segunda-feira, 7 de outubro de 2013

7 de Outubro - Solenidade do Santíssimo Rosário





Quasi rosa, plantata super rivos aquarum, fructificate — “Frutificai como rosal plantado sobre as correntes das águas” (Ecclus. 39, 17).

Sumário.  O santíssimo Rosário merece ser rezado com respeito e atenção, pois é uma devoção sublime e excelente sob todos os pontos de vista. Foi aprovada pela Igreja, enriquecida de indulgências pelos Sumos Pontífices, e glorificada por Deus com milagres estupendos. Por outro lado este saltério celeste, em razão das orações que o compõem, encerra tudo o que há de mais belo na Igreja católica. Em que estima tens tão precioso tesouro? Como é que costumas rezar o Rosário?

I. Considera a excelência da devoção do santíssimo Rosário. Já se sabe que foi revelada a São Domingos pela divina Mãe, na ocasião em que, estando aflito o Santo e lamentando-se, com Nossa Senhora, dos grandes danos que naquele tempo faziam à Igreja os hereges albigenses, a Virgem lhe disse: “Este terreno será sempre estéril enquanto sobre ele não cair a chuva.” Entendeu então São Domingos que esta chuva era a devoção do Rosário que ele devia publicar. — Com efeito, o Santo foi logo pregando por toda a parte, e esta devoção veio a ser abraçada por todos os católicos; de tal maneira, que presentemente não há devoção mais praticada por todas as classes dos fiéis do que a do santíssimo Rosário.

Que não têm dito os hereges para desacreditar este uso? Mas, para nos persuadirmos da sua impiedade, basta sabermos que esta devoção foi aprovada pela Igreja, que a honrou com a instituição de uma solenidade especial; os Sumos Pontífices enriqueceram-na de indulgências, e Deus a glorificou por milages estupendos. — Por outra parte, é conhecido o grande bem que ao mundo tem resultado desta nobre devoção. Quantos por meio dela têm sido livres dos pecados? Quantos conduzidos a uma vida santa? Quantos têm obtido uma boa morte e hoje estão salvos? O próprio demônio, obrigado a isso por São Domingos, declarou pela boca de um possesso, que não se condenou nenhum daqueles que até à morte perseveraram em rezar devotamente o Rosário.

Nem isso nos pode admirar; porquanto, sendo este saltério celeste composto da contemplação dos mistérios, da Oração dominical e da Saudação Angélica, encerra em si tudo que há de mais sublime na Igreja católica. — Examina-te aqui sobre se tens o santíssimo Rosário na devida estima, já que é uma devoção tão exímia sob todos os pontos de vista.

II. Para compreendermos quanto agrada à Santíssima Virgem a devoção do santo Rosário, basta refletirmos nas belas promessas por ela feitas àquele que constantemente reza o Rosário. “A todos os”, disse Nossa Senhora ao Bem-aventurado Alano, “que recitarem o meu saltério, prometo a minha proteção especialíssima. O Rosário será para todos um penhor seguro da sua predestinação à glória, porquanto é uma arma poderosíssima contra o inferno para extirpar os vícios, dissipar o pecado e vencer as heresias. Aquele que recitar devotamente o santo Rosário, não será oprimido pelas desgraças, não morrerá de morte imprevista, sem sacramentos; mas converter-se-á, se for pecador; crescerá na graça, se for justo, e será feito digno da vida eterna. Os que na terra se esmerarem em propagá-lo, serão por mim assistidos em todas as suas necessidades.”

O fruto desta consideração será que rezaremos freqüentemente o santo Rosário, e o rezaremos devotamente, com a coroa benta na mão, acompanhando-o da contemplação dos mistérios, e pondo-nos, sendo possível, diante de uma imagem de Maria. — Considerando também de uma parte as perseguições de que é alvo a Igreja católica e da outra a confiança esclarecida que os Sumos Pontífices põem nesta arma poderosíssima, rezemos muitas vezes o saltério celeste para que seja acelerado o triunfo da Igreja.

Ó Virgem gloriosa, Rainha do santíssimo Rosário, congratulo-me convosco pela homenagem que no mundo inteiro vos tributam tantas confraternidades que se gloriam de vosso venerável Nome. Prostrado diante do vosso trono, rogo-vos que lanceis um olhar benigno sobre a herança que Jesus Cristo adquiriu com o seu sangue e renoveis em seu favor um daqueles prodígios que vos mereceram o título de Rainha das Vitórias. Igualmente vos rogo, ó minha Mãe, que me permitais unir-me hoje e sempre a tantos confrades, vossos filhos diletos e vos saúde sempre com a saudação angélica: Ave, cheia de graça, o Senhor é convosco (1).

“Ó Deus, cujo Filho unigênito pela sua vida, morte e ressurreição nos mereceu os prêmios da salvação eterna, concedei-me propício, que contemplando estes mistérios no santíssimo Rosário da Bem-aventurada Virgem Maria, possa imitar o que eles contêm e conseguir o que prometem. Pelo mesmo Jesus Cristo, nosso Senhor.” (2) (*I 276.)

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1. Luc. 1, 28.
2. Or. Fest.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 374 - 377.)


Fonte: São Pio V

A Batalha de Lepanto e o heroísmo de São Pio V



Lepanto, vitral da igreja de São Giles em Cheadle, Inglaterra
Neste mês cumprem-se 437 anos da maior vitória naval da Cristandade sobre o Império muçulmano.

No dia 7 de outubro de 1571, o enfrentamento das esquadras católicas contra as do Islã, no golfo de Lepanto, salvou a Civilização Cristã de terrível dano: a invasão — cujas conseqüências seriam incalculáveis — do continente europeu pelos mouros.

Por intercessão de Maria Santíssima, apesar da enorme desproporção de forças, a armada católica saiu magnificamente vencedora.


*** * ***

Vou destacar aqui um herói da batalha de Lepanto, a respeito do qual pouco se fala. Esse herói foi o Papa São Pio V.

Cristo miraculoso de Lepanto, catedral de Barcelona
O Pontífice via bem o poder otomano crescer cada vez mais, e o perigo de os otomanos se jogarem sobre a Itália ou sobre qualquer outra parte da Europa, e operarem uma invasão que poderia ter efeitos tão ruinosos ou talvez mais ruinosos do que teve a invasão dos árabes na Espanha, no começo da Idade Média.

Nessa situação, São Pio V tinha que apelar naturalmente para o varão que era o apoio temporal da Igreja naquele tempo: Felipe II, Rei da Espanha.

O Imperador do Sacro Império Romano Alemão não tinha condições, por causa da divisão religiosa no império [em razão da revolução protestante], de lutar eficazmente contra os mouros. A França estava corroída por uma crise religiosa muito grande, guerra de religião etc.

A união do poder espiritual com o poder temporal

O Papa só podia contar, dentre as grandes potências católicas, com Felipe II de um lado, e, de outro, com Veneza, que dispunha de grande poder marítimo.

Caso Felipe II se retraísse, a horda maometana desataria sobre a Itália, e depois atingiria toda a Cristandade. Seria o fim da Civilização Cristã no Ocidente. Não seria o fim da Igreja, porque ela é imortal; mas, ao que a Igreja poderia ficar reduzida, ninguém sabe.

Se não fosse a pressão de São Pio V, não se teria realizado a Batalha de Lepanto, porque a Espanha não teria mandado sua esquadra. Esta era o grande contingente decisivo dentro das esquadras aliadas que lutaram e venceram em Lepanto.

Sao Pio V vê a vitória de Lepanto, Notre Dame de Fourvière, LyonAssim se compreende melhor por que razão houve a famosa aparição a São Pio V.

Ele estava numa reunião de cardeais, em Roma, e em certo momento levantou-se e rezou um terço pela vitória dos católicos sobre os maometanos, decisiva para a Cristandade. Enquanto o Papa rezava o terço, teve a revelação da vitória das esquadras católicas.

São Pio V foi um verdadeiro herói, como Dom João d’Áustria e os outros grandes guerreiros que venceram em Lepanto.



Plinio Corrêa de Oliveira, 7/10/75.

Fonte: As Cruzadas

‘Hélas’




Luis Fernando Verissimo




Deus criou o Céu e a Terra e o Dia e a Noite, e deu nome às plantas, aos bichos e às coisas. Mas também era preciso dar nome aos sentimentos e às emoções, a perplexidades e a situações inusitadas e, sentindo-se despreparado para a tarefa, Deus criou os franceses.

Os franceses têm a expressão certa para tudo, inclusive para o inexprimível, que eles chamam de “je ne sait quoi”. O francês é a única língua do mundo com uma definição para a incapacidade de definir. Eles não apenas têm um nome para “fazer beicinho”, bouder, como inventaram uma peça da casa que teoricamente existe só para a mulher se recolher enquanto o faz, o boudoir. Outra expressão francesa que não ocorreria a mais ninguém é esprit d’escalier, ou o espírito que só se faz presente quando a gente já está descendo a escada, depois de falhar na hora de ser brilhante. Se não fossem os franceses, não saberíamos como chamar a sensação de que a boa frase ou a resposta arrasadora geralmente só nos vêm quando não adianta mais. Na escada ou, mais recentemente, no elevador.

Outra boa frase era epater les bourgeois. Caiu em desuso, em primeiro lugar, porque todas as frases prontas francesas foram ficando antigas num mundo cada vez mais americano, mas também porque foi ficando cada vez mais difícil espantar a burguesia. Depois da revolução sexual e do escancaramento da privacidade, nada mais espanta ninguém e o que antes chocava hoje vira moda.


O que ainda funciona — tanto que, no Brasil, se transformou num gênero jornalístico — é epater la gauche, contrariar o pensamento convencionalmente progressista, ou apenas correto, com reacionarismo explícito. Os epateurs da esquerda podem ser divertidos, mas como em todo succès d’escandale (que remédio, sou um antigo) nunca se sabe se o sucesso se deve ao talento para escandalizar ou se o escândalo dispensa o talento, e basta ser contra para aparecer. De qualquer maneira, hélas, aos poucos as frases feitas francesas vão perdendo a atualidade e — ça va sans dire — a utilidade.

Fonte: ESP
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