quarta-feira, 20 de agosto de 2014

As Catacumbas de Roma – O culto dos santos


DESTAQUE

Sobre um cálice descoberto nas Catacumbas, se lê esta inscrição em letras douradas: “Vito, vive em nome de Lourenço”; em outro, no mesmo sentido, se lê: “Eliano, vive em Jesus Cristo e São Lourenço”, ou seja, vive na graça de Jesus Cristo, pela intercessão de São Lourenço.

O culto público dado aos santos está doravante provado pelo fato incontestável que davam aos mártires mais ilustres, por um tipo de canonização, títulos honoríficos em uso na Igreja, por exemplo: “Senhor, Poderoso intercessor diante do trono de Deus, DOMINVS, DOMNVS ou simplesmente D.”

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Os monumentos que possibilitarão que façamos uma ideia exata da Igreja primitiva são os monumentos fúnebres.

Esta circunstância vai determinar a direção de nossas pesquisas. Estas pesquisas estarão naturalmente circunscritas pelo dogma que tem maior relação com a destinação das Catacumbas, a saber, a comunhão dos santos, ou seja, a Igreja triunfante, a Igreja padecente e a Igreja militante.

As almas dos mortos que morreram na graça divina estão, segundo o ensino da Igreja católica, juntas de Deus; sua morada foi estabelecida na paz do céu; elas gozam da glória e da felicidade eternas. Os túmulos das Catacumbas nos oferecem os mesmos ensinos? Iremos interrogá-los, restaurar as inscrições sepulcrais e a iconografia dos três primeiros séculos, que poderá vir em nosso socorro. Como o nosso espaço é curto, faremos apenas as citações que se justificam por sua importância dogmática.

Percorramos então os seguintes epitáfios:

“Prima, você vive na glória de Deus e na paz de N.S.J.C. VIVIS IN GLORIA DEI ET IN PACE”.
“Cheio de graça e de inocência, Severiano repousa aqui no sono da paz; sua alma foi recebida na luz do Senhor. IN LVCE DOMINI SVSCEPTVS”.

“À merecedora Saxonia: ela repousa em paz na casa eterna de Deus”.
“Lourenço nasceu para a eternidade com a idade de vinte anos; ele descansa em paz. NATVS EST IN ETERNVM”.
“Ursina – Agape – Alogia – Felicíssima – Fortunada, etc.., vivem na paz – em Deus – sempre – eternamente”.
“Hermaniscus, minha luz, vives em nosso Deus e Senhor J.C.”.
“Marciano, neófito, os céus estão abertos para ti, tu viverás na paz. CELI. TIBI. PATENT. BIBES. IN. PACE”.
Enfim:

“Alexandre não morreu; mas ele vive além dos astros; após uma brevíssima vida, ele brilha no céu. IN COELO CORVSCAT”.
Assim, aqueles que dormiram na paz de Deus, os justos repatriados, vivem eternamente. Eles foram admitidos na plenitude da luz de Deus, na casa do Senhor, na glória do Cristo. Eles nasceram para a eternidade; os céus se abriram diante deles; eles brilham aí com uma luminosidade parecida àquela dos astros. Eis a melodia ao mesmo tempo doce e forte que escapa, com um perfeito acordo, do meio dos túmulos subterrâneos, e que traz a consolação nos corações daqueles que esperam ainda o fim de seu exílio. Que protestação solene não há nesta alegre e triunfante harmonia, nesta santa confiança da Igreja apostólica, contra estas opiniões lamentáveis e pretensamente primitivas do século XVII, que não querem saber de nada da Igreja triunfante, que só admitem a entrada no céu para Jesus Cristo, e que declaram que é temerário examinar se as almas dos justos estão na felicidade; que condenam mesmo os mortos a uma espécie de dormição invencível da inteligência e da vontade, a um exílio de vários milhares de anos no vestíbulo do céu, onde eles esperam até o julgamento último a felicidade prometida!

A fé católica não se limita a esta doutrina consoladora que abre o céu às almas dos justos. Ela admite também entre o mundo terreno e o outro mundo, entre a Igreja militante e a Igreja triunfante, uma troca de relações. Todos os homens resgatados são membros de um único corpo em Jesus Cristo, formam uma sociedade, uma família imensa, unida pelo laço da caridade. Esta união espiritual ocorre por meio da oração. Os bem-aventurados nos prestam o socorro de sua intercessão e de sua assistência; do nosso lado, nós lhes pedimos este socorro na veneração e na afeição.




Tal é a doutrina da Comunhão dos santos. Examinemos se ela se revela nas Catacumbas. Aqui, o olhar encontra, sobretudo, acima dos arcosolia, um grande número de imagens de mártires ou de fiéis mortos. Elas estão frequentemente cercadas de símbolos do paraíso, flores, aves, palmas, e sempre na atitude da oração. Estes braços elevados, esta relação cheia de fervor diz em demasia que, lá no alto, os eleitos não são simples espectadores que se contentam em gozar, mas fiéis associados de seus irmãos ainda em luta sobre a terra.

E esta fé, que expressão poderosa não encontra nas inscrições!

“Sutius, reze por nós, afim que sejamos salvos. PETE PRO NOS (sic) VT SALVI SIMVS”.
“Augenda, vive no Senhor e intercede por nós. EPΩTA”.
“Anatolius, ore por nós. EYXOY”.
“Filho, que teu espírito descanse em Deus; interceda por tua irmã. PETAS”.
“Matronata Matrona, ore por teus pais Ela viveu um ano e cinquenta e dois dias. PETE”.
“Atticus, teu espírito vive no Bem: implore por teus pais”.
“Joviano, viva em Deus e seja nosso intercessor”.
“Sabatius, doce coração, ore e implore por teus irmãos e teus companheiros. PETE ET ROGA”.
“Aqui descansa Ancilladei. Ore pelo único filho que te sobreviveu, porque tua morada está na paz e na felicidade eternas”.
“À minha digníssima filha adotiva Felicidade, que viveu trinta e seis anos”. “Dignai-se em orar por teu esposo Celsiniano”.
“Gentiano, o fiel, em paz. Ele viveu 21 anos… em tuas orações interceda por nós, porque sabemos que está em J.C.”.
Enfim, para concluir a série dos exemplos que citamos:

“À nossa dulcíssima e trabalhadora mãe Catianilla: que ela reze por nós EYXOITO”.
É assim que os olhos e o coração dos sobreviventes atravessam o sepulcro e penetram até ao céu. É assim que o olhar e o amor procuram e encontram os eleitos, os assaltam com orações ferventes, lhes fazem participantes de suas penas com uma confiança infantil e lhes fazem piedosas recomendações. Não está aí a verdadeiro espírito católico na plenitude da caridade e na infalibilidade da certeza?

Mas, dirão alguns, estas invocações piedosas, estas orações dirigidas aos santos, não são, talvez, apenas homenagens privadas, que não supõem nem determinam um culto público, oficial, litúrgico?
A isto responderemos: A partir do momento em que se trata de uma prática litúrgica, relativa ao culto dos santos, trata-se de um princípio católico que não é legado ao arbítrio individual; não obstante, não faltam monumentos que testemunham as homenagens dadas pela Igreja aos bem-aventurados. Há nas Catacumbas dois tipos de inscrições que tem feição com o culto, ambas caracterizadas liturgicamente pela expressão ainda em uso: Em nome de… IN NOMINE.

Elas compreendem: 1º votos suplicativos em nome de Deus, do Cristo ou de Deus Cristo. Por exemplo:

“Zózimo, vive em nome do Cristo”.
“À SeliaVictorina, que descansa na paz em nome do Cristo”.
Nestes casos, a invocação se dirige diretamente a Deus, único adorável, único onipotente, único dispensador das graças. Mas há também em segundo outras invocações em nome de um santo; e então a oração se dirige indiretamente a Deus, diretamente ao poder de intercessão do santo. Um túmulo, entre outros, fala assim:
“Rufa, viverá na paz do Cristo, em nome de São Pedro”.
Ou seja, por meio de sua intercessão. Sobre um cálice descoberto nas Catacumbas, se lê esta inscrição em letras douradas: “Vito, vive em nome de Lourenço”; em outro, no mesmo sentido, se lê: “Eliano, vive em Jesus Cristo e São Lourenço”, ou seja, vive na graça de Jesus Cristo, pela intercessão de São Lourenço.

O culto público dado aos santos está doravante provado pelo fato incontestável que davam aos mártires mais ilustres, por um tipo de canonização, títulos honoríficos em uso na Igreja, por exemplo: “Senhor, Poderoso intercessor diante do trono de Deus, DOMINVS, DOMNVS ou simplesmente D.”

A partir do século III já se observa o título de Santo (dominus), Sanctus. É assim que encontramos saudações no gênero destas aqui: “Senhor Pedro, Paulo, Estevão, Sisto, etc.; Senhora, DominaBasila”, etc.. Mais tarde lemos: “Ao santo mártir Máximo”; “Ao Pai onipotente, ao seu Cristo e aos santos mártires Taurinus e Herculanus, eternas ações de graças da parte de Nevius, Diaristus e Constantino”.

Não pretendemos acumular as provas epigráficas, mas buscar a luz ainda em outras partes, nas pinturas e nas imagens.



Dom MaurusWolter. Les Catacombes de Rome et la doctrine catholique. Paris, G. Téqui, 1872.

Tradução: Robson Carvalho

INCOERÊNCIAS E CONVERGÊNCIAS




DESTAQUE

O falecido Eduardo Campos era dirigente do Partido Socialista Brasileiro. Ora, católico não pode ser socialista, segundo o magistério tradicional dos Papas. Entre a longa série de ensinamentos pontifícios a respeito, salienta-se o da encíclica Quadragesimo Anno’, de Pio XI, que diz textualmente: ‘Socialismo religioso, socialismo cristão exprimem conceitos contraditórios; ninguém pode, ao mesmo tempo, ser bom católico e usar com veracidade o nome de socialista’ (A.A.S., vol. 23, p. 216). Ao longo do texto, o Pontífice faz ver que o socialismo concebe a sociedade de um modo completamente avesso às verdades cristãs.



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Raphael de la Trinité



A imprensa deu conta de que o candidato Eduardo Campos, pouco antes do terrível acidente de avião que o vitimou, estaria portando a Medalha de Nossa Senhora das Graças, além de outras medalhas, que, segundo se diz, trazia junto a si presas a um cordão.

Na impossibilidade de aferir a realidade dos fatos, ou efetivamente saber se as citadas medalhas estariam com o mesmo no momento em que expirou, é inconteste que, do fundo de algumas mentalidades, poderá facilmente emergir, como fruto dessa inserção noticiosa, uma equivocada associação entre catolicismo e socialismo.

Se assim for, é de presumir que, mediante mais um ardil bem arquitetado, a chamada esquerda “católica” possa tirar evidente proveito da circunstância presente.

No intento de coactar uma investida dessa natureza, convém frisar alguns pontos, que jamais será supérfluo repisar:

a) O falecido Eduardo Campos era dirigente do Partido Socialista Brasileiro. Ora, católico não pode ser socialista, segundo o magistério tradicional dos Papas. Entre a longa série de ensinamentos pontifícios a respeito, salienta-se o da encíclica Quadragesimo Anno’, de Pio XI, que diz textualmente: ‘Socialismo religioso, socialismo cristão exprimem conceitos contraditórios; ninguém pode, ao mesmo tempo, ser bom católico e usar com veracidade o nome de socialista’ (A.A.S., vol. 23, p. 216). Ao longo do texto, o Pontífice faz ver que o socialismo concebe a sociedade de um modo completamente avesso às verdades cristãs.

b) Conforme Comunicado oficial da Direção Nacional do MST, "Campos foi um grande amigo do MST e apoiador da luta pela terra e pela Reforma Agrária, fato que o fez ganhar notável confiança dos trabalhadores rurais do estado de Pernambuco". http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/eleicoes/2014/conteudo.phtml?id=1490990

“Dize-me quem te elogias, e te direi quem és”. O velho adágio não induz a erro: na mais benigna das hipóteses, Eduardo Campos terá sido um cobiçado “companheiro de viagem” das hostes dos agitadores rurais, que timbram em violar sistematicamente, além das leis civis, dois preceitos do Decálogo (“Não furtarás” e “Não cobiçarás as coisas alheias”) promovendo invasões de terras pelo Brasil afora. Seria uma injúria à inteligência do falecido candidato conceber que não tivesse esse quadro bem delineado em sua mente.

c) À vista disso, não parece difícil supor que, iludidos pela miragem de um falacioso ‘socialismo-católico’, haja quem, muito simploriamente — seja por razões de ordem sentimental ou outras quaisquer —, em face do quadro político que se descortina, esteja propenso a sufragar nas urnas uma chapa politica atentatória da doutrina social da Igreja.

d) Falecido o candidato titular, que dizer, então, sobre a trajetória política de Marina da Silva, agora candidata oficial da coligação encabeçada pelo Partido Socialista Brasileiro?

e) Sobre o currículo da candidata, importa referir que, ainda jovem, foi aspirante a freira em um convento da capital acriana. Participou das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base). http://eleicoes.uol.com.br/2010/pre-candidatos/conheca-a-trajetoria-de-marina-silva-pre-candidata-a-presidencia-pelo-pv.jhtm

Merecem realce, nessa visão panorâmica, as palavras do jornalista Percival Puggina (arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, membro do grupo Pensar+):

“A fala mansa da ex-vice de Eduardo Campos não se harmoniza com a rigidez e o radicalismo de suas posições. O dever cívico de conhecê-las não se cumprirá ouvindo o meigo discurso eleitoral que vem por aí. Há informações muito mais precisas e irrefutáveis na biografia da candidata.

Seu primeiro alinhamento político deu-se com filiação ao Partido Comunista Revolucionário (PCR), célula marxista-leninista albergada no PT onde militou durante uma década. Foi fundadora da CUT do Acre e lá, filiada ao PT, conseguiu o primeiro de uma série de mandatos legislativos: vereadora em Rio Branco, deputada estadual, senadora em dois mandatos consecutivos. Em 2003, no primeiro mandato de Lula, assumiu a pasta do Meio Ambiente, onde agiu como adversária do agronegócio. Sua gestão deu-lhe notoriedade internacional e conquistou ampla simpatia de organizações ambientalistas europeias que agem com fanatismo anti-progressista em todo mundo, menos na Europa...

Foram cinco anos terríveis para o desenvolvimento nacional. No ministério, Marina travava projetos de infraestrutura, impedia ou retardava empreendimentos públicos e privados, aplicava a torto e a direito um receituário avesso às usinas, aos transgênicos, ao agronegócio, principal motor do desenvolvimento nacional e responsável pela quase totalidade dos superávits de nossa balança comercial. Os pedidos de licenças ambientais empilhavam-se, relegados ao descaso. Empreendimentos eram cancelados por exaustão e desistência dos investidores. Sempre irredutível, Marina incompatibilizou-se com governadores, com os setores empresariais e com a então ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Foram cinco anos terríveis!

Quando se sentiu politicamente firme, largou a Igreja Católica, mudou-se para a Assembleia de Deus e para o PV. Depois, largou não sei que mais e se mudou para o projeto da Rede. Mas isso não a fez menos alinhada com as trincheiras de combate às economias livres, ao agronegócio, e ao evangélico domínio do homem sobre os bens da Criação. A ecomania de Marina Silva inverte a ordem natural nesse convívio, submetendo os interesses da humanidade às determinações que diz extrair do mundo natural. No fundo, vestido com floreios ecológicos, é o velho ódio marxista à propriedade privada dos bens da natureza.

De um leitor, a respeito da animosidade de Marina Silva para com o agronegócio: ‘Ela é uma praga de gafanhotos stalinistas reunidos numa pessoa só’”. http://www.puggina.org/artigo/puggina/marina-silva-cuidado/1721

f) Entretanto, na esteira dessas propostas de conciliar o inconciliável, não é de hoje que existem as mais inauditas propostas de simbiose ou convergência entre catolicismo e socialismo.

Em particular, sobreleva o papel de Antonio Gramsci, célebre pensador e co-fundador do Partido Comunista Italiano, o qual, já nas primeiras décadas do século XX, afirmava que, ao invés de enfrentar de rijo a Igreja Católica, mais valia a pena criar enfrentamentos no interior do catolicismo.  Com efeito, Gramsci chegara à conclusão de que uma das chaves da sobrevivência do catolicismo ao longo dos séculos foi o fato de que em seu seio conviveram harmonicamente humildes e elites, sentenciando que “a Igreja romana sempre foi a mais tenaz em impedir que oficialmente se formem duas religiões: a dos intelectuais e a das almas simples”. [grifos meus]

Ao mesmo tempo em que proclamava “odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes” (Antonio Gramsci, “indifférent”, Février 11, 1917, apud "La Città futura", pp. 1-1 Raccolto in SG, 78-80, http://bellaciao.org/it/spip.php?ar...),  o pensador comunista definia o socialismo como “uma religião, no sentido em que também possui um conjunto de crenças, uma mística, fieis seguidores; é uma religião porque substituiu, na consciência [de cada indivíduo], o Deus transcendental dos católicos pela confiança no homem e em suas melhores energias como sendo a única realidade espiritual existente”. [A. Gramsci, “Audacia e fede”, Sottola Mole, 22.6.1916, cité par Rafael Diaz-Salazar, El proyecto de Gramsci, Barcelona, Ed. Anthropos, 1991, p. 47.]. [grifos meus]

Ora, para sem número de adeptos do aggiornamento pós-Vaticano II, afirmações como estas não estão longe de ser admitidas, por muitos até, como verdades de... fé!

g) Na turbulenta conjuntura histórica em que vivemos, será que o maquiavélico plano de Gramsci virá à tona?

Só o tempo dirá.
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