sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Passando um mata-borrão na vida eterna, para fugir do temor de Deus



O padre Jean-Marie Humeau, pároco de Taverny (Val-d’Oise), responsável diocesano da pastoral dos funerais, não titubeia em dizer que, em Essonne, “os funerais civis já são 50%”, acrescentando: “Quando a Igreja propõe, a proposta é acolhida”.

Para Patricia Duchesne, leiga católica, encarregada por Dom Pascal Delannoy (bispo de Saint-Denis) de ‘administrar’ esse trabalho, “estamos no extremo limite da diminuição do cristianismo na França”. Por isso, paradoxalmente, ela vê a sua ‘capelania’ como “uma porta de entrada na Igreja” [sic! sic! sic!].

Mathieu, conservador do ”Jardim da Recordação”, constata a “substituição do princípio da imortalidade da alma pelo nosso próprio princípio de imortalidade”. Segundo ele, com o cancelamento das concessões perpétuas, passamos da ‘última morada’ para o ‘último hotel’...


Mais uma pavorosa faceta da autodemolição da Igreja.


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Os ‘cemitérios laicos’ da França

Cemitérios da França se adaptam à laicização da morte. Em cada cova de cinzas de cremação, uma árvore, e nenhum símbolo religioso
Cemitérios da França se adaptam à laicização da morte. Em cada cova de cinzas de cremação, uma árvore, e nenhum símbolo religioso (Reprodução)

As cinzas humanas estão lá, espalhadas ao pé das árvores. A poucos passos da entrada do cemitério intermunicipal de Joncherolles (Seine-Saint-Denis), na França, perto do crematório, que recebendo 1.200 corpos por ano, o “Jardim da Recordação” tem uma atmosfera de tranquilidade.

A reportagem é de Frédérique Mounier, publicada no jornal La Croix, 29-10-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Desejado em todos os municípios de mais de 2.000 habitantes pela lei de 19 de dezembro de 2008, relativa à cremação, já como parte preponderante das exéquias, o "Jardim da Recordação" de Joncherolles conheceu uma evolução interessante.MathieuLegrand, seu conservador, a explica: “Teoricamente, as cinzas devem ser derramadas no ‘poço das cinzas’”.

O poço, fechado por uma plataforma de pedras, é cercado por um memorial composto por placas nominativas que lembram a identidade dos falecidos. Mas eis que “as árvores se tornaram sepulturas. É um modo diferente de viver o luto”, constata o conservador. Como explica Annie Paggetti, diretora do crematório, “a cremação não significa nem o desaparecimento do vínculo, nem do lugar”. Ela não acredita na “privatização das cinzas”, muitas vezes denunciada.

O cemitério de Joncherolles, com seus 25 hectares, com 14 mil lugares, pulmão verde prensado entre as oficinas de conserto ferroviário, armazéns e uma zona industrial, é uma vitrine as mudanças ignoradas por muitos da paisagem funerária francesa. Estando situado no departamento 93 (Seine-Saint Denis), a primeira religião dos “seus” defuntos é o Islã. E das 9.000 sepulturas não muçulmanos e não judias, 7.500 não apresentam nenhum sinal religioso.

O cálculo foi realizada por Patricia Duchesne, responsável pela ‘capelania’ do cemitério, única na França. O seu escritório, sóbrio e sem símbolos religiosos, fica ao lado do de Annie Paggetti. A sua constatação: “Realizamos 300 cerimônias religiosas por ano. Ou seja, 25% do total. Para as pessoas que vêm aqui, as palavras ‘paróquia’, ‘padre’, ‘sacramento’ não têm nenhum sentido. Muitas vezes, estão abatidos, destruídos, feridos. Elas nos dizem: ‘Ajudem-me apesar de tudo, salvem-me embora eu não creia’. Nesse sentido, estamos aqui como a Igreja fora da Igreja, como missionários às margens”.

Evidentemente, ela acha muito importante o convite do Papa Francisco de ir às periferias. Para essa leiga encarregada por Dom Pascal Delannoy, bispo de Saint-Denis, “estamos no extremo limite da diminuição do cristianismo na França”. Por isso, paradoxalmente, ela vê a sua capelania como “uma porta de entrada na Igreja”.

Do outro lado da França, o arquiteto Marc Barani, prêmio nacional de arquitetura de 2013, se apaixonou pelos cemitérios: “Eu poderia construí-los por toda a vida!”, diz ele hoje. Por quê? Porque, retornando de um ano no Nepal, ele renovou em 1992 o cemitério de Roquebrune-Cap Martin (Alpes-Maritimes), justamente onde está enterrado o seu grande “colega” Le Corbusier.

Impressionado pela continuidade oriental entre a morte e a vida, o arquiteto lamenta, no Ocidente, “a dificuldade de se estabelecer em um tempo longo”, “a aceleração do tempo ligada à negação da morte, que se tornou inominável” e “o abandono da arte funerária”.

Ele constata a “substituição do princípio da imortalidade da alma pelo nosso próprio princípio de imortalidade: com o cancelamento das concessões perpétuas, passamos da ‘última morada’ para o ‘último hotel’”. Ele nota que “a desagregação das famílias não favorece a unidade de tempo e de lugar”. E vê na explosão da cremação “um modo de matar a morte mais rapidamente, simplesmente porque a decomposição dos corpos dá medo”.

Ainda em 2002, o sociólogo Jean-HuguesDechaux tinha entrevisto o “processo de intimização” do funeral: “A morte, desritualizada, diz respeito cada vez mais à subjetividade de cada um. Ela não encontra outro modo para se expressar socialmente do que a partir da experiência íntima. Daí deriva a regressão dos ritos antigos, que afiliam e celebram uma passagem, regulando socialmente uma expressão da dor”.

O padre Jean-Marie Humeau, pároco de Taverny (Val-d’Oise), responsável diocesano da pastoral dos funerais, não compartilha essa severidade. Certamente, de acordo com a doutrina da Igreja, que, depois do Concílio Vaticano II, não condena mais a cremação, mas não a favorece, ele explica: “Destruir o corpo que foi o templo do Espírito com um ato voluntário não é a mesma coisa que pô-lo na terra, continuando assim a obra da criação”. No entanto, constatando que em Essonne “os funerais civis já são 50%”, ele continua: “Quando a Igreja propõe, a proposta é acolhida”.[SIC! SIC! SIC!]

Ele vê nisso duas condições: “Tudo depende da iniciativa deixada aos leigos formados e responsáveis pela pastoral dos funerais”, que hoje são cerca de uma centena em cada diocese. E, acima de tudo, da presença da Igreja nos crematórios, sabendo que alguns bispos e alguns responsáveis desses locais de incineração manifestam uma oposição real a tal presença.

Em Joncherolles, MathieuLegrand, não está preocupado: “Os cemitérios não vão desaparecer. Eles vão se transformar, vão se adaptar à demanda de cremação, às cerimônias civis, tornando-se mais ‘paisagísticos’”. Uma constatação compartilhada pela sua “capelã”, PatriciaDuchesne, que já constata essa transformação.

Os profissionais do ato fúnebre, atentos à evolução desse que também é um mercado, além disso, não estão isentos de sentido espiritual. Prova disso é a qualidade formal das “salas de apresentação”, das “salas de entrega da urna” ou das “salas conviviais” (abertas às famílias durante a cremação) oferecidas às famílias, aos parentes e amigos dos falecidos no cemitério de Joncherolles. A equipe dos gestores enfatiza a “acolhida vivida como cuidado”, observaAnnie Paggetti. Discursos, projeção de fotos e vídeos, e música já pontuam as cerimônias civis, que são as mais numerosas.

Daí deriva a insistência do padre Humeau: “Muitas vezes, essas lembranças sevoltaram ao passado. Quando nos pedem uma celebração católica, nós propomos às famílias que façam essas lembranças no início do rito, porque ele tem o objetivo de abrir para o futuro”.

Tradução: Moisés Sbardelotto, IHU On-line
Fonte: Pragmatismo Político

RESUMO DA ENCÍCLICA ACERBO NIMIS, DE SÃO PIO X, SOBRE O ENSINO DA DOUTRINA CRISTÃ






[…] Do mal que padece a religião não há ninguém, animado pelo zelo da glória divina, que não investigue as causas e razões, sucedendo porém que, como cada qual as encontra diferentes, propõe diferentes meios, segundo a sua opinião pessoal, para defender e restaurar o reinado de Deus na terra.
Não prescrevemos, Veneráveis Irmãos, outros juízos, mas estamos com os que pensam que a atual depressão e debilidade das almas, de que resultam os maiores males, provêm, principalmente, da ignorância das coisas divinas.
[...] Necessidade de instrução. Citando Bento XIV: Afirmamos que a maior parte dos condenados às penas eterna padecem sua perpétua desgraça por ignorar os mistérios da fé, que necessariamente se devem saber e crer para que alguém se conte entre os eleitos. (Instit. 27,18).

[...] Efeitos da doutrina. A doutrina cristã nos faz conhecer a Deus e o que chamamos suas infinitas perfeições, muito mais profundamente que as faculdades naturais. Mais: ao mesmo tempo, manda-nos reverenciar a Deus por obrigação de fé, que se refere à razão; por dever de esperança, que se refere à vontade; e por dever de caridade, que se refere ao coração, com o que deixa todo o homem submetido a Deus, seu Criador e moderador. Da mesma maneira, só a doutrina de Jesus Cristo põe o homem de posse da sua verdadeira e nobre dignidade, como filho que é do Pai Celestial, que está no céu, e que o fez à sua imagem e semelhança para viver com Ele eternamente feliz. Mas, desta mesma dignidade e do conhecimento que delas se há de ter, infere Cristo que os homens devem amar-se mutuamente como irmãos e viver na terra como convém aos filhos da luz: não em glutonarias e na embriaguez, não em desonestidades, não em contendas e emulações [Rom. 13,13]. Manda, igualmente, que nos entreguemos nas mãos de Deus, que cuida de nós; que socorramos o pobre, façamos bem aos nossos inimigos e prefiramos os bens eternos da alma aos perecedouros do tempo. E, ainda que não tratemos tudo pormenorizadamente, não é por acaso doutrina de Cristo a que recomenda e prescreve ao homem soberbo a humildade, origem da verdadeira glória? Todo aquele, pois, que se fizer pequeno, esse será o maior no reino dos céus [Mat.18,4]. Nesta celestial doutrina, ensina-se-nos a prudência do espírito, para que nos guardemos da prudência da carne; a justiça, para dar a cada um o que é seu de direito; a fortaleza, que nos dispõe a sofrer e padecer tudo generosamente por Deus e pela eterna bem-aventurança enfim, a temperança, que não só nos torna amável a pobreza por amor de Deus, mas, em meio a nossas humilhações, faz com que nos gloriemos na cruz. Depois, graças à sabedoria cristã, não só nossa inteligência recebe a luz que nos permite alcançar a verdade, mas também a própria vontade se enche daquele ardor que nos conduz a Deus e nos une a Ele pela prática da virtude. Longe estamos de afirmar que a malícia da alma e a corrupção dos costumes não possam coexistir com o conhecimento da religião. Quisera Deus que a experiência não o demonstrasse [o contrário] com tanta freqüência. Mas entendemos que, quando ao espírito envolvem as espessas trevas da ignorância, nem a vontade pode ser reta, nem são os costumes. Aquele que caminha de olhos abertos poderá afastar-se, não se nega, do rumo reto e seguro; mas o cego está em perigo de perder-se. Ademais, quando não se está inteiramente apagada a chama da fé, ainda resta a esperança de que se elimine a corrupção dos costumes; mas quando à depravação se junta a ignorância da fé, já não resta lugar a remédio, e permanece aberto o caminho da ruína.

O primeiro ministério. [...] Apascentar é, antes de tudo, doutrinar: Eu vos darei pastores segundo o meu coração, os quais vos apascentarão [Jer. 3,15]. E por isso, dizia também o apóstolo São Paulo: Cristo não me enviou a batizar, mas a pregar [1Cor. 1,17], advertindo assim que o principal ministério de quantos exercem de alguma maneira o governo da Igreja consiste em ensinar aos fiéis as coisas sagradas.

[...] Importa muito, irmãos, assentar bem aqui – e insistir nisso – que para todo e qualquer sacerdote é este o dever mais grave, mais estrito, a que está obrigado. Porque quem negará que, no sacerdote, à santidade de vida deve estar unida a ciência? Os lábios do sacerdote serão os guardas da ciência [Mal. 2,7]. E, com efeito,a Igreja rigorosamente a exige de quantos aspiram a ordenar-se sacerdotes. E por quê? Porque o povo cristão espera receber dos sacerdotes o ensino da divina lei, e porque Deus os destina a propagá-la. Da sua boca se há de aprender a lei, porque ele é o anjo do Senhor dos exércitos [Ibid.].Por isso, no momento da ordenação, diz o bispo, dirigindo-se aos que vão ser consagrados sacerdotes: Que vossa doutrina seja o remédio espiritual para o povo de Deus; que todos sejam previdentes colaboradores de nosso encargo, de modo que, meditando dia e noite acerca da santa lei, creiam naquilo que leram e ensinem aquilo em que creram [Pontif. Rom.].

Disposições da Igreja. Por isso, o sacrossanto Concílio de Trento, falando aos pastores de almas, declara que a primeira e maior de suas obrigações é a de ensinar o povo cristão.

Instrução popular. [...] Não ignoramos, em verdade, que este método de ensinar a doutrina cristã não é grato a muitos, que o estimam insuficiente e talvez impróprio para atrair o louvor popular; mas Nós declaramos que semelhante juízo pertence aos que se deixam levar pela ligeireza mais que pela verdade.
[...] o ensino catequético, conquanto simples e humilde, merece que se lhe apliquem estas palavras que disse Deus por Isaías: E assim como desce do céu a chuva e a neve, e não voltam mais para lá, mas embebem a terra, e fecundam-na e fazem-na germinar, a fim de que dê semente ao que semeia, e pão ao que come; assim será a minha palavra que sair da minha boca; não tornará para mim vazia, mas fará tudo o que eu quero, e produzirá os efeitos para os quais a enviei [Is. 55,10,11]. [...] Mas o ensino da doutrina cristã, bem feito, jamais deixa de aproveitar aos que o escutam.

Se é coisa vã esperar colheita em terra não semeada, como esperar gerações adornadas de boas obras se oportunamente não foram instruídas na doutrina cristã? Donde justamente concluímos que, se a fé enlanguesce em nossos dias até quase parecer morta em uma grande maioria, é porque se cumpriu descuidadamente, ou se descumpriu de todo, a obrigação de ensinar as verdades contidas no Catecismo.


[...] Observai, rogamo-vos e pedimos, quão grandes estragos produz nas almas a ignorância das coisas divinas. Talvez tenhais estabelecido em vossas dioceses, muitas obras úteis e dignas de louvor, para o bem de vossa grei; mas com preferência a todas elas, e com todo o empenho, afã e constância que vos sejam possíveis, buscai esmeradamente que o conhecimento da Doutrina cristã penetre por completo na mente e no coração de todos. Comunique cada um ao próximo – repetimos com o apóstolo São Pedro – o dom que recebeu, como bons dispensadores da multiforme graça de Deus [1Pet. 4,10].



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