quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Resposta a um leitor desavisado: A fé se estabelecia sobre certezas; abalando-as, semeou-se a perplexidade.




Pode-se criticar um pronunciamento do Papa?

  
Bento XVI assim se exprimiu: “Doutra parte, é possível e até necessário criticar os pronunciamentos do papa, se não estiverem suficientemente baseados na Escritura e no Credo, ou seja, na fé da Igreja universal. Onde não houver, nem a unanimidade da Igreja universal, nem o claro testemunho das fontes, não pode também haver uma definição que obrigue a crer. Faltando as condições, poder-se-á também suspeitar da legitimidade [de um pronunciamento papal]". (Joseph Ratzinger, Das Neue Volk Gottes - Enwürfe zur Ekkleseologie, Düsseldorf: Patmos-Verlag, 1969, trad. br. por Clemente Raphael Mahl: O Novo Povo de Deus, São Paulo: Paulinas, 1974, p. 140) [grifos nossos].







Caro leitor (anônimo) do blogue 'Baixada Católica'


As alegações que, em duas postagens distintas [ver ao final da resposta], visam a impugnar a nossa posição católica, são inteiramente destituídas de fundamento.

Ao que entendi, o leitor é o responsável, ou um dos responsáveis, pelo blogue “Baixada Católica”. Procurarei ser breve e objetivo na resposta.

Conforme a consagrada máxima jurídica, o “onus probandi” cabe ao acusador.

Em face disso, aguardo, de forma clara e ordenada, a enumeração de argumentos e fatos irretorquíveis, em abono de suas (descabidas e injuriosas) acusações. “Quod gratis asseritur, gratis negatur” (“aquilo que é afirmado de forma gratuita, pode ser gratuitamente negado”). 

Ademais, julgo oportuno acrescentar outros conformes que, por amor à brevidade, mencionarei apenas, sem ulteriores aprofundamentos.

Primeiro ponto: o erro disfarçado é mais perigoso. Dificilmente, com efeito, alguém se deixaria arrastar por um erro declarado ou manifesto. Contudo, é amigo de disfarces o demônio, “que foi homicida desde o princípio e não permaneceu na verdade; porque a verdade não está nele; quando ele diz a mentira, fala do que é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (São João, VIII, 44). Ora, uma das características mais notórias da mentira é o artifício, a dissimulação, a ambiguidade. Cumpre-nos, pois, não secundar a obra do maligno, semeando o caos e a confusão nos meios católicos tradicionais, por via da falta de esclarecimento e denúncia do erro larvado e sinuoso, que campeia insolente.

Segundo ponto: o pior inimigo da Igreja é o que se acha camuflado, mais ou menos oculto, isto é, o que atua dentro dos organismos eclesiásticos.

Como dizia o grande São Pio X: "Os piores inimigos da Igreja estão dentro dela". Em 1907 (há 106 anos, portanto, o que demonstra como o mal vem de longe!), o Papa fez este contundente alerta, mais atual do que nunca:

“Estes [inimigos da Igreja], em verdade, como dissemos, não já fora, mas dentro da Igreja, tramam seus perniciosos conselhos; e por isto, é por assim dizer nas próprias veias e entranhas dela que se acha o perigo, tanto mais ruinoso quanto mais intimamente eles a conhecem. Além de que, não sobre as ramagens e os brotos, mas sobre as mesmas raízes que são a Fé e suas fibras mais vitais, é que meneiam eles o machado”.(Pascendi Dominici Gregisgrifos nossos).

A mesma advertência se encontra numa alocução de João Paulo II, a 6 de fevereiro de 1981: “Os cristãos de hoje em grande parte, se sentem perdidos, confusos, perplexos e mesmo decepcionados”. O Papa resumia as causas deste fato da seguinte maneira:

“De todos os lados espalharam-se ideias que contradizem a verdade que foi revelada e sempre ensinada. Verdadeiras heresias foram divulgadas nos domínios do dogma e da moral, suscitando dúvidas, confusão, rebelião. A própria liturgia foi violada. Mergulhados num ”relativismo” intelectual e moral, os cristãos são tentados por um iluminismo vagamente moralista por um cristianismo sociológico, sem dogma definido e sem moralidade objetiva”. Esta perplexidade se manifesta, a todo instante, nas conversas, nos escritos, nas redes sociais, nas emissões televisionadas ou publicadas por quaisquer outros meios, no comportamento dos católicos, traduzindo-se este último numa diminuição considerável da prática religiosa, como o testemunham as estatísticas, uma desafeição relativamente à missa e aos sacramentos, um relaxamento geral dos costumes.

Terceiro ponto: é propriamente obrigação dos leigos denunciar esses artífices da “autodemolição” e da “fumaça de Satanás” (segundo as insuspeitas palavras de Paulo VI), incrustados no recinto sagrado. Fazendo jus a essa missão, estamos exercendo o papel que o próprio Concílio Vaticano II, com muita ênfase, atribui aos leigos, e que, nestes termos, aparece consignado no novo Código de Direito Canônico: 

De acordo com a ciência, a competência e o prestígio de que gozam, têm o direito e, às vezes, até o dever de manifestar aos pastores sagrados a própria opinião sobre o que afeta o bem da Igreja e, ressalvando a integridade da fé e dos costumes e a reverência para com os pastores, e levando em conta a utilidade comum e a dignidade das pessoas, deem a conhecer essa sua opinião também aos outros fiéis. (CIC §907; Cânon 212,3; grifos nossos). Assim, é inconteste que os leigos devem manifestar a sua preocupação e discordância, quando for o caso, aos demais católicos e aos pastores, desde que observem, mormente no interior da Igreja, ensinamentos ou atitudes dissonantes com o Magistério tradicional.

Agindo por essa forma, estamos igualmente fazendo eco ao conselho formulado por Bento XVI, que assim se exprimiu: 

“Doutra parte, é possível e até necessário criticar os pronunciamentos do papa, se não estiverem suficientemente baseados na Escritura e no Credo, ou seja, na fé da Igreja universal. Onde não houver, nem a unanimidade da Igreja universal, nem o claro testemunho das fontes, não pode também haver uma definição que obrigue a crer. Faltando as condições, poder-se-á também suspeitar da legitimidade [de um pronunciamento papal]". (Joseph Ratzinger, Das Neue Volk Gottes - Enwürfe zur Ekkleseologie, Düsseldorf: Patmos-Verlag, 1969, trad. br. por Clemente Raphael Mahl: O Novo Povo de Deus, São Paulo: Paulinas, 1974, p. 140; grifos nossos).


*** * ***

À vista do exposto, somos levados a perguntar o que provocou esse estado de coisas. A todo efeito corresponde uma causa. Terá sido a fé dos homens que diminuiu, por um eclipse da generosidade da alma, por uma explosão de apetite de gozo, por uma atração incontrolável pelos prazeres da vida e pelas múltiplas distrações que oferece o mundo moderno? O problema não reside fundamentalmente nisso, uma vez que tais obstáculos sempre existiram, dum modo ou de outro. Na realidade, a pavorosa decadência do conhecimento da Religião e da prática religiosa, que se patenteia aos olhos de todos, provém, sobretudo, do espírito novo que se introduziu na Igreja, e que lançou a suspeita sobre um passado inteiro de vida eclesiástica, de ensino e de princípios de vida. A segurança doutrinária baseava-se na fé imutável da Igreja, transmitida pelos catecismos que eram reconhecidos por todos os episcopados do mundo. A fé se estabelecia sobre certezas. Abalando-as, semeou-se a perplexidade.

Agora, vejamos em que termos o Papa Bento XVI retrata, de forma bem sugestiva, essa ruína do ensinamento católico, após a hecatombe pós-conciliar: “Os elementos fundamentais da fé, que no passado toda criança sabia, são cada vez menos conhecidos” (Alocução da quinta-feira santa, 5 de abril de 2012), Mais recentemente, o Cardeal Burke afirmou, em sentido análogo: “não combatemos adequadamente os erros modernos, porque não nos foi ensinada a fé católica (…). Uma falência da catequese, ou seja, da catequese (…) realizada nos últimos 50 anos” (http://www.ilfoglio.it/soloqui/19951; grifos nossos) [cumpre observar que a referência aos últimos cinquenta anos coincide exatamente com o período pós-conciliar].

O futuro Papa Bento XVI, que, em 1984, fez referência ao desastre do ensino catequético, reafirmou, em 2003, que nada mudara nesse ponto de importância capital (sem dúvida, capítulo central do processo de “autodemolição” da Igreja, apontado em 1968 por Paulo VI).

Expondo a necessidade de ensinar o novo catecismo, o então Cardeal Ratzinger reitera: “Embora sem intenção de condenar a ninguém, torna-se patente que a ausência de conhecimentos em matéria de religião é hoje uma realidade tremenda. Basta falar com as novas gerações [para nos darmos conta disso]. Evidentemente, após o Concílio não conseguiram transmitir concretamente o que está contido na fé cristã” (Cfr. “La Razón”, edición del 28 de mayo del 2003. www.conoze.com/doc.php?doc=1806grifos nossos).

Numa visão global sobre a devastação operada no período pós-conciliar, o mesmo Papa Bento XVI, quando ainda Cardeal Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, teve estas significativas palavras:

"Os resultados que se seguiram ao Concílio parecem cruelmente opostos às expectativas de todos, a começar do papa João XXIII e depois de Paulo VI [...] Os Papas e os Padres conciliares esperavam uma nova unidade católica e, pelo contrário, se caminhou para uma dissensão que — para usar as palavras de Paulo VI — pareceu passar da autocrítica à autodemolição. Esperava-se um novo entusiasmo e, em lugar dele, acabou-se com demasiada frequência no tédio e no desânimo. Esperava-se um salto para a frente e, em vez disso, encontramo-nos ante um processo de decadência progressiva”(Cfr. Vittorio Messori, “A coloquio con il cardinale Ratzinger, Rapporto sulla fede”, Edizioni Paoline, Milano, 1985, pp. 27-28; grifos nossos). 

Perante esse quadro de formidável e insanável crise, o que fazer?

Diante disso, não pode o fiel calar-se, segundo ensina Dom Guéranger: "Quando o pastor se transforma em lobo, é ao rebanho que, em primeiro lugar, cabe defender-se. Normalmente, sem dúvida, a doutrina desce dos Bispos para o povo fiel, e os súditos, no domínio da Fé, não devem julgar seus chefes. Mas há, no tesouro da revelação, pontos essenciais, que todo cristão, em vista de seu próprio título de cristão, necessariamente conhece e obrigatoriamente há de defender. O princípio não muda, quer se trate de crença ou procedimento, de moral ou de dogma. [...]. Os verdadeiros fiéis são os homens que extraem de seu Batismo, em tais circunstâncias, a inspiração de uma linha de conduta; não os pusilânimes" (12). (D. Prosper Guéranger, “L'année liturgique, Le temps de la Septuagésime, fête de Saint Cyrille d’Alexandrie”, p. 321; grifos nossos)

Tomando como fundamentos os terríveis diagnósticos sobre a crise pós-conciliar, referidos acima, causará surpresa que o blogue Core Catholica procure formar os católicos na obediência ao ensinamento tradicional da Igreja, repudiando aqueles que, "excitados por uma sede [de] novidades, [são] pressionados a assaltar tanto a Igreja quanto o poder civil...?" (Humanum Genus).




Adendo

Basta estabelecer o contraste: São Pio X instou a que as crianças fossem batizadas logo, assim que pudessem assimilar os princípios elementares da Fé, E assim foi feito, ao longo de 50 ou 60 anos, com excelente resultado.

A pretexto de tornar a fé mais acessível e "aggiornata", o Concilio, sob este ou aquele pretexto, esvaziou e adulterou o conteúdo da Fé.

Consequência inevitável: aquilo que até as crianças sabiam de cor e salteado, hoje, os adultos já não conhecem, nem procuram saber...


*** * ***

Comentários do Leitor anônimo do blogue 'Baixada Católica'




1º comentário

Mais uma vez vejo que seu blog se coloca contra o sagrado magistério da Igreja e o Papa! Católico de verdade, não se posiciona contra nenhum concilio da Igreja, e jamais seria contra o sucessor de Pedro! Seu blog não é católico, pois divide a Igreja! O volte ou saia de vez! 


Em O que deve pensar um católico sobre o Concílio Vaticano II?


2º comentário

A final são contra ou a favor da Igreja? Prezados a igreja não precisa de inimigos internos, ou estão do lado do papa e a favor da Igreja, ou contra a Igreja. O pior inimigo não é protestantismo e suas heresias malucas, o pior inimigo é o o interno que se disfarça de católico mais que no fundo é contra ele!!! Seu tradicionalismo só tem servido para ser sedevacantista, rebelde, se colocando contra o sucessor de Pedro! Amo a tradição da Igreja e todos os seus movimentos, mais não compreendo sua posição de católico! Deveria de mudar sua postura pois a Igreja precisa de amigos do papa! Meu blog é e sempre será católico e em defesa da vida e do papa! Se não esta do lado do papa, não está do lado da Igreja! Seu blog deveria ser um espaço para defender a Igreja e toda sua universalidade! E não para dividir a Igreja! Muito me assusta sua posição! Não é esse o tradicionalismo católico que tanto amo e prezo! Fique com Deus! Jesus te Ama 


Em Contato

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas! — 14 de Novembro: A oração pelos mortos (Parte XV)




Nota do blogue:  Acompanhe esse Especial AQUI.

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!
30 meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas
por Monsenhor Ascânio Brandão

Livro de 1948 - 243 pags
Casa da U.P.C.
Pouso Alegre





14 de Novembro

A ORAÇÃO PELOS MORTOS


Saudade e oração


Não julguemos que lembrar nossos mortos é ter apenas deles uma saudade que aos poucos vai decres­cendo em intensidade, à medida que passam os anos. Chorar nossos mortos e perpetuar-lhes a lembrança no mármore, na tela, no livro é permitido, sim. Po­rém, não fiquemos só nisto. Juntemos à saudade a oração. Não basta chorar, precisamos orar. E nun­ca se precisa tanto de oração como depois da morte. No purgatório as pobres almas estão como o paralítico da piscina que dizia a Jesus: — Hominem non habeo! Senhor, eu não tenho um homem que me lan­ce na piscina para ser curado.

Dependem aquelas almas santas de nossos sufrá­gios, de nossas orações e sacrifícios. Deus as entre­gou à nossa caridade. Sempre é eficaz a nossa oração pelas almas.

“É infinitamente mais útil e eficaz a oração pela libertação dos defuntos que padecem no purgatório, que a oração pelos pecadores da terra, cuja perversi­dade e más disposições paralisam os esforços para os salvar. As santas almas não põem obstáculo algum à eficácia das orações que por elas fazemos.” Tal é a opinião do piedoso oratoriano Pe. Faber.

Juntemos à nossa imensa saudade dos mortos nossos queridos, a oração e sempre a oração.

Escreveu o Pe. Sertillanges: “A lembrança dos mortos sem a oração, é uma lembrança fria, um tris­te pensamento. É uma exploração do nada. Porém com a oração, é um vento que sopra em direção a Deus, é uma ascensão nas asas da esperança”. (Le probléme de la prière. Revue de Jeunes — Nov. 1915.)

Oremos pelas almas benditas que padecem no purgatório! Demos-lhe a esmola de nossas preces fer­vorosas e da riqueza das indulgencias do tesouro da Igreja.

Dizia São Francisco de Sales: “Vós que chorais inconsoláveis a perda de vossos entes queridos, eu não vos proíbo de chorar, não! Chorai, mas procurai adoçar vossas lágrimas com o suave bálsamo da ora­ção que muito mais do que todas as demonstrações exteriores de pesar, pode concorrer para aliviar as almas que a morte vos arrebatou”.

Esta é também a linguagem da Igreja, nossa Mãe. Não proíbe nossas lágrimas. É tão humano chorar! Todavia não fiquemos tão só num pranto estéril e desesperado. Oremos! Juntemos ao pranto nossas orações. Saudade e oração. Choremos nossos mortos como cristãos verdadeiros.


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