quarta-feira, 1 de maio de 2013

O risco bolivariano









Fonte: O Globo
Rodrigo Constantino

Com petistas, todo cuidado é pouco. O país assistiu, nos últimos dias, a uma tentativa escancarada de ataque à democracia. Enquanto artistas da esquerda caviar protestavam contra o pastor Feliciano, dando beijos uns nos outros, os “mensaleiros” da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) tentavam usurpar o poder do STF à surdina. Montesquieu ficaria horrorizado com tanto descaso à divisão entre os poderes.
A autoria da proposta de emenda constitucional aprovada é de Nazareno Fonteles, deputado petista pelo Piauí. Não é sua primeira proposta absurda. Em 2004, ele apresentou um projeto de lei complementar que estabeleceria uma “poupança fraterna”. Puro eufemismo: tratava-se de uma medida avançada rumo ao socialismo.
O artigo primeiro dizia: “Fica criado o Limite Máximo de Consumo, valor máximo que cada pessoa física residente no País poderá utilizar, mensalmente, para custear sua vida e as de seus dependentes.” Acima desse valor arbitrário definido pelo governo, a renda seria confiscada para essa poupança compulsória coletiva. Uma bizarrice que nos remete ao modelo cubano.
É realmente espantoso que, em pleno século 21, ainda tenhamos que combater uma ideologia tão nefasta quanto o socialismo, que deixou um rastro de escravidão, morte e miséria por onde passou. Mas uma ala petista, com outros partidos da esquerda radical, ainda sonha com essa utopia assassina. Tanto que chegaram a assinar carta de apoio ao ditador coreano!
São os nossos “bolivarianos”, que se inspiram no falecido Hugo Chávez, cujo “socialismo do século 21” é exatamente igual ao do século 20. Vide a militarização crescente imposta por Maduro, o herdeiro do caudilho venezuelano, assim como a inflação fora de controle e o aumento da violência. Socialismo sempre estará associado ao caos social e à opressão.
Países que já sofreram na pele com esse regime não querem mais saber de partidos ostentando tal ideologia. A Hungria, seguindo outros países do Leste Europeu, acaba de vetar símbolos nazistas e comunistas. Não há por que proibir a suástica e permitir a foice com o martelo. Ambos representam regimes assassinos, totalitários, antidemocráticos.
Se o socialismo é o mesmo de sempre, a tática para chegar a ele mudou. Hoje, os socialistas tentam destruir a democracia de dentro, ruindo seus pilares, mas mantendo as aparências. Eles aparelham toda a máquina estatal, infiltram-se em todos os lugares, e partem para uma verdadeira revolução cultural, sustentada pelo relativismo moral exacerbado.
Não existem mais valores objetivos, ninguém pode julgar nada, vale tudo, e quem discorda sofre de preconceito e é moralista. Com essa agenda politicamente correta, os socialistas modernos vão impondo uma mentalidade fascista que, em nome da “tolerância” e da “diversidade”, não tolera divergência alguma.
Triste é ver que alguns homossexuais aderem a esse movimento, ignorando que o socialismo sempre perseguiu os gays. Chega a ser cômico ver o deputado Jean Wyllys usando boina no estilo Che Guevara, um facínora que achava que os gays tinham de ser “curados” em campo de trabalho forçado.
Como não temos uma oposição política organizada que valha o nome, resta como obstáculo a esse golpe bolivariano basicamente a força de quatro instituições: família, igreja, imprensa e judiciário. Não por acaso são esses os principais alvos dos golpistas. Eles sempre menosprezam o núcleo familiar tradicional, atacam ou se infiltram nas igrejas (vide a Teologia da Libertação ou a própria CNBB), insistem no “controle social” da imprensa, e desejam diluir o poder do Ministério Público e do STF.
Há até mesmo uns dois ali que mais parecem petistas disfarçados de ministros. Não é exclusividade latino-americana tentar ir por esse caminho. Roosevelt tentou expandir a quantidade de ministros da Suprema Corte para diluir a oposição ao seu “New Deal”, claramente inconstitucional. Mas as instituições americanas são mais resistentes e suportaram o golpe. Na América Latina, infelizmente, há terreno mais fértil para populistas autoritários.
Nesse ambiente, os defensores da liberdade e da democracia não podem cochilar jamais. É preciso tomar cuidado com as cortinas de fumaça criadas para esconder o jogo sujo dos bastidores. Foi marcante, por exemplo, a discrepância entre a reação histérica ao pastor Feliciano, e a postura negligente com os “mensaleiros” na CCJ. Estranhas prioridades.
Nossa liberdade corre sério perigo, e seus principais inimigos são os jacobinos disfarçados de democratas. Acorda, Brasil!



Desmascarando o “batismo no Espírito”








Nos dias atuais, devido à omissão do concílio Vaticano II e de seus seguidores em condenar os erros modernos, as dúvidas geradas pelas mais diversas heresias têm abalado a Fé de muitos. Uma das correntes que causa grandes males à Fé católica é a dita RC”C” – renovação carismática “católica” – que, na realidade, não passa de protestantismo disfarçado de catolicismo.Os católicos tradicionais têm demonstrado o quanto a RC”C” se afasta da doutrina e da moral católicas, chegando mesmo a lhes constituir verdadeira ameaça, pois infiltra erros protestantes na Igreja de Cristo.

Na intenção de juntar forças aos fiéis católicos que têm combatido a RC”C”, a fim de salvar a nossa amada Igreja, nos lançamos à tarefa de escrever . Com este, pretendemos lançar algumas luzes sobre a questão do “batismo no Espírito”, um dos grande cavalos de batalha do movimento carismático. De fato, um dos pilares do movimento é exatamente esse “batismo”, que, segundo eles, daria àquele que o recebesse, a força e os dons que foram dados aos Apóstolos em Pentecostes.
Dado o caráter extremamente grave dessa prática que foi tomada dos protestantes, e que contraia frontalmente a Fé católica, vemo-nos na obrigação de alertar aos fiéis, que por inocência, tenham sido enganados sobre essa matéria. Para tanto, baseamo-nos na doutrina católica de sempre, materializada no Sagrado Concílio de Trento, no Catecismo Romano e na autoridade dos Padres da Igreja.

Existe um só Batismo
Caso o “batismo no Espírito” fosse realmente uma prática cristã autêntica, ensinada por Cristo Nosso Senhor, haveríamos de ter dois batismos. Um deles seria o batismo que nós conhecemos, ministrado, preferencialmente, aos recém-nascidos para que lhes seja apagado o pecado original. Outro seria o “batismono Espírito”, defendido pela RC”C”.
A existência de um outro batismo, no entanto, é explicitamente negada pela revelação divina. As Sagradas Escrituras são bastante claras quanto à existência de um único batismo:
“Um só é o Senhor, uma só é a Fé, um só é o Batismo” (Ef 4,5)Então, não existem dois batismos, mais um só batismo. A existência de um tal “batismo no Espírito”, diverso daquele que todos nós católicos conhecemos, portanto, é explicitamente negada pela própria Bíblia Sagrada.
Dada a importância desse artigo de Fé, a Santa Igreja houve por bem inclui-lo no símbolo niceno-constantinopolitano:
“professo um só batismo para remissão dos pecados”
Além disso, Nosso Senhor, ao enviar Seus apóstolos para pregar o Evangelho, ordenou-lhes batizar “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”, e não “batizar no Espírito Santo”, como fazem os carismáticos:
“Ide pelo mundo inteiro, e ensinai todos os povos. Batizai-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a observarem tudo o que vos tenho mandado” (Mt 28,19)
No mesmo texto citado acima vemos que Nosso Salvador ordenou a seus apóstolos que ensinassem os povos a observar tudo o que Ele havia mandado.
Se, em dois mil anos de Cristianismo, somente a partir da segunda metade do século XX, o “batismo no Espírito” teria sido introduzido na Igreja, então podemos concluir que: ou 1) o “batismo no Espírito” não foi ordenado por Cristo; ou 2) os apóstolos não obedeceram às ordens do Mestre.
Se quiséssemos aceitar o segundo caso, estaríamos desdenhando da autoridade das Sagradas Escrituras, pois acima já se provou haver um só bastimo.
No entanto, se por absurdo admitíssemos como cristão o tal “batismo no Espírito”, então os apóstolos não teriam cumprido a ordem de Cristo. Admitir-se-ia, então, forçosamente, que a Igreja Católica teria errado durante toda Sua história de dois mil anos.
Gerações teriam sido apartadas de uma graça tal grande por desobediência dos apóstolos e seus sucessores, os bispos.
Admitida essa ímpia hipótese, estaríamos renegando a nossa Santa Igreja como Mãe e Mestra, instituída por Cristo para santificação e salvação das almas, e mais lhe caberia o nome de madrasta do que de Mãe.Mas, como filhos fiéis, reconhecemos e amamos a Santa Madre Igreja e lhe devotamos filial obediência, e refutamos como sugestão diabólica a hipótese de uma omissão tão grave da Igreja.
No primeiro caso, que corresponde à verdade, e isso podemos comprovar com abundância de argumentos, nós perguntamos aos carismáticos de onde pode ter vindo o “batismo no Espírito”, uma vez que não partiu da ordem de Cristo Nosso Senhor.
A resposta é simples: o “batismo no Espírito” não passa de mais um equívoco gerado pelo livre exame protestante.
A origem protestante do “batismo no Espírito”
O tal “batismo no Espírito” é tão contrário à Fé católica que não nos surpreende em nada constatar que sua origem é protestante.
A rádio Cristandad publicou, em espanhol, um extenso artigo sobre a RC”C”, denunciando os diversos erros da mesma. O mesmo artigo foi traduzido para o português no blog católico Tradição Viva.
A leitura do artigo é extremamente recomendada, pois mostra muitos apectos da RC”C” que demonstram sua incoerência com a doutrina católica. Nesse artigo, encontramos, entre outras coisas, a história da RC”C”, que demonstra inequivocamente a sua origem protestante, e sua simples transposição para dentro da Igreja por obra de dois leigos, Ralph Keifer e Patrick Bourgeois.
No começo de 1967, os dois receberam o tal “batismo no Espírito” das mãos de protestantes! Essa afronta à Igreja Católica, foi o “nascimento” da RC”C”.
Um ato de cisma, um ultraje à autoridade da Igreja, posto que se considera, ao menos implicitamente, nesse ato, que o Espírito Santo devesse ser buscado nas seitas, e não dentro da Igreja Católica.
Qual seria, então, a diferença entre o Batismo de João e o Batismode Cristo?Para responder a essa questão, recorreremos a nada menos que a autoridade dos Santos Padres da Igreja. Vejamos o que escreveu santo Agostinho a respeito do Batismo de João:
Por esse motivo, como os Santos Padres deduziram do Evangelho de São João, Judas Iscariotes também batizou muitas pessoas, e não lemos que alguma delas fosse novamente batizada. Santo Agostinho teve, a respeito, estas belas palavras:
“Judas batizou, e depois de Judas não se fez novo batismo. João batizou, e depois de João foi rebatizado, porque o Batismo ministrado por Judas era Batismo de Cristo, e o Batismo de João era [simplesmente]Batismo de João. Isso não é preferir Judas a João. Com razão preferimos o Batismo de Cristo – ainda que dado pelas mãos de um Judas – ao Batismo de João, embora seja conferido pelas mãos de um João”.
Catecismo Romano, Parte II, Capítulo I, página 209
O Catecismo Romano, reforçando o que escreveu Santo Agostinho, ensina que o Batismo conferido por Judas, ainda que ministro indigno, é o Batismo de Cristo. O Batismo conferido por João, apesar da dignidade da pessoa do Batista, não era o Batismo de Cristo, mas Batismo de João. Daí, podemos concluir que o Batismode João era um símbolo do Batismo que Cristo Nosso Senhor haveria de instituir.
Se o Batismo que João Batista ministrava era apenas um sinal do Batismo de Jesus Cristo, então podemos concluir que o termo batismo no Espírito, citado em Lc 3,16, nada mais é do que o Batismo cristão, aquele sacramento que Cristo instituiu para apagar a “mancha” do pecado original, fazendo habitar na alma do batizado a Santíssima Trindade.
Batismo de João era dito “em água”, porque era apenas um sinal. Mas, ao Batismo instituído por Nosso Senhor, cabe-lhe perfeitamente o termo de batismono Espírito e no Fogo, porquanto esse realmente confere o Espírito Santo àquele que o recebe. Não era mais um sinal apenas, como o de João Batista, mas sim um sacramento de fato, um meio eficaz de transmissão da graça de Deus ao fiel que o recebe.Mais um argumento de autoridade pode ser destacado do Catecismo Romano em favor de nossa argumentação:
Quanto ao primeiro [momento da instituição do Batismo], não resta dúvida que Nosso Senhor instituiu esse Sacramento quando conferiu à água a virtude de santificar, na ocasião que Ele mesmo se fez batizar por São João. Dizem São Gregório de Nazianzo e Santo Agostinho que, naquele instante, a água adquiriu a força de regenerar para a vida espiritual. Noutro lugar, escreve Santo Agostinho: “Desde que Cristo desceu na água, limpa a água todos os pecados”. E noutra parte ainda: “Nosso Senhor recebeu o Batismo, não porque precisasse de purificação, mas para que ao contato com o Seu Corpo puríssimo, as águas se purificassem, e adquirissem a virtude de purificar”.
Catecismo Romano, Parte II, Capítulo II, página 221
Portanto, a água somente adquiriu a virtude de purificar os pecados após o Batismo de Cristo. Por essa razão, o Batismo que João ministrava, antes de Cristo ser batizado, não podia mesmo passar de um sinal daqueleBatismo que Nosso Senhor haveria de instituir.
Ainda o Sagrado Concílio de Trento lançou uma excomunhão sobre quem ousasse dizer que o Batismo de João era igual ao de Cristo:
857. Cân. 1. Se alguém disser que o Batismo de S. João [Batista] teve a mesma eficácia que o Batismo de Cristo — seja excomungado.
O que mais uma vez confirma que o Batismo de João era apenas um sinal do Batismo de Cristo, que confere verdadeiramente o Espírito Santo à alma do batizado.
Conclusões sobre o Batismo
Dos argumentos até aqui expostos, podemos concluir:- existe um só Batismo;
- o Batismo de João era apenas um sinal do Batismo de Cristo;
- ao Batismo instituído por Cristo cabe, muito propriamente, o nome de Batismo no Espírito, uma vez que oBatismo de Cristo, diferente daquele de João Batista, confere, de fato, o Espírito Santo ao fiel que recebe esse sacramento;
- esse Batismo que Cristo instituiu é o Batismo que a Igreja Católica sempre ministrou através de toda sua existência, cumprido a ordem do Mestre de batizar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28,19);
- o Batismo, obviamente, nada tem a ver com a ilusão carismática de um “batismo no Espírito”;
Não cabe, portanto, dentro da santa doutrina cristã, nenhum espaço para uma segunda “modalidade” deBatismo, diferente daquela instituída por Cristo e ministrada e ensinada pela Igreja Católica. Qualquer tentativa de se criar um “batismo no Espírito” afrontaria, em absoluto, a revelação divina.

Transplantes e doações de órgãos




Fonte: SPES

[Jornal Sim Sim Não Não
nº. 168 e 169, Julho/Agosto
e Setembro/Outubro de 2009.]


Quando se fala de transplante e doação de órgãos numa revista católica qualquer, multiplicam-se as citações da Escritura ou dos Papas para ilustrar que um católico deve ser favorável aos transplantes, que seriam uma manifestação de caridade em relação ao próximo.
Quanto a nós, gostaríamos de mostrar que, do ponto de vista moral, é impossível responder à questão por um simples sim ou não, utilizando um princípio único (a título de comparação, o enunciado do 5° mandamento é simples: “não matar”, mas a compreensão é mais complicada quando se analisa o caso da legítima defesa, da guerra e da pena de morte).
Para dividir a análise dos problemas ligados aos transplantes e à doação de órgãos, o Papa Pio XII distinguia:


• autotransplante - doador e receptor são idênticos;
• homotransplante - doador e receptor são da mesma espécie, e faz-se então a subdivisão entre doador vivo ou doador morto;
• heterotransplante - doador e receptor pertencentes a espécies diferentes;

Retomemos rapidamente cada uma dessas três diferenças para mostrar os diversos princípios morais relativos a cada caso.

1- O autotransplante

Obviamente relativo somente a tecidos, o autotransplante é regido pelo princípio de totalidade.
O homem, criatura de Deus, não é proprietário de seu próprio corpo. O corpo foi-lhe confiado pelo Criador para ser usado para o bem. Sendo proprietário em usufruto de seu corpo, o homem deve protegê-lo, conservá-lo e defendê-lo contra as agressões exteriores.
Essa administração correta pode levar a sacrificar uma parte do corpo para salvar o todo. É o princípio de totalidade que Pio XII enunciava assim:

“[O princípio de totalidade] afirma que a parte existe para o todo, e conseqüentemente o bem da parte fica subordinado ao bem do conjunto; que o todo é determinante para a parte e pode dispor dela de acordo com seu interesse. O princípio decorre da essência das noções e das coisas e deve, por isso, ter valor absoluto (...). O princípio de totalidade afirma apenas o seguinte: Onde se verifica a relação entre todo e parte, na medida exata em que esta relação se verifica, a parte fica subordinada ao todo, e este pode, em vista de seu próprio interesse, dispor da parte” (Discurso no Congresso de Histopatologia, 14 de setembro de 1952).



      O princípio de totalidade se aplica ao caso de autotransplante na medida em que tecidos são retirados de um lugar do corpo humano para curar um outro lugar ferido.
Alguns exemplos: Lâminas de pele das costas para transplante em partes queimadas do mesmo indivíduo, utilização de veias da perna para pontes coronárias, uso da tíbia para reconstituição de uma cabeça de fêmur, etc.

2- Homotransplante

No autotransplante, o sacrifício de uma parte do corpo para benefício do todo se justificava pelo princípio de totalidade que rege as relações de subordinação das partes ao todo. No homotransplante, tal relação não existe, pois trata-se de dois indivíduos distintos (o transplante é uma parte do doador e o todo favorecido pelo transplante é o do receptor).
Deve-se considerar aqui a questão do doador. A questão moral muda caso ele esteja vivo ou esteja morto.

2a - Doador vivo

Os homotransplantes com doador vivo são em princípio moralmente lícitos, inferindo-se:

• das considerações que Pio XII faz sobre a doação de sangue:

“Modelo de toda caridade, [Jesus] é vosso modelo de modo particular. (...) Doar o próprio sangue para a saúde de desconhecidos ou mesmo de ingratos que esquecerão ou talvez nem procurem conhecer o nome e os traços do semblante de quem os salvou; fazer dom de seu próprio vigor unicamente para comunicar ou dar a outros o vigor que perderam; recuperar as próprias forças para recomeçar e renovar o mesmo dom e o mesmo sacrifício: tal é a obra a que os senhores generosamente se dedicaram.” (Discurso aos Doadores de Sangue, 9 de setembro de 1948).

• do decreto do Santo Ofício sobre a cesariana:

“Quando a bacia materna é de tal modo estreita que  nem é possível recorrer ao parto prematuro, é permitido recorrer ao aborto ou à cesariana no momento oportuno? À primeira pergunta: não, conforme decreto de 14 de julho de 1895 relativo à proibição do aborto. À segunda pergunta: nada impede a mulher de submeter-se à operação cesariana em tempo oportuno” (Decreto do Santo Ofício, 4 de maio de 1898/D.S.3337).

Nesses dois exemplos, um homem sacrifica uma parte de seu corpo (doando seu sangue) ou de sua integridade corporal (submetendo-se à cesariana) para o bem do próximo (respectivamente, quem recebe o sangue e a criança que vai nascer).
Permitidas em virtude do princípio de caridade, os homotransplantes devem entretanto estar inscritos em certos limites para serem moralmente lícitos, a saber, o respeito à vida e à integridade funcional do doador. Dito de outra maneira: dispondo-se a socorrer o receptor, o doador não pode voluntariamente ir contra a própria vida ou a integridade de suas funções vitais.
Portanto, são imorais as doações de órgãos vitais, simples ou duplos, necessários à vida e à integridade funcional do doador (coração, fígado, pulmão).

2b - Doador morto

Quando o homotransplante é feito a partir de um doador morto, o caso é moralmente distinto. Na verdade, como lembrava Pio XII a respeito da retirada de córnea de um cadáver:

“Em relação ao defunto de que se retira a córnea, não se faz atentado a nenhum dos bens ao qual ele tenha direito, nem ao direito a seus bens:
• O cadáver não é mais, no sentido próprio da palavra, um sujeito de direito; pois ele está privado da personalidade que é quem pode ser sujeito de direito.
• A extirpação não é tampouco a retirada de um bem, os órgãos visuais, na verdade, (sua presença, sua integridade) não têm mais no cadáver o caráter de bens, porque não lhe servem mais e não têm mais nenhuma relação a nenhum fim” (Discurso aos Especialistas de Cirurgia de Olhos, 14 de maio de 1956).

Quer dizer que não há nenhuma obrigação moral em relação ao cadáver de um homem? De modo algum. Além do mais, o mesmo pontífice lembrava que as retiradas de órgão de um cadáver poderiam tornar-se imorais a partir do momento em que o cadáver fosse considerado como uma coisa ou um animal (id.), em que os direitos ou a sensibilidade dos familiares do defunto fossem lesados ou em que fosse negligenciada a oposição anteriormente formulada pelo interessado.
Na análise que fazemos hoje, a questão é saber se o critério de morte cerebral é suficiente para falar de cadáver, se a separação da alma e do corpo é devida à destruição do cérebro ou à retirada de órgãos vitais em vista de transplante.

São Silvestre I, o primeiro Papa-rei de Roma (Parte I)







Sob São Silvestre I a Igreja saiu do opróbio persecutório
do tempo das catacumbas. Catedral Notre Dame de Paris

Dom Prosper Guéranger OSB (1805-1875), refundador da Abadia de Solesmes, escreveu em sua célebre obra L’Année Liturgique um grande elogio de São Silvestre I Papa (280-335), na qual, entre outras coisas, ele diz:

“Era justo, então, que a Santa Igreja, para reunir nessa oitava triunfante todas as glórias do céu e da terra, inscrevesse nesses dias, o nome de um santo confessor que representasse todos os confessores.

“Este é São Silvestre, esposo da Santa Igreja Romana e, por ela, da Igreja Universal.

“Um pontífice de reinado longo e pacífico, um servidor de Cristo ornado de todas as virtudes, e dado ao mundo após esses combates furiosos que tinham durado três séculos, nos quais triunfaram pelo martírio milhares de cristãos sob a direção de numerosos papas, mártires predecessores de Silvestre.

“Silvestre anuncia também a paz que Cristo veio trazer ao mundo e que os anjos cantaram em Belém.

“Amigo de Constantino, confirma o Concílio de Nicéia que condenou a heresia ariana e organiza a disciplina eclesiástica para uma era de paz. Seus predecessores representaram Cristo padecente; ele figura Cristo triunfante. 


O Papado passou a ser respeitado como Jesus Cristo

desejava no pontificado de São Silvestre I
“Ele completa, nessa oitava, o caráter do Divino Menino e chega na humildade de Suas faixas, exposto à perseguição de Herodes e, entretanto, é o Príncipe da Paz e o Pai do século futuro.

“De acordo com os ensinamentos de Silvestre, o piedoso imperador confirmou com seu exemplo o direito concedido aos cristãos de construir seus templos de modo ostensivo; pois ele elevou grande número de Basílicas.

“A saber, a de Laterão dedicada a Cristo Salvador, a do Vaticano a São Pedro, a da via de Óstia a São Paulo, as de São Lourenço no Agro Verano, da Santa-Cruz no palácio de Sessorius, dos santos Pedro e Marcellino e de Santa Inês nas vias Lavicana e Nomentana, e outras ainda; que ele ornou esplendidamente com imagens santas e dotou magnificamente com propriedades e privilégios. 

“Foi sob seu pontificado que se reuniu o primeiro Concílio de Niceia, no qual, sob a presidência de seus legados, na presença de Constantino e de trezentos dezoito bispos, a santa Fé católica foi explicada e Ario e seus sectários foram condenados. (...) 

“São Silvestre também ditou vários decretos vantajosos para a Igreja de Deus que levam seu nome; a saber: (...) que os diáconos usariam a dalmática na Igreja e levariam no braço esquerdo um ornamento de linho; que o Sacrifício do altar se celebraria sobre uma toalha de linho”. Dom Prosper Guéranger, OSB, “L’Année Liturgique”, “Temps de Noel, Propre des Saints, XXXI Décembre. Saint Silvestre, Pape et Confesseur”.

O lindo comentário D. Guéranger nos chama a atenção para a vida desse santo, lembrado no último dia do ano, e para o exemplo que ele dá aos dias tristes em que nós vivemos. 




São Silvestre I batiza o imperador Constantino
Ele foi Papa no tempo do Imperador Constantino e presidiu à transformação da Igreja, que deixou de ser perseguida para ser rainha, deixou as catacumbas e começou a ocupar palácios.

São Silvestre presidiu ao desabrochar da Igreja fora das catacumbas como um sol que nasce. Foi sob suas diretrizes e inspiração que começou a obra de “constantinização” da Igreja.

O que é essa constantinização

A obra consistiu no seguinte. Houve um primeiro edito de Constantino que concedeu liberdade à Igreja Católica.

Houve depois um outro edito, que fechou todos os templos não católicos.

Depois a Igreja começou a se instalar sobre o solo romano.




São João de Latrão é um dos troféus mais preciosos
da igreja constantiniana
O imperador Constantino quis cercá-la de um luxo que reparasse os anos de imerecida miséria que Ela tinha passado nas catacumbas.

Assim, mandou construir a primeira Basílica cristã católica sobre o palácio da sogra dele, a casa dos Laterani.

Ela passou a ser a igreja de São João de Latrão, a Catedral do Papa.

Depois disso, o imperador começou a cercar os bispos de honras especiais, torná-los personagens oficiais, e cercar de todo esplendor os atos do culto católico, prestigiado pelo comparecimento pessoal do Imperador.

A Igreja passou a ser unida ao Estado e ficou uma entidade de tal maneira reverenciada que um dos motivos que levaram Constantino a deixar Roma e fundar a cidade de Bizâncio – também chamada Constantinopla – estava em deixar a cidade mais ilustre da terra, que era Roma, para que o Papa nela residisse sozinho e fosse virtualmente o soberano de Roma. 

Constantino ainda não lhe deu o poder temporal, mas criou uma situação em que praticamente o Papa era o senhor temporal de Roma.


(Comentários de Plinio Corrêa de Oliveira feitos em 30-12-1966, sem revisão do autor).



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