quinta-feira, 21 de agosto de 2014

"O PARAÍSO PERDIDO"



DESTAQUE


"A Teologia da Libertação é mais importante que o marxismo para a revolução latino-americana" Fidel Castro, citado por Frei Betto em "O Paraíso perdido", pag. 166.


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Frei Betto e Fidel Castro

por Percival Puggina

"A Teologia da Libertação é mais importante que o marxismo para a revolução latino-americana" Fidel Castro, citado por Frei Betto em "O Paraíso perdido", pag. 166.
Paraíso perdido é o título de uma obra poética de John Milton sobre a tentação e queda de Adão e Eva. E é, também, o título de um livro de memórias gastronômicas e de militância comunista em que Frei Betto descreve suas andanças pela América Latina e Leste Europeu nos anos 80.
São mais de 400 páginas relatando dezenas, talvez mais de uma centena de viagens e itinerários em contato com lideranças católicas e governos comunistas, cumprindo dois objetivos: aproximar os católicos do comunismo e apresentar a Teologia da Libertação (TL) às lideranças comunistas. Muitas dessas viagens tiveram Cuba como destino e Fidel como figura central. Ao longo dessa jornada em que o frei vendia mercadoria avariada para os dois lados, ele e Fidel se tornaram amigos.
O relato se encerra pouco após a queda do Muro de Berlim, com o desfazimento da União Soviética. As longas páginas finais em que discorre sobre a perda do "paraíso", podem ser resumidas nestas palavras do autor: "Mudar a sociedade é modificar também os valores que regem a vida social. Essa revolução cultural certamente é mais difícil que a primeira, a social. Talvez por isso o socialismo tenha desabado como um castelo de cartas no Leste Europeu. Saciou a fome de pão, mas não a de beleza. Erradicou-se a miséria, mas não se logrou que as pessoas cultivassem sentimentos altruístas, valores éticos, atitudes de compaixão e solidariedade”.
Ora, economias comunistas são estéreis. Não saciam a fome de pão. E a fome de beleza, a cultura de valores, compaixão e solidariedade, jamais foi gerada sob o materialismo de tal regime. Sem qualquer exceção, onde ele se instalou, avançou com ferocidade contra tudo que os poderia produzir. Família, liberdades, religiões e seus valores foram sempre espezinhados sob o tacão do Estado totalitário. Quem quiser detalhes, informe-se sobre o que aconteceu com padres, bispos, cardeais, instituições religiosas na Hungria do cardeal Jószef Mindzensty, na Tchecoeslováquia do cardeal Josef Beran, na Polônia do cardeal Wyszynski, na Ucrânia do arcebispo Josyf Slipyj, na Iugoslávia, do arcebispo Stepinac. O comunismo foi, sempre, uma usina de mártires.
Aliás, Nero, Décio, Diocleciano e Galério foram mais moderados e indulgentes com os cristãos do que os governantes comunistas. "Qual o produto de tantos anos de trabalho do frei?" indagará o leitor. Pois é. Ele foi razoavelmente bem sucedido em levar a desgraça do comunismo aos cristãos. E fracassou totalmente em levar o "cristianismo" da TL às elites do comunismo. Apesar disso, a Teologia da Libertação volta a ganhar vida e adeptos no ambiente católico.
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* Percival Puggina (69) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, membro do grupo Pensar+.

Fonte: Puggina

Intransigência política e fé religiosa


DESTAQUE

O ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista a este jornal declarou que nunca teria sido eleito sem o forte apoio da Igreja Católica.

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Na foto: Frei Betto, Lula e o cardeal Dom Cláudio Hummes

No Brasil, um país democrático onde existe separação entre Igreja e Estado, as crenças religiosas dos políticos não só não assustam, como rendem votos


JUAN ARIAS


É possível que, fora do Brasil, possa chocar o fato de a mais provável candidata à presidência da República, Marina Silva, pertença a uma igreja evangélica. Não aqui, porque este é um país com forte carga de misticismo e religiosidade, no qual há pouco espaço para o agnosticismo militante.
A ambientalista Silva, que hoje tem mais votos entre a classe média e intelectual do que entre as camadas mais pobres, poderia assustar mais por sua intransigência política e ambientalista do que por suas crenças religiosas. Uniu-se, na falta de um partido próprio que não teve tempo de formar (A Rede), ao líder socialista Eduardo Campos (Partido Socialista Brasileiro, PSB), morto tragicamente na quarta-feira passada em um acidente aéreo ainda sem explicação técnica, para defender juntos uma terceira via que terminaria com 20 anos de polarização política neste país entre o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido da Social-democracia Brasileira (PSDB).
A ideia, que agora com a tragédia ficou órfã de um de seus impulsionadores, baseava-se na busca de um modo diferente de fazer política, menos pressionado pela corrupção, com um projeto de desenvolvimento econômico sustentável para fazer o país crescer, mas com uma forte ênfase na proteção do meio ambiente e que contemplasse as demandas das multitudinárias manifestações populares de junho de 2013.
Tratava-se de um projeto progressista cunhado por dois políticos com fortes convicções religiosas: Campos, um católico praticante, assim como toda a sua família [SIC! SIC! SIC!], e Silva, uma evangélica sem fanatismos que já havia militado no catolicismo e seus movimentos da Teologia da Libertação. Ambos, aliás, sem manchas de corrupção em suas biografias políticas.
No Brasil, um país democrático onde existe separação entre Igreja e Estado, as crenças religiosas dos políticos não só não assustam, como rendem votos. É o que revela o fato de que todos eles não só não desprezam, como até buscam com carinho os votos tanto da Igreja Católica, como dos templos evangélicos. O ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista a este jornal declarou que nunca teria sido eleito sem o forte apoio da Igreja Católica.
Dias antes do trágico desaparecimento de Campos, que colocou em primeiro plano da disputa eleitoral a evangélica Marina Silva, a também candidata à reeleição, presidente Dilma Rousseff, que se declara “católica não praticante” e que afirmou “recorrer a Nossa Senhora” em momentos difíceis, participou de um encontro com 5.000 pastores evangélicos.
Pediu a eles que a “abençoassem” e chegou a dizer em seu discurso, citando a Bíblia: “Feliz a nação cujo Deus é o Senhor”.
Na inauguração, algumas semanas atrás em São Paulo, do faraônico Templo Salomão dos evangélicos, junto com dezenas de políticos e candidatos às eleições, estava presente, a presidente Dilma Rousseff. Mas Silva, a candidata evangélica, não apareceu.
Nas eleições de 2010 que a levaram à presidência, Dilma reuniu todas as denominações religiosas do país e, em um documento, comprometeu-se publicamente a não legislar sobre o aborto se chegasse ao Governo. Ganhou a eleição e foi fiel à sua promessa.
Mas a candidata Silva poderia ser até mais aberta, em certas questões de costumes, do que muitos políticos conservadores que não são religiosos, como me confirmou um dia o teólogo Leonardo Boff.
Mais que uma evangélica militante, o que dizem aqueles que a conhecem de perto é que a ambientalista é uma mulher de fé empenhada não só nas questões ambientais, como também na justiça social. Costuma-se criticar os políticos por não terem a generosidade do patriarca Abraão, que, segundo o Gênesis (21,33), já muito velho plantou uma árvore, uma tamargueira, que não veria crescer. Como me disse Marina Silva em uma entrevista quando era ministra do Meio Ambiente no primeiro mandato de Lula, muitos políticos não estão interessados em projetos de longo prazo, que normalmente não dão votos, mas nos imediatos que lhes rendem mais benefícios para a reeleição .
Tão ou mais forte do que sua fé religiosa é, dizem, sua capacidade de abrir caminhos na política, no que dizem parecer-se com Lula, com quem militou durante 30 anos antes de deixar o PT.

Fonte: El País

A conquista e a colonização da América Latina



DESTAQUE


A Recopilación de las Leyes de Indias confirma-o claramente:

“Os senhores reis, nossos progenitores, desde o descobrimento das nossas Índias Ocidentais, Ilhas e Terra Firme do Mar Oceano, ordenaram e mandaram aos nossos oficiais, descobridores, colonizadores e quaisquer outras pessoas, que, uma vez que chegassem àquelas províncias, procurassem logo dar a entender aos índios e aos moradores, através dos intérpretes, como tinham sido enviados para ensinar-lhes bons costumes, afastá-los dos vícios e de comer carne humana, instruí-los na nossa Santa fé católica para sua salvação” (Liv. I, Tít. I, Lei II).

A título de exemplo, basta lembrar que um dos infantes de Cortés quis estabelecer-se como eremita num antigo templo indígena destinado aos sacrifícios humanos, a fim de consagrar a sua vida à penitência pelos horrores que ali se tinham cometido.

(...)

Curiosamente, os ressentimentos entre colonizados e colonizadores na América são geralmente coisa recente, e apoiam-se menos em desmandos históricos do que em motivações políticas atuais.


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Por Rafael Ruiz
A versão mais em voga da história da conquista e colonização da América foi descrita e popularizada sobretudo por historiadores e jornalistas anglo-americanos e franceses dos séculos XVIII e XIX – precisamente os povos que assumiram a hegemonia cultural do Ocidente no momento em que a influência espanhola declinava –, imbuídos em geral de um vigoroso preconceito anticatólico e anti-ibérico.

leyenda negra que criaram deve-se em parte ao seu viés protestante ou iluminista, em parte à rixa que, durante os séculos XVI a XIX, opôs a Inglaterra e a França, por um lado, à Espanha e a Portugal pelo outro. Por intermédio dos enciclopedistas e dos historiadores agnósticos do século XIX (Michelet, Taine), essa versão reducionista e negativa impregnou as ciências humanas atuais, continuando a ser difundida sobretudo por servir de apoio a determinadas análises de tendência marxista. A sua fonte principal e quase única são os relatos de Bartolomé de las Casas, exagerados e passionais, embora inspirados por uma excelente intenção
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Motivações misturadas

Herança cultural entre os índios guaranis das antigas reduções jesuíticas do Paraguai.

Do ponto de vista jurídico o primeiro motivo da conquista da América foi a evangelização. É o que distingue nitidamente o empreendimento português e espanhol de todos os colonialismos anteriores e posteriores, desde os egípcios até os impérios coloniais europeus do século XIX e, na verdade, de todas as guerras de conquista que houve ao longo da História. Recopilación de lasLeyes de Indias confirma-o claramente:

Os senhores reis, nossos progenitores, desde o descobrimento das nossas Índias Ocidentais, Ilhas e Terra Firme do Mar Oceano, ordenaram e mandaram aos nossos oficiais, descobridores, colonizadores e quaisquer outras pessoas, que, uma vez que chegassem àquelas províncias, procurassem logo dar a entender aos índios e aos moradores, através dos intérpretes, como tinham sido enviados para ensinar-lhes bons costumes, afastá-los dos vícios e de comer carne humana, instruí-los na nossa Santa fé católica para sua salvação(Liv. I, Tít. I, Lei II). Por outro lado, num só fôlego, a mesma lei acrescenta:“… e atraí-los ao nosso senhorio, para que sejam tratados, favorecidos, defendidos como nossos outros súditos e vassalos”. Os fins secundários e temporais – a grandeza da pátria, a glória pessoal e a riqueza – pareciam a todos indissoluvelmente vinculados ao fim principal. Os próprios soldados, em geral homens rudes e mais versados nas artes militares do que no catecismo, tinham consciência da prioridade do fim evangelizador sobre os outros; como diz ingenuamente Bernal Díaz delCastillo, soldado de Cortés e cronista da conquista do México, os motivos que os impeliam eram“… servir a Deus, a sua Majestade, e dar luz àqueles que estavam nas trevas:.. e também ganhar riquezas, que é o que todos os homens geralmente procuramos” (cit. por Francisco Morales Padrón, Fisionomía de la conquista indiana, Escuela de Estudios Hispano-Americanos, Sevilha, 1955).E o mesmo Cortês escreve num dos seus relatórios ao imperador:

Centro Histórico de Lima, no Peru

Estávamos na disposição de ganhar para Vossa Majestade os maiores reinos e domínios que havia no mundo. Além disso, ao fazer aquilo que, pelo fato de sermos cristãos, devíamos fazer, ganharíamos a glória no outro mundo, e, neste, conseguiríamos mais honra e renome que jamais uma nação conquistou até hoje” (ibid.).

Como ocorrera ao longo de toda a Idade Média, o temporal e o eterno estavam tão inextricavelmente entrelaçados na consciência de praticamente todos os protagonistas da conquista – soldados e sacerdotes, funcionários da coroa e simples desesperados fora-da-lei –, que não lhes era possível perceber a contradição que havia entre os meios empregados (a guerra de conquista, com todas as suas cruéis conseqüências) e o desejo de difundir a verdade de Cristo. Uma vez enfronhados em guerras e intrigas, e expostos a enormes tentações de cobiça, sob a forma dos fabulosos tesouros asteca e inca, não admira nada que perdessem de vista facilmente a devida ordem dos fins…


Universidade de Sucre – Bolívia


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