Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!
30 meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas
por Monsenhor Ascânio Brandão
Livro de 1948 - 243 pags
Casa da U.P.C.
Pouso Alegre
30 meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas
por Monsenhor Ascânio Brandão
Livro de 1948 - 243 pags
Casa da U.P.C.
Pouso Alegre
12
de Novembro
A
SANTA MISSA E O PURGATÓRIO
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maior dos sufrágios
Incontestavelmente,
não há maior nem mais poderoso e eficaz sufrágio que possamos oferecer a Deus
pelos defuntos que a Santa Missa. A Igreja não definiu muita coisa sobre o
purgatório, mas o essencial das suas definições está nestes dois princípios,
duas verdades de fé que somos obrigados a crer si quisermos pertencer ao grêmio
da Igreja de Nosso Senhor, porque, do contrário, o anátema pesará sobre os
descrentes:
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Concilio de Trento define a existência do purgatório, como já vimos, e uma
segunda definição: Se alguém disser que o Santo Sacrifício
da Missa não deve ser oferecido pelos vivos e os mortos, pelos pecados, penas
e satisfações, seja anátema[1]. Eis aí o sufrágio por
excelência, o verdadeiro sufrágio que podemos oferecer a Deus pelos nossos
mortos, na certeza de que é sempre eficaz e poderoso. No Sacrifício do Altar
se oferece a grande Vítima e o Sacrificador é o próprio Cristo Senhor Nosso. É
o mesmo sacrifício
do Calvário. Tem o mesmo mérito da Cruz. Donde se conclui que as almas do
purgatório recebem da Santa Missa o mesmo tesouro do Sangue Preciosíssimo de
Nosso Senhor derramado na cruz e pela nossa salvação. Pode haver maior sufrágio
que a Missa?
Distinguem-se
quatro frutos principais do Santo Sacrifício: Um fruto geral, aplicado a todos os
fiéis vivos e defuntos não separados da Comunhão da Igreja; um fruto especial, aplicado aos que
assistem atualmente a Santa Missa; um fruto especialíssimo aos que mandam
celebrar a Santa Missa, e um fruto ministerial, que pertence ao
celebrante e é inalienável.
Ora,
quem não pode aproveitar pois este grande tesouro da Igreja, oferecido cada
manhã em nossos altares? Não há obra mais agradável a Deus nem mais meritória e
própria para alimentar a verdadeira piedade, que a assistência à Santa Missa. “Não há maior socorro
às almas do purgatório, disse D. Gueranger, o ilustrado e
piedoso beneditino do L’Anné Liturgique. Quando o padre
celebra, diz a Imitação de Cristo, honra a Deus, alegra os Anjos, edifica a
Igreja, ajuda os vivos, procura o descanso para os mortos e se torna
participante de todos os bens”[2].
A
Santa Missa é a riqueza do purgatório, a esperança das santas almas
sofredoras. Não podemos oferecer nada melhor e nada mais eficaz para aliviá-las
que o Santo Sacrifício. A Missa é o sol da Igreja, diz São Francisco de
Sales.
É o sol que dissipa as trevas do purgatório. Podemos talvez duvidar às vezes da
eficácia e do poder de nossas orações feitas com tantas distrações e em
condições tão precárias; mas, do poder e da eficácia do Santo Sacrifício, no
qual se oferece o Sangue de Jesus Cristo pelas almas, que dúvida nos pode ficar
do valor desta Obra?
Não
podemos fazer nada maior nem melhor do que oferecer o Santo Sacrifício pelas
almas.
O
tesouro das almas
Sim,
a Santa Missa é o tesouro das pobres almas. Nenhum meio é mais poderoso e
eficaz para libertá-las, já o vimos. São Leonardo de Porto
Maurício,
que foi um grande apóstolo e devoto do Santo Sacrifício, dizia: “Quereis uma
prova de que a Missa trás alívio às pobres almas? Ouvi um dos mais sábios
Doutores da Igreja, São Jerônimo: ‘Durante a celebração
de uma Missa por uma alma sofredora, esta alma pode ser preservada de todo ou
em parte da pena do fogo. Em cada Missa que se celebra, diversas almas são livres
do purgatório. Refleti ainda nisto: a vossa caridade por estas almas será de
muita vantagem para vós. Ó Missa bendita, és útil há um tempo para os vivos e
os mortos! No tempo e na eternidade!’ Permite que vos dirija uma súplica,
acrescenta São Leonardo, e quero vos pedir de joelhos: tomai a firme resolução
de ouvir ou de fazer celebrar todas as Missas que vossas ocupações e vossos
recursos vos permitirem, não só pelos defuntos mas também por vossas almas.
Dois motivos devem vos decidir: o primeiro motivo, alcançar uma boa morte...
Ó, como será doce e tranquila a morte de quem empregou sua vida em ouvir o
maior número de Missas que pode! O segundo motivo é alcançar para vós mesmos o
imenso favor de roubar o céu até sem passar pelo purgatório, ou abreviar muito
o tempo de permanência naquelas chamas expiadoras”.
Ao
Beato João d’Ávila, ao chegar aos últimos instantes da vida, perguntaram o que
mais desejaria depois da morte: — Missas! Missas! Missas! [3]
Santa
Monica estava às portas da eternidade. No leito de morte, disse ao filho
querido, Agostinho, que lhe custara tantas lágrimas e que a havia enchido de
tantas consolações nos últimos dias:
—
Meu filho, logo não tereis mãe. Quando eu não estiver mais neste mundo, rezai
pela minha alma, não vos esqueçais daquela que tanto vos amou. No Sacrifício
do Cordeiro sem mancha, recomendai minha alma a Deus.
O
Santo Doutor jamais se esqueceu da recomendação materna. Chorou muito quando
morreu Santa Monica, mas suas lágrimas foram sempre acompanhadas de muitas
preces fervorosas e sufrágios. “Deus de misericórdia, dizia ele, perdoai à minha mãe e
não entreis em juízo com ela. Lembrai-vos de que antes de deixar este vale de
lágrimas, não pediu para os seus restos mortais funerais pomposos, mas somente
que vossos ministros se lembrassem dela no Altar do Divino Sacrifício” [4].
O
Bem-aventurado Henrique Suzo fez um contrato com
um dos amigos muito íntimos: “O que morresse primeiro, teria um certo número
de Missas que. o outro sobrevivente se obrigaria a mandar celebrar o mais
depressa possível”. O amigo do Bem-aventurado partiu primeiro para outra vida.
Algum tempo depois, apareceu a Henrique Suzo, gemendo de dor e a se queixar:
—
Ai! Já te esquecestes da promessa...
—
Não, meu amigo, responde o Bem-aventurado, eu não cesso de rezar pela tua alma
desde que morreste...
—
Ó, mas isto não me basta, não, não basta!, geme o defunto; falta-me, para apagar
as chamas que me abrasam, falta-me o Sangue de Jesus Cristo! O Sangue de Jesus
Cristo!
O
Bem-aventurado compreendeu logo que faltavam as Missas.
No
dia seguinte ao da aparição, foi logo à igreja pedir muitas Missas pelo amigo
defunto. Obteve diversas nesta intenção. O amigo lhe aparece já glorificado e
agradece-lhe feliz: Meu querido amigo, mil vezes
agradecido! Graças ao Sangue de Jesus Cristo Salvador, estou livre das chamas
expiadoras. Subo ao céu e lá nunca te esquecerei![5]