evitá-las sempre, porque se alastram por todas parte. A melhor boa vontade não o conseguiria. Fugir delas não constitui obrigação.

b) Ocasião próxima é a que provoca a tal ponto que é quase certo cometermos o pecado, se ela não for removida. (1) A ocasião próxima será necessária de necessidade física ou moral: necessidade física, quando é de todo impossível suprimi-la; necessidade moral, quando a dificuldade é grande. Em ambos estes casos, é preciso lançar mão de todos os preservativos e orações, recepção dos Sacramentos da Penitência e Eucaristia. Renovar, amiúde, o propósito de nunca mais pecar. (2) Ou a ocasião próxima pode ser afastada, e então, há obrigação imperiosa de removê-la. É condição "sine qua non" para obter a absolvição. A Igreja impõe esta regra, porque conhece o que diz a Sagrada Escritura: "Quem ama o perigo, há de cair no abismo" (Ecl. III, 24).



b) a vigilância é guarda dos sentidos, da imaginação e das afeições;

c) a humildade;

d) a mortificação;

e) o trabalho, são outros tantos meios naturais e auxiliares poderosos na luta pela pureza.


terça-feira, 13 de agosto de 2013

A reencarnação sob o olhar da filosofia





Na primeira parte, o confronto da teoria da reencarnação com a fé católica nos mostrou sua oposição radical. Resta-nos esclarecer o tema à luz da razão natural. A tese com que nos deparamos conforma-se com a realidade? É compatível com a natureza das coisas? A segunda parte de nosso estudo exige notas preliminares. Nosso primeiro ponto de vista fora o da fé, o principal argumento era a autoridade de Deus, que fala pela Tradição, pela Santa Escritura e pelo Magistério da Igreja. Por assim dizer, contribuímos passivamente ao julgamento da reencarnação pelos guardiões da fé.
Aqui, o itinerário é bem diferente. Nosso ponto de partida não é mais um argumento de autoridade, mas a observação do mundo sensível. Conforme o princípio realista, “nada há na inteligência que não seja antes nos sentidos”, o homem que deseja compreender o mundo físico e dele extrair as leis fundamentais deve começar a observar as coisas que o rodeiam. Assim, para analisar as complexas noções de vida, de alma, e as relações da alma e do corpo, convém que partamos do real concreto. Caso contrário, nos arriscaríamos construir um sistema ― coerente e sedutor, talvez ―, mas sem relação com a realidade. Não se trata de escrever um romance, mas de descobrir a verdade. Todavia, o mundo sensível é apenas um ponto de partida. A inteligência busca os princípios explicativos da natureza. Portanto, deve penetrar na intimidade mesma das coisas, ultrapassando a ordem sensível. Deve se elevar do visível ao invisível, a um grau de conhecimento que lhe é próprio e que deixa muito atrás de si a sensibilidade e a imaginação. É bom tocarmos nesse assunto logo no início do estudo, pois os temas abordados aqui são particularmente delicados. Muitos se equivocaram por não saberem desapegar-se de uma visão puramente sensível e materialista do mundo. É o que já constatava São Tomás de Aquino: “os antigos filósofos, não conseguindo ir para além de sua imaginação, diziam que o princípio do conhecimento e do movimento é um corpo”1. “E como os antigos naturalistas criam que nada existiria se não fosse corpo, diziam que a alma é corpo”2. Não surpreenderá, pois, se, nos desenvolvimentos que se seguem, algumas passagens difíceis forem encontradas. Não podemos fazer economia se queremos dar à teoria da reencarnação uma resposta fundamentada que vá para além do “bate-boca”. É sinal de atenção e respeito aos sectários de um erro levar a sério suas objeções e lhes responder com exatidão.
Expostos tais pontos, vamos à tese da transmigração das almas. Quais são seus pressupostos filosóficos e quais dificuldades suscitam?
Se a alma deve atravessar várias vidas terrestres antes de alcançar a felicidade, passando de corpo em corpo, está claro que não está ligada particularmente a nenhum deles. A alma só ocasionalmente está no corpo, pois a alma é estrangeira ao corpo. Isso pressupõe uma concepção especial da alma e de suas relações com o corpo. Ademais, a metempsicose — que admite a reencarnação em outros seres que não os humanos – parece dar às almas dos vegetais e dos animais as mesmas prerrogativas da alma humana.
Alguns partidários dessa tese afirmam ainda se lembrar de suas vidas passadas. Está posto o problema da memória. Ela reside na alma espiritual ou no corpo? Nesse último caso, uma mudança de corpo não deveria apagar qualquer lembrança do passado? Somos, portanto, levados a estudar sucessivamente a alma em si, e após, suas relações com o corpo e, finalmente, as potências da alma, em particular a memória3.
A alma se apresenta a nós sob os diversos aspectos, que aproveitamos para estudar separadamente com o fim de penetrar progressivamente na sua natureza, ainda que estes aspectos não sejam separados na realidade: a alma é o princípio da vida, a forma do corpo, o ato do corpo.

O princípio da vida
A primeira experiência que nos propiciam os sentidos, após a da existência das coisas, é a do seu movimento. Vemos nuvens e pássaros se deslocar, as estações sucederem-se; brotar a erva, os seres aparecerem e desaparecerem. Contudo, a atenta observação desses vários momentos nos faz descobrir entre eles uma linha demarcatória que separa o mundo em duas partes bem distintas. Alguns seres, com efeito, só se movimentam sob a ação de um princípio exterior. Seu movimento não segue uma determinação interna. Não têm iniciativa. Outros, pelo contrário, têm em si mesmos o princípio de seu movimento. Os primeiros são movidos por outro. Os segundos se movem a si mesmos.
Ora, essa diferença é precisamente a que distingue os seres vivos dos seres não vivos. O movimento está de tal modo ligado à vida, que — quando algo não se move mais —, dizemos que está morto e — ao contrário, que vive — quando o movimento aparece. “O que distingue os vivos dos não vivos é aquilo porque a vida se manifesta em primeiro lugar e que se conserva até o fim. Ora, a primeira coisa que nos faz dizer que um animal vive é o fato de ele começar a se mexer, e dizemos que vive na proporção medida que esse movimento aparece nele”4. Mas o movimento que revela a vida é somente aquele que a coisa dá a si mesma. “Quando não há mais movimento por si mesmo, mas que é movido por outro, dizemos que o animal está morto, que a vida o deixou. Daí parece que são propriamente chamados de vivos os que se movem a si mesmos segundo certo tipo de movimento.”5
Observemos os principais movimentos que se apresentam a nós: quanto ao movimento local, constatamos que as dunas das bordas oceânicas se deslocam e mudam de forma, mas isso se deve à ação do vento. Por si mesmas, são inertes. Ao contrário, é por um dinamismo interior que a mosca voa e que o cão corre. Quanto ao aumento, as estalactites subterrâneas crescem, mas unicamente por influência da infiltração de água. Seu crescimento é apenas uma acumulação de matéria e não um processo de desenvolvimento interno, ao passo que o musgo no teto cresce por si mesmo. O jardineiro que poda a grama sabe que ela crescerá novamente devido a um fenômeno que não se explica somente por influências exteriores. Em contrapartida, o metal só se dilata se exposto a uma fonte de calor. Se os minerais se desenvolvessem por si sós, teríamos todos nós diamantes, prata e ouro em profusão!
A análise das outras espécies de movimento próprias aos seres vivos, tais como a nutrição e a geração, isso nos conduziria aos mesmos resultados. O ser vivo é o que se move por si mesmo, graças a um dinamismo interno que não se reduz a ações exteriores. Os filósofos resumiram isso numa definição concisa: a vida é o movimento próprio de si, motus sui.
Mas o que, na natureza do ser vivo, lhe permite o movimento por si próprio e, assim, distingue-o radicalmente dos não vivos? Qual o segredo da vida, o princípio desse movimento próprio de si? A linguagem corrente nos dá uma indicação: “dizemos que os vivos são animados, e que os não vivos são inanimados”6. É o fato de ser animado, de possuir uma alma, que permite a algo ser vivo.
Ser vivo é ter alma. Isso é confirmado por uma constatação: para cada alma distinta, uma atividade distinta. O animal, por exemplo, se desloca por um movimento próprio, diferentemente dos vegetais. “A percepção sensível é certa mudança; ora, só a encontramos nos que têm uma alma. Da mesma forma, o movimento de crescimento e decréscimo só se encontra naqueles que se alimentam. Ora, só os que têm uma alma se alimentam. É, pois, a alma o princípio de todos os movimentos”. Eis o primeiro aspecto, a primeira definição da alma que nos dá a experiência: a alma é o princípio da vida do vivente.
Esse primeiro resultado vai fornecer dois elementos para responder ao problema que nos ocupa. De fato, a alma nos foi mostrada sob seu aspecto dinâmico. Ela é a função vital de um corpo vivo. Não é somente a harmonia ou a boa organização das partes do corpo, mas fonte de vida e de movimento. ”A alma é causa e princípio do corpo vivo”7. A etimologia é esclarecedora: o latim anima traduz o grego yuchv, que vem do verbo “eu respiro”. A alma é como o sopro vital que sustenta o corpo. Isso quer dizer que a alma está em contato direto com o corpo; sua função é ser a fonte de vida de um corpo. Uma alma não se pode conceber sem seu correlativo ― o corpo que ela vivifica.
Ao contrário, os adeptos da reencarnação imaginam a alma como criada para si mesma, justificando-se por si só, sem possuir relação necessária com um corpo. A união da alma e do corpo seria o fruto de um erro, não um estado natural. Por outro lado, se a alma é por sua mesma natureza o princípio vital de um corpo, isso quer dizer que ela não é o próprio vivente, mas uma de suas partes. O que vive não é apenas a alma, mas o composto corpo e alma. Aristóteles faz uma comparação: “se o olho fosse um animal independente, a visão seria sua alma”8. Ora, o que vê não é somente o olho, nem é somente a visão, mas o olho dotado de visão. Uma visão sem órgão não vê absolutamente nada! Do mesmo modo, “não dizemos que a alma anda, vê ou escuta, pois é o homem que o faz, graças a ela”… “é o lutador que luta graças à aptidão de lutar adquirida por ele, e não a luta que luta por si mesma”… “Da mesma maneira, não é a alma que, por si mesma, desempenha qualquer uma das funções vitais, mas sim o ser animado que as exerce pela alma”9.
Não é isso o que se observa na experiência comum? Suponhamos um homem a passear por um jardim: ele cheira uma flor, recorda-se de um fato, reflete sobre o futuro e se põe a rezar. Quem é o sujeito de todas essas operações? Por acaso seria, sucessivamente e sem um laço entre elas, cada uma de suas potências: a faculdade motora, o odor, a memória e a inteligência? Seria ora seu corpo, ora sua alma? Não seria antes o mesmo personagem, que é composto alma e corpo? Cada um de nós possui o sentimento desta unidade de nossa vida e experimentamo-la cada vez que empregamos o pronome “eu”. É um só e mesmo “eu” que dorme, come, sonha ou lamenta suas faltas.
Para a reencarnação, ao contrário, o vivente é só a alma. O corpo é apenas uma morada fortuita e permutável.

Rock, um estilo de música ou uma nova religião ?



Nota do BlogEmbora o áudio-visual em tela possa conter imprecisões de ordem técnico-musical ou historiográfica, constitui um estudo fidedigno sobre as raízes mais profundas do rock e as implicações que derivam da “accointance” com esse gênero de cacofonia musical.




















sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Civilização e Tradição






AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES



As reações que os gatos despertam nos homens são muito diversas, pois vão do extremo da antipatia até o extremo do carinho, passando por toda a gama intermediária.

É que no gato, animal extraordinariamente rico em aspectos, há de tudo.

Tigre em miniatura, é ele uma minúscula fera, que às vezes se manifesta arranhando, mordendo, saltando inopinadamente, assustando, pondo tudo em rebuliço e quebrando o que encontra.

Mas, quando o elemento "fera" se aquieta, o gato se mostra de modo oposto: encantadoramente vivaz, delicado e distinto em todos os seus gestos, expressivo em suas atitudes, carinhoso, mimoso, em suma um verdadeiro bibelô vivo.

Um bibelô, entretanto, que não tem certo ar de bagatela, inseparável em geral até dos bibelôs mais finos. Porque em seu olhar, que tem algo de magnético e insondável, de reservado e enigmático, o gato conserva a terrível e atraente superioridade do mistério.

Tal é a riqueza da obra do Criador, que nesse ser meramente animal há alguma coisa que apresenta uma analogia frisante com as qualidades e os defeitos do homem.

Nu, suarento, agressivo, todo entregue aos instintos e às impressões, com o espírito tão limitado que não parece ter a menor consciência do primitivismo de suas armas, nem do primarismo de seus enfeites, esse pobre chefe bárbaro se encontra imerso no mundo da rudeza, da grosseria e da ferocidade.

Muito mais do que no gato, há nele uma dualidade. O homem, concebido em pecado original, tem em si, por assim dizer, uma fera e um anjo. Nesse infeliz africano a fera está bem à mostra. Vendo-o, quem se lembraria do "anjo"?

Esses dois gatinhos tão mimosos, tão delicados, tão meigamente aconchegados um ao outro, são... civilizados. Se, em lugar de terem sido criados em um salão, tivessem vivido sempre na taba desse bárbaro, certamente não seriam assim.

Mas há mais. A educação de uma criança começa cem anos antes de nascer, dizia Napoleão. O mesmo pode dizer-se dos gatos. Há pelo menos um século de vida de salão, na delicadeza que desabrocha nesses macios bichanos. Eles não têm só civilização. Têm tradição.

Esse pobre bárbaro também tem tradição. Pesam sobre ele séculos de selvageria, sem os quais, em via de regra, ninguém chega a ser tão típica, tão inteira, tão escancaradamente assim.

Tradição de barbárie, que degrada o homem fazendo com que pareça um bicho. Tradição de civilização, que faz com que um bicho pareça quase ter um pouco de humano.

É a força modeladora da civilização. É a influência indiscutível e profunda da tradição.

Para terminar, uma pergunta. Numa cidade onde houvesse só play-boys e suas congêneres femininas, onde só se tocasse e dançasse rock-and-roll, onde se comesse, falasse, agisse e brigasse à rock-and-roll, ao cabo de cem anos como seriam os gatos? Ficariam igualmente mimosos? Ou tomariam jeito de gato de telhado? Imaginemos um gato que vivesse junto a esse bárbaro: seria muito diverso do gato play-boy?

Tal amo, tal criado, dizia-se. Tal gato, tal dono, poder-se-ia dizer. Os gatos nascidos no "play-boysmo" e na barbárie seriam semelhantes... porque "play-boysmo" não é senão barbárie no cimento e no asfalto.


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