terça-feira, 16 de abril de 2013

Homeschool Universitário


Movimento defende que universidade não é o único caminho para sucesso.

Fundado em janeiro de 2011 nos Estados Unidos, o UnCollege defende a independência acadêmica dos jovens




Dale Stephens, 21 anos, é líder do movimento UnCollege, que busca divulgar a ideia de que a universidade não é o único caminho para o sucesso
Foto: UnCollege / Divulgação

Dale Stephens tem uma ideia e quer propagá-la pelo mundo: a universidade não é o único caminho para o sucesso. Aos 21 anos, o fundador do movimento UnCollege traça como objetivo ensinar alunos a "hackearem" a própria educação, ou seja, a tomarem as rédeas em sua trajetória acadêmica sem serem absorvidos por conceitos previamente formados. "Eu acredito na escolha. Os estudantes devem ser livres para optar pela melhor direção para eles sem que a sociedade lhes diga que só há uma possibilidade", defende. O jovem está entre os convidados do Nova: o curso de educação da Perestroika, em Porto Alegre, com início no dia 20 de abril, e ministra palestra no dia 29 de junho.


Fundado em janeiro de 2011, o UnCollege conta com uma lista de contatos que atinge aproximadamente 15 mil pessoas. A equipe também utiliza o site (www.uncollege.org) para disponibilizar recursos para a independência acadêmica, como sugestões de leitura, listas com possíveis patrocinadores de projetos e dicas para aprender código de programação - algo essencial no mercado de trabalho, segundo eles.


Além disso, Stephens dá palestras pelo mundo todo para divulgar o trabalho do movimento e apresentar exemplos de pessoas que tiveram sucesso sem seguir as convenções. "Se nós mudarmos a percepção de que a universidade é a única possibilidade para o sucesso, vai permitir que aprendizes livres tenham as habilidades e os conhecimentos necessários em suas áreas, em vez de simplesmente obter um diploma", declara.


Se nós mudarmos a percepção de que a universidade é a única possibilidade para o sucesso, vai permitir que aprendizes livres tenham as habilidades e os conhecimentos necessários em suas áreas, em vez de simplesmente obter um diploma.




Outra atividade realizada para fomentar seu objetivo são os "Acampamentos Hackadêmicos" (Hackademic Camps), pelos quais passaram cerca de 80 pessoas. A iniciativa escolhe dez jovens por trimestre para passar um fim de semana em San Francisco, nos Estados Unidos, aprendendo a confrontar os principais problemas do ensino superior e a desenvolver habilidades para "hackear" a sua educação - o que inclui encontrar mentores e construir redes de contatos. Segundo o UnCollege, um hackadêmico é qualquer pessoa que seja curiosa, decida aprender e então compartilhar o conhecimento com o mundo, seja aos 15 ou aos 50 anos.


Em 2013, o movimento lança um novo programa para fortalecer a causa: o Gap Year, que pode ser traduzido como "ano de intervalo". Com custo de US$ 13 mil, a ação consiste em quatro etapas: os jovens, que devem ter de 18 a 28 anos, começam com uma residência de 10 semanas em San Francisco para desenvolver habilidades para uma "autoaprendizagem vitalícia". Depois, passam três meses fazendo intercâmbio e retornam ao Vale do Silício para um estágio de três meses. O programa culmina com os participantes criando um projeto que alguém se disponha a financiar – o que, segundo Stephens, é um sinal de que ele tem valor para o mundo real. A edição deste ano já encerrou as inscrições e recebeu mais de 300 candidatos.


Trajetória

Stephens, que também é autor do livro Hacking Your Education (Penguin, 2013), entende de educação não tradicional e pode defender sua causa com propriedade. Aos 12 anos, ele largou a escola e passou a estudar em casa por meio de um método chamado unschooling, termo cunhado em 1977 pelo educador John Holt. "Isso permitiu que eu direcionasse meus próprios estudos na escola e fosse em busca dos meus interesses, como tocar em uma banda de jazz, lançar e vender um negócio de fotografia, trabalhar em uma campanha política e viajar para o exterior", exemplifica.


Stephens conta que se sentiu muito frustrado no período em que esteve na escola pública, pois não estava sendo desafiado academicamente. "Eu queria escapar das estruturas rígidas do sistema escolar", relata. O jovem disse isso aos pais, que se dispuseram a deixar o filho tomar a própria decisão. "Meu amor pelo unschooling foi imediato. Depois do meu primeiro dia no método, eu disse para a minha mãe que eu havia aprendido mais naquele dia do que em toda a 5ª série", garante.


Aos 19 anos, Stephen ingressou na Hendrix University, uma instituição liberal de artes no Arkansas. De acordo com o líder do UnCollege, o motivo para ter entrado na universidade foi apenas um: é o que a maioria faz. Ele afirma que, como grande parte dos jovens, ele acreditou que precisava de um diploma para conseguir um emprego e ser bem-sucedido. Em apenas um semestre, contudo, o jovem começou a questionar esses preceitos. "Os outros alunos eram completamente desinteressados, e as aulas não tinham nenhuma relevância para o que eu queria fazer com o resto da minha vida. Concluí que não valia a pena gastar tanto tempo e dinheiro naquilo e decidi voltar a autodirigir minha educação", declara.


Graças a essa frustração acadêmica, surgiu o UnCollege. Stephens escreveu um artigo explicando todas as críticas e problemas do ensino superior, enviou para todos os contatos que encontrou e, em pouco tempo, o texto estava sendo publicado em canais de notícias. A partir daí, o jovem lançou o site do movimento e escreveu o The UnCollege Manifesto: Your Guide to Academic Deviance (Manifesto UnCollege: Seu guia para o desvio acadêmico).


Em maio de 2011, Stephens foi selecionado para o Thiel Fellowship, programa do empresário Peter Thiel (cofundador do PayPal) que dá US$ 100 mil para 20 pessoas com menos de 20 anos com o objetivo de incentivá-las a largar a faculdade e investir em seus próprios projetos. Na primeira vez que tentou participar, contudo, foi rejeitado. “Eles me convidaram para me candidatar novamente usando o UnCollege como projeto, e eu fui aceito. Foi uma oportunidade fenomenal que me deu os recursos necessários para lançar o movimento colo ele é hoje”, conta.


Futuro


Para Stephens, o futuro da educação passa pela ideia divulgada pelo UnCollege. Ele acredita que a gestão do ensino vai mudar das instituições para os indivíduos. “Com a riqueza de fontes existentes de graça ou por uma pequena fração do preço de uma universidade, as pessoas vão escolher a trajetória que funciona melhor para elas”, aponta.


O jovem crê que, apesar de se encontrar em uma realidade diferente da americana, na qual surgiu o movimento, o Brasil também tem condições de aproveitar os “mandamentos” do UnCollege. Stephens destaca que a ideia de um aprendizado autodirigido e permanente pode ser aplicado a qualquer um, em qualquer lugar. “Esteja você no Brasil ou nos Estados Unidos, dentro ou fora da escola, empresário ou não, você pode tomar o controle no seu trabalho e na educação aplicando essa mentalidade hackadêmica”, ressalta.


Fonte: TERRA

Hungria transfere escolas públicas a instituições religiosas



Vigília Pascal na Catedral de Budapeste. O governo húngaro está transferindo a
educação pública de volta a instituições religiosas.



Traduzido por: César Hernandes



O governo húngaro está transferindo escolas públicas a instituições religiosas, relatou a revista francesa L’Express.

Este plano de ação enfureceu líderes socialistas dentro e fora da Hungria, e até mesmo em países europeus onde a educação tem tido resultados desastrosos. As reclamações raivosas focam no fato de que a moral tradicional está sendo restaurada com a ajuda do plano de ação do governo húngaro.



As escolas restauraram o canto de hinos religiosos bem como a oração no início das aulas. E os pais dos alunos podem escolher o catecismo a ser ensinado a seus filhos.


As Igrejas retêm seus subsídios escolares independente do número de alunos. Na cidadezinha de Alsoörs, a qual L’Express apresenta como um caso típico, de um total de noventa e seis famílias, somente duas votaram contra a transferência da escola à Igreja, o que ressalta o forte apoio popular a essa medida.

Curiosamente, um sacerdote católico, talvez levado por uma mentalidade ecumênica ou um “diálogo” com o mundo secularizado, após consultar-se com o bispo, recusou-se a assumir uma escola.

O pastor luterano local Miklos Rasky imediatamente concordou em fazer isso e, muito satisfeito, disse: “O atual governo está aderindo a valores cristãos. Isso nos permite reconectar com o nosso papel tradicional no campo educacional.”



Socialistas estão descontentes porque a moral e valores tradicionais estão sendo
agora ensinados nas escolas com a ajuda do governo. Não é o papel do governo facilitar a prática da
virtude?



Os perplexos professores escolares, a maioria dos quais é católica, foram informados pelo pastor de que seriam substituídos por protestantes.

Oitenta escolas já foram transferidas por municipalidades, que também estavam contentes em não mais ter de pagar por estes gastos que estavam insustentáveis na crise atual.

Sindicados esquerdistas e partidos políticos também estão furiosos pelo fato de o catecismo ser agora ensinado em escolas que ainda estão nas mãos do estado.

O Ministro da Educação Rozsa Hoffmann desaprova a falta de valores morais: “Queremos restaurá-los, seja a proteção à vida humana, o respeito ao trabalho e a lei, a honestidade ou o amor ao país. A escola não é só um lugar para obter conhecimento: ela deve também transmitir valores”, explicou ele.

A lei educacional se adéqua ao contexto da nova Constituição que exalta valores cristãos e reabilita a “Coroa Sacra” dos Reis Católicos, a encarnação húngara do poder soberano.


Fonte: TFP

DO DESCANSO À OCIOSIDADE - A EVAGATIO MENTIS



Nota do Blog: Foram introduzidas as correções 
necessárias para a correta intelecção da matéria.



originalmente publicado em 29/7/2010





Conta e Tempo



Deus pede estrita conta do meu tempo
E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas, como dar, sem tempo, tanta conta.
Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?

Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado, e não fiz conta;
Não quis, sobrando tempo, fazer conta.
Hoje, quero acertar conta, e não há tempo.
Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta!

Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando o tempo chegar, de prestar conta,
Chorarão, como eu, o não ter tempo…

(Frei Antônio das Chagas, Séc. XVII) 



Tradicionalmente, a filosofia atribui duas partes à natureza humana, o corpo e a alma, unidos num só tudo, de modo que o homem não é apenas uma das duas partes, mas a junção de ambas.

Em razão de sua parte corpórea, o homem é um ser material. A matéria é definida como “pura potência”, porque sempre pode ser mudada e amoldada, não possuindo determinação própria, que recebe de fora, e que constitui a sua forma. 
Justamente por ser a matéria uma “indeterminação determinável”, isto é, pura capacidade de receber modelagem, é que se define alma como a “forma do corpo”. É este o princípio subsistente da vida, que, quando unida à matéria, dá a cada um a forma de homem, determinando e dispondo a constituição de cada indivíduo para formar a unidade substancial da natureza humana. Em outras palavras, a matéria é a “parte fraca”, que está aberta a uma moldagem, enquanto que a alma é a “parte forte”, porque é o princípio determinador da vida, capaz de se unir à matéria, tornando-a um corpo ordenado, para assim formar a unidade substancial da natureza humana.

Entretanto, se a alma é um princípio vital, e por isso mesmo essencialmente imutável e imortal, o corpo, por sua vez, é passível de mudança, porque a matéria pode receber ou perder as suas determinações de forma. Deste modo, a morte é o fim inevitável dos seres corpóreos, pois a união entre corpo e alma se desfará um dia, quando o corpo atingir o grau máximo de deterioração, além do qual impossibilitará a vida.

Por essa mesma razão, a fraqueza e passividade da matéria exige que o ser humano continuamente descanse. O homem possui muitas limitações físicas e psíquicas, de modo que continuamente necessita recompor-se, a fim de não cair na exaustão. A matéria não é capaz de assegurar uma atividade ilimitada ou ininterrupta, pois o desgaste total conduziria imediatamente à morte.

Assim Deus fez o homem para que, até mesmo em seu cansaço, algo da eternidade pudesse ser aprendido. Com efeito, o descanso – especialmente o sono – é figura da Vida Eterna, quando o homem terá posse do fruto de todos os seus trabalhos, e estará em completo repouso em Deus, mas um repouso ativo, porque o Céu consiste na união amorosa do homem com Deus.

Nesse sentido, o descanso é parte essencial da vida humana, seja na terra, seja, de forma análoga, na eternidade. 
Entretanto, como em qualquer ato humano, há sempre uma justa medida, que eu não compactue com falta ou excesso. Afinal, quem descansa pouco, ainda não completou o seu repouso, mas quem descansa demais, prejudica a vida ativa e deturpa o fim do repouso. Este assunto, aparentemente banal, é a raiz da esterilidade da vida espiritual de muitos, pois o descanso, fora de sua justa medida, já não é repouso, mas ociosidade. Cabe agora perguntar: no que consiste o descanso?

O descanso é um momento de passividade, quando o homem deixa as suas atividades ordinárias, sejam quais forem, e se aplica a restituir suas forças perdidas. Por conseguinte, o entretenimento pode ser uma maneira de descanso. Tendo o homem variadas formas de cansaço físico e psíquico, por muitos meios ele procurará readquirir o pleno uso de suas capacidades, desde atividades feitas em vigília até o próprio sono, realizando passeios, jogos, viagens, leitura de um agradável livro, música, conversas, banhos, exercícios físicos, etc. Mediante tais recursos,  cada um encontra sua forma peculiar de exercer um tempo de passividade, livre das preocupações diárias.

Visto assim, o descanso é como um contratempo, um fôlego, uma pausa em relação às atividades ordinárias. Não existe um descanso sem retorno, porque a natureza do descanso reside  propriamente em existir para a execução plena e saudável das obrigações rotineiras. O descanso é um repouso em direção ao movimento. Esta é a sua justa medida e razão de existir.

Saindo de seus limites, o descanso torna-se uma deformação, pondo tudo a perder à sua volta. Aqui cumpre ressaltar o papel do pecado original. Com efeito, a natureza humana está decaída pelo pecado de Adão, de modo que a inteligência dificultosamente chega à verdade, e a vontade tende ao mal. Em consequência, o pecado original contribui como causa para a distorção do descanso e da sua finalidade, impondo ao homem uma tendência ao exagero.

A partir daí, o que devia ser um momento de passividade, um repouso em direção ao movimento, torna-se evagatio mentis— divagação ou dissipação da mente. O homem perde o interesse pela finalidade, fadiga-se com os objetivos e quer apenas “vagar” em divertimentos e que só desperdiçarão o seu tempo, sem conduzi-lo a nenhuma meta.

A dissipação da mente consiste em uma abstenção da vontade e da ação. Este vício está diretamente ligado à vã curiosidade, a um simples desejo de olhar tudo, sendo que nada efetivamente lhe desperte interesse. É uma apatia completa da alma, “cansada” ou entediada pelas suas atividades, inerte nos entretenimentos que a conduzem a uma passividade mórbida.

Segundo o psiquiatra Enrique Rojas, em O homem moderno: A luta contra o vazio, este é exatamente o perfil psicológico contemporâneo. Com efeito, vivemos numa época “cansada”, mesmo sem ter trabalhado à exaustão, pois o homem moderno está entregue à passividade, a tudo o que é fácil e cômodo. A gênese desta atitude se acha no relativismo e no subjetivismo, que corrompem no homem a busca pelo Bem, reduzindo tudo a mera questão de deleite pessoal. Desse modo — ausente meta estabelecida e os meios para concretizar uma finalidade maior —, visto que todas as pulsões do homem estão corroídas pelo relativismo, o indivíduo ziguezagueia inevitavelmente, sem rumo, sem objetivo na vida, entregue apenas ao bem estar, ao consumismo, à permissividade e ao hedonismo. Tal atitude mental contribui em muito para desencadear a evagatio mentis, ao modo de um navio sem rumo, sempre à deriva.

Um católico não pode, pois, entregar-se à ociosidade, sob o risco de fazer ruir a sua vida espiritual. Deus é o nosso fim último, e deu a cada um tempo determinado para alcançá-Lo, através da constante busca da santificação. Quem se deixa dominar pela ociosidade perde o tempo que Deus lhe deu, deixando de fazer a única obrigação exigida do homem sobre a terra, e consequentemente afasta-se do seu Sumo Bem. Não se trata, contudo, de um pecado mortal, mas de um fastio pelo bem a ser feito, em virtude da passividade a que a alma está entregue. Não sem razão Santo Tomás classifica a evagatio mentis como a primeira filha da acídia, a preguiça espiritual.

A tendência ao exagero causada pelo pecado original distorce o fim do descanso, tornando-o ociosidade. Tal vício destrói no homem a vida de oração, que para muitos chega a se tornar uma indesejável obrigação, um verdadeiro fardo. Ora, sem vida de oração e entregue a um entretenimento vazio e sem relação com a vida ativa – porque o exagero secciona o descanso da sua natural vinculação com as obrigações ordinárias –, facilmente a imperfeição torna-se pecado, e para que a alma caia em falta grave muito pouco falta, tendo em vista a exposição sem rotineira ao pecado venial. Em resumo, a preguiça, a ociosidade e a divagação da mente minam o desenvolvimento das atividades do homem, porque ele passa a administrar imprudentemente o seu tempo. E uma alma entregue à passividade tem dificuldade em manter a vida de oração, de modo que, caso não venha a corrigir radicalmente esse defeito, cairá na indiferença com relação às coisas da Religião, o que pode culminar no pecado mortal. Pessoas que não corrigem a deficiente vida de oração, vivendo numa constante dissipação de espírito, facilmente caem, porque a alma está longe da fonte que a faz permanecer na graça e no amor a Deus.

Tais constatações tornam-se mais profundas quando se observam os preciosos ensinamentos do Abade Jean-Baptiste Chautard em A alma de todo o apostolado. Com efeito, nesse livro D. Chautard explica que a vida ativa – ou seja, a vida de apostolado – é resultado e manifestação da vida contemplativa, isto é, da vida de oração. Só tem apostolado frutífero e eficaz quem o faz brotar de uma autêntica e profunda vida de oração. Deus é a causa primeira, e aquele que confia seu apostolado a Deus, pela oração, obtém todo o sucesso, porque não esperou o mero favorecimento das circunstâncias. A Sagrada Escritura ensina que Deus ouve a oração do humilde, mas abate a do orgulhoso. Deste modo, quem reconhece a sua absoluta e radical dependência de Deus, faz toda a sua vida ativa depender de uma incondicional entrega a Deus pela oração.

O católico é aquele que sabe reconhecer, assim como está na Salve Rainha, que este mundo é um desterro, porque estamos apenas conquistando, dia após dia, a posse da Vida Eterna, isto é, estamos aqui de passagem. Por esta razão, um verdadeiro católico faz tudo tendo em vista a glória de Deus e salvação da própria alma. Quando pratica a autodisciplina, sacrifícios, aceita renúncias, ele o faz porque tais práticas o conduzem a Deus. Caso contrário, nem fariam sentido. Portanto, manter uma autêntica vida de oração equivale a reconhecer que esta vida só merece ser vivida em razão da salvação eterna, e por isso mesmo não há tempo para divertimentos irresponsáveis, nem para entretenimentos vazios. Tudo quanto fazemos é por Deus, e não por nós mesmos. Mesmo quando o homem descansa, está recuperando forças para adquirir maior ânimo em face das batalhas e lutas que terá de enfrentar. Assim como aqueles três mancebos, que foram cantando para a fornalha na qual seriam consumidos, também o católico vai alegremente enfrentando as provações, sofrimentos e contrariedades desta vida, sabendo serem estes os meios pelos quais se une a Jesus no Calvário, morre para a glória deste mundo, e ganha a verdadeira felicidade, que não pode encontrar na terra, mas só em Deus. Que o Sagrado Coração de Jesus, de onde a lança fez jorrar Sangue e água, seja para nós um verdadeiro refúgio de todas as falsas consolações do mundo, e que nos dê o repouso e o descanso que nossas almas procuram, aqui na terra em forma de graça, e na eternidade, em forma de glória.




Brevíssimo exame de consciência


1. Quando desejo descansar e relaxar, qual é a atividade que costumo empreender? Em qual entretenimento ou divertimento me ocupo usualmente? O que faço para adquirir um momento de passividade?

2. Agora que já pensou a respeito, reflita se tem empregado tempo suficiente para descansar e readquirir as forças gastas, o ânimo perdido e a motivação necessária para continuar as atividades ordinárias. Este tempo é suficiente ou muito além do necessário?

3. Para colaborar na autodisciplina, tem empregado um tempo determinado para os divertimentos? Escolhe um horário do dia, com começo e fim, para se aplicar em atividades de descanso, ou confia demasiadamente em seu próprio autocontrole, de modo que sempre acha que pode parar quando bem entende?

4. Tem comprometido as suas obrigações – especialmente as orações do dia – por causa dos entretenimentos? Aplica nele um tempo indeterminado, enquanto para a oração e para as outras atividades tem empregado o tempo que sobra? Tem procurado corrigir esta falha, disciplinando a própria vida de oração com horários regulares para rezar, de modo que nenhuma outra atividade o prejudique?

5. Julga que é facilmente vencido pela preguiça e pela ociosidade? Tem disciplinado as atividades, de modo que tenha um horário para rezar e estudar, e outro para descansar? Tem procurado utilizar prudentemente as diversões, ou elas se constituem como verdadeira perda de tempo, de modo que outros entretenimentos ser-lhe-iam mais saudáveis e produtivos?

6. Tem considerado que Deus lhe dá o tempo para empregá-lo na sua santificação e salvação? Considera que esta vida é passageira, e que aqui jamais terá um repouso permanente e completo? Considera que este mundo é um desterro, porque está aqui para conquistar a vida eterna? Tem administrado sábia e prudentemente o tempo, ou confia que sempre haverá tempo para corrigir os seus desperdícios?

O valor do tempo


‘Time Jesum transeuntem et non reverendem’
[‘TEME A JESUS QUE PASSA E NÃO VOLTA’]



Raphael de la Trinité


  Encontrei este pensamento de Alexandre Dumas: "On ne fait jamais le bien assez vite. Est-ce qu'il a le temps d'attendre?". Equivaleria, em português, à seguinte idéia: ‘Na prática do bem, mesmo a maior presteza não é suficiente. Há sempre escassez de tempo. A ocasião passa depressa e nem sempre volta’. A reflexão do célebre literato francês encontra sólido apoio na Fé. (‘Time Jesum transeuntem et non reverendem’).


A título de subsídio, ocorre-me transcrever uma breve citação (ler abaixo) da seguinte obra 

Meditações Práticas Para Todos os Dias do Ano 
Segundo a Vida e a Doutrina de N. S. Jesus Cristo
VERCRUYSEPe. Bruno, S. J.
Tradução e Adaptação Portuguesa revista por
SÁ E COSTA, Pe. Luiz Moreira de, S. J.
Tomo I (de 1º de janeiro a 30 de junho)
Livraria Apostolado da Imprensa
Porto 1950/ 542 p. 

EMENTA - 'O tempo vale tanto como Deus (e eis porque e como continua S. Bernardo); porque cada instante bem empregado pode valer-nos a posse eterna do mesmo Deus'. 

SOBRE O VALOR DO TEMPO

"'O tempo vale tanto quanto o céu', diz S. Bernardo. Nada mais certo, porque ninguém entrará no céu sem ter sido provado no tempo, nem o possuirá (ao céu), segundo as divinas promessas, senão como recompensa do bom emprego do tempo. Esta eterna recompensa pode depender dum único momento bem empregado. Sirva de exemplo o bom ladrão. Tinha sido má toda a sua vida: agora agoniza; mas neste momento supremo, iluminado pela graça, reconhece humildemente suas culpas e implora a misericórdia do Senhor. Tanto basta para que Jesus logo lhe garanta a posse do céu: 'Hoje estarás comigo no paraíso' (Luc., XXIII, 43).
  • I PONTO (...)
APLICAÇÕES -- Qual não será, pois, o apreço em que devemos ter o tempo que se nos concede? Devemos estimá-lo mais do que o diamante que valesse o melhor reino na terra. Pois o que é um reino destes comparado com o Reino dos céus? E poder o bom emprego do tempo valer-nos a posse eterna de tal Reino! Além disso, o bom emprego de cada momento rende novo grau de glória e felicidade no céu: é um novo céu no mesmo Céu!

AFETOS -- Atos de fé sobre verdade tão animadora, e de pesar pelo desperdiçar do tempo.
PROPÓSITOS -- Melhor distribuição do tempo, para nós o aproveitarmos. Se a falta de método é a razão da perda do tempo, nada o faz render tanto como uma prudente distribuição. (...)
  • II PONTO (...)
APLICAÇÕES -- 'Uma só gota do precioso sangue de Jesus Cristo basta, diz S. Tomás, para resgatar o mundo. (...)
PROPÓSITOS -- Imitar os Santos: nunca julgavam demais tudo o que faziam para aproveitar a mínima parcela de tempo. Santo Afonso de Ligório e muitos outros chegaram a obrigar-se por voto a não o perder voluntariamente.
  • III PONTO 
CONSIDERAÇÕES -- 'O tempo vale tanto como Deus (e eis porque e como continua S. Bernardo); porque cada instante bem empregado pode valer-nos a posse eterna do mesmo Deus'. Por isso, que conta rigorosa havemos de dar dele [do tempo]! Uma palavra ociosa profere-se num instante; e Jesus afirma-nos que esta perda de tempo, a nosso ver tão insignificante, não passará despercebida. 'Eu vo-lo digo que toda palavra ociosa que os homens disserem, dela darão conta no dia do juízo' (Mat. XII, 36).
APLICAÇÕES -- (...) Nos nossos exames de consciência pedimos, a nós mesmos, rigorosas contas do emprego do tempo, buscamos ver em que o desperdiçamos e quais as causas deste desperdício? Confessamo-nos desta falta com arrependimento e propósito sincero de emenda? Procedamos a um exame minucioso: vejamos quando, onde e como perdemos o tempo, a fim de melhor o empregarmos no decurso deste novo ano [NOTA: a meditação corresponde aos dias 4 e 5 de janeiro].

SOBRE O BOM EMPREGO DO TEMPO
  • I PONTO
CONSIDERAÇÕES -- (...) Ensina-nos a fé que nenhuma ação, por melhor e mais santa que seja de sua natureza, é meritória para o céu se quem a pratica está em pecado mortal (...). Que perda e que infelicidade! (...)
APLICAÇÕES -- (...) E se fosse necessário, para perseverar até ao último suspiro nesta resolução, estar dispostos a qualquer sacrifício, não o estaríamos?
AFETOS -- Aumentai em nós, Senhor, a estima e o amor ao vosso santo serviço e à nossa vocação.
PROPÓSITOS -- Esforcemo-nos em procurar para o nosso próximo a felicidade que desfrutamos, desviando-nos, quando estiver na nossa mão, do miserável estado de pecado.
  • II PONTO (...)
APLICAÇÕES -- Não devemos temer vermo-nos despojados, ao menos parcialmente, do mérito de muitas de nossas boas obras, se o amor próprio, a vaidade, o desejo de agradar aos homens, estão secretamente na raiz dos motivos que nos movem a praticá-las? Entrai nos esconderijos do vosso coração e tende a coragem de vos interrogar e de responder a vós mesmos... (...)
  • III PONTO (...)
CONSIDERAÇÕES (...) -- Fazemos muitas ações boas, com intenção habitualmente reta, mas fazemo-las com desleixo, com tibieza, com muitas imperfeições. O tempo que empregamos nelas será perdido em grande parte e vazio de méritos. É por este motivo que o Espírito Santo urge com tanta energia: que sejamos cuidadosos e perfeitos em tudo o que fazemos -- In omnibus operibus tuis praecellens esto (Ec., XXXIII, 23).
APLICAÇÕES (...) -- 'Num curto prazo terá alcançado uma longa carreira', como diz do justo o Livro da Sabedoria (Sap. IV, 13). Só de nós depende, afinal, participarmos desta felicidade. Bom meio para consegui-la é acostumarmo-nos, quando nos benzemos, juntar às palavras do sinal da cruz, que devemos fazer muitas vezes, estas outras: 'Quero fazer bem esta ação'; e depois examinarmo-nos, ao terminá-la.

COLÓQUIO -- Com S. Estanislau Kotska que, ainda antes de abraçar o estado religioso, chegou em pouco tempo a uma grande santidade; não porque tivesse praticado acções de grande brilho, mas porque eram todas, mesmo as mais insignificantes, acompanhadas duma grande pureza de intenção e duma caridade ardente. Deste modo santificava ele o tempo, sem perder inutilmente para o céu um só momento. Peçamos-lhe nos obtenha a graça de o imitar (op. cit. p. 31, 32, 33, 34, 35).      
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