terça-feira, 1 de outubro de 2013

ONDE ESTÁ A FÉ DO PAPA?

   
“Será que o papa é católico?” eis o sarcasmo que a maioria dos fiéis católicos nunca iria perguntar; pelo menos não seriamente.


Mas com uma série de recentes pronunciamentos e decisões que atacam a tradição papal, o Papa Francisco deixou muitos católicos se perguntando se a Igreja Católica irá sobreviver a este papado. 


Tais são as contundentes palavras do jornalista Jerome R. Corsi, em matéria de Nova Yorque, intitulada “Obama em Washington e Francisco em Roma – O Papa é Católico? - O bispo de Roma resolve balançar a Igreja”. 

(Ler a matéria na íntegra no final da página)




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Para os menos instruídos em matéria religiosa, imprescindível recordar, a esta altura dos acontecimentos, quem é o Papa. “Doce Cristo na Terra”, segundo a magnífica expressão de Santa Catarina de Siena.
O que nos ensina a Igreja e a história sobre a fundação da Igreja Católica? 
“E eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; e eu te darei as chaves do reino dos Céus: e tudo o que desatares sobre a terra, será desatado também nos céus.” (Mt. 16, 18).
Todos os sucessores dos Apóstolos atestam o primado de Pedro e dos seus sucessores, como, por exemplo: 1) Tertuliano: “A Igreja foi construída sobre Pedro“; 2) S. Cipriano: “Sobre um só foi construída a Igreja: Pedro“; Santo Ambrósio: “Onde há Pedro, aí há a Igreja de Jesus Cristo“.
São Mateus, enumerando os apóstolos, confirma o primado de S. Pedro: “O primeiro, Simão, que se chama Pedro“ (Mt 10, 2).
No século I, o Bispo de Roma, Clemente, escrevendo aos Coríntios, para chamar à ordem os que injustamente tinham demitido os presbíteros, declara-lhes que serão réus de falta grave se não lhe obedecerem. O procedimento de Clemente de Roma tem maior importância, se considerarmos que nessa época ainda vivia o apóstolo São João, o qual não deixaria de intervir se o Bispo de Roma estivesse no mesmo plano dos outros bispos.
No princípio do século II, Santo Inácio escreve aos romanos que a Igreja de Roma preside a todas as demais.
Santo Irineu diz ser a Igreja Romana a “maior, a mais antiga e a mais famosa”, e fundada pelos apóstolos Pedro e Paulo (Heres. 3. 3. 2). Traz mais a lista dos dirigentes da Igreja Romana desde São Pedro até o Papa reinante no tempo dele, que era S. Eleuterio. Ao todo eram doze. Eis a lista, numa sequência ascensional: Eleuterio; Sotero; Aniceto; Pio; Higino; Telésforo; Xisto; Alexandre; Evaristo; Clemente; Anacleto; Lino; Pedro. (observe-se que Santo Irineu deve ter vivido no entre o ano 100 e 200 DC).
São Jerônimo, escrevendo a S. Dâmaso, Papa, diz: “Eu me estreito a Vossa Santidade, que equivale à Cátedra de Pedro. É esta a pedra sobre a qual Jesus Cristo fundou a sua Igreja. Seguro em vossa cátedra eu sigo a Jesus Cristo“. Aludem a isso, direta ou indiretamente, diversos santos e cristãos dos primeiros séculos, formando a mais universal das tradições, a mais firme convicção histórica. Citemos alguns: Santo Epifânio, Osório Pedro de Alexandria, Dionísio de Corinto, São João Crisóstomo, Papias, etc..
Nosso Senhor Jesus Cristo disse: “Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu com instância para vos joeirar como trigo; mas eu roguei por ti, para que não desfaleça a tua fé; e tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos” (Luc. 22, 31-32). Noutras palavras, é São Pedro quem tem a missão, dada pelo próprio Messias, de ‘confirmar‘ seus irmãos. Essa missão supõe, evidentemente, o primado de jurisdição.
São Pedro é nomeado pastor das ovelhas de Cristo. Após a Ressurreição, Nosso Senhor confia a Pedro a guarda de seu rebanho, isto é, confia-lhe o cuidado de toda a Cristandade, isto é, dos cordeiros e das ovelhas: “Apascenta os meus cordeiros“, repete-lhe duas vezes; e à terceira: “apascenta as minhas ovelhas” (Jo. 21, 15-17). Ora, conforme o uso corrente das línguas orientais, a palavra apascentar significa “governar“. Apascentar os cordeiros e as ovelhas é, portanto, governar com autoridade soberana a Igreja de Cristo; é ser o chefe supremo; é ter o primado. Noutros termos, o Papa tem jurisdição sobre os Bispos e sobre os fieis (ou seja, cordeiros e ovelhas). Ademais, a imagem do “pastor”, nas Sagradas Escrituras, designa o Messias e sua obra (cf. Mq 2,13; 4,6s; Sf 3,18s, Jr 23,3; 31,19; Is 30,11; 49,9s). Ora, confiando a São Pedro a missão de pastor, Nosso Senhor o constituiu seu representante visível na Terra.
Na relação dos apóstolos (Mt 10, 2-4; Mc 3, 16-19; Lc 6, 13-16; At 1, 13), São Pedro sempre é nomeado em primeiro lugar. Em Mt. 10, 2, lê-se explicitamente que Pedro é o primeiro (“Protos“). Ora, “protos” tanto quer dizer o primeiro numericamente como o primeiro em dignidade e honra (v. Mt 20, 27; Mc 12, 28,31; At 13, 50; 28,17).
Em Mt. 17, 24-27, curiosamente, Nosso Senhor mandou pagar o tributo ao templo em nome Dele e de S. Pedro, demonstrando a importância daquele que seria o Seu representante visível na terra. Ele não manda que se pague em nome dos outros apóstolos, apenas em nome de São Pedro.


São Pedro foi o primeiro Bispo de Roma:

A esse respeito, poderíamos mencionar longas passagens de São Irineu, Caio, São Cipriano, Santo Agostinho, São Optato, São Jerônimo, Sulpício Severo, que atestam “unânimes” o múnus episcopal do príncipe dos apóstolos sobre a Cidade Eterna.

Limitemo-nos a umas curtas citações:

Caio: falando de S. Vitor, Papa. diz: “Desde Pedro ele foi o décimo terceiro Bispo de Roma”(ad Euseb. 128).

São Jerônimo: “Simão Pedro foi a Roma e aí ocupou a cátedra sacerdotal durante 25 anos” (De Viris Ill. 1, 1).

Santo Agostinho: “S. Lino sucedeu a S. Pedro” (Epist. 53)

Sulpício Severo, falando dos tempos de Nero, afirma: “Neste tempo, Pedro exercia em Roma a função de Bispo” (His. Sacr., n. 28).

S. Ireneu: “Os apóstolos Pedro e Paulo fundaram a Igreja, e o primeiro remeteu o episcopado a Lino, a quem sucedeu Anacleto e depois Clemente”.

Convém novamente acentuar que, quando é feita a enumeração dos Bispos de Roma, desde os documentos primitivos, o nome de Pedro aparece à frente de todos.


A Sucessão Apostólica

Nos textos das Sagradas Escrituras, não só a investidura de São Pedro como Chefe visível da Igreja é que consta, mas também a investidura perpétua dos apóstolos, como “enviados” de Cristo (Mt. 28, 18 – 20): “É-me dado todo o poder no céu e na terra; ide, pois, e ensinai a todos os povos, e eis que estou convosco todos os dias até a consumação do mundo”.

Que significam tais palavras?

1 –  Jesus Cristo possui tem todo poder — a primeira parte;

2 – Jesus Cristo transmite esse poder — a segunda parte (Lembremo-nos, no mesmo sentido, da frase: “tudo que ligares na terra será ligado no céu e tudo o que desligares na terra será desligado no céu”).

3 – A quem Ele transmite? Aos apóstolos.

4 – Até quando? Até a consumação dos séculos, ou seja, até o fim do mundo.

Ora, Cristo poderia ter transmitido esse poder unicamente aos apóstolos ali presentes? Inconcebível, pois os apóstolos deviam morrer um dia, como todos os homens morrem. Ele diz: “estarei convosco até à consumação do mundo”.

Se Ele promete estar com os apóstolos até o fim do mundo, é claro que não está se dirige aos apóstolos enquanto pessoas físicas, mas como uma “linhagem  moral“, que deve perpetuar-se nos seus sucessores, e que há de perdurar até o fim dos tempos.

Prova evidente de que o bispo de Roma, o Papa, é o sucessor de S. Pedro e de sua “jurisdição”.

A sucessão também é observada nos primeiros cristãos, que nomeavam diáconos e bispos, transmitindo-lhes as obrigações de seus antecessores.

Fundando uma sociedade religiosa visível, para durar até o fim do mundo, Jesus Cristo necessariamente nomearia um chefe, com sucessão, para perpetuar a mesma autoridade: “Quem vos escuta, escuta a mim” (Mt 28, 18). Se assim não fosse, Nosso Senhor não teria podido dizer: “Eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo“. Ao contrário, deveria ter dito que estaria apenas com S. Pedro até o fim de sua vida...

Cumpre-se assim o que claramente se lê: “Um só senhor, uma só fé, um só batismo” (Ef. 4, 5).

*** * ***

Verifica-se à saciedade, pelos testemunhos e comprovações acima, que a Igreja foi instituída sobre a Rocha inabalável de Pedro, Primeiro Papa.
Como, então, se pode conceber que, quase dois mil anos depois da fundação da Igreja por Cristo, um Sucessor de São Pedro venha a público afirmar que “não crê no Deus dos católicos”?
A indagação resulta imediata: qual a “fé” que professa o Papa Francisco?  Pode-se considerá-lo o representante supremo na terra de uma Religião em cujo Deus afirma “não crer”?
Não surpreende, pois, que, à vista disso, haja quem se pergunte se o Papa Francisco, por via dessas declarações, não se demite de sua condição de Soberano Pontífice.
Raphael de la Trinité

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Obama em Washington e Francisco em Roma – O Papa é Católico?

O bispo de Roma resolve balançar a Igreja
Jerome R. Corsi


NOVA YORK, EUA — “Será que o papa é católico?” eis o sarcasmo que a maioria dos fiéis católicos nunca iria perguntar; pelo menos não seriamente.

Mas com uma série de recentes pronunciamentos e decisões que atacam a tradição papal, o Papa Francisco deixou muitos católicos se perguntando se a Igreja Católica irá sobreviver a este papado.

Nos últimos dias, a mídia se ateve a uma declaração que parece sugerir que os descrentes (ou mesmo os não católicos, ou até ateístas) podem ganhar a salvação e ser admitidos no céu, enquanto seu recém-nomeado secretário de estado, a segunda posição mais importante no Vaticano, sugeriu que eles estão prontos para repensar o celibato e o clero, sugerindo que padres e freiras poderão ter permissão de se casar.

Agora, o fiel católico se pergunta, “Será que a Igreja Católica irá sobreviver ao papado de Francisco?”

O homossexualismo é pecado?

O choque ao pensamento tradicional católico começou quando o Papa Francisco decidiu voltar ao avião e conceder uma entrevista aos repórteres no voo de volta do Brasil para casa em sua primeira viagem internacional como papa.

Em vez de dizer que o homossexualismo é um “mal moral intrínseco”, conforme disse seu predecessor Bento XVI, o Papa Francisco respondeu à pergunta de um repórter, “Se alguém é gay e procura o Senhor de boa vontade, quem seu ou para julgar?”

Ateus podem ser salvos?

Então, em 11 de setembro, em uma carta publicada na primeira página de um jornal de Roma, o La Repubblica, o Papa Francisco respondeu à pergunta do fundador do jornal e editor de longa data, Eugenio Scalfari, de 89 anos, que perguntou se Deus iria perdoar uma pessoa sem fé por um pecado cometido.

Sua resposta saiu nas manchetes de todo o mundo, concluindo que o Papa abriu as portas para a salvação para os que não acreditam em Deus.

Escreveu o papa: “E assim chego às três perguntas que me coloca no artigo de 7 de agosto. Parece-me que, nas duas primeiras, aquilo que lhe está no coração é entender a atitude da Igreja com quem não partilha a fé em Jesus. Antes de mais nada, pergunta-me se o Deus dos cristãos perdoa a quem não acredita nem procura acreditar. Admitido como dado fundamental que a misericórdia de Deus não tem limites quando alguém se dirige a Ele com coração sincero e contrito, para quem não crê em Deus a questão está em obedecer à própria consciência: acontece o pecado, mesmo para aqueles que não têm fé, quando se vai contra a consciência. De fato, ouvir e obedecer a esta significa decidir-se diante do que é percebido como bem ou como mal; e é sobre esta decisão que se joga a bondade ou a maldade das nossas acções.”

Devem os judeus aceitar Jesus?

Na mesma carta, o Papa Francisco se dirigiu aos judeus, continuando um tema que o tornou famoso na Argentina desde o ataque a bomba a um centro judeu em Buenos Aires em 1994, matando 85 pessoas e deixando centenas feridas.

O Papa destaca que o povo judeu é a “raiz” de onde germinou Jesus.

“Na amizade que cultivei durante todos esses anos com os irmãos judeus, na Argentina, também eu muitas vezes questionei a Deus na oração, especialmente quando a mente se detinha na recordação da experiência terrível do Holocausto.” “O que lhe posso dizer — com palavras do apóstolo Paulo — é que nunca esmoreceu a fidelidade de Deus à aliança estabelecida com Israel e que, através das terríveis provações destes séculos, os judeus conservaram a sua fé em Deus.”

Na ocasião do Rosh Hashaná (ano novo judaico), o papa desejou aos judeus um feliz ano novo e encorajou um diálogo aberto em questões de fé.

Ainda assim, Giulio Meotti, um jornalista italiano, ao escrever um editorial ao Israeli National News, não ficou satisfeito.

“Mas conforme mostra essa nova carta, um dos graves perigos no diálogo do Vaticano com o judaísmo é a tentativa da Igreja de dividir os judeus ‘bons’ e dóceis da Diáspora e os judeus ‘maus’ e arrogantes de Israel”, escreve Meotti. “O Papa Francisco nunca se dirigiu aos israelenses nas suas mensagens, nem defendeu abertamente o Estado Judeu desde que foi eleito pelo Colégio dos Cardeais. Parece que não há espaço para os sionistas fiéis e obstinados no sorriso leniente do Papa. Em seus discursos, as aspirações nacionais judaicas são ignoradas, e até mesmo não denegridas”.

Meotti fez referência a uma carta que a Conferência de Bispos Católicos dos EUA distribuiu recentemente junto com a Universidade Católica da América, que condenava a expansão dos assentamentos israelenses. A carta argumentava que a expansão dos assentamentos é “uma forte primária de violações dos direitos humanos dos palestinos”, sugerindo que os palestinos que vivem em Israel sofrem “uma ocupação militar prolongada” por judeus israelenses.
Padres e freiras podem se casar?

Enquanto o Papa Bento XVI proibiu um diálogo aberto sobre se padres e freiras deveriam ter permissão de se casar, o Papa Francisco, que notoriamente disse que o celibato clerical poderia mudar, pode estar prestes a colocar o assunto na pauta para um debate sério.

Assim afirma Clelia Luro, uma mulher de 87 anos cujo romance e eventual casamento com um bispo se tornou um enorme escândalo na década de 60. Sua história não impediu o Papa Francisco de ser seu amigo muito próximo, que lhe telefonava todos os domingos quando era cardeal chefe da Argentina, segundo reportagem da Fox News.

Aquela previsão pareceu estar se concretizando depois que o arcebispo italiano Pietro Parolin, núncio da Venezuela que foi recentemente indicado para ser Secretário de Estado do Papa, segundo no comando do vaticano, disse ao jornal venezuelano El Universal que o celibato do clero não é um dogma.

Traduzindo para fora da terminologia formal da Igreja Católica, com esse pronunciamento o arcebispo Parolin está sinalizando que o celibato para o clero não é um artigo obrigatório para a fé na qual todos os católicos praticantes devem acreditar, mas uma prática ou tradição que deveria ser aberta ao debate.

Traduzido por Luis Gustavo Gentil do original do WND: NO JOKE THIS TIME: IS THE POPE CATHOLIC?

Trechos da carta do Papa Francisco ao jornal italiano retirados de News.va.


PELA PRIMEIRA VEZ NA HISTÓRIA, UM PAPA QUE REJEITA A FÉ CATÓLICA... QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS DISSO?



 “E eu creio em Deus, mas não em um Deus Católico, não há Deus Católico, há Deus e creio em Jesus Cristo, sua encarnação. Jesus é o meu mestre e meu pastor, mas Deus, o Pai, Abba, é a luz e o Criador. Esse é o meu Ser...”

Caro leitor, quem fez a declaração acima?

Lutero?
Voltaire?

NÃO, O PAPA FRANCISCO!!!

Pode alguém ser católico, se rejeita "o Deus dos católicos?"

E quando se trata do Papa?



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Nova entrevista do Papa Francisco – ‘A corte é a lepra do Papado’

Entrevista concedida pelo Papa Francisco ao diretor do jornal La Repubblica, Eugenio Scalfari — a quem o bispo de Roma dirigiu uma carta recentemente. O Papa sobre a aplicação do Vaticano II: “Muito pouco foi feito”. Scalfari: “Este é o Papa Francisco. Se a Igreja se tornar como ele e ficar do jeito que ele quer que ela seja, será uma mudança de época”.

O Papa: como a Igreja mudará *


Por Eugenio Scalfari - La Repubblica | Tradução: Fratres in Unum.com - O Papa Francisco me disse: “Os maiores males que afligem o mundo nestes dias são o desemprego dos jovens e a solidão dos idosos. Os idosos precisam de cuidado e companhia; os jovens precisam de trabalho e esperança, mas não tem um nem outro, e o problema é que eles sequer os buscam mais. Eles foram esmagados pelo presente. Você me diz: é possível viver esmagado sob o peso do presente? Sem uma memória do passado e sem o desejo de olhar adiante para o futuro para construir algo, um futuro, uma família? Você consegue ir adiante assim? Este, para mim, é o problema mais urgente que a Igreja enfrenta”

Santidade, digo, trata-se de um principalmente de um problema econômico e político para os estados, governos, partidos políticos, sindicatos.
“Sim, você tem razão, mas também preocupa a Igreja, de fato, particularmente a Igreja, porque essa situação não fere apenas os corpos, mas também as almas. A Igreja deve se sentir responsável tanto por corpos como almas”.

Santidade, o senhor diz que a Igreja deve se sentir responsável. Devo concluir que a Igreja não está ciente desse problema e que o senhor a conduzirá nessa direção? 
“Em grande parte há ciência, mas não suficientemente. Quero que haja mais. Não é o único problema que enfrentamos, mas é o mais urgente e mais dramático”.

O encontro o Papa ocorreu na última terça-feira, na sua residência em Santa Marta, em um quarto pequeno e simples, com uma mesa, cinco ou seis cadeiras e um quadro na parede. Ele foi precedido por um telefonema que não esquecerei por toda a minha vida.
Eram duas e meia da tarde. Meu telefone tocou e com uma voz um tanto abalada minha secretária me diz: “O Papa está na linha. Transferirei imediatamente”.
Eu ainda estava chocado quando ouvi a voz de Sua Santidade do outro lado da linha dizendo: “Olá, é o Papa Francisco”. “Olá Santidade”, disse então, “Estou chocado, não esperava que o senhor pudesse me telefonar”. “Por que está tão surpreso? Você me escreveu uma carta pedindo para me encontrar pessoalmente. Tenho o mesmo desejo, então estou ligando para marcar um horário. Deixe-me ver em minha agenda: não posso na quarta-feira, nem segunda, na terça está bom para você?”
Eu respondi que estava bem.
“O horário é um pouco complicado, três da tarde, ok? De outra forma, terá que ficar para outro dia”. Santidade, o horário está bom. “Então combinamos: terça, 24, às três da tarde. Na Santa Marta. Você tem que vir até a porta do Sant’Uffizio”.
Eu não sabia como terminar o telefonema e me deixei levar, dizendo: “Posso abraçá-lo por telefone?” “Claro, um abraço meu também. Depois fazemos isso pessoalmente, tchau”.
E aqui estou. O Papa chega, aperta minha mão e então sentamos. O Papa sorri e diz: “Alguns dos meus colegas que o conhecem disseram que você tentaria me converter”.

É uma piada, respondo. Meus amigos acham que você é quem quer me converter.

Ele sorri e responde: “O proselitismo é uma solene tolice [nonsense], não tem sentido. Nós temos que conhecer um ao outro, ouvir um ao outro e melhorar o nosso conhecimento do mundo ao nosso redor. Às vezes, após um encontro, desejo marcar outro porque novas ideias surgem e descubro novas necessidades. Isso é importante: conhecer as pessoas, ouvir, expandir nosso círculo de ideias. O mundo é cruzado por vias que se aproximam e se separam, mas o importante é que elas levem ao Bem”.

Santidade, existe uma visão de Bem única? E quem decide qual é ela? 

“Cada um de nós tem uma visão do bem e do mal. Temos que encorajar as pessoas a caminhar em direção ao que elas consideram ser o Bem”.

Santidade, o senhor escreveu isso em sua carta para mim. A consciência é autônoma, o senhor disse, e todos devem obedecer a sua consciência. Creio que este seja um dos passos mais corajosos dados por um Papa. 

“E repito aqui: Cada um tem sua própria ideia de bem e mal e deve escolher seguir o bem e combater o mal como concebe. Isso bastaria para fazer o mundo um lugar melhor”.

A Igreja está fazendo isso?

“Sim, esse é o propósito de nossa missão: identificar as necessidades materiais e imateriais do povo e tentar ir ao encontro delas conforme pudermos. Você sabe o que é ágape?

Sim, eu sei.

“É o amor pelos outros, como Nosso Senhor pregou. Não é fazer proselitismo, é amar. Amar o próximo, aquele fermento que serve ao bem comum”.

Amar o próximo como a si mesmo.

“Exatamente”.

Jesus, na sua pregação, disse que agape, amor pelos outros, é o único caminho para Deus. Corrija-me se eu estiver errado.

“Você não está errado. O Filho de Deus se encarnou nas almas dos homens para instilar o sentimento de fraternidade. Todos somos irmãos e todos somos filhos de Deus. Abba, como ele chamou o Papa. Mostrarei o caminho, ele disse. Siga-me e encontrará o Pai e será seu filho e ele se compadecerá de ti. Agape, o amor de cada um de nós pelo outro, do mais próximo ao mais distante, é, de fato, o único caminho que Jesus nos deu para encontrar o caminho da salvação e das Beatitudes”.

No entanto, como dissemos, a exortação de Jesus é que o amor ao próximo seja igual ao que temos por nós mesmos. Mas o que muitos chamam narcisismo é reconhecido como válido, positivo, na mesma medida do outro. Nós falamos muito sobre esse aspecto.
“Não gosto da palavra narcisismo”, diz o Papa. “Ela indica um amor excessivo por si mesmo e isso não é bom, pode produzir sérios danos não só à alma do que dele sofre, mas também no relacionamento com outros, com a sociedade na qual se vive. O verdadeiro problema é que aqueles mais afetados por isso — que é, na realidade, um tipo de desordem mental — são pessoas que têm muito poder. Normalmente os chefes são narcisistas”.

Muitos líderes na Igreja o foram.

“Sabe o que penso disso? Os líderes na Igreja frequentemente foram narcisistas, bajulados e negativamente influenciados por seus cortesãos. A corte é a lepra do Papado”.

A lepra do papado, estas foram exatamente as suas palavras. Mas o que é a corte? Talvez esteja se referindo à cúria?

“Não, há por vezes cortesãos na cúria, mas a cúria enquanto tal é outra coisa. É o que no exército se chama de intendência, ela administra os serviços que servem à Santa Sé. Mas ela tem um defeito: é Vaticanocêntrica. Ela vê e cuida dos interesses do Vaticano, que são ainda, na maior parte, interesses temporais. Essa visão Vaticanocêntrica negligencia o mundo ao nosso redor. Não compartilho dessa visão e farei tudo o que eu puder para mudá-la. A Igreja é ou deve voltar a ser uma comunidade do povo de Deus e os padres, párocos e bispos que têm a cura das almas, estão a serviço do povo de Deus. A Igreja é isso, uma palavra não por acaso diferente da Santa Sé, que tem a sua própria função, importante, mas a serviço da Igreja. Eu não teria condições de ter total fé em Deus e em seu Filho se eu não tivesse sido formado na Igreja, e se eu não tivesse tido a felicidade de me encontrar na Igreja, em uma comunidade sem a qual não teria tomado consciência de mim mesmo e de minha fé”.

O senhor ouviu o seu chamado na juventude?

“Não, não muito jovem. Minha família quis que eu tivesse uma profissão diferente, que trabalhasse e ganhasse dinheiro. Fui para a universidade. Também tive uma professora por quem tive muito respeito e desenvolvi amizade, e que era uma comunista fervorosa. Ela sempre lia textos do Partido Comunista para mim e me dava para ler. Então, também cheguei a conhecer aquela concepção muito materialista. Recordo-me que ela também me deu a declaração dos Comunistas Americanos em defesa dos Rosenbergs, que foram sentenciados à morte. A mulher de quem estou falando foi por fim presa, torturada e morta pela ditadura que então governava a Argentina”.

O senhor foi seduzido pelo comunismo?

“O materialismo dela nunca me convenceu. Mas aprender sobre isso por uma pessoa corajosa e honesta foi útil. Descobri algumas coisas, um aspecto do social, que então encontrei na doutrina social da Igreja”.

A teologia da libertação, que o Papa João Paulo II excomungou, era muito presente na América Latina.

“Sim, muitos de seus membros eram argentinos”.

Acredita ter sido justo que o Papa os combatesse?

“Eles certamente deram um aspecto político à sua teologia, mas muitos deles eram crentes e com um alto conceito de humanidade”.

Santidade, posso lhe contar algo sobre minha própria formação cultural? Fui criado por uma mãe muito católica. Aos 12 anos, venci um concurso de catecismo realizado por todas as paróquias em Roma e recebi um prêmio do vicariato. Recebi a comunhão nas primeiras sextas-feiras de cada mês, noutras palavras, fui um católico praticante e um verdadeiro crente. Mas tudo isso mudou quando entrei na universidade. Eu li, entre outros textos filosóficos que estudávamos, o “Discurso sobre o Método” de Descartes, e fui golpeado pela frase, que agora se tornou um ícone, “Penso, logo existo”. O indivíduo, assim, se torna a base da existência humana, a sede autônoma do pensamento.

“Descartes, todavia, nunca negou a fé em um Deus transcendente”.

Isso é verdade, mas ele assentou os alicerces para uma visão muito diferente e acontece que eu sigo esse caminho, que mais tarde, com o apoio de outras coisas que li, me deixaram em um lugar muito diferente.
“Entretanto, você não é crente, mas também não é anticlerical. Essas são duas coisas muito distintas”.

Verdade, não sou anticlerical, mas me torno anticlerical quando encontro clericalistas.

Ele sorri e diz, “também acontece comigo quando encontro um clericalista, de repente, me torno anticlerical. O clericalismo não deveria ter qualquer coisa a ver com o cristianismo. São Paulo, que foi o primeiro a falar aos gentios, os pagãos, crentes em outras religiões, foi o primeiro a nos ensinar isso”.

Posso perguntar a Sua Santidade de que santos o senhor se sente mais próximo em sua alma, aqueles que modelaram a sua experiência religiosa?

“São Paulo é um que colocou as pedras fundamentais de nossa religião e nosso credo. Você não pode ser um cristão consciente sem São Paulo. Ele traduziu os ensinamentos de Cristo em uma estrutura doutrinal que, mesmo com os acréscimos de um grande número de pensadores, teólogos e pastores, resistiu e ainda existe após dois mil anos. Em seguida, há Agostinho, Bento, Tomás e Inácio. Naturalmente, Francisco. Preciso explicar o porquê?”


Francisco  -  Permito-me chamá-lo assim porque é o próprio Papa que dá a entender pela maneira como ele fala, o modo como sorri, com as suas exclamações de surpresa e compreensão – olha para mim como para me encorajar a fazer perguntas que são até mais escandalosas e constrangedoras para aqueles que conduzem a Igreja. Assim eu lhe pergunto: o senhor explicou a importância de Paulo e o papel que ele desempenhou, mas eu quero saber quais desses que o senhor mencionou é mais próximo de sua alma?

“Você está me pedindo para fazer um ranking, mas classificações servem para esportes ou coisas assim. Eu poderia lhe dizer o nome dos melhores jogadores da Argentina. Mas os santos…”

Eles fazem piadas com desonestos, o senhor conhece o ditado?

“Exatamente. Mas eu não estou tentando evitar a sua pergunta, porque você não me pediu para classificar a sua importância cultural e religiosa, mas quem é mais próximo da minha alma. Assim eu diria: Agostinho e Francisco”.

Não Inácio, de cuja ordem o senhor procede?

“Inácio, por motivos compreensíveis, é o santo que conheço melhor do que quaisquer outros. Ele fundou a nossa Ordem. Gostaria de recordar-lhe que Carlo Maria Martini também veio dessa ordem, alguém que me é muito caro e também a você. Os jesuítas foram e ainda são o fermento  -  não apenas um, mas talvez o mais eficaz -  do catolicismo: cultura, ensinamento, trabalho missionário, lealdade ao Papa. Mas Inácio que fundou a Companhia, também foi um reformador e um místico. Especialmente um místico.”

E o senhor acha que os místicos têm sido importantes para a Igreja?

“Eles são fundamentais. Uma religião sem místicos é uma filosofia.”

O senhor tem uma vocação mística? 

“O que o senhor acha?”

Acho que não. 

“Provavelmente, você está certo. Amo os místicos; Francisco também o foi em muitos aspectos de sua vida, mas não acho que tenho vocação e então precisamos entender o significado profundo dessa palavra. O místico consegue desvencilhar-se de ação, fatos, objetivos e até mesmo missão pastoral e ascende até atingir a comunhão com as Beatitudes. Breves momentos, mas que preenchem toda uma vida”.

Alguma vez isso já aconteceu com o senhor? 

“Raramente. Por exemplo, quando o conclave me elegeu Papa. Antes de aceitar perguntei se eu poderia passar alguns minutos na sala contígua àquela com um balcão que dá para a praça. Minha cabeça estava completamente vazia e fui tomado de uma grande ansiedade. Para conseguir relaxar fechei meus olhos e fiz todos os pensamentos desaparecerem, mesmo os pensamentos de recusar aceitar o cargo, conforme permitido pelo procedimento litúrgico. Fechei meus olhos e não tive mais ansiedade ou emoção. Em dado momento fiquei repleto de uma grande luz. Isso durou um minuto, mas para mim pareceu muito longo. Então, a luz esmaeceu, levantei-me subitamente e caminhei na sala onde os cardeais estavam aguardando e a mesa onde estava o ato de aceitação. Assinei o documento, o Cardeal Camerlengo contra-assinou e em seguida no balcão deu-se o ‘“Habemus Papam”.

Ficamos em silêncio por um momento, então eu disse: estávamos falando sobre os santos que o senhor sente mais próximos de sua alma e ficamos com Agostinho. O senhor vai me dizer porque o senhor sente muito próximo dele? 

“Mesmo para o meu predecessor, Agostinho é um ponto de referência. Esse santo passou por muitas vicissitudes em sua vida e mudou sua posição doutrinal várias vezes. Ele também tinha palavras ásperas para os judeus, com as quais nunca partilhei [SIC!]. Ele escreveu muitos livros e creio que o que mais revela a sua intimidade intelectual e espiritual são as “Confissões”, que também contêm algumas manifestações de misticismo, mas ele não é, como muitos argumentariam, uma continuação de Paulo. Sem dúvida, ele vê a Igreja e a fé de muitas maneiras diferentes de Paulo, talvez quatro países passaram entre um e outro.

Qual é a diferença, Sua Santidade? 

"Para mim ela reside em dois aspectos substanciais. Agostinho se sente impotente diante da imensidão de Deus e as tarefas que um cristão e bispo tem de cumprir. Na verdade, ele não foi impotente de modo algum, mas sentia que sua alma estava sempre menor do que ele queria e precisava que ela fosse. E então a graça dispensada pelo Senhor como elemento básico da fé. Da vida. Do sentido da vida. Alguém  que não é tocado pela graça pode ser uma pessoa sem mancha e sem medo, como dizem, mas ela nunca será como uma pessoa que tocou a graça. Esse é o insight de Agostinho.”

O senhor se sente tocado pela graça? 

Ninguém pode saber isso. A Graça não é parte de nossa consciência, ela é a quantidade de luz em nossas almas, nem conhecimento ou razão. Mesmo o senhor, sem o saber, poderia ser tocado pela graça”. [SIC! SIC! SIC!]

Sem fé? Um não crente? 

“A Graça diz respeito à alma”.

Não acredito na alma. 

“Você não acredita na alma, mas você tem uma.”

Sua Santidade, o senhor disse que não tem a intenção de tentar me converter e não acho que o senhor conseguiria. 

“Não podemos saber isso, mas eu não tenho qualquer tal intenção”.

E Francisco? 

“Ele é grande porque ele é tudo. Ele é um homem que quer fazer as coisas, quer construir, ele fundou uma ordem e as suas regras, ele é um itinerante e um missionário, um poeta e um profeta, ele é um místico. Ele encontrou o mal em si e o extirpou. Ele ama a natureza, os animais, a folha de grama no gramado e os pássaros voando no céu. Mas acima de tudo, ele amava as pessoas, as crianças, os idosos, as mulheres. Ele é o exemplo mais brilhante daquele ágape de que falamos anteriormente”.

Sua Santidade está certa, a descrição é perfeita. Mas porque nenhum de seus predecessores jamais escolheu esse nome? E creio que depois do senhor ninguém mais o escolherá.

“Não sabemos disso, não especulemos sobre o futuro. É verdade, ninguém o escolheu antes de mim. Aqui nos deparamos com o problema dos problemas. O senhor gostaria de beber alguma coisa?”

Obrigado, talvez um copo d’água.

Ele se levanta, abre a porta e pede a alguém na entrada para trazer dois copos d’água. Ele me pergunta se quero um café, digo que não. O garçom chega. Ao final de nossa conversa, meu copo d’água estará vazio, mas o dele permanece cheio. Ele pigarreia e começa.
“Francisco queria uma ordem mendicante e uma itinerante. Os missionários que queriam encontrar, ouvir, conversar, ajudar, espalhar a fé e o amor. Especialmente o amor. E ele sonhava com uma Igreja pobre que cuidaria dos outros, receberia ajuda material e a usaria para apoiar os outros, sem preocupação consigo. Oitocentos anos passaram desde então e os tempos mudaram, mas o ideal de uma Igreja missionária, pobre ainda é mais do que válido. Essa ainda é a Igreja que Jesus e seus discípulos pregaram”.

Vocês cristãos agora são uma minoria. Mesmo na Itália que é conhecida como o quintal do papa. Os católicos praticantes, de acordo com algumas pesquisas, estão em torno de 8 a 15 por cento. Aqueles que se dizem católicos, mas, na verdade, não são muito, estão em torno de 20%. No mundo, há um bilhão de católicos ou mais, e com outras igrejas cristãs há mais de um bilhão e meio, mas a população do planeta é 6 ou 7 bilhões de pessoas. Certamente há muitos de vocês, especialmente na África e América Latina, mas vocês são uma minoria.
“Sempre fomos, mas a questão hoje em dia não é essa. Pessoalmente, creio que ser uma minoria é realmente um ponto forte. Temos que se um fermento de vida e amor, e o fermento é infinitamente menor do que uma massa de frutas, flores e das árvores que nascem delas. Creio já ter dito que a nossa meta não é fazer proselitismo, mas ouvir às necessidades, desejos e desilusões, desespero, esperança. Precisamos restaurar a esperança dos jovens, auxiliar os idosos, estarmos abertos para o futuro, espalharmos o amor. Sermos pobres dentre os pobres. Precisamos incluir os excluídos e pregar a paz. O Vaticano II, inspirado pelo Papa Paulo VI e João, decidiu olhar para o futuro com um espírito moderno e abrir-se para a cultura moderna. O Padres Conciliares sabiam que abrir-se para a cultura moderna significava ecumenismo religioso e diálogo com não crentes. Mas posteriormente muito pouco foi feito nessa direção. Tenho a humildade e ambição de querer fazer alguma coisa”,

Também porque – permito-me acrescentar – a sociedade moderna ao redor do mundo está passando por um período de crise profunda, não somente econômica, mas também social e espiritual. No início de nosso encontro, o senhor descreveu uma geração esmagada sob o peso do presente. Mesmo nós, não crentes, sentimos esse peso quase antropológico. Essa é a razão pela qual queremos dialogar com os crentes e com aqueles que melhor os representam.

“Não sei se sou o melhor daqueles que os representam, mas a providência me colocou à frente da Igreja e da Diocese de Pedro [SIC! SIC! SIC!]. Farei o que puder para cumprir o mandato que me foi confiado.”

Jesus, conforme o senhor salientou, disse: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. O senhor acha que isso aconteceu?

“Infelizmente, não. O egoísmo aumentou e o amor em direção aos outros diminuiu.”

Assim, esse é o objetivo que temos em comum: Pelo menos para equalizar a intensidade desses dois tipos de amor. A sua Igreja está pronta e equipada para conduzir essa tarefa?

“O que você acha?”

Creio que o amor pelo poder temporal ainda é muito forte dentro dos Muros do  Vaticano e na estrutura institucional de toda a Igreja. Penso que a instituição domina a Igreja pobre e missionária que o senhor gostaria.

“De fato, as coisas são assim, e nessa área você não pode fazer milagres. Deixe-me recordar que mesmo Francisco em sua época teve longas negociações com a hierarquia romana e o Papa para que as regras de sua ordem fossem reconhecidas. Eventualmente ele obteve a aprovação, mas com mudanças e compromissos profundos”,

O senhor terá de seguir o mesmo caminho?

“Não sou Francisco de Assis e não tenho a sua força e sua santidade. Mas sou o Bispo de Roma e Papa do mundo católico. A primeira coisa que decidi foi nomear um grupo de oito cardeais para serem meus conselheiros. Não cortesãos, mas pessoas sábias que partilham de meus próprios sentimentos. Esse é o início de uma Igreja com uma organização que não é apenas do alto para baixo, mas também horizontal. Quando o Cardeal Martini falou sobre enfocar nos concílios e sínodos, ele sabia do tempo e da dificuldade que implicaria caminhar nessa direção. Gentilmente, mas de maneira firme e tenaz”.

E a política?

“Por que você faz essa pergunta? Já disse que a Igreja não lidará com política.”

Mas há apenas alguns dias o senhor apelou aos católicos para se engajarem civil e politicamente.

“Não estava tratando apenas dos católicos, mas de todos os homens de boa vontade. Digo que a política é a mais importante das atividades civis e tem o seu próprio campo de ação, que não é o da religião. As instituições políticas são seculares por definição e operam em esferas independentes. Todos os meus predecessores têm dito a mesma coisa, por muitos anos ao menos, embora com acentos diferentes. Creio que os católicos envolvidos em política trazem os valores de sua religião dentro de si, mas têm a consciência madura e a experiência para implementá-las. A Igreja nunca irá além de sua tarefa de expressar e disseminar os seus valores, ao menos, pelo tempo que eu esteja aqui”.

Mas isso nem sempre aconteceu com a Igreja.

“Nem sempre aconteceu assim. Com frequência a Igreja como instituição foi dominada pela temporalidade e muitos membros e líderes católicos maiores ainda pensam assim. Mas agora, deixe-me fazer-lhe uma pergunta: Você, uma pessoa secular que não acredita em Deus, em que você acredita? Você é um escritor e um homem de pensamento. Você acredita em alguma coisa, você deve ter um valor dominante. Não me responda com palavras como honestidade, busca, a visão do bem comum, todos princípios e valores importantes, não é isso que estou perguntando. Estou perguntando o que você considera ser a essência do mundo, sem dúvida, do universo. Você deve se perguntar, é claro, como todo mundo, quem somos, de onde viemos, para onde vamos. Mesmo as crianças fazem essas perguntas a si mesmas. E você?”

Agradeço essa pergunta. A resposta é esta: Acredito no Ser, que está no tecido do qual surgem as formas e o corpos.

“E eu creio em Deus, mas não em um Deus Católico, não há Deus Católico, há Deus e creio em Jesus Cristo, sua encarnação. Jesus é o meu mestre e meu pastor, mas Deus, o Pai, Abba, é a luz e o Criador. Esse é o meu Ser. Você acha que estamos muito distantes?”

Estamos distantes em nossa maneira de pensar, mas somos semelhantes como seres humanos, inconscientemente animados por nossos instintos que se transformam em impulsos, sentimentos e vontade, pensamento e razão. Nisso somos iguais.

“Mas você pode definir o que você chama de Ser?”

Ser é uma fábrica de energia. Energia caótica, mas indestrutível e caos eterno. As formas emergem da energia quando ela atinge o ponto de explosão. As formas têm as suas próprias leis, os seus campos de magnetismo, os seus elementos químicos, que combinam aleatoriamente, evoluem e eventualmente são extintos, mas a sua energia não é destruída. O homem é provavelmente o único animal dotado de pensamento, ao menos, no nosso planeta e no sistema solar. Disse que ele é guiado por instintos e desejos, mas eu acrescentaria que ele também contém dentro de si uma ressonância, um eco, uma vocação de caos.

“Está certo. Não quero que você me faça um resumo  de sua filosofia e o que você me disse é o suficiente. Do meu ponto de vista, Deus é a luz que ilumina a escuridão, mesmo se não a dissolve, e uma fagulha de luz divina está dentro de nós. Na carta que lhe escrevi, você irá lembrar que disse que as nossas espécies terminarão, mas a luz de Deus não terminará e nesse ponto ela invadirá todas as almas e estará toda em todos”.

Sim, lembro disso muito bem. O senhor disse: “Toda a luz estará em todas as almas” que – se posso dizer assim – transmite uma imagem mais de imanência do que de transcendência.

“A transcendência permanece porque essa luz, tudo em tudo, transcende o universo e as espécies em que habita nesse estágio. Mas de volta ao presente. Demos um passo à frente em nosso diálogo. Observamos que na sociedade e no mundo em que vivemos o egoísmo tem aumentado mais do que o amor pelos outros, e que os homens de boa vontade precisarão trabalhar, cada qual com os seus pontos fortes e experiência, para garantir que o amor aos outros aumente até que seja igual e possivelmente exceda o amor por si mesmo”.

Novamente, a política é invocada.

“Certamente. Pessoalmente creio que o chamado liberalismo irrestrito somente faz do forte mais forte e do fraco mais fraco e exclui os mais excluídos. Precisamos de grande liberdade, não descriminação, não demagogia e muito amor. Precisamos de regras para conduzir e também, se necessário, intervenção direta do estado para corrigir as desigualdades mais intoleráveis”.

Sua Santidade, certamente o senhor é uma pessoa de grande fé, tocada pela graça, animada pelo desejo de reviver uma igreja pastoral e missionária, que é renovada e não temporal. Mas da maneira que o senhor fala e de como compreendo, o senhor é e será um papa revolucionário. Metade jesuíta, metade franciscano, uma combinação que talvez nunca tenha sido vista antes. E então, o senhor gosta de “The Betrothed” de Manzoni, Holderlin, Leopardi, especialmente, de Dostoevsky, o filme “La Strada” e “Prova d’orchestra” de Fellini, “Open City” de Rossellini e também dos filmes de Aldo Fabrizi .

“Gosto desses porque os assisti com meus pais quando era criança.”

Aqui está. Posso recomendar dois filmes lançados recentemente? “Viva la libertà” e os filmes sobre Fellini de Ettore Scola. Estou certo de que o senhor irá gostar deles. Com relação ao poder, digo, o senhor sabe que quando eu tinha 20 anos passei um mês e meio em um retiro espiritual com os jesuítas? Os nazistas estavam em Roma e eu havia desertado do serviço militar. A deserção era passível de punição por sentença de morte. Os jesuítas nos esconderam sob a condição de que fizéssemos exercícios espirituais o tempo todo que eles nos mantivessem escondidos.

“Mas é impossível ficar um mês e meio de exercícios espirituais?” Ele pergunta, maravilhado e divertido. Eu lhe direi mais da próxima vez.

Nos abraçamos. Subimos o pequeno lance de degraus até a porta. Digo ao Papa que não é preciso me acompanhar, mas ele faz um gesto dizendo que deixe isso pra lá. 

“Ainda iremos discutir o papel da mulher na Igreja. Lembre-se de que a Igreja (la chiesa) é feminina. E se você quiser, também podemos falar sobre Pascal. Gostaria de saber o que você acha dessa grande alma. Transmita a todos os seus familiares as minhas bênçãos e peça-lhes para rezarem por mim. Pensem em mim, pensem em mim com frequência”.
Apertamos as mãos e ele fica de pé com dois dedos levantados em sinal de benção. Aceno para ele da janela.
Este é o Papa Francisco. Se a Igreja se tornar como ele e ficar do jeito que ele quer que ela seja, será uma mudança de época.

* Tradução literal do título da versão em inglês; a tradução do título original em italiano é “O Papa: assim mudarei a Igreja”. Correções à tradução são bem-vindas.
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