quinta-feira, 9 de maio de 2013

Uma lição de Catecismo











Raphael de la Trinité




É o homem a razão e o fim de todas as coisas?




Segundo alguns filósofos, o homem seria a medida de todas as coisas (fim último). Ora, essa concepção é fundamentalmente anti-católica. A vida humana sobre a terra só tem sentido quando nos conduz ao nosso fim, que é Deus. A prática das virtudes, por amor a Deus, este sim, é o meio que nos conduz à salvação. Em si mesmo, o homem não é meio e nem fim de nada. Por quê?



Somos contingentes, isto é, existimos, mas poderíamos não existir. Por isso, jamais seremos ser a razão e o fim de nós mesmos. Só Deus é absoluto, incriado e eterno. Somente ele possui todas as qualidades, em grau máximo. Mais ainda, Deus é a própria Justiça, Misericórdia, Bondade, Grandeza, etc. Deus é ato puro, segundo a perfeita definição de Aristóteles; em Deus não há potência. Dito de outro modo, Deus não pode ser mais do que já é.



O homem foi criado para conhecer, amar e servir a Deus neste mundo, e gozar eternamente de Sua presença no Céu. Somente então teremos uma felicidade perfeita.

Tudo devemos a Deus, nosso Criador. Além de termos sido criados por efeito da magnanimidade divina (Deus não precisava de nós para aumentar a Sua glória intrínseca), fomos resgatados pela Paixão e Morte de Nosso Senhor (mistério da Redenção), somos mantidos e conservados vivos pela constante solicitude divina e, quando perseveramos na prática da virtude, só o fazemos porque a graça de Deus (que nos é dada sem nenhum mérito de nossa parte, daí a expressão "de graça") nos é comunicada, sobretudo por meio dos sacramentos.

Quando fomos criados, Deus, obviamente, não nos consultou - não existíamos ainda. Entretanto, só nos salvará se o quisermos. Noutras palavras, em sua infinita liberalidade, Deus desejou fazer-nos partícipes de sua glória, tirando-nos do nada. Como consequência do pecado de nossos primeiros pais, Adão e Eva, perdemos a inocência primitiva, fomos expulsos do paraíso terrestre e padecemos nesta terra de exílio, que é um lacrimarum valle.

Para que a nossa culpa original fosse paga, Deus enviou-nos um Redentor: a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade (Deus é Uno e Trino) tomou a forma humana, no seio de Maria Virgem; morreu na cruz, ressuscitou e subiu ao Céu.

Antes, porém, fundou a Santa Igreja Católica, que é depositária de Seus méritos infinitos, obtidos em Sua gloriosa Paixão. Cumpre-nos fazer uso desse incalculável benefício para termos acesso à felicidade eterna, no paraíso.

Depois do batismo, dois são os principais sacramentos, que preparam a nossa alma para o encontro com o fim último (Deus): Confissão e Comunhão frequentes, após correta preparação.

Aquele que se recusa a fazer uso habitual desses meios estabelecidos por Jesus Cristo, ou o faz negligentemente, coloca em gravíssimo risco a sua salvação eterna.

A formação da 'nova esquerda' católica-progressista e 'bolsões' de resistência






Missa hippie na Itália. Foto: Tradition in Action



Raphael de la Trinité




COMO EXPLICAR, POR EXEMPLO, QUE SETORES DA CANÇÃO NOVA ABRAM AS PORTAS À MISSA TRIDENTINA?


Não surpreende. Existe uma regra da história que um sábio sociólogo denominara de ‘formação da nova esquerda’. Essa formulação ganha muito, em clareza e alcance, quando conjugada com o princípio da ‘marcha compacta’ e ‘marcha difusa’ da Revolução.

Falando em termos alegóricos, todo movimento é constituído, à maneira de um cometa, de cabeça, núcleo e cauda. Traduzindo em miúdos: aquele que seria o ponta-de-lança abre o caminho; quem está no meio, acompanha; o que encerra a fila, simplesmente, deixa-se arrastar.

Mencionemos dois exemplos muito frisantes: movimento hippie (1968 – 1978, marcos aleatórios); humanidade unissex, andrógina (1990 – dias atuais, marcos aleatórios).     

Comecemos pelo movimento hippie

Havia três filões de adeptos do hipismo: a) hippie tétrico, de vertente satanista (v.g., conjunto Kiss, Charles Manson); b) hippie vermelho, de vertente terrorista (v. g., Brigadas Vermelhas); c) hippie ‘da flor’, ‘paz e amor’, de vertente pacifista (mais ou menos precursores do atual estilo que denominaremos ‘madre Teresa de Calcutá’).

De onde, no interior de um mesmo movimento, encontrarem-se aparentes divergências (tanto de intensidade como de método). Até certo ponto, durante certa quadra histórica, satanistas, comuno-terroristas e pacifistas representaram, no tabuleiro político, papéis de adversários, que até esgrimiam entre si. Em profundidade, porém, rumavam numa mesma direção: contestação do establishment capitalista, sanha em forjar o estilo de ‘homem novo’, à base de reações primárias e instintivas (vazio de ideias e de padrões morais, sem família, sem escola).

De passagem, a algum título, a revolução estudantil da Sorbonne (maio de 1968) coligou as várias tendências numa só ofensiva.

Pergunta: quem era a cabeça e quem era a cauda desse único cometa hippie? A gradação é clara: começa ‘na paz e amor’, passa pelo terror e pode acabar na invocação ao maligno. O antagonismo entre essas várias correntes é sempre passageiro e ilusório.

Representam um só corpo, embora por circunstâncias diversas, de natureza esporádica ou episódica, pudessem estar muitas vezes em posições contrárias no contexto sócio-político e cultural da época.

DESDOBRAMENTO IMPORTANTE: Muitos, dentre os integrantes do circuito ‘paz e amor’, incorporaram-se, logo depois, às fileiras pseudo-católicas da REVOLUÇÃO CONCILIAR (VATICANO II). Aliás, o próprio Cardeal Ratzinger declarou que o movimento contestatário hippie influenciou a fundo o gênero de vida pós-conciliar.

Analisemos agora o movimento unissex, representado pelos brincos, piercings, tatuagens (de inspiração vodu).
  
O esquema facilmente se repete: a) há pessoas que se tatuam e se furam da cabeça aos pés, num ritual diretamente satânico, buscando a autodestruição do corpo, com mutilações e torturas (a chamada body transformations); b) há outras pessoas que fazem o mesmo, talvez em escala menor, num preito de imolação ao terror e à guerrilha (FARCs, ‘homens-bomba’ muçulmanos, entre outros); c) há também pessoas do gênero ‘almofadinhas’ ou ‘mauricinhos’ (limpinhos e cheirosos, ‘geração saúde’) que, não obstante, fazem uso de piercings, brinquinhos e recorrem às pinturas corporais. Entre os itens ‘b’ e ‘c’, entrariam os ‘góticos’, por exemplo, bem como os ‘zumbis’, que desfilam com a fisionomia coberta de tintas, tomando a aparência de assombrações foragidas dos túmulos.

Pergunta: quem faz o papel de cabeça, quem faz o papel de cauda, nesse movimento-cometa? Agora a resposta se torna mais simples.

Constituem um mesmo bloco, ora mais, ora menos coeso. Por circunstâncias diversas, de natureza fugaz ou episódica, a título provisório, os componentes podem ser catalogados, no esquema sócio-político cultural contemporâneo, em posições contrárias.

Muitos, dentre os integrantes do circuito ‘almofadinha’ ou ‘mauricinho’, ‘geração diet ou saúde’, acham-se hoje plenamente integrados nos grupos ditos ‘carismático-católicos’, a cujos encontros, coreografias e demais representações ritmo-pictóricas, comparecem com os respectivos adereços (brincos, piercings, tatuagens). Em certos casos, quando há grandes concentrações e o clima é escaldante (ou quando fazem suas ‘performances’ nas praias), dispensam quase toda indumentária, contentando-se com algumas poucas tiras de pano ou coisas similares. Exemplo característico foi o que se verificou, em vários “congraçamentos” de massa ou concentrações em grupos, na recente JMJ- Madrid, julho 2011, por exemplo, quando esperavam a chegada de Bento XVI.

Pergunta: qual a diferença entre um tipo humano andrógino da atualidade e outro, que não se pretende tal, mas que, apenas por modismo, utiliza a mesma simbologia (brincos, piercings, tatuagens) que caracteriza o primeiro?

Como se vê, são graus de intensidade e variações internas de um mesmo fluxo. Trata-se de dosagens diversas do mesmo processo revolucionário. Aquele que adere a uma moda, comumente, desconhece o sentido último daquilo que lhe é apresentado como ‘novidade’.


*** *** ***

Quando os movimentos mais radicais entram em decadência, facilmente adotam o ‘figurino da véspera’, que, por causa disso, acaba tomando a aparência de comedido ou conservador, perdendo o élan revolucionário que manifestavam antes.

Como exemplo, podemos citar alguns remanescentes da Ação Católica ou dos Cursilhos, que, em tempos mais recentes, passaram a tomar atitudes menos "ousadas" (revolucionárias), uma vez que os movimentos de que faziam parte já hoje se acham murchos, ou seja, quase sem seiva vital.

O mesmo se pode afirmar em relação a certos agrupamentos carismáticos que, por deformação de alma e piedade mal compreendida, julgam ter vida espiritual ou vida interior unicamente por sentirem sobressaltos internos ou ‘emoções místicas’. Nestes casos, muitas vezes sem perceber claramente, poderão adotar posições em sentido contrário às alas mais agressivas e extremadas da Revolução. Sem dúvida, não serão nunca os pontas-de-lança do movimento. Em contrapartida, jamais exercerão oposição de fundo contra tais movimentos contestatários.  

Hipótese: desde há muito a CANÇÃO NOVA vive conflitos internos.

Enquanto existem alas que propugnam o socialismo e o aborto (por exemplo, seriam as correntes onde se situam Chalita e figuras congêneres), outras facções do mesmo movimento consagram-se exclusivamente a cerimônias ritualístico-mágicas, de sentido duvidoso, entremeadas, cá e lá, com surtos de alguma piedade autêntica, embora cada vez mais difusa e incongruente com a verdadeira Fé.

Em tais agrupamentos menos em evidência, ocorrerá, eventualmente, que, per fas et per nefas, se vejam atraídos por práticas de devoção verdadeiras — Efeito da graça, que não falta a ninguém? Saturação do fator emotivo levado ao seu pináculo? Difícil saber.      

Desse ponto de vista, mutatis mutandis, servatis servandis, a aceitação da MISSA-TRIDENTINA, por parte de alguns desses corpúsculos, constituiria expressiva manifestação dessa mesma propensão interna, qual seja, a do ‘esfriamento’ do impulso revolucionário original.

JMJ: Festa de Rua e Estações da Cruz





Tomado em: A Grande Guerra
Original: Tradition in Action


Margaret C. Galitzin
Traduzido por Andrea Patrícia



Jovens homens e mulheres descansam juntos,
esperando pelas Estações na Praça Cibele [Madri]



Uma grande atmosfera de carnaval prevaleceu durante as festividades da Jornada Mundial da Juventude [JMJ] 2011 em Madri. “Parecia uma festa de rua universal promovida pela Igreja Católica”, disse uma repórter da JMJ.

Na sexta-feira à noite, 18 de agosto, entretanto, a festa teve uma pausa para a encenação da Via Sacra na Praça de Cibele, presidida pelo Papa. Magníficas e solenes estátuas da Semana Santa de cidades de toda a Espanha foram colocadas ao longo da rua para ilustrar cada estação, algumas guardadas por membros de confraternidades em roupas cerimoniais. A orquestra e o coro da JMJ forneceram um pano de fundo musical.

Era uma oportunidade para introduzir milhares de jovens a linda tradição da Igreja que muitos não conhecem. Infelizmente, o esforço falhou seriamente em dois aspectos.

Primeiro: o número e a ordem tradicionais das estações foram modificados. Não apenas as 14 estações foram reordenadas, mas algumas foram deixadas de fora e novas cenas foram introduzidas, como a Última Ceia, o Beijo de Judas e a Negação de São Pedro (estações 1 a 3). Em vez das três quedas de Cristo, houve apenas uma. Durante o comentário daquela única queda, foi dito aos jovens que aquela cena não era “bíblica” e nós poderíamos apenas imaginar o que “provavelmente” aconteceu.

A segunda e mais grave falha foi o conteúdo revolucionário das estações. Essa não foi uma apresentação tradicional da Paixão de Cristo, que sofreu e morreu para redimir o homem da punição devida ao pecado. Foi uma Via Sacra filantrópica-progressista, retratando Cristo sofrendo pelos “pecados contra a humanidade”Ele foi transformado num modelo que alivia os homens da injustiça social ou das consequências dos desastres naturais. Vídeos explicando o significado da Via Sacra exibiram documentários sobre vítimas do terrorismo, a ruína do Haiti, e, claro, Auschwitz.

Esse Caminho da Cruz “incorporou as provações e experiências da Igreja universal”, afirmou o boletim com o programa. Enquanto as estações se desenrolavam, guerra, desemprego, racismo, alcoolismo e vício em drogas foram apresentados como os maiores “pecados sociais” dos nossos dias, e a comiseração foi estendida aos imigrantes e aos párias religiosos e sociais. Representando esses grupos “marginalizados” da sociedade, grupos de jovens se revezavam em turnos carregando a grande cruz da JMJ. Nenhum código de vestuário foi imposto para participantes na cerimônia e muitas garotas que carregaram a cruz estavam usando shorts, minissaias ou calças coladas.

A primeira estação, A Última Ceia, foi uma eficaz negação da Fé Católica como a única e verdadeira fé. Nela, foi feito um chamado ecumênico para todos os homens viverem juntos em paz, sem perseguição religiosa ou discriminação. Um apelo foi adicionado a todos aqueles que acreditam em um Deus para viverem em justiça e fraternidade (Os textos da Cruz para a JMJ Madri 2011). 



Acima, A Negação de Pedro, uma nova estação da JMJ.

Abaixo na primeira fileira, representando os ‘pecados sociais' jovens carregam a cruz; segunda fileira, uma foto durante a cerimônia.



O pecado pessoal nem mesmo foi mencionado. Nem uma palavra sobre a torrente de pecados veniais e mortais cometidos em nossos dias que causaram o sofrimento de Nosso Senhor. Nem um único apelo pelos infinitos méritos da Paixão de Nosso Senhor para aplicar aos nossos pecados para nos levar a contrição e ao arrependimento. Não, a juventude foi chamada a considerar apenas os “pecados sociais.” 


Enquanto as Estações continuavam, o comentário focava mais agudamente na “dignidade do homem”. Na Morte de Cristo, a 11ª estação (ápice dessa nova forma de Via Crucis) era dito aos jovens para perguntarem-se: “Eu estou trabalhando para espalhar e proclamar a dignidade da pessoa e o evangelho da vida?”.

Aqui, a juventude não era lembrada sobre o triunfo de Cristo sobre a morte ou que Cristo por Seu Sacrifício na Cruz nos resgatou e reconciliou com Deus. Eles não ouviram que Cristo, o segundo Adão, ofereceu Sua vida na Cruz para redimir a culpa do primeiro Adão. Ou que a escravidão da qual Cristo adquiriu a humanidade através da Sua morte é a escravidão do pecado.

Em vez disso, na Tirada de Cristo da Cruz, foi falado à juventude que Cristo compartilha o destino das vítimas da AIDS que precisam de compaixão e ajuda. Nem uma única palavra de censura à homossexualidade, a causa principal da AIDS. Nem uma menção de que a AIDS é uma punição por esse pecado que clama aos Céus pela vingança de Deus.

Essa Via Sacra progressista não estaria completa sem um ataque indireto ao Capitalismo e a riqueza. Isso veio na 13ª Estação, quando o Cristo Crucificado está deitado no colo de Sua Mãe. Então, os jovens foram convidados a lamentar com os pais que perdem seus filhos por causa da fome, enquanto “sociedades abastadas, engolidas pelo dragão do consumismo e perversão materialista, afundam no niilismo de suas vidas vazias”

Enquanto Cristo jazia em Sua Tumba, os jovens eram lembrados sobre aqueles que sofrem de catástrofes como tsunamis, terremotos, furacões. Mais uma vez, nenhuma menção de que tais atos foram dirigidos por Deus e poderiam muito bem ser punições pelos pecados dos homens.

Mensagem Papal




A multidão saúda o papamóvel quando as Estações terminam.

A mensagem de Bento aos jovens no fim das Estações não foi um conselho para que eles deixem de pecar, para serem castos, para mudarem de vida, para professarem a Fé Católica e seguirem as leis Morais. Em vez disso, ele pregou o evangelho do homem, afirmando: “A Paixão de Cristo nos impele a tomar sobre os nossos ombros o sofrimento do mundo.”

A mensagem foi que a boa pessoa, não importa de qual credo, é aquela que serve a humanidade. Ele não fez nenhuma menção a necessidade de estar em estado de graça, mas enfatizou a necessidade de aliviar o sofrimento da humanidade. Esse é o caminho de salvação na nova religião centrada no homem da Igreja do Vaticano II pregada na Via Sacra da JMJ.

As estações terminaram, e o tom mudou rapidamente. Enquanto Bento se dirigia ao papamóvel, a multidão o saudava, uma massa de braços nus acenando no ar. Então, às saudações de “Bento! Bento!” o Papa deixou a Praça Cibele e os jovens se moveram do vasto espaço de Quatro Ventos para a vigília e a grande festa do pijama. A festa de rua continuou.

  
As 15 Estações de Madri: 


   1. Última Ceia
   2. Beijo de Judas
   3. Negação de São Pedro
   4. Jesus é condenado à morte
   5. Jesus carrega a Cruz
   6. Jesus cai sob o peso da Cruz
   7. Simão Cireneu ajuda Jesus a carregar a Cruz
   8. Verônica enxuga a Face de Jesus

   9. Jesus é despido de Seus trajes
   10. Jesus é pregado na Cruz
   11. Jesus morre na Cruz
   12. Jesus é descido da Cruz
   13. Jesus nos braços de Sua Mãe
   14. Enterro de Jesus
   15. Nossa Senhora das Dores

As 14 Estações Tradicionais:


1 - Jesus é condenado à morte
2 - Jesus toma a Sua Cruz 
3 - Jesus cai pela 1ª vez 
4 - Jesus encontra Sua Mãe 
5 - Jesus é ajudado por Simão
6 - Verônica enxuga a Face de Jesus
7 - Jesus cai pela 2ª vez
8 - Jesus fala às mulheres de Jerusalém 
9 - Jesus cai pela 3ª vez
10 - Jesus é despido de Seus trajes
11 - Jesus é pregado na Cruz
12 - Jesus morre na Cruz
13 - Jesus é descido da Cruz
14 - Jesus é deitado na tumba

Como o demônio se comporta – Pe. Gabriele Amorth









EMENTA

O DEMÔNIO FAZ DE TUDO PARA DISSIMULAR A SUA PRESENÇA

A certa altura o demônio dirigiu-se a ele [um padre sem fé]: “Tu dizes que não acreditas em mim. Mas acreditas nas mulheres, nelas acreditas, ah sim, nelas acreditas e de que maneira!”.

*** *** ***

Antes de ser descoberto, durante o exorcismo, na proximidade da saída e após a libertação.




Duma forma geral, podemos dizer que o demônio faz tudo para não ser descoberto, mostra-se muito lacônico e procura todos os meios para desencorajar o paciente e o exorcista. Para melhor clarificação podemos classificar este comportamento em quatro fases: antes de ser descoberto, durante os exorcismos, na proximidade da saída e depois da libertação. Assinalamos igualmente que nunca se encontram dois casos iguais. O comportamento do Maligno é o mais variado e imprevisível. Só farei referência a certos aspectos de comportamento mais frequentes.


1 – Antes de ser descoberto.

O demônio provoca distúrbios físicos e psíquicos: a pessoa envolvida procura tratar-se com médicos, mas nenhum suspeita da verdadeira origem do seu mal. Os médicos, em certos casos, começam um longo tratamento, testando diversos medicamentos, que resultam sempre ineficazes; por isso é vulgar que o paciente mude várias vezes de médico, acusando-os a todos de não entenderem a sua doença.

O tratamento dos males psíquicos é o mais difícil; muitas vezes os especialistas não notam nada (como também acontece com as doenças físicas), e a vítima passa por um “obcecado” aos olhos dos familiares. Uma das cruzes mais pesadas destes “doentes” reside no fato de não serem nem compreendidos, nem acreditados.

Quase sempre acontece que, estas pessoas, depois de terem batido às portas da medicina oficial, em vão, mais tarde ou mais cedo acabam por se dirigir a curandeiros, ou ainda pior a adivinhos, bruxos, quiromantes, ou feiticeiros. E assim ainda pioram os seus males.

Normalmente, quando alguém recorre a um exorcista (aconselhado por um amigo, raramente por sugestão de um padre) geralmente já fez o percurso pelos médicos que o deixaram numa desconfiança total e, na maioria dos casos, já foi aos bruxos ou similares. A falta de fé ou pelo menos o fato de não ser praticante, juntamente com a imensa e injustificável carência eclesiástica neste domínio, permitem compreender este tipo de comportamento. A maior parte das vezes é um verdadeiro acaso encontrar alguém que fale da existência de exorcistas.

Não esquecer que o demônio, mesmo nos casos de possessão total (em que é ele que falta e age servindo-se dos membros da sua infeliz vítima) não age continuamente, mas intercala a sua ação (designada em linguagem corrente sob a designação de “momentos de crise”), com fases de sossego mais ou menos longas.

Excetuando os casos mais graves, a pessoa pode prosseguir os seus estudos ou o seu trabalho de forma aparentemente normal, sendo ele o único na realidade, a saber, o preço desses esforços.


2 – Durante os exorcismos.

Em principio, o demônio faz tudo para não ser descoberto ou pelo menos para dissimular a amplitude da possessão, embora não o consiga sempre. Por vezes é obrigado a manifestar-se desde a primeira oração, por causa da força dos exorcismos.

Lembro-me de um jovem que, quando recebeu a primeira bênção, apenas me inspirou uma ligeira desconfiança, então pensei ”É um caso fácil: uma, ou talvez duas bênçãos, será o suficiente para resolver o problema”. Na segunda vez, enfureceu-se; a partir daí já não voltei a começar o exorcismo sem ter comigo quatro homens robustos, para segurá-lo.

Noutros casos é preciso esperar a hora de Deus. Recordo-me duma pessoa que tinha procurado vários exorcistas (incluindo a mim próprio) sem que alguém lhe tivesse encontrado alguma coisa de especial. Até que um dia o demônio manifestou-se nos exorcismos como habitualmente, com a frequência necessária para libertar os possessos.

Em certos casos, logo desde a primeira ou a segunda bênção, o demônio revela por vezes toda a sua força, que varia de pessoa para pessoa; outras vezes, esta manifestação é progressiva; há pessoas que apresentam em cada sessão problemas novos. Dá a impressão de que todo o mal que está neles deve aparecer pouco a pouco para poder ser eliminado.

O demônio reage de forma muito diferente às orações e às ordens. Muitas vezes esforça-se por se mostrar indiferente, mas, na realidade, ele sofre e o seu sofrimento vai aumentando até que se chegue à libertação. Alguns possessos ficam imóveis e silenciosos, não reagindo às provocações senão com os olhos.

Outros lutam: convém então segurá-los para impedir os cativos de fazerem mal; outros se lamentam, sobretudo quando se lhes aplica a estola sobre os locais dolorosos, como indica o Ritual, ou ainda quando se faz um sinal da cruz ou quando se asperge com água benta. Raros são os que se mostram com fúrias, mas esses devem ser segurados com firmeza pelos assistentes do exorcista, ou pelas pessoas da família.

No que se refere a falar, os demônios geralmente mostram-se muito reticentes. O Ritual determina justamente que não se façam perguntas por pura curiosidade, mas que se pergunte só aquilo que pode ser útil à libertação.

A primeira coisa é o nome: para o demônio, tão pouco dado a manifestar-se, o fato de revelar o seu nome constitui uma derrota; quando diz o nome, mostra-se sempre relutante em repeti-lo nos exorcismos posteriores. Ordena-se em seguida ao Maligno que diga quantos demônios habitam no corpo de paciente. Esse número pode ser elevado ou reduzido, mas há sempre um chefe que usa o primeiro dos nomes indicados.

Quando o demônio tem um nome bíblico ou dado pela tradição (por exemplo: satanás, ou belzebu, lúcifer, zabulão, meridiano, asmodeu…) trata-se de caça grossa, mais dura para vencer. Mas a dificuldade em grande parte reside na força com que o demônio tomou posse duma pessoa. Quando são vários demônios, o chefe é sempre o último a sair.

A força da possessão resulta também da reação do demônio aos nomes sagrados. Regra geral o maligno não pronuncia nem pode pronunciar estes nomes: Substitui-os por outras expressões como “Ele” para designar Deus ou Jesus, ou “Ela” para designar a Santíssima Virgem. Pode também dizer: “O teu chefe” ou “a tua patroa” para falar de Jesus ou de Nossa Senhora.

Por outro lado, quando a possessão é excessivamente forte, o demônio é de um coro elevado (recordemos que os demônios conservam o coro que ocupavam enquanto anjos como os Tronos, os Principados, as Dominações…), então pode acontecer que pronuncie os nomes de Deus e de Santa Virgem, mas acompanhados de horríveis blasfêmias.

Muitas pessoas creem — não se sabe bem por que motivo — que os demônios são linguareiros e que, se uma pessoa vai assistir a um exorcismo, o demônio vá enumerar todos os seus pecados em público. Não há nada mais falso, os demônios falam com precaução e quando se apresentam faladores, dizem coisas estúpidas a fim de distrair o exorcismo e de escapar às suas perguntas. Podem acontecer exceções.

O Pe. Cândido convidou certo dia para assistir a um dos seus exorcismos um sacerdote que se gabava de não acreditar nisso. Este aceitou o convite, e quando lá estava adotou uma atitude quase de desprezo ficando com os braços cruzados, sem rezar (ao contrário do que devem fazer os presentes) e com um sorriso irônico nos lábios. A certa altura o demônio dirigiu-se a ele: “Tu dizes que não acreditas em mim. Mas acreditas nas mulheres, nelas acreditas, ah sim, nelas acreditas e de que maneira!”. O desgraçado recuou devagarzinho em direção à porta e escapou-se à toda a pressa.

Outra vez o demônio fez a descrição dos pecados para desencorajar o exorcista. O Pe. Cândido fora benzer um belo jovem que tinha dentro de si uma besta mais fera do que ele. O demônio tentou desencorajar o exorcista, nestes termos: “Não vês que está a perder o teu tempo com este? Ele é daqueles que nunca rezam, é um dos que freqüentam…, é um dos que fazem…”, seguindo-se a narração de uma longa série de vergonhosos pecados. No fim do exorcismo, o Pe. Cândido delicadamente tentou convencer o jovem a fazer uma confissão geral. Mas ele não queria saber de nada disso. Quase que foi preciso empurrá-lo à força para um confessionário; e, mesmo lá, apressou-se a dizer que não tinha nada de que tivesse de se acusar.

“Mas não fizeste tal coisa em tal ocasião?” insistiu o Pe. Cândido. E o jovem, estupefato, teve de reconhecer a sua falta. “E por acaso não fizeste aquilo?” e o desgraçado cada vez mais confuso, teve de reconhecer um após outro, todos os pecados que o Pe. Cândido lhe recordava, valendo-se das declarações do demônio. Depois, finalmente, recebeu a absolvição. E o jovem foi-se embora confuso: “Já não percebo nada! Estes padres sabem tudo!”.

Entretanto o Ritual sugere que se pergunte também há quanto tempo o demônio se encontra naquele corpo, por que razão, etc… Falaremos oportunamente acerca do comportamento que convém adotar em caso de bruxaria, questões que é importa comentar, ensinando a maneira de agir.

Por agora sublinharemos que o demônio é o príncipe da mentira. Pode perfeitamente acusar tal ou tal pessoa, a fim de suscitar suspeitas e inimizades. As respostas do demônio devem ser sempre passadas ao crivo cuidadosamente.

Contentar-me-ei em dizer que o interrogatório do demônio geralmente tem uma importância reduzida. Aconteceu muitas vezes, por exemplo, que o demônio, ao sentir-se muito enfraquecido, respondia a perguntas relativas à data da sua saída e depois, de fato, não saía naquela data.

Um exorcista experimentando como o Pe. Cândido, que percebia imediatamente que tipo de demônio estava a enfrentar e adivinhava a maior parte das vezes até o seu nome, fazia muito poucas perguntas. Outras vezes quando perguntava o nome, o demônio respondia: “Tu já sabes”. E era verdade.

Em geral os demônios falam espontaneamente nos casos de possessões fortes, para tentar desencorajar ou amedrontar o exorcista. Eu próprio ouvi por diversas ocasiões frases do tipo: “Não podes nada contra mim!”; “Aqui é a minha casa!”; “Estou aqui bem e fico aqui!”; “Só estás a perder o teu tempo!”. Ou então ameaças: “Vou devorar-te o coração!”; “Esta noite o medo há de te impedir de fechares os olhos”; “Vou-me introduzir na tua cama como uma serpente”; “Hei de te fazer cair da cama abaixo”.

Porém, perante certas respostas, pelo contrário, fica silencioso. Quando eu lhe digo, por exemplo: “Estou envolvido no manto da Virgem; o que é que tu podes fazer?”; “O Arcanjo Gabriel é o meu santo patrono; tenta lutar contra ele”; “o meu Anjo de guarda cuida para que nada me aconteça; não podes fazer nada”, etc…

Encontra-se sempre um ponto particularmente fraco. Alguns demônios não resistem à cruz feita com a estola sobre as partes doloridas; outras não resistem quando se sopra sobre a face do paciente, e outros ainda opõem-se com todas as suas forças à aspersão de água benta.

Existem também frases, nas orações de exorcismo (ou noutras orações que o exorcista pode rezar), às quais o demônio reage violentamente ou vai perdendo a força. Então, basta insistir na repetição destas frases, como preconiza o Ritual.

O exorcismo pode ser longo ou breve: é o exorcista quem decide em função de diversos fatores. A presença do médico é útil por vezes, não só para estabelecer o diagnóstico inicial, mas também para dar a sua opinião quanto à duração do exorcismo. Sobretudo quando o possesso não goza de boa saúde (se é cardíaco, por exemplo) ou quando o exorcista não se está a sentir bem: o médico então pode aconselhar a suspensão do exorcismo. Em geral é o exorcista que se apercebe quando é inútil continuar.


3 – Na proximidade da saída.

É um momento difícil e delicado que pode durar muito tempo. O demônio por um lado faz parecer que já perdeu uma parte das suas forças, mas por outro lado tenta jogar as últimas cartadas. Muitas vezes tem-se a seguinte impressão: enquanto no caso de doenças vulgares, o doente vê melhorar o seu estado progressivamente até à cura completa, no caso de um possesso, produz-se o contrário, isto é, a pessoa em questão vê o seu estado sempre a piorar e no momento em que ela já não pode mais, fica curada. Nem sempre as coisas se passam assim, mas é o que acontece com mais frequência.

Para o demônio, deixar uma pessoa e voltar para o inferno, onde quase sempre fica condenado a permanecer, significa morrer eternamente e perder toda a possibilidade de se mostrar ativo, incomodando as pessoas. Ele exprime este desespero em expressões que são repetidas muitas vezes durante os exorcismos: “Eu morro, eu morro” – “Não posso mais” – “Já chega, vocês matam-me” – “corja de assassinos, de carrascos; todos os padres são assassinos”, e frases assim.

O conteúdo muda completamente em relação aos primeiros exorcismos. Se antes dizia: “Tu não podes fazer nada contra mim”, agora diz: “Tu matas-me, venceste-me”. Se antes dizia que nunca se iria embora porque estava lá bem, agora afirma que se sente horrivelmente mal e que deseja ir-se embora. É claro que cada exorcismo para o demônio, equivale a ser chicoteado: “sofre” muitíssimo, mas inflige igualmente muita dor e cansaço à pessoa em que se encontra: Chega a confessar que durante os exorcismos está pior que no inferno.

Um dia, enquanto o Pe. Cândido exorcizava um indivíduo já à beira da libertação, o demônio declarou abertamente: “Julgas que eu me ia embora se não estivesse pior aqui?”. Os exorcismos se lhe tornaram verdadeiramente insuportáveis.

Um outro fator que é preciso ter em conta, se se quer ajudar as pessoas que estão em via de libertação, é que o demônio se esforça por lhes comunicar o seus próprios sentimentos: ele não pode mais e procura transmitir um sensação de esgotamento intolerável; ele está desesperado e tenta transmitir o seu próprio desespero ao possesso; sente que está perdido, que já lhe resta pouco tempo para viver, que não está mais em condição de raciocinar corretamente e transmite ao paciente a impressão de que tudo acabou, que a sua vida chegou ao seu termo, e este cada vez mais se convence de que vai enlouquecer.

Quantas vezes as pobres vítimas, afligidas, não declaram ao exorcistas: “Diga-me francamente se eu estou louco!”. Para o possesso, os exorcismos também são cada vez mais cansativos e, por vezes, se não vêm acompanhados ou forçados, faltam ao encontro.

Tive mesmo casos de pessoas próximas, ou bastante próximas da libertação, que desistiram totalmente de se deixar fazer exorcizar. Da mesma forma que muitas vezes é preciso ajudar estes “doentes” a rezar, a ir à Igreja e a frequentar os sacramentos, porque eles não conseguem sozinhos, também é conveniente incitá-los a submeter-se aos exorcismos e, sobretudo no momento da fase final, encorajá-los continuamente.

O cansaço físico, além de sentimento de desmoralização, devidos à lentidão dos acontecimentos, aumentam sem dúvida estes problemas e dão a impressão de que o mal se tornou incurável. O demônio por vezes causa males físicos, mas, sobretudo, psíquicos, que é preciso tratar por via médica, mesmo após a cura. Contudo as curas completas, sem sequelas, são possíveis.


4 – Após a libertação.

É fundamental que a pessoa liberta não afrouxe o seu ritmo de oração, nem a frequência aos sacramentos e mantenha uma vida cristã fervorosa. Uma bênção, de tempos a tempos, não será supérflua. Porque acontece com bastante frequência que o demônio ataque, isto é, que tente voltar. Não precisa que ninguém lhe abra a porta. Contudo, mais do que a convalescença poderíamos falar duma fase de consolidação, indispensável para assegurar a libertação.

Tive alguns casos de recaída: nos casos em que não houve negligência da parte do individuo, em que ele tinha continuado a manter um ritmo de vida espiritual intensa, a segunda libertação foi relativamente fácil. Pelo contrário, a partir do momento em que a recaída foi favorecida pelo abandono da oração ou pior ainda, por se ter deixado cair num estado de pecado habitual, então a situação só piorou, tal como conta o Evangelho segundo Mateus (12,43-45): o demônio volta acompanhado de sete espíritos piores do que ele.

O leitor não deixou de ter oportunidade de ficar com a noção de que o demônio faz tudo para dissimular a sua presença. Já o dissemos e repetimos. Esta observação ajuda (mas não o suficiente certamente) a distinguir a possessão de certas formas de doenças psíquicas, em que o doente faz tudo para chamar a atenção. O comportamento do demônio é exatamente ao contrário.


Pe. Gabriele Amorth, exorcista oficial da Diocese de Roma.


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