segunda-feira, 21 de abril de 2014

Sob os olhos do Ocidente


DESTAQUE


A ‘PSY-WAR’ NEOCOMUNISTA SUBJUGA O OCIDENTE

Medo, provocação, projeção e propaganda: a elite do Kremlin domina todas essas técnicas. São as armas usadas para justificar ocupações, tanto aos olhos da população local quanto aos do mundo.

A chegada da maioria dessas pessoas à Crimeia resultou de transferências maciças de população promovidas por Stálin com o fim de misturar a população dos Estados vassalos soviéticos e russificar a região. Áreas de perfil semelhante se encontram em diversos pontos da Europa Oriental. Agora essas pessoas estão sendo exploradas pela gangue de Putin. Mas o fato é que os habitantes originais da Crimeia, os tártaros, já foram esquecidos. Na experiência deles, as políticas populacionais de Stálin terminaram em genocídio.

Enquanto escrevo, as portas das casas ocupadas pelos tártaros na Crimeia são marcadas com cruzes. Isso lhes parece familiar?

Esse tipo de governo não é uma democracia, mas o Ocidente acatou a explicação, como acatou outros eufemismos do FSB (a versão atual da KGB) que tinham por objetivo acalmar o resto do mundo enquanto a elite no Kremlin fazia preparativos para criar o admirável mundo novo de Putin.

A União Soviética foi reabilitada, e o jornalismo se tornou uma escolha profissional suicida. Desde 2012, a elite de Putin vem repatriando os ativos que detinha no Ocidente, a fim de garantir a independência dos que estão no poder.

Um dos princípios fundadores da União Europeia é o de que deveríamos pelo menos tentar aprender alguma coisa com o passado.

A União Eurasiana promovida por uma panelinha dentro da elite de Putin é diametralmente oposta a isso. Baseia-se em porções seletas do stalinismo e do nacional-socialismo, cujas lições de propaganda são seguidas atentamente. E essa forma de exercer o poder conta com um orçamento inesgotável.

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Sob os olhos do Ocidente
A Rússia e o contra-ataque do império decaído
SOFI OKSANEN
tradução PAULO MIGLIACCI


RESUMO Escritora que tem no cerne de sua obra os abusos soviéticos nos países bálticos vê a anexação da Crimeia pela Rússia como parte de uma campanha colonialista contínua. Medo, provocação, projeção e propaganda seriam as armas do Kremlin para justificar ocupações, tanto para os habitantes locais quanto para o Ocidente.
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A cada manhã, acordo imaginando se terá chegado o dia em que a Europa Oriental será vendida mais uma vez. Verifico meu celular e, quando vejo que nada de muito alarmante foi anunciado, mesmo que as notícias não sejam exatamente animadoras, ligo meu computador e vasculho as manchetes, ainda imaginando se vai acontecer hoje ou amanhã.

O dia em que só me concentrando na observação de minhas reações pessoais e nas do mundo ao meu redor serei capaz de lidar com as notícias -porque é dever do escritor recordar os momentos em que se viram páginas da história.

Uma nova era já começou. O período que separa as guerras frias -de 1989 a 2014- acabou.

A última vez que a Europa Oriental e os países bálticos foram vendidos à União Soviética e absorvidos em sua esfera de influência foi sob o pacto Molotov-Ribbentrop [em 1939], uma manobra que contribuiu para que o império soviético viesse a atingir seu maior poder. Uma força de trabalho não remunerada estava trancada nos campos de escravos do gulag. Agora a Rússia deixou claro, em palavras e atos, que pretende restaurar a velha glória de seu império. A doutrina Brejnev foi atualizada e adotada por Putin.

A Rússia acredita que tem o direito de intervir nas ações de Estados independentes caso estes pareçam estar se aproximando demais do Ocidente e caso a Rússia considere ter autoridade sobre a área em questão.

A Duma, o Legislativo russo, debate em regime acelerado uma lei que facilitaria a anexação de regiões que no passado estiveram sob domínio soviético, e os povos da Europa Oriental e dos países bálticos ficam imaginando se uma vez mais terão depositado em vão sua fé no Ocidente -que, ao longo da última década, dedicou pouca atenção ao Leste Europeu, a não ser para vê-lo como fonte de mão de obra barata e local para instalações de produção lucrativas.

A anexação ilegal da Crimeia tem grande valor simbólico; é a primeira região, desde o período soviético, a ter sido tirada de um Estado independente e incorporada à Rússia. Também é um teste, um estudo da tolerância e da moral do Ocidente: será que ousará honrar suas promessas -ou trairá o Leste novamente?
O contra-ataque do império decaído começou em 2005, quando Putin declarou que o colapso da União Soviética foi o maior desastre geopolítico do século 20.

A forma como a história é ensinada é um dos métodos pelos quais essa tese é promovida, um conteúdo retrógrado motivado por interesses geopolíticos. O objetivo dessa versão da história é fazer renascer o orgulho nacional russo e funcionar como lembrete de que integrar o império russo era benéfico para pessoas de outras regiões. Os antigos Estados vassalos têm opinião bastante diferente.

Por anos os ocidentais aplaudiram polidamente os discursos de Putin sobre o "desenvolvimento democrático" de seu país. Ele defendeu seu modelo social como uma "democracia administrada".

Esse tipo de governo não é uma democracia, mas o Ocidente acatou a explicação, como acatou outros eufemismos do FSB (a versão atual da KGB) que tinham por objetivo acalmar o resto do mundo enquanto a elite no Kremlin fazia preparativos para criar o admirável mundo novo de Putin.

A União Soviética foi reabilitada, e o jornalismo se tornou uma escolha profissional suicida. Desde 2012, a elite de Putin vem repatriando os ativos que detinha no Ocidente, a fim de garantir a independência dos que estão no poder.

Um dos princípios fundadores da União Europeia é o de que deveríamos pelo menos tentar aprender alguma coisa com o passado.

A União Eurasiana promovida por uma panelinha dentro da elite de Putin é diametralmente oposta a isso. Baseia-se em porções seletas do stalinismo e do nacional-socialismo, cujas lições de propaganda são seguidas atentamente. E essa forma de exercer o poder conta com um orçamento inesgotável.

Em 2005, o canal de TV RussiaToday, em inglês, foi criado para servir às necessidades de propaganda do Kremlin, com orçamento anual de mais de US$ 300 milhões.

Porque a programação do canal parece jornalística, todos acreditam que seja jornalística, quando, na verdade, ela serve para disseminar as "verdades" russas para o Ocidente, como ex-funcionários da estação admitiram.

Agora, com a crise ucraniana, essa propaganda se tornou tão desavergonhada que já não tenta esconder do Ocidente as suas intenções, como fazia no passado. E isso é uma mudança considerável.

Entre os editores ocidentais, é prática comum apresentar opiniões de diversas partes a fim de produzir um artigo que se aproxime da verdade. Mas essa não é a maneira certa de agir quando um dos lados está mentindo escandalosamente. Ao agir assim, a mídia ocidental repete indiretamente a mensagem promovida pelos "siloviks" do Kremlin ["pessoas de poder", termo usado para denotar políticos importantes com antecedentes nos serviços de segurança].

O cerne da política do Kremlin é a guerra de informações, plena de alegações e contra-alegações, porque essa é a forma mais barata de conquistar territórios sem utilizar blindados.

Medo, provocação, projeção e propaganda: a elite do Kremlin domina todas essas técnicas. São as armas usadas para justificar ocupações, tanto aos olhos da população local quanto aos do mundo.

TAREFA FÁCIL
Para a Rússia, a anexação da península da Crimeia, parte legal da Ucrânia, foi tarefa fácil. A invasão não gerou baixas russas, que poderiam ter levado as mães do país às ruas em protesto, e foi possível apresentar ao Ocidente uma narrativa que tornava a anexação compreensível, partindo do fato de que boa parte da população da área é russófona.

A chegada da maioria dessas pessoas à Crimeia resultou de transferências maciças de população promovidas por Stálin com o fim de misturar a população dos Estados vassalos soviéticos e russificar a região. Áreas de perfil semelhante se encontram em diversos pontos da Europa Oriental. Agora essas pessoas estão sendo exploradas pela gangue de Putin. Mas o fato é que os habitantes originais da Crimeia, os tártaros, já foram esquecidos. Na experiência deles, as políticas populacionais de Stálin terminaram em genocídio.

Enquanto escrevo, as portas das casas ocupadas pelos tártaros na Crimeia são marcadas com cruzes. Isso lhes parece familiar?

A Rússia vem tentando desestabilizar a independência da Europa Oriental e dos países bálticos já há muito tempo. Em 2008, Putin descreveu a Ucrânia como um Estado artificial. A Rússia colocou em questão o direito ucraniano a fronteiras invioláveis e, por meio de um engenhoso arcabouço de mentiras, conseguiu fazer com que o país parecesse quase um Estado russo. Não há nada de novo nessa estratégia: foi o que ocorreu com o jovem Estado austríaco nos anos 30, conduzindo-o ao Anschluss [união com a Alemanha] em 1938.

Os países bálticos vêm suportando a retórica russa há anos. A informação que o resto do mundo tem sobre países como a Ucrânia é relativamente escassa. Consequentemente, impor a agenda da Rússia -o questionamento de seu direito à autodeterminação- não é nem de longe tarefa irrealizável.

Aquilo que na Rússia faz as vezes de imprensa tem publicado, há muito, reportagens sobre campos de concentração estonianos onde russos estariam detidos (safra da mentira: 2007). Também se publica que filhos de turistas russos foram sequestrados de hotéis na Finlândia, historicamente considerada como pertencente à Rússia (safra da mentira: 2013).

Com coisas assim repetidas incansavelmente ano após ano, não surpreende que a maior parte do populacho russo tenha adotado, pouco a pouco, uma atitude de suspeita com relação ao Ocidente.

É esse precisamente o objetivo do exercício. Dessa forma as pessoas podem ser mobilizadas mentalmente para a guerra, e grupos étnicos antes amigáveis são açulados uns contra os outros.

Inimigos imaginários são exatamente o que a camarilha de Putin precisa para manter sua popularidade e preservar os ativos que adquiriu para uso pessoal por meios altamente questionáveis. Qualquer perda de poder exporia a corrupção que permitiu o acúmulo de tal riqueza. Exatamente o que aconteceu a Viktor Yanukovich, o presidente deposto da Ucrânia.

Por enquanto, a liderança russa está concentrada nas mãos de um pequeno grupo de "siloviks", e Putin -o homem mais rico da Europa e da Rússia- é sua face pública.

A formação dos membros do grupo difere da que recebem os políticos ocidentais e tem sua base no FSB e na KGB. Não existe status mais elevado na hierarquia do poder russa. Nos dias da União Soviética, pelo menos o partido ficava acima da KGB.

Quem ainda crê que a Rússia usa sua "política dos compatriotas" para proteger interesses das pessoas de etnia russa que vivem fora do país deveria cair na real o mais rápido possível e lembrar o uso que Hitler fez das populações de etnia alemã em outros países.

Qualquer um que tenha visitado a Rússia sabe que os que estão no poder ligam muito pouco para os russos comuns. Foram ações russas disfarçadas de "assistência humanitária" que deixaram a Ossétia do Sul em estado tão lastimável.

O Kremlin não tem grande apreço pelas distintas revoluções ocorridas em países vizinhos. Por isso, pessoas que favorecem Moscou são instaladas nos governos de países infectados pela corrupção. Enquanto esteve no poder, Yanukovich ordenou a detenção de historiadores que investigavam crimes soviéticos, e expressou dúvidas pessoais quanto ao "holodomor", a fome catastrófica que constituiu, na verdade, um ato de genocídio instigado pelos soviéticos no começo dos anos 30. (...).

Yanukovich agiu segundo o dever de um líder pró-Moscou. Mas o povo protestou e estragou os planos, já bem adiantados, de Putin para promover discretamente a união entre Ucrânia e Rússia.

É hora de o Ocidente dizer não à intenção russa de expandir seu território além das fronteiras do país, e isso não pode ser feito por meio de diálogo diplomático.

É impossível negociar com um adversário que mente consistentemente sobre seus objetivos. A Rússia já demonstrou que adota uma fachada diplomática com a única finalidade de ganhar tempo e transportar armas pesadas para a fronteira. 
Para ganhar tempo a fim de implementar leis que apoiam os regimes que controla.

O Ocidente tentou compreender as políticas que estão sendo colocadas em prática pelo Kremlin, mas não há necessidade de compreender o colonialismo. Ele é simples cobiça, e precisa ser detido.

Tentaríamos mostrar compreensão caso Elizabeth 2ª decidisse reviver o colonialismo britânico?

Você compreenderia o pensamento de Angela Merkel se ela ameaçasse restaurar o Reich alemão? E se a TV alemã começasse a transmitir programas infantis em que bonecos de pelúcia aparecem em preparativos para a guerra? E se a Alemanha fosse governada por pessoas treinadas pela Gestapo? Como você se sentiria caso os alemães vissem Hitler como um dos grandes homens da história de seu país, da mesma forma como Stálin é encarado na Rússia?

E se a Alemanha declarasse que a Europa (ou "Gayropa", como os russos a chamam) é governada por uma conspiração homossexual, como ocorreu recentemente, na Rússia atual, onde a intolerância foi reforçada por leis de combate à propaganda gay?

Alguém lembra quem foi mesmo que disse que a degeneração do Ocidente era resultado de uma conspiração judaica?

Não -você não toleraria isso, nem por um instante. Você sabe que não haveria maneira de explicar a seus netos por que permitiu que isso acontecesse.

SOFI OKSANEN, 37, escritora finlandesa de origem estoniana, autora de "Expurgo" e "As Vacas de Stálin" (ambos publicados pela Record).

PAULO MIGLIACCI, 45, é tradutor. 


Fonte: FSP

Perseguição religiosa em curso?



Após ler ambas as matérias abaixo, o leitor poderá tirar as suas próprias conclusões


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Justiça australiana reconhece existência do gênero sexual neutro

Norrie participa de uma entrevista coletiva em Sydney 

A principal corte de Austrália decidiu nesta quarta-feira que uma pessoa pode ser reconhecida pelo Estado como pertencente a um "gênero neutro", nem masculino nem feminino, o que torna o país um dos poucos que reconhecem um terceiro sexo.
"A Suprema Corte reconhece que uma pessoa pode não ser nem do sexo masculino, nem do sexo feminino, e permite, assim, o registro do sexo de uma pessoa como 'não especificado'", afirma, em decisão unânime, que rejeitou a apelação feita pelo estado de New South Wales para que fossem reconhecidos apenas os sexos masculino e feminino.
O caso foi centrado numa pessoa chamada Norrie - que não se identifica nem como sendo do sexo masculino nem do sexo feminino. Ela entrou com um processo na justiça australiana para que um gênero neutro fosse introduzido no país.
Norrie, que se apresenta apenas pelo primeiro nome, nasceu como homem e passou por uma cirurgia de mudança de sexo em 1989 para se tornar uma mulher.
A cirurgia, contudo, não conseguiu solucionar a identidade sexual ambígua de Norrie, impulsionando sua luta pelo reconhecimento de um novo gênero, não tradicional.
A militante pela igualdade sexual virou manchete em todo o mundo em fevereiro de 2010, quando um registro no Departamento de Nascimentos, Mortes e Casamentos do estado de New South Wales aceitou que "sexo não especificado" poderia ser usado para Norrie.
Mas logo após a decisão foi revogada pelo departamento, alegando que o certificado era inválido e tinha sido emitido por um erro. À época, Norrie disse que a decisão foi como ter sido "socialmente assassinada".
O caso gerou uma série de processos que resultaram na decisão da Corte de Apelação de New South Wales em reconhecer Norrie como tendo um gênero neutro em 2013. A decisão foi apoiada pela Suprema Corte australiana nesta terça-feira.
"Estou eufórico", declarou o interessado.
"As pessoas compreenderão que não existem apenas duas opções. Você pode ser uma mulher ou um homem, mas alguns de seus parentes não o serão obrigatoriamente", completou.
De acordo com a associação Centro de Leis sobre os Direitos Humanos, a corte "rejeitou as noções nostálgicas sobre gênero".
"Agradecemos a decisão. Esperamos que a imprensa respeite a diferença entre transgêneros e transsexuais e identifiquem o gênero de Norrie como 'não específico'", afirmou a organização internacional IntersexInternational Austrália.
Uma pessoa só poderá ser reconhecida pela lei e o Estado Civil como de gênero neutro ao apresentar um dossiê médico.
Ainda são ignoradas as consequências da decisão. A Austrália reconhece apenas o casamento entre um homem e uma mulher.
Em junho do ano passado, o país já havia adotado uma nova nomenclatura para o reconhecimento do sexo nos documentos oficiais, com a possibilidade de escolha entre homem, mulher ou transgênero.
Alemanha e Nepal autorizam seus cidadãos a colocar um X no espaço "sexo" de seu passaporte, ao invés de M de masculino ou F de feminino.
Em novembro a Alemanha deu um passo adicional ao autorizar que os bebês nascidos sem uma identificação clara sejam registrados sem a informação sobre o sexo.
A medida tinha como objetivo reduzir a pressão sobre os pais, que precisavam decidir de maneira urgente sobre intervenções cirúrgicas polêmicas para atribuir um sexo a um recém-nascido.
Agora, os pais são autorizados a deixar em branco o espaço respectivo nas certidões de nascimento, criando assim uma categoria indeterminada nos registros civis.


Fonte: Yahoo

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CANADÁ - UMA ESCOLA CATÓLICA PROCESSADA POR TER RECUSADO UMA PROFESSORA TRANSGÊNERO


Um juiz canadense acaba de decidir que a direção de uma escola católica de Alberta terá de responder diante da justiça a uma acusação de discriminação, da parte de uma professora suplente, retirada em 2009 de sua lista de professores substitutos, sob a alegação de que ela é transgênero, relata o LifeSite. 
Jane Buterman, hoje com idade de 43 anos, sofre, de acordo com documentos médicos, de uma “desordem de identidade de gênero”: ela se faz chamar por “Jan” e usa roupas masculinas.
A direção da escola católica tinha reagido às mudanças anunciadas pela temporária, dirigindo-lhe uma carta, em 2009, onde sublinhava que tinha por política contratar pessoas vivendo em conformidade com o ensinamento e a doutrina da Igreja católica: “Tua mudança de gênero não está de acordo com o que ensina a Igreja. Ela seria fonte de confusão e de perturbação junto dos alunos e dos pais enquanto modelo de testemunho dos valores da fé católica”.
A constituição canadense de 1867 protege o direito das escolas confessionais, e, portanto, católicas, de contratar e dispensar um professor conforme sua pertença religiosa.
A escola Greater St. Albert CatholicSchool só estava então exercendo esse direito, não sem ter consultado o arcebispo da diocese de Edmonton, Richard Smith, cuja direção tinha citado esses propósitos em sua carta a Janet Buterman: “Durante as discussões com o arcebispo (…), (ele disse que) o ensinamento da Igreja católica é que as pessoas não podem mudar seu gênero. Nosso gênero é considerado como correspondente à vontade criadora de Deus em relação a cada um de nós”.
Imediatamente, Janet Buterman se queixou disso diante da Comissão de direitos humanos de Alberta (AHRC), arguindo que a escola, enquanto empregadora pública, não tinha o direito de fazer suas crenças intervir em suas decisões de contratação. Ao longo das discussões que se seguiram, a direção da Greater St. Albert School lhe propôs uma transação de 78.000 dólares canadenses, oferta que ela rejeitou uma vez que ela recusava uma cláusula que a impedia de evocar publicamente a questão. 
De onde esta declaração no Toronto Star em 2011: “Não quero ser amordaçada. Eles não querem que eu fale, já que enquanto empregadores, reclamando para si a autoridade da Igreja católica, eles praticaram uma discriminação em relação a mim por causa da minha situação médica de pessoa transexual”.
Sua petição junto da Comissão de direitos humanos foi rejeitada no mesmo ano, afirmando que a queixa era “sem mérito” (Na França, diríamos “sem fundamento”). O Chefe da Comissão e dos tribunais deveria anular essa decisão em 2012, e um exame jurídico da questão foi lançado. 
É o juiz Sheila Greckol que acaba de confirmar o ponto de vista do referido Chefe da Comissão, afirmando que Janet Buterman tinha o direito ao seu julgamento, que só tinha sido adiado demais: “O procedimento dos direitos do homem não existe apenas para os “corações de leão” e aqueles cujos talões não são usados (expressão consagrada para designar a classe dos possuidores), mas também para os timoneiros e aos impecuniosos [sic!]: para todos os habitantes de Alberta”.
Impecuniosa, provavelmente. Timoneira, certamente não: Janet Buternam nunca escondeu, desde 2009, sua atividade militante no seio da Associação para a igualdade trans de Alberta (TransEqualitySocietyof Alberta).


Sermão sobre a Pureza

DESTAQUE
Segundo S. Basílio, se encontramos a castidade numa alma, encontramos aí todas as outras virtudes cristãs, ela as praticará com uma grande facilidade, “porque” - nos diz ele – “para ser casto é preciso se impor muitos sacrifícios e fazer- se uma grande violência. Mas uma vez que alcançou tais vitórias sobre o demônio, a carne e o sangue, todo o resto lhe custa muito pouco, pois uma alma que subjuga com autoridade a este corpo sensual, vence facilmente todos os obstáculos que encontra no caminho da virtude”. (...)

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Sermão sobre a Pureza 
S. João Maria Vianney (Cura de Ars)

“Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus”. (Mt.5,8)

EMENTA – Quanto mais uma alma se desapega de si mesma pela resistência às suas paixões, mais ela se une a Deus; e, por um feliz retorno, mais o bom Deus se une a ela; Ele a olha, Ele a considera como sua esposa, como sua bem-amada; faz dela o objeto de suas mais caras complacências, e fixa nela sua morada para sempre. “Bem - aventurados, nos diz o Salvador, os puros de coração, porque eles verão ao bom Deus”.Segundo S. Basílio, se encontramos a castidade numa alma, encontramos aí todas as outras virtudes cristãs, ela as praticará com uma grande facilidade, “porque” - nos diz ele – “para ser casto é preciso se impor muitos sacrifícios e fazer- se uma grande violência. Mas uma vez que alcançou tais vitórias sobre o demônio, a carne e o sangue, todo o resto lhe custa muito pouco, pois uma alma que subjuga com autoridade a este corpo sensual, vence facilmente todos os obstáculos que encontra no caminho da virtude”. (...)
A vida deles [DOS IMPUROS] não é mais que uma acumulação de banha que eles estão juntando para inflamar o fogo do inferno por toda a eternidade.
Não, meus irmãos, esta bela virtude não é conhecida por esta pessoa, cujos lábios não são mais que uma abertura e um tubo de que o inferno se serve para vomitar suas impurezas sobre a terra, e que se alimenta disto como de um pão quotidiano. Ai! A alma deles não é mais que um objeto de horror para o céu e para a terra!

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Nós lemos no Evangelho, que Jesus Cristo, querendo ensinar ao povo que vinha em massa, aprender dEle o que era preciso fazer para ter a vida eterna, senta-se e, abrindo a boca, lhes diz: “Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus.” Se nós tivéssemos um grande desejo de ver a Deus, meus irmãos, só estas palavras não seriam acaso  suficientes para nos fazer compreender quanto a pureza nos torna agradáveis a Ele, e quanto ela nos é necessária? Pois, segundo Jesus Cristo, sem ela, nós não o veremos jamais! “Bem-aventurados, nos diz Jesus Cristo, os puros de coração, porque eles verão o bom Deu s”. Pode-se acaso esperar maior recompensa que a que Jesus Cristo liga a esta bela e amável virtude, a saber, a posse das Três Pessoas da Santíssima Trindade, por toda a eternidade?... S. Paulo, que conhecia bem o preço desta virtude, escrevendo aos Coríntios, lhes diz: “Glorificai a Deus, pois vós o levais em vossos corpos; e sede fiéis em conservá-los em grande pureza. Lembrai-vos bem, meus filhos, de que vossos membros são membros de Jesus Cristo, e que vossos corações são templos do Espírito Santo. Tomai cuidado de não os manchar pelo pecado, que é o  adultério, a fornicação, e tudo aquilo que pode desonrar vosso  corpo e vosso cor ação aos olhos de Deus, que a pureza mesma”. (I Cor, 6, 15-20) Oh! Meus irmãos, como esta virtude é bela e preciosa, não somente aos olhos dos homens e dos anjos, mas aos olhos do próprio Deus. Ele faz tanto caso dela que não cessa de a louvar naqueles que são tão felizes de a conservar. Também, esta virtude inestimável constitui o mais belo adorno da Igreja, e, por conseguinte, deveria ser a mais querida dos cristãos. Nós, meus irmãos, que no Santo Batismo fomos batizados com o Sangue adorável de Jesus Cristo, a pureza mesma; neste Sangue adorável que gerou tantas virgens de um e outro sexo; nós, a quem Jesus Cristo fez participantes de sua pureza, tornando-nos seus membros, seu templo...  Mas, ai! Meus irmãos, neste infeliz século de corrupção em que vivemos, não se conhece mais esta virtude, esta celeste virtude que nos torna semelhantes aos anjos!... Sim, meus irmãos, a pureza é uma virtude que nos é necessária a todos, pois que, sem ela, ninguém verá o Bom Deus. Eu queria fazer- vos conceber desta virtude uma idéia digna de Deus, e vos mostrar, 1º. quanto ela nos torna agradáveis a Seus olhos, dando um novo grau de santidade a todas as nossas ações, e 2º. o que nós devemos fazer para conservá-la.

I – Quanto a pureza nos torna agradáveis a Deus
Seria preciso, meus irmãos, para vos fazer compreender bem a estima que devemos ter desta incomparável virtude, para vos fazer a descrição de sua beleza, e vos fazer apreciar bem seu valor junto de Deus, se ria preciso, não um homem mortal, mas um anjo do céu. Ouvindo-o, vós diríeis com admiração: Como todos os homens não estão dispostos a sacrificar tudo antes que perder uma virtude que nos une de uma maneira íntima com Deus? Procuremos, contudo, conceber dela alguma coisa, considerando que dita virtude vem do céu, que ela faz descer Jesus Cristo sobre a terra, e que eleva o homem até o céu, pela semelhança que ela dá com os anjos, e com o próprio Jesus Cristo. Dizei-me, meus irmãos, de acordo com isto, acaso não merece ela o título de preciosa virtude? Não é ela digna de toda nossa estima e de todos os sacrifícios necessários para conservá-la? Nós dizemos que a pureza vem do céu, porque só havia o próprio Jesus Cristo que fosse capaz de no-la ensinar e nos fazer sentir todo o seu valor. Ele nos deixou o exemplo prodigioso da estima que teve desta virtude. Tendo resolvido na grandeza de sua misericórdia, resgatar o mundo, Ele tomou um corpo mortal como o nosso; mas Ele quis escolher uma Virgem por Mãe. Quem foi esta incomparável criatura, meus irmãos? Foi Maria, a mais pura entre todas e por uma graça que não foi concedida a ninguém mais, foi isenta do pecado original. Ela consagrou su a virgindade ao Bom Deus desde a idade de três anos, e oferecendo-lhe seu corpo, sua alma, ela lhe fez o sacrifício mais santo, o mais puro e o mais agradável que Deus jamais recebeu de uma criatura sobre a terra. Ela manteve este sacrifício por uma fidelidade inviolável em guardar sua pureza e em evitar tudo aquilo que pudesse mesmo de leve empanar seu brilho. Nós vemos que a Virgem Santa fazia tanto caso desta virtude, que Ela não queria consentir em ser Mãe de Deus antes que o anjo lhe tivesse assegurado que Ela não a perderia. Mas, tendo lhe dito o anjo que, tornando-se Mãe de Deus, bem longe de perder ou empanar sua pureza de que Ela fazia tanta estima, Ela seria ainda mais pura e mais agradável a Deus, consentiu então de bom grado, a fim de dar um novo brilho a esta pureza virginal. Nós vemos ainda que Jesus Cristo escolhe um pai nutrício que era pobre, é verdade; mas ele quis que sua pureza estivesse por sobre a de todas as outras criaturas, exceto a Virgem Santa. Dentre seus  discípulos, Ele distingue um, a quem Ele testemunhou uma amizade e uma confiança singulares, a quem Ele fez participante de seus maiores segredos, mas Ele toma o mais puro de todos, e que estava consagrado a Deus desde sua juventude.
Santo Ambrósio nos diz que a pureza nos eleva até o céu e nos faz deixar a terra, enquanto é possível a uma criatura deixá-la. Ela nos eleva por sobre a criatura corrompida e, por seus sentimentos e seus desejos, ela nos faz viver da mesma vida dos anjos. Segundo São João Crisóstomo, a castidade duma alma é de um preço aos olhos de Deus maior que a dos anjos, pois que os cristãos só podem adquirir esta virtude pelos combates, enquanto que os anjos a têm por natureza. Os anjos não têm nada a combater para conservá-la, enquanto que um cristão é obrigado a fazer uma guerra contínua a si mesmo. S. Cipriano acrescenta que, não somente a castidade nos torna semelhantes aos anjos, mas nos dá ainda um caráter de semelhança com o próprio Jesus Cristo. Sim , nos diz este grande santo, uma alma casta é uma imagem viva de Deus sobre a terra.
Quanto mais uma alma se desapega de si mesma pela resistência às suas paixões, mais ela se une a Deus; e, por um feliz retorno, mais o bom Deus se une a ela; Ele a olha, Ele a considera como sua esposa, como sua bem-amada; faz dela o objeto de suas mais caras complacências, e fixa nela sua morada para sempre. “Bem - aventurados, nos diz o Salvador, os puros de coração, porque eles verão ao bom Deus”. Segundo S. Basílio, se encontramos a castidade numa alma, encontramos aí todas as outras virtudes cristãs, ela as praticará com uma grande facilidade, “porque” - nos diz ele – “para ser casto é preciso se impor muitos sacrifícios e fazer- se uma grande violência. Mas uma vez que alcançou tais vitórias sobre o demônio, a carne e o sangue, todo o resto lhe custa muito pouco, pois uma alma que subjuga com autoridade a este corpo sensual, vence facilmente todos os obstáculos que encontra no caminho da virtude”. Vemos também, meus irmãos, que os cristãos castos são os mais perfeitos. Nós os vemos reservados em suas palavras, modestos em todos os seus passos, sóbrios em suas refeições, respeitosos no lugar santo e edificantes em toda sua conduta. Santo Agostinho compara aqueles que têm a grande alegria de conservar seu coração puro, aos lírios que se elevam diretamente ao céu e que difundem em seu redor um odor muito agradável; só a vista deles nos faz pensar naquela preciosa virtude. Assim a Virgem Santa inspirava a pureza a todos aqueles que a olhavam... Bem -aventurada virtude, meus irmãos, que nos põe entre os anjos, que parece mesmo elevar-nos por sobre eles!

II - O amor que os Santos tinham por esta virtude

Todos os Santos fizeram o maior caso dela e preferiram perder seus bens, sua reputação e sua própria vida a descorar esta virtude.
Nós temos um belo exemplo disto na pessoa de Santa Inês. Sua formosura e suas riquezas fizeram com que, à idade de doze anos, ela fosse procurada pelo filho do prefeito da cidade de Roma. Ela lhe fez saber que estava consagrada ao bom Deus. Ela foi presa sob o pretexto de que era cristã, mas em realidade para que consentisse nos desejos do rapaz. Ela estava de tal modo unida a Deus, que nem as promessas, nem as ameaças, nem a vista dos carrascos e dos instrumentos expostos diante de si para amedrontá-la, não a fizeram mudar de sentimentos. Não tendo conseguido nada dela, seus perseguidores a carregaram de cadeias, e quiseram colocar uma argola e anéis em seu pescoço e em suas mãos; eles não puderam fazê-lo, tão débeis eram suas pequenas mãos inocentes. Ela permaneceu firme em sua resolução, no meio destes lobos enraivecidos, ela ofereceu seu corpinho aos tormentos com uma coragem que espantou aos carrascos. Arrastam-na aos pés dos ídolos; mas ela confessa bem alto que só reconhece por Deus a Jesus Cristo, e que os ídolos deles não são mais que demônios. O juiz, cruel e bárbaro, vendo que não consegue nada, crê que ela será mais sensível diante da perda daquela pureza que ela estimava tanto. Ele ameaça expô-la num lugar infame; mas ela responde com firmeza; “Vós podeis fazer-me morrer, mas não podereis jamais fazer-me perder este tesouro: o próprio Jesus Cristo é zeloso deste tesouro.” O juiz, morrendo de raiva, manda conduzi-la ao lugar das torpezas infernais. Mas Jesus Cristo, que velava por ela duma maneira particular, inspira um tão grande respeito aos guardas, que eles só a olhavam com uma espécie de pavor, e manda a Seus anjos que a protejam. Os jovens que entram naquele quarto, inflamados de um fogo impuro, vendo um anjo ao lado dela, mais belo que o sol, saem dali abrasados do amor divino. Mas o filho do prefeito, mais perverso e mais corrompido que os outros, penetra no quarto onde estava santa Inês. Sem ter consideração por todas aquelas maravilhas, ele se aproxima dela na esperança de contentar seus desejos impuros; mas o anjo que guarda a jovem mártir fere o libertino que cai morto a seus pés. Rapidamente se espalha em Roma o boato de que o filho do prefeito tinha sido morto por Inês. O pai, enfurecido, vem encontrar a santa e se entrega a tudo o que seu desespero lhe pode inspirar. Ele a chama de fúria do inferno, monstro nascido para a desolação de sua vida, pois tinha feito morrer seu filho. Santa Inês lhe responde tranqüilamente: “É que ele quis fazer-me violência, então o meu anjo lhe deu a morte.” O prefeito, um pouco acalmado, lhe diz: pois bem, pede a teu Deus para ressuscitá-lo, para que não se diga que foste tu que o mataste.” – Sem dúvida, diz-lhe a Santa, vós não mereceis esta graça; mas para que saibais que os cristãos nunca se vingam, mas, pelo contrário, eles pagam o mal com o bem, saí daqui, e eu vou pedir ao bom Deus por ele.” Então Inês se põe de joelhos, prostrada com a face em terra. Enquanto ela reza, seu anjo lhe aparece e lhe diz: “Tenha coragem”. No mesmo instante o corpo inanimado retoma a vida. O jovem, ressuscitado pelas orações da Santa, se retira da casa, corre pelas ruas de Roma gritando: “Não, não, meus amigos, não há outro Deus que o dos cristãos, todos os deuses que nós adoramos não são mais que demônios que nos enganam e nos arrastam ao inferno.” Entretanto, apesar de um tão grande milagre, não deixaram de condenar. Então o tenente do prefeito manda que se acenda um grande fogo, e faz lançá-la nele. Mas as chamas entreabrindo-se, não lhe fazem nenhum mal e queimam os idólatras que acudiram para serem espectadores de seus combates. O tenente, vendo que o fogo a respeitava e não lhe fazia nenhum mal, ordena que a firam com um golpe de espada na garganta, a fim de lhe tirar a vida; mas o carrasco treme como se ele mesmo estivesse condenado à morte... Como os pais de Santa Inês chorassem a morte de sua filha, ela lhes aparece dizendo-lhes: “Não choreis minha morte, pelo contrário, alegrai-vos de eu Ter adquirido uma tão grande glória no Céu”.
Estais vendo, meus irmãos, o que esta Santa sofreu para não perder sua virgindade. Formai agora idéia da estima em que deveis ter a pureza, e co mo o bom Deus se compraz em fazer milagres para mostrar-se seu protetor e guardião. Como este exemplo confundirá um dia estes jovens que fazem tão pouco caso desta bela virtude! Eles jamais conheceram seu preço. O Espírito Santo tem, portanto, razão de exclamar: “Ó, como é bela esta geração casta; sua memória é eterna, e sua glória brilha diante dos homens e dos anjos!” É certo, meus irmãos, que cada um ama seus semelhantes; também os anjos, que são espíritos puros, amam e protegem duma maneira particular as almas que imitam sua pureza. Nós lemos na Sagrada Escritura que o anjo Rafael, que acompanhou o jovem Tobias, prestou-lhe mil serviços. Preservou-o de ser devorado por um peixe, de ser estrangulado pelo demônio. Se este jovem não tivesse sido casto, é certíssimo que o anjo não o teria acompanhado, nem lhe teria prestado tantos serviços. Com que gozo não se alegra o anjo da guarda que conduz uma alma pura!
Não há outra virtude para conservação da qual Deus faça milagres tão numerosos como os que ele pródiga em favor duma pessoa que conhece o preço da pureza e que se esforça por salvaguardá-la. Vede o que Ele fez por Santa Cecília. Nascida em Roma de pais muito ricos, ela era muito instruída na religião cristã, e seguindo a inspiração de Deus, ela Lhe consagrou sua virgindade. Seus pais, que não o sabiam, prometeram-na em casamento a Valeriano, filho de um senador da Cidade. Era, segundo o mundo, um partido bem considerado. Ela pediu a seus pais o tempo de pensá-lo. Ela passou este tempo no jejum, na oração e nas lágrimas, para obter de Deus a graça de não perder a flor daquela virtude que ela estimava mais que sua vida. O bom Deus lhe respondeu que não temesse nada e que obedecesse a seus pais; pois, não somente não perderia esta virtude, mas ainda obteria... Consentiu, pois, no matrimônio. No dia das núpcias, quando Valeriano se apresentou, ela lhe disse: “Meu caro Valeriano, eu tenho um segredo a lhe comunicar.” Ele lhe respondeu: “Qual é este segredo?” – Eu consagrei minha virgindade a Deus e jamais homem algum me tocará, pois eu tenho um anjo que vela por minha pureza; se você atenta contra isto, você será ferido de morte”. Valeriano ficou muito surpreso com esta linguagem, porque sendo pagão, não compreendia nada de tudo isto. Ele respondeu: “Mostre-me este anjo que a guarda.” A Santa replicou: “Você não pode vê-lo porque você é pagão. Vá ter com o Papa Urbano, e peça-lhe o batismo, você em seguida verá o meu anjo”. Imediatamente ele parte. Depois de Ter sido batizado pelo Papa, ele volta a encontrar sua esposa. Entrando no seu quarto, vê o anjo velando com Santa Cecília. Ele o acha tão bonito, tã o brilhante de glória, que fica encantado e tocado por sua formosura. Não somente permite à sua esposa permanecer consagrada a De us, mas ele mesmo faz voto de virgindade ... Em breve eles tiveram a alegria de  morrerem mártires. Estais vendo como o bom Deus toma cuidado duma pessoa que ama esta incomparável virtude e trabalha por conservá-la?
Nós lemos na vida de Santo Edmundo que, estudando em Paris, ele se encontrou com algumas pessoas que diziam tolices; ele as deixou imediatamente. Esta ação foi tão agradável a Deus, que Ele lhe apareceu sob a forma de um belo menino e o saudou com u m ar muito gracioso, dizendo-lhe que com satisfação o tinha visto deixar seus companheiros que mantinham conversas licenciosas; e, para recompensá-lo, prometia que estaria sempre com ele. Além disto, Sto. Edmundo teve a grande alegria de conservar sua inocência até a morte. Quando Santa Luzia foi ao túmulo de Santa Águeda para pedir ao Bom Deus, por sua intercessão, a cura de sua mãe, Santa Águeda lhe apareceu e lhe disse que ela podia obter, por si mesma, o que ela pedia, pois que, por sua pureza, ela tinha preparado em seu coração uma habitação muito agradável ao seu Criador. Isto nos mostra que o bom Deus não pode recusar nada a quem tem a alegria de conservar puros seu corpo e sua alma.
Escutai a narração do que aconteceu a Santa Pontamienac que viveu no tempo da perseguição de Maximiano. Esta jovem era escrava dum dissoluto e libertino, que não cessava de a solicitar para o mal. Ela preferiu sofrer todas a sortes de crueldades e de suplícios a consentir nas solicitações de seu senhor infame. Este, vendo que não podia conseguir nada, em seu furor, entregou-a como cristã nas mãos do governador, a quem prometeu uma grande recompensa se a pudesse conquistar. O juiz mandou que a conduzissem ante seu tribunal, e vendo que todas as ameaças não a faziam mudar de sentimentos, fez a Santa sofrer tudo o que a raiva pôde lhe inspirar. Mas o bom Deus concedeu à jovem mártir tanta força que ela parecia ser insensível a todos os tormentos.  Aquele juiz iníquo, não podendo vencer sua resistência, faz colocar sobre um fogo bem ardente uma caldeira cheia de pez, e lhe diz: “Veja o que lhe preparam se você não obedecer a seu senhor.” A santa jovem responde sem se perturbar: “Eu prefiro sofrer tudo o que vosso furor puder vos inspirar a obedecer aos infames desejos de meu senhor; aliás, eu jamais teria acreditado que um juiz fosse tão injusto de me fazer obedecer aos planos de um senhor dissoluto.” O tirano, irritado por esta resposta, mandou que a lançassem na caldeira. “Ao menos mandai, diz-lhe ela, que eu seja lançada vestida. Vós vereis a força que o Deus que nós adoramos dá aos que sofrem  por Ele.” Depois de três horas de suplício, Pontamienac entregou sua bela alma a seu criador, e assim alcançou a dupla palma do martírio e da virgindade.

III - Como esta virtude é pouco conhecida e apreciada no mundo

Ai, meus irmãos, como esta virtude é pouco conhecida no mundo, quão pouco nós a estimamos, quão pouco cuidado nós pomos em conservá-la, quão pouco zelo tem os em pedi-la a Deus, pois que não a podemos ter de nós mesmos. Não, nós não conhecemos esta bela e amável virtude que ganha tão facilmente o coração de Deus, que dá um tão belo brilho a todas as nossas outras boas obras, que nos eleva acima de nós mesmos, que nos faz viver sobre a terra como os anjos no céu!
Não, meus irmãos, ela não é conhecida por este velhos infames impudicos que se arrastam, se rolam e se submergem na lama de suas torpezas, cujo coração é semelhante àqueles sobre o alto das montanhas queimados e abrasados por estes fogos impuros. Ai! Bem longe de procurar extingui-lo, eles não cessam de acendê-lo e abrasá-lo por seus olhares, por seus pensamentos, seus desejos e suas ações. Em que estado estará esta alma, quando aparecer diante de Deus, a Pureza mesma? Não, meus irmãos, esta bela virtude não é conhecida por esta pessoa, cujos lábios não são mais que uma abertura e um tubo de que o inferno se serve para vomitar suas impurezas sobre a terra, e que se alimenta disto como de um pão quotidiano. Ai! A alma deles não é mais que um objeto de horror para o céu e para a terra! Não, meus irmãos, esta bela virtude não é conhecida por estes jovens cujos olhos e mãos estão profanados por estes olhares e DEUS, QUANTAS ALMAS ESTE PECADO ARRASTA PARA O INFERNO!... Não, meus irmãos, esta bela virtude não é conhecida por estas moças mundanas e corrompidas que tomam tantas precauções e cuidados para atraírem sobre si os olhos do mundo; que por seus enfeites exagerados e indecentes, anunciam publicamente que são infames instrumentos de que o inferno se serve para perder as almas; estas almas que custaram tantos trabalhos, lágrimas e tormentos a Jesus Cristo! ... Vede estas infelizes, e vós vereis que mil demônios circundam sua cabeça e seu coração. Ó meu Deus, como a terra pode suportar tais sequazes do inferno? Coisa mais espantosa ainda, como mães as suportam num estado indigno de uma cristã! Se eu não temesse ir longe demais, eu diria a estas mães que elas valem o mesmo que suas filhas. Ai, este infeliz coração e estes olhos impuros não são mais que um a fonte envenenada que dá a morte a qualquer que os olha e os escuta. Como tais monstros ousam se apresentar diante de um Deus santo e tão inimigo da impureza! Ai! A vida deles não é mais que uma acumulação de banha que eles estão juntando para inflamar o fogo do inferno por toda a eternidade. Mas, meus irmãos, deixemos uma matéria tão desagradável e tão revoltante para um cristão, cuja pureza deve imitar a de Jesus Cristo mesmo; e voltemos à nossa bela virtude da pureza que nos eleva até o céu, que nos abre o coração adorável de Jesus Cristo, e nos atrai todas as bênçãos espirituais e temporais.
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