Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!
30 meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas
por Monsenhor Ascânio Brandão
Livro de 1948 - 243 pags
Casa da U.P.C.
Pouso Alegre
30 meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas
por Monsenhor Ascânio Brandão
Livro de 1948 - 243 pags
Casa da U.P.C.
Pouso Alegre
13
de Novembro
A
SANTA COMUNHÃO PELOS MORTOS
Depois
da Santa Missa...
Sim,
depois da Santa Missa, não há sufrágio melhor e mais poderoso para socorrer as
pobres almas que a Santa Comunhão. Escreveu São Boaventura: “Que a caridade te
leve a comungar, porque nada há tão eficaz para proporcionar descanso aos que
padecem no purgatório”.
É
verdade que a Eucaristia como alimento espiritual é destinada aos vivos. É o cibus viatorum — alimento dos viajores, no expressivo e
belo dizer da Liturgia. Tem por fim sustentar a alma na peregrinação terrena,
fortificá-la na luta contra os inimigos. Como pode ser um auxílio e sufragar
os mortos? Discutiram os teólogos esta questão, mas todos estão de acordo que
muito mérito e muitas obras boas faz quem recebe o Corpo de Cristo e esta união
íntima da alma com seu Deus á torna mais agradável e mais poderosa para
interceder pelos mortos, e torna a Comunhão um dos mais poderosos e úteis
sufrágios depois da Santa Missa. Dizia Tobias: “Põe o teu
pão e o teu vinho sobre a sepultura do justo”. Como se aplica bem esta passagem da
Escritura à Comunhão pelos mortos! É o Pão de Vida eterna e o Vinho
transubstanciado no Sangue de Jesus Cristo que vamos colocar em nosso coração
para implorarmos a misericórdia pelos nossos queridos e saudosos mortos! A
lembrança dos mortos unida à Santa Eucaristia é tão bela e consoladora! Não é
só pelo Sacrifício do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo que se podem aliviar
as almas do purgatório. A Sagrada Eucaristia como sacramento pode ser de grande
alívio para os defuntos, principalmente quando os fiéis vivos se unem para
aplicar o fruto de uma Comunhão geral. É uma prática autorizada pela Igreja. A
Comunhão dignamente recebida é muito proveitosa para os fiéis defuntos.
Quantos atos bons não se praticam numa só Comunhão! Preparação habitual pelo
estado de graça que muitas vezes custa tanto ao cristão conservá-lo, preparação
próxima pelos atos de fé, esperança e de amor, enfim, os sacrifícios que tornam
meritória para os defuntos como sufrágio, a Comunhão. E demais, aquela união
íntima da alma com seu Criador e Redentor nos momentos depois da Comunhão, não
fazem de quem comunga um mediador entre Deus e as pobres almas, para pedir, com
fervor, o alívio dos mortos?
Diz Santo Ambrósio que “a Eucaristia é
um sacramento de descanso e paz para os defuntos e ao mesmo tempo um
banquete”. Logo, a Comunhão pode aliviar os mortos, na opinião do Santo Doutor. São João Crisóstomo chama a Comunhão auxílio dos defuntos. E São Cirilo, o maior
auxílio dos defuntos — maximum defunctorum juvamen.
Se
soubéssemos quantas graças de santidade podemos atrair para nossas almas com a
Santa Comunhão, com a participação do Corpo e do Sangue de Cristo, quanto
consolo e alívio podemos dar aos que sofrem no purgatório, sentiríamos um
desejo ardente de comungar muitas vezes pelos nossos mortos e aplicar em
sufrágio das pobres almas sofredoras todos os méritos que podemos adquirir com
as nossas comunhões fervorosas. Procuremos fazer boas Comunhões, lembrando-nos
de quanto melhor as fizermos, tanto mais aliviaremos os mortos.
A
Comunhão mensal pelas almas do purgatório
Sejamos
práticos. Precisamos socorrer os mortos e santificar nossa alma.
A
Sagrada Eucaristia é nosso tesouro da terra e é nossa, nosso alimento o Sacramento dos
viajores, dos que peregrinamos por esta vida em demanda da eternidade. Para
nosso proveito espiritual, e, em sufrágio das pobres almas, vamos comungar com
mais frequência. A Comunhão mensal pelas almas não seria um incentivo poderoso
para a nossa vida espiritual e um grande alívio para os mortos?
É
celebre a sentença do Papa Alexandre VI: “Si quis pro animabus
in purgatorio detentis, animo illis proficiendi, orationem fecerit, obligat eas
ad antidota isve gratitudinem” — Todo o que reza, e muito mais ainda quem
comunga pelas almas detidas do purgatório, com o desejo de aliviá-las as obriga
à gratidão e remuneração.
A
prática da Comunhão mensal pelos fiéis defuntos é muito antiga. Em algumas
regiões é muito concorrida e produz frutos maravilhosos. Começou este piedoso
costume em Roma, no pontificado do Papa Paulo V, que se mostrou
muito favorável a ela e ele mesmo a pôs em prática, na Cidade Eterna, com
frutos surpreendentes. Era incrível como os fiéis afluíam às igrejas cada mês
para sufragar seus mortos queridos pela Santa Comunhão. Os sucessores de Paulo V continuaram a devoção
que se desenvolveu tanto a ponto de só em Roma se ver num dia trinta mil
Comunhões pelas almas. A prática passou de Roma para outras cidades da Itália,
depois para a França e muitos países europeus.
Ora,
entre nós onde o povo é tão devoto das almas do purgatório, por que não se há
de generalizar o dia da Comunhão mensal pelas almas? Cada Comunidade
religiosa, cada paróquia deveria ter o seu dia mensal das almas. O dia da Comunhão
pelas almas. De preferência deveria se escolher uma segunda-feira, quando
possível. Nas paróquias talvez um dos domingos, para favorecer o povo. Ó, quem
nos dera tivéssemos cada mês, um dia dos mortos, um dia para as santas almas!
Missa, Comunhão geral, sufrágios e orações pelos mortos! Entretanto, se esta
prática não se faz coletivamente, que nos impede fazê-la em particular, e
estimular outros a fazerem ó mesmo? Sejamos apóstolos da Comunhão mensal pelos
defuntos. Vamos à Mesa Santa levar algum refrigério ao purgatório, pelas nossas
orações e sacrifícios em união com Jesus Hóstia. Dizer com Jesus no coração: Dai-lhes, Senhor, o
descanso eterno e brilhe para elas a perpétua luz! Oferecer o Sangue Preciosíssimo
de Jesus ao Eterno Pai, para o alívio das santas almas!
Não
podemos fazer tudo isto numa Comunhão? Há pessoas piedosas e compassivas que
oferecem cada segunda-feira uma Comunhão pelas almas. É a Comunhão semanal
pelos fiéis defuntos. Tanto melhor. De vez em quando novenas de Comunhões pelas
almas. Como fazem bem a nós e às pobres almas, estas práticas tão edificantes e
de tão grande valor! Façamos muitas Comunhões por nossos mortos. Propaguemos o
uso da Comunhão mensal pelas almas!