sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Destruir grupo jihadista é uma missão impossível


DESTAQUE

“Destruir uma organização significa erradicá-la para sempre, como as potências aliadas fizeram com o partido nazista na Alemanha durante a 2ª Guerra”, disse Christopher Harmer, ex-oficial da Marinha americana e analista do Institute for the Study of War. “Se você usa a palavra ‘destruir’, está falando de uma vitória política e militar abrangente”, disse Harmer. “Se a missão é destruir (o EI), o que estamos fazendo agora é inteiramente inadequado”.

Para destruir efetivamente o EI seria preciso um grande comprometimento de forças de combate terrestres, mas Obama já disse que elas não virão dos EUA. Com isso, qualquer estratégia com base na eliminação do grupo é tolhida pela falta de um ingrediente básico.

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Análise: Shane Harris / Foreign Policy



Em pronunciamento transmitido pela TV, o presidente americano, Barack Obama, falou ao povo americano e estabeleceu o que a Casa Branca está apregoando como uma estratégia firme para “degradar e finalmente destruir” o Estado Islâmico (EI). Um problema: isto será literalmente impossível.

Os EUA passaram mais de uma década tentando eliminar a Al-Qaeda, mas apesar de dizimar o grupo, seu líder fugitivo, Aymanal-Zawahiri, continua vivo e as ramificações do grupo operam no Mali, Iêmen, Somália e em uma lista crescente de outros países. Israel passou décadas combatendo o Hezbollah e o Hamas, mas estes grupos continuam capazes de lançar operações de combate em larga escala, como a recente guerra em Gaza.

“Destruir uma organização significa erradicá-la para sempre, como as potências aliadas fizeram com o partido nazista na Alemanha durante a 2ª Guerra”, disse Christopher Harmer, ex-oficial da Marinha americana e analista do Institute for the Study of War. “Se você usa a palavra ‘destruir’, está falando de uma vitória política e militar abrangente”, disse Harmer. “Se a missão é destruir (o EI), o que estamos fazendo agora é inteiramente inadequado.”

Destruir o EI, por esta definição, exigiria erradicar ou neutralizar milhares de combatentes, expulsando-os dos territórios que o grupo controla no Iraque e privando-os de sua base de operações na Síria, para onde os consultores militares de Obama disseram que a luta deve se encaminhar. O fato de terem recrutado centenas de combatentes ocidentais, assim como consideráveis somas de dinheiro e acesso a receitas de petróleo, também o torna resistente.

A escolha de palavras do presidente é crucial porque moldará o futuro da intervenção militar americana no Iraque, que até agora conta mais de 150 ataques aéreos realizados em coordenação com forças terrestres iraquianas e curdas. No entanto, os EUA não informaram quantos combatentes radicais foram mortos e a campanha até agora parece não ter causado danos significativos na capacidade da organização de se movimentar no Iraque e na Síria ou de controlar grandes cidades em ambos os países.

Logo que é expulso de uma área, o EI aparece em outra, como fez recentemente em Haditha, onde aviões americanos haviam bombardeado seus militantes. Para destruir efetivamente o EI seria preciso um grande comprometimento de forças de combate terrestres, mas Obama já disse que elas não virão dos EUA. Com isso, qualquer estratégia com base na eliminação do grupo é tolhida pela falta de um ingrediente básico. Destruir o EI, porém, exigiria uma reconciliação política no Iraque para quebrar a aliança do grupo rebelde com baathistas e tribos sunitas e voltá-los contra o EI.


A lição é clara: redes terroristas são persistentes e elas voltam a seus alvos favoritos várias vezes. Se destruir o EI não está no programa, o que dizer de “derrotá-lo”? Trata-se de um objetivo mais limitado e potencialmente mais viável, mas ainda assim muito ambicioso e, provavelmente, impossível de se alcançar.

Fonte: ESP

Cristãos no Iraque – ‘Preferimos morrer a esconder a nossa cruz’



DESTAQUE

Das igrejas fizeram casa. Continuam a ir à missa – rezam pela paz. Mas onde havia milhares de cristãos, como em Mossul, não há agora nenhum. "A vida deles está completamente virada do avesso", diz à Renascença, a partir do Iraque, um elemento da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre.


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Cristãos num abrigo em Erbil, Iraque. Foto: Ahmed Jalil/EPA


















Das igrejas fizeram casa. Continuam a ir à missa – rezam pela paz. Mas onde havia milhares de cristãos, como em Mossul, não há agora nenhum. "A vida deles está completamente virada do avesso", diz à Renascença, a partir do Iraque, um elemento da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre.

De um dia para o outro, tudo mudou para os cristãos no Iraque. Entre conversão ao Islão ou o pagamento do imposto exigido pelo autoproclamado Estado Islâmico, não tiveram escolha. Deixaram tudo para trás. No meio do desespero não sobrou tempo para preparos. Muitos fugiram de mãos vazias e sem dinheiro nos bolsos.

"Os refugiados estão a abrigar-se em igrejas, alguns deles estão em parques a viver em tendas. Nesta altura do ano, as temperaturas atingem os 43, 45 graus. São condições muito difíceis", conta à Renascença Regina Lynch, directora de projectos da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), organização dependente do Vaticano.

"Conhecemos uma família que demorou cinco horas a fazer uma viagem que normalmente demoraria uma hora e meia. Eram 24 pessoas numa carrinha que transporta oito no máximo. Isto mostra a forma desesperada como as pessoas tiveram que abandonar a região", conta, por telefone.

Com Regina Lynch, estão no Iraque o presidente internacional da AIS, Johannes von Heereman, e a directora de comunicação, Maria Lozano. Querem conhecer de perto os cristãos perseguidos e as suas necessidades. Querem lembrar-lhes que não estão sós e dar-lhes voz.

A vida "do avesso"

"Há pessoas a viver em abrigos e que estão a ser registadas neste momento. Há muitos a viver com familiares em casas sobrelotadas. É difícil ter um número exacto, mas sabemos que há cerca de 70 mil refugiados à volta de Ankawa e 60 mil nas áreas a norte de Mossul. Mas a todo o momento há pessoas a chegar, famílias a bater à porta à procura de lugar para ficar", conta Lynch.

A AIS já recolheu e enviou mais de 230 mil euros para a Igreja do Iraque. O apoio vai permitir suportar necessidades básicas de milhares de cristãos iraquianos refugiados.

São urgentes "alimentos, colchões, ventiladores, frigoríficos". E alguém que os escute. "Os refugiados viram-se para a Igreja e esperam que a Igreja os ajude. Que os ajude a resolver os problemas. Outras vezes só esperam que alguém possa ouvi-los".

Têm muito para contar. Num abrir e fechar os olhos, a vida que conheciam deixou de existir. Em 2003, só em Mossul, viviam 35 mil cristãos. Pela primeira vez em dois mil anos, não sobra um único.

"As pessoas que conhecemos estão muito traumatizadas porque aconteceu tudo muito rápido. Os cristãos em Mossul, por exemplo, achavam que o exército do Governo ia protegê-los. Foi um choque para eles. A vida deles está completamente virada do avesso".

"Esta é a nossa casa, esta é a nossa história"

A delegação da AIS chegou na quarta-feira ao Iraque para uma viagem de cinco dias. Visitaram Ankawa, um subúrbio cristão da cidade de Erbil que acolhe muitos dos que fugiram de Qaraqosh. Passaram por Dohuk, onde, vindos de Mossul, cristãos em fuga procuraram refúgio. Reúnem-se com bispos, visitam abrigos, ouvem esperanças e vontades.

"Alguns dizem que querem sair, que querem emigrar. Outros contam que querem voltar para as suas aldeias, para as suas casas porque estão lá há gerações e gerações. Dizem: ‘esta é a nossa casa, esta é a nossa história’. Mas só podem voltar se houver alguma espécie de protecção internacional, uma garantia de que isto não vai acontecer outra vez".

O Patriarca Caldeu do Iraque, D. Louis Sako, tem-se desdobrado em apelos. A ele, já se juntaram os bispos da Europa numa carta enviada esta semana ao Conselho de Segurança das Nações Unidas. Pedem decisões urgentes para "para pôr fim às atrocidades cometidas contra os cristãos e outras minorias religiosas no Iraque".

Uma cruz tatuada

Por enquanto, resta confiar na generosidade dos que no terreno fazem de tudo para ajudar. 

"Soubemos de uma vila cristã que não teria mais de 60 famílias e que agora tem mais 250 famílias cristãs refugiadas. Dá para imaginar o impacto que isto tem na comunidade. As pessoas são muito generosas. Fazem tudo para ajudar os refugiados".

Pouco sabem do que vem a seguir. "É difícil para eles perceber como é que a situação se vai desenvolver. Alguns expressaram-nos o desejo, a esperança, de que uma equipa internacional de manutenção de paz entre no país e garanta a sua protecção. Outros esperam que os peshmerga, as tropas curdas, ganhem força para lutar contra o Estado Islâmico."

Regina Lynch ficou "muito comovida com a fé" dos cristãos iraquianos.

"Hoje falamos com uma senhora de idade que tem uma cruz tatuada na mão e contamos-lhe como hoje em dia na Europa são poucas as pessoas que usam cruzes. Ela respondeu: ‘nós preferimos morrer a esconder a nossa cruz'".

Fonte: Renascença
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