quinta-feira, 3 de julho de 2014

EM QUE CONSISTE A FELICIDADE CELESTE?


DESTAQUE

‘Qualquer um que deseje algo, não goza nem se alegra nem descansa enquanto não o obtém. E nas coisas temporais ocorre que se apetece o que não se tem, e o que se possui se despreza e produz tédio; mas não é assim nas coisas espirituais. Pelo contrário, quem ama a Deus o possui, e por isso o ânimo de quem O ama e O deseja n’Ele descansa’.


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EM QUE CONSISTE A FELICIDADE CELESTE?


Segundo Pe. Royo Marín, O.P., para que um objeto seja a causa de alegria e felicidade perfeita para o homem, ele deve resumir em si quatro condições essenciais: ser o bem supremo que não entre em confronto com outro maior; excluir toda e qualquer mescla de mal; saciar por completo todas as aspirações do coração humano; e, por último, ser estável, ou seja, que uma vez obtido não possa ser perdido. Segundo este moralista, tais requisitos não são cumpridos por nenhum dos seres criados, sejam eles dinheiro, fama, glória, beleza, etc.; essa tese é confirmada taxativamente pela Santa Mãe Igreja (CCE 1723): “a verdadeira alegria não está nas riquezas ou no bem-estar, nem na glória humana ou no poder, nem em qualquer obra humana por mais útil que seja, como as ciências, a técnica e as artes, nem em outra criatura qualquer, mas apenas em Deus, fonte de todo o bem e de todo amor“.

O Pe. Royo Marín dá as razões: as riquezas, por exemplo, além de fomentarem progressivamente o desejo de mais fortunas, não excluem certos infortúnios como enfermidades e mortes, e podem ser perdidas por qualquer eventualidade. Similarmente, as honras, a fama e o poder são instáveis, pois cessam após a morte. Quem, por exemplo, se lembra hoje das personalidades que encheram os jornais de há um século?


Como ensina, pois, Santo Agostinho, só a posse de Deus pode proporcionar ao homem a máxima felicidade. Todavia, sendo Deus infinito, como poderia o homem obter a Deus? Esta resposta, a dá, de forma magistral, o Doutor Angélico: [A caridade] produz no homem a perfeita alegria. Com efeito, ninguém tem verdadeiro gáudio se não vive na caridade. Porque qualquer um que deseje algo, não goza nem se alegra nem descansa enquanto não o obtém. E nas coisas temporais ocorre que se apetece o que não se tem, e o que se possui se despreza e produz tédio; mas não é assim nas coisas espirituais. Pelo contrário, quem ama a Deus o possui, e por isso o ânimo de quem O ama e O deseja n’Ele descansa. (ANDRIA, Pedro de. Los mandamientos comentados por Santo Tomas de Aquino. 2. ed. Mexico: Tradición, 1981, p. 12: “[La caridad] produce en el hombre la perfecta alegría. En efecto, nadie posee en verdad el gozo si no vive en la caridad. Porque cualquiera que desea algo, no goza ni se alegra ni descansa mientras no lo obtenga. Y en las cosas temporales ocurre que se apetece lo que no se tiene, y lo que se posee se desprecia y produce tedio; pero no es así en las cosas espirituales. Por el contrario, quien ama a Dios lo posee, y por lo mismo el ánimo de quien lo ama y lo desea en El descansa”)

EM QUE CONSISTE A VERDADEIRA LIBERDADE?























É grande erro, crer que a faculdade ou poder de pecar pertença à essência da liberdade. Pelo contrário, essa defectibilidade da liberdade humana que lhe põe nas mãos o triste privilégio de poder pecar, é um grande defeito e imperfeição da mesma liberdade, que afeta unicamente às criaturas defectíveis [...]. A faculdade de poder pecar não é liberdade, mas sim depravação, libertinagem e, em definitivo, triste e vergonhosa escravidão. (Es un gran error, en efecto, creer que la facultad o poder de pecar pertenezca a la esencia de la libertad. Al contrario, esa defectibilidad de la libertad humana que le pone en las manos el triste privilegio de poder pecar, es un gran defecto e imperfección de la misma libertad, sino depravación, libertinaje y, en definitiva, triste y vergonzosa esclavitud” (ROYO MARIN, Antonio. Jesucristo y la vida cristiana. Madrid: BAC, 1961. p. 16)7.


Onde se encontra então esta liberdade extremamente procurada?

A liberdade consiste em que o homem siga aquele primeiro impulso que o incita invariavelmente para o bem. De acordo com o ensinamento de Leão XIII, em sua encíclica Libertas praestantissimum: Tal é a lei natural, a mais eminente de todas, escrita e gravada no coração de cada ser humano, pois a própria razão humana ordena fazer o bem e proíbe pecar. Mas esta prescrição da razão humana só pode ter força de lei porque é voz e intérprete de uma razão mais elevada, à qual se devem submeter nosso espírito e nossa liberdade (D 3247). A dignidade do homem exige que ele proceda segundo a própria consciência e por livre adesão [...] O homem atinge essa dignidade quando, libertando-se das escravidões das paixões, tende para o fim pela livre escolha do bem e procura a sério e com diligente iniciativa os meios convenientes (VS 42). Assim sendo, o homem verdadeiramente livre não é aquele que faz tudo quanto lhe passa pela cabeça, inclusive o mal, mas é o homem que aceita o seu primeiro impulso bom, o segue sempre e não admite embaraços que venham tolher este impulso.

Muitos padres para poucos, poucos padres para muitos. O insucesso das dioceses brasileiras


DESTAQUE


Minha diocese vem enfrentando um processo de secularização intenso, com conselhos de leigos comandando a vida paroquial e tomando, com a devida anuência episcopal, diversas funções reservadas aos ordenados. Tudo por aqui se resolve com planos e conselhos, de forma burocrática. Não por acaso a eficiência da diocese é semelhante ao de uma repartição pública.

Várias dioceses perceberam que a Tradição não deve ser evitada ou ridicularizada. Na França, por exemplo, onde a crise vocacional nas dioceses é imensa e onde o movimento tradicional tem a sua maior força, alguns bispos abriram as portas dos seminários ao rito tradicional. Em Lião o cardeal Barbarin já permite que os seus seminaristas aprendam a rezar a missa antiga. A diocese de Fréjus-Toulon abriga o maior seminário da França em números totais de seminaristas e desde a posse de Dom Dominque Rey como bispo se permite que os seminaristas aprendam o rito antigo e, ainda mais, escolham a forma da ordenação - no rito moderno ou tradicional. Inclusive Dom Rey fundou uma sociedade sacerdotal (Missionários da Divina Misericórdia) voltada para o rito antigo.

A abertura à tradição não acontece exclusivamente no ambiente religioso das fraternidades ou institutos. Algumas dioceses, com bispos realmente comprometidos com a causa da fé, também realizam experiências bem sucedidas nesse campo. Tomemos, por exemplo, Ciudaddel Este, que só este mês recebeu mais de uma dezena de novos seminaristas. Há ainda o seminário de Guadalajara, o maior do mundo, com mais de 1200 seminaristas. As duas casas de formação apostaram na abertura generosa à tradição católica e agora colhem os frutos. Já escrevemos sobre elas aqui.


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Muitos padres para poucos, poucos padres para muitos. O insucesso das dioceses brasileiras


Três diáconos da FSSP sendo ordenados ao sacerdócio - junho/2014



Chegamos ao final do mês de junho, um mês que dentro do calendário católico é marcado tradicionalmente por ordenações. Chegamos ao final do mês e minha diocese não terá o que comemorar, pois o número de novos padres é zero.

Minha diocese é um espelho daquela diocese típica do Brasil. Conta com mais de 1 milhão de pessoas, sendo aproximadamente 600 mil católicos. São 15 cidades, 66 paróquias e quase-paróquias e apenas 60 padres diocesanos, alguns deles já aposentados. Se não fosse pelo clero religioso, com 49 padres de 11 congregações/institutos, muitas paróquias estariam sem padres.

O grande número de padres religiosos se deve ao passado recente da diocese que, imediatamente depois do Concílio Vaticano II, viu seu seminário diocesano vazio. Não estou falando de uma diminuição de vocações, mas de uma verdadeira extinção em massa de seminaristas por aqui, que durou praticamente 10 anos. Dois ou três seminaristas, na década de 70, foram enviados à São Paulo para o período formativo. E retornaram para a diocese como bastiões da Teologia da Libertação, diga-se de passagem.

década perdida na igreja diocesana é um sintoma do fracasso da teologia liberal e que nos marca até hoje. Queria poder dizer que essa página já foi virada e superada na nossa história, mas ela ainda persiste.


Ordenados na FSSPX (EUA)

Meu bispo diocesano goza de 9 anos à frente da diocese. Nesses nove anos ele ordenou 8 padres e um dos neo-sacerdotes abandonou o sacerdócio para se casar antes do primeiro aniversário de ordenação. Em termos numéricos, naquela função primordial que é própria do bispo diocesano, que é dar à comunidade de fiéis pastores, meu bispo fracassa, a diocese fracassa categoricamente.

Corremos o risco de outra década perdida em termos vocacionais. O seminário diocesano conta, hoje, com cinco seminaristas na etapa inicial (propedêutico), doze cursando filosofia e nove cursando teologia. Temos três seminários funcionando e consumindo recursos para apenas 26 seminaristas, sendo que a maioria nem será ordenada. Este ano, como em 2008 ou 2011, não teremos novos sacerdotes.

Meu bispo é contrário a tudo - absolutamente tudo - que cheira a tradição. Missa tradicional? Nem pensar! Inclusive ameaça padres que manifestam alguma vontade em celebrá-la, ainda que remotamente. Sem dúvida é uma pena que, como bispo, se comporte de forma tão intolerante, porque se desse espaço para a Tradição tenho certeza que seus três seminários poderiam estar em situação muito diferente da atual.

Mons. Schneider com mais sacerdotes ordenados para a FSSP


Enquanto 600 mil católicos não conseguem ter pelo menos um neossacerdote por ano, muitas comunidades tradicionais mostram seu vigor com inúmeras vocações. Os números até o momento:

Fraternidade São Pedro - 10 sacerdotes
Fraternidade São Pio X - 20 sacerdotes
Cônegos de São João Câncio - 3 sacerdotes (biritualistas)
Cônegos do Instituto Cristo Rei - 5 sacerdotes (número ainda não oficialmente confirmado, a ordenação se dará em agosto)

Com as ordenações deste ano a Fraternidade de São Pio X atinge +600 sacerdotes, a Fraternidade São Pedro chega a 420. Certamente todas as comunidades listadas acima não atendem a um universo de 600 mil almas. Seu apostolado é muito mais restrito, porém é espiritualmente eficiente.

Ordenação em Econe (Suíça)


Meu bispo, como vários outros bispos brasileiros, não percebe ou não quer perceber que o caminho trilhado até agora é infrutífero. Sobretudo o orgulho é a grande trave nos olhos de muitos mitrados.

Minha diocese vem enfrentando um processo de secularização intenso, com conselhos de leigos comandando a vida paroquial e tomando, com a devida anuência episcopal, diversas funções reservadas aos ordenados. Tudo por aqui se resolve com planos e conselhos, de forma burocrática. Não por acaso a eficiência da diocese é semelhante ao de uma repartição pública.

O ápice da secularização foi, em 2008, um processo de revisão "ampla" orientado por um leigo contratado ($) especialmente para prestar consultoria. O resultado da revisão foi festejado pelo bispo na forma de mais um plano de pastoral (o 6º!) que diz praticamente a mesma coisa que os outros cinco planos anteriores. O 6º Plano de Pastoral é alardeado como a maior conquista deste episcopado, sendo considerado uma verdadeira panaceia para todos os males pastorais que essa igreja particular enfrenta.

Neo-sacerdotes da FSSP, ordenados em Roma
por Mons. Guido Pozzo


Por outro lado, os membros das Fraternidades de São Pedro e São Pio X não parecem apostar na burocracia, nos planos pastorais, como ponto de partida. Jesus não disse "Ide e fazei Planos Pastorais", mas pediu que seus apóstolos fizessem discípulos. É na missão, na conversão pessoal que as comunidades tradicionais focam seu apostolado e conseguem tantos frutos espirituais, apesar do seu tamanho e da perseguição dentro da própria igreja. Seguir o Evangelho é o melhor plano pastoral possível e somente uma diocese esvaziada da sua essência cristã pode focar tanto em papel, conselhos, comissões, etc.


Experiências também nas dioceses 

A abertura à tradição não acontece exclusivamente no ambiente religioso das fraternidades ou institutos. Algumas dioceses, com bispos realmente comprometidos com a causa da fé, também realizam experiências bem sucedidas nesse campo. Tomemos, por exemplo, Ciudaddel Este, que só este mês recebeu mais de uma dezena de novos seminaristas. Há ainda o seminário de Guadalajara, o maior do mundo, com mais de 1200 seminaristas. As duas casas de formação apostaram na abertura generosa à tradição católica e agora colhem os frutos. 
Já escrevemos sobre elas aqui.

Novos seminaristas de Ciudaddel Este. O reitor do seminário ao centro
depois de rezar a missa tradicional e dar a tonsura aos novos seminaristas



Várias dioceses perceberam que a Tradição não deve ser evitada ou ridicularizada. Na França, por exemplo, onde a crise vocacional nas dioceses é imensa e onde o movimento tradicional tem a sua maior força, alguns bispos abriram as portas dos seminários ao rito tradicional. Em Lião o cardeal Barbarin já permite que os seus seminaristas aprendam a rezar a missa antiga. A diocese de Fréjus-Toulon abriga o maior seminário da França em números totais de seminaristas e desde a posse de Dom Dominque Rey como bispo se permite que os seminaristas aprendam o rito antigo e, ainda mais, escolham a forma da ordenação - no rito moderno ou tradicional. Inclusive Dom Rey fundou uma sociedade sacerdotal (Missionários da Divina Misericórdia) voltada para o rito antigo.

Dom Dominque Rey, bispo de Fréjus-Toulon, com dois
novos sacerdotes ordenados no rito tradicional (maio/2014)


Quem não tem cão, caça com gato


Devido a ausência de vocações, minha diocese decidiu, talvez guiada pelo espírito do 6º Plano de Pastoral, dar atenção aos diáconos permanentes. Não sou um crítico do diaconato permanente e acredito que a Igreja deva ter diáconos não-transitórios em suas fileiras, mas há um grave problema quando colocamos os diáconos permanentes (casados) como um paliativo para a falência da atividade vocacional. Por aqui são 56, dentre os quais 26 foram ordenados nos últimos 9 anos. Corremos o risco de nos tornarmos uma diocese parecida com "San Cristóbal de Las Casas", no México, que já foi assunto neste blog.

Nos próximos 10 anos o clero diocesano atingirá aquela faixa de idade crítica, onde mais da metade dos padres terá chegado aos 60 anos ou mais. Se as ordenações continuarem acontecendo no ritmo atual - e acredito que elas tendem a cair ainda mais - teremos problemas ainda mais sérios. O número crescente de logdenominações protestantes já é notado por aqui há muito tempo, com bairros de periferia com mais de 8 "igrejas" neo-pentecostais abertas e com um número cada vez maior de pastores. Não por acaso temos um dos mais baixos índices de católicos apurados pelo IBGE no último censo, abaixo da média brasileira que já é preocupante.

A resposta para esses problemas não virá com um 7º Plano de Pastoral, nem com a construção de mais um seminário, mas de uma verdadeira conversão do alto. Precisamos que o bispo perceba o caminho danoso que vem trilhando junto com os milhares de conselheiros, administradores, consultores, etc. ou que Deus nos mande um outro bispo.



Fonte: Blogonicvs
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