domingo, 29 de junho de 2014

Sínodo sobre a família - um documento que reflete sobre a realidade


DESTAQUE


A pastoral familiar, neste âmbito, deve evitar o risco de “fechar-se numa perspectiva legalista”.

Também é significativa a alusão à tendência, que parece prevalecer na Europa e em alguns países da América Latina, de resolver as questões encomendando-se a algum sacerdote condescendente. O autor destas linhas pôde constatar, entre “casais irregulares” segundo a doutrina canônica e entre sacerdotes ou bispos, quão frequentes são estas soluções “ad personam”, inclusive entre quem se apresenta como inflexível, mas depois está disposto a fazer notáveis exceções no confessionário. Mostra-se fundamental, com respeito aos divorciados recasados, a necessidade de agilizar os processos para chegar à nulidade matrimonial, seguindo a linha indicada por Bento XVI, mas sem alimentar a ideia de que existe um “divórcio à moda católica”.

É preciso distinguir, lê-se no texto, entre as pessoas que “fizeram uma escolha pessoal, muitas vezes sofrida, e que vivem com delicadeza para não dar escândalo a outros”, e as pessoas que têm “um comportamento de promoção e publicidade ativa, habitualmente agressivo”.

*** * ***

Sínodo sobre a família - um documento que reflete sobre a realidade


Depois de ler o Instrumentumlaboris (o texto que servirá de base para o trabalho do próximo Sínodo sobre a Família), a impressão mais forte que se tem é que não tem a ver com este ou aquele detalhe, com este ou aquele aspecto, com este ou aquele problema (como os sacramentos para os divorciados que contraíram novas núpcias ou a atitude que é preciso ter e, relação às uniões entre pessoas do mesmo sexo). É, antes de mais nada, uma visão de conjunto. Desta vez, o texto-base para o trabalho dos padres sinodais representa uma fotografia real das vivências dos fiéis, assim como da percepção que os fiéis têm das mudanças que suas respectivas sociedades sofreram em relação a temas relacionados com a sexualidade, o casamento e a vida familiar.




A reportagem é de Andrea Tornielli e publicada no sítio VaticanInsider, 26-06-2014. A tradução é de André Langer.


Tranquilizando a todos os que se preocupavam e temiam que com o questionário de 39 perguntas os ensinamentos da Igreja fossem submetidos a uma espécie de plebiscito, o documento apresenta-se muito equilibrado em suas três partes. Destaca-se, por exemplo, a dificuldade na hora de apresentar a lei natural e seus fundamentos, posto que a expressão “lei natural” é “problemática” ou “inclusive incompreensível”. Também é evidente que o que estabelece a lei civil, em muitos contextos, converte-se cada vez mais na mentalidade dominante e inclusive “moralmente aceitável”. A grande questão do sínodo será, pois, refletir sobre a forma de anunciar o Evangelho e os ensinamentos da Igreja nestes novos contextos.
É interessante a insistência sobre o risco de esquecer que “a família é a ‘célula fundamental da sociedade, o lugar onde se aprende a conviver na diferença e a pertencer a outros’”. Daí a necessidade de propor “uma visão aberta de família, fonte de capital social, ou seja, de virtudes essenciais para a vida comum”. Também se destaca o “ponto chave” para a promoção da família, ou seja, o testemunho da beleza e da alegria “que dá acolher o anúncio evangélico no matrimônio e na vida familiar”. Atitude que evidentemente contrasta tanto com as atitudes daqueles que passam seus dias condenando, lançando anátemas e fazendo exames de consciência de todo o mundo, assim como com o laxismo daqueles que acabam achando que tudo é lícito.
O documento assinala a “percepção equivocada e moralista” daqueles que consideram “o ideal da família” como uma “meta inatingível e frustrante, em vez de ser considerado como uma indicação de um caminho possível, por meio do qual aprender a viver a própria vocação e missão”.
Também é muito interessante a análise do documento sobre as “situações críticas”: a violência e o abuso, as “dependências dos meios de comunicação e das redes sociais” que monopolizam o tempo das relações familiares, as pressões exercidas pelos horários e pelos ritmos de trabalho, os fenômenos migratórios, a pobreza, o consumismo e a mentalidade do “filho a qualquer custo”. É significativo que se cite a “perda de credibilidade moral” da Igreja na percepção dos habitantes da América do Norte e do norte da Europa devido aos escândalos sexuais e, particularmente, à pederastia clerical.

Um dos grandes problemas é acolher e acompanhar as pessoas que vivem em situações familiares difíceis ou irregulares. O terceiro capítulo, dedicado às “situações pastorais difíceis”, ocupa-se dos temas das “situações matrimoniais difíceis”. “A verdadeira urgência pastoral – lê-se no Instrumentumlaboris – é permitir a estas pessoas que curem suas feridas, voltem a ser pessoas saudáveis e retomem o caminho junto com toda a comunidade eclesial. A misericórdia de Deus não provê uma cobertura temporal do nosso mal; pelo contrário, abre radicalmente a vida à reconciliação, dando-lhe nova confiança e serenidade, mediante uma autêntica renovação”.A pastoral familiar, neste âmbito, deve evitar o risco de “fechar-se numa perspectiva legalista”.

Quanto às convivências, o documento indica, entre as razões que levam os jovens a viver juntos sem se casar, “políticas familiares inadequadas para sustentar a família; problemas financeiros; o desemprego juvenil; a falta de moradia”. Além disso, o documento indica que é fundamental ajudar os jovens a sair de uma “visão romântica de amor, percebido apenas como um sentimento intenso para o outro, e não como uma resposta pessoal a outra pessoa, no âmbito de um projeto de vida comum, no qual se abre um grande mistério e uma grande promessa”.

Quanto às situações de “irregularidade canônica”, o Instrumentumlaboris reconhece que é bastante “alto o número daqueles que consideram sem preocupação sua situação irregular” e, portanto, não pedem para serem admitidos à eucaristia nem à reconciliação. Mas também há um sofrimento profundo por parte de “muitos” que se sentem marginalizados e frustrados por não poder fazer a comunhão devido a uma situação familiar particular. É preciso notar que foram as Conferências Episcopais que pediram para exercer “uma misericórdia, clemência e indulgência mais amplas em relação às novas uniões”. É preciso acompanhar as pessoas, os casais, “com compreensão e paciência”, explicando que “o fato de não poderem aceder aos sacramentos não significa que são excluídos da vida cristã e da relação com Deus”.

Também é significativa a alusão à tendência, que parece prevalecer na Europa e em alguns países da América Latina, de resolver as questões encomendando-se a algum sacerdote condescendente. O autor destas linhas pôde constatar, entre “casais irregulares” segundo a doutrina canônica e entre sacerdotes ou bispos, quão frequentes são estas soluções “ad personam”, inclusive entre quem se apresenta como inflexível, mas depois está disposto a fazer notáveis exceções no confessionário. Mostra-se fundamental, com respeito aos divorciados recasados, a necessidade de agilizar os processos para chegar à nulidade matrimonial, seguindo a linha indicada por Bento XVI, mas sem alimentar a ideia de que existe um “divórcio à moda católica”.

A este respeito, todos concordam com o fato de que a preparação catequética para o matrimônio é substancialmente inadequada para o objetivo. A falta de uma fé vivida coloca em dúvida a validade de muitos casamentos.
Também é particularmente significativo o enfoque sobre o delicado tema das uniões entre pessoas do mesmo sexo e as leis que as reconhecem. O documento para o sínodo explica que as duas atitudes contrárias (a mais intransigente e a condescendente) não ajudam no desenvolvimento de uma “pastoral eficaz”. É preciso distinguir, lê-se no texto, entre as pessoas que “fizeram uma escolha pessoal, muitas vezes sofrida, e que vivem com delicadeza para não dar escândalo a outros”, e as pessoas que têm “um comportamento de promoção e publicidade ativa, habitualmente agressivo”. Assinala-se a necessidade de “não identificar uma pessoa com expressões como ‘gay’, ‘lésbica’ ou ‘homossexual’”. O documento faz notar que não existe “um consenso” na Igreja sobre como acolher concretamente as pessoas que vivem uniões com outras pessoas do mesmo sexo. Também há um parágrafo dedicado à acolhida das crianças de casais do mesmo sexo, que não devem sofrer nenhuma discriminação no âmbito do batismo nem na preparação à iniciação cristã, embora seja “unânime” o consenso diante da negação para a adoção por parte destes casais.
Para concluir, é preciso notar, na parte dedicada à recepção e à atualidade da Encíclica Humanae Vitae, que é muito difundida entre os fiéis a percepção de que o aborto é um “pecado grave”, mas também a percepção de que a regulação da natalidade mediante a utilização de anticoncepcionais não é pecado.


Trata-se, pois, de um documento no qual aparece claramente a marca do novo Pontificado e que, talvez, pela primeira vez, oferece uma síntese da situação real das vivências nas paróquias dos cinco continentes, fruto de um trabalho capilar e colegial. Uma fotografia da realidade, inclusive da realidade do fracasso ou da objetiva dificuldade na hora de transmitir o anúncio da fé e seus conteúdos, muito útil para o trabalho dos padres sinodais. Ninguém pode antecipar o que acontecerá em outubro, quando os membros do próximo sínodo se reunirem no Vaticano. Encontramo-nos no começo de uma “profunda reflexão” sobre a família, que terminará somente em outubro de 2015, com o segundo sínodo dedicado a este tema.


Fonte: Unisinos

CARDEAL BALDISSERI - VATICANO PROMOVERÁ ‘PASTORAL DE MISERICÓRDIA’ PARA OS DIVORCIADOS E CASAIS DO MESMO SEXO



DESTAQUE


O relator Geral da III Assembléia Geral Extraordinária do Sínodo de Bispos e Arcebispo de Budapest, Hungria, Cardeal Peter Erdo: a Igreja deve "propor e não impor", "acompanhar e não empurrar" e "convidar e não expulsar".

Sobre os casais do mesmo sexo [SIC! SIC! SIC!], o Cardeal Baldisseri distinguiu contextos, segundo a legislação civil seja "mais ou menos favorável", e insistiu na necessidade de um "cuidado pastoral das Igrejas particulares", sobre tudo pensando em " questões relacionadas com os eventuais filhos", referindo-se ao contexto das uniões civis de mesmo sexo que em diversos países, em um número crescente, podem adotar filhos.

SOBRE OS DIVORCIADOS – CARDEAL BALDISSERI: a Igreja "sente-se interpelada a encontrar soluções compatíveis com sua doutrina, que guiem uma vida serena e reconciliada".Assim, manifestou a "relevância de simplificar e agilizar os processos judiciais de nulidade matrimonial".



*** * ***




CARDEAL BALDISSERI - VATICANO PROMOVERÁ ‘PASTORAL DE MISERICÓRDIA’ PARA OS DIVORCIADOS E CASAIS DO MESMO SEXO





O Vaticano anunciou que promoverá uma "pastoral de misericórdia" para aqueles casais que estão em situações de irregularidade canônica, como os que convivem, os divorciados, os desquitados, os divorciados que voltaram a casar pelo civil, as mães solteiras ou casais do mesmo sexo e o cuidado a ser dado aos eventuais filhos adotivos. O conteúdo do anúncio foi feito pelo cardeal Lorenzo Baldisseri durante a apresentação do Instrumento de trabalho que será usado pelos bispos de todo o mundo durante Sínodo sobre os desafios pastorais para a Família, que se celebra entre os dias 5 e 19 de outubro.

O Instrumento de trabalho, que será estudado durante o Sínodo pelos prelados e demais participantes, constitui um diagnóstico da preocupação pelas situações familiares, fruto das respostas enviadas ao Vaticano por episcopados, congregações e movimentos de todo o mundo.

Deste modo, o secretário geral do Sínodo dos bispos, Cardeal Lorenzo Baldisseri, assinalou que serão consideradas de maneira particular as situações pastorais difíceis que se referem, entre outras, às situações de "convivência e uniões de fato, casais desquitados e divorciados (que casaram pela Igreja) e voltaram a casar", aqueles que se encontram em condições de "irregularidade canônica" ou que pedem casar-se pela Igreja "sem ser crentes ou praticantes".

Sobre os casais que se uniram em matrimônio religioso e após o divórcio estão impedidos de casar pela Igreja ou aceder aos sacramentos, o Secretário do Sínodo e Ex-Núncio apostólico no Brasil reconheceu que estes "vivem com sofrimento sua situação de irregularidade na Igreja" e afirmou que a Igreja "sente-se interpelada a encontrar soluções compatíveis com sua doutrina, que guiem uma vida serena e reconciliada".

Assim, manifestou a "relevância de simplificar e agilizar os processos judiciais de nulidade matrimonial".

Sobre os que se casam "sem fé explícita", reclamou "maior atenção da pastoral eclesiástica" e uma "melhor qualidade" nos cursos de preparação do matrimônio para que os esposos possam continuar sendo "recém casados depois das bodas".

Cuidado dos filhos de casais do mesmo sexo

Sobre os casais do mesmo sexo, o Cardeal Baldisseri distinguiu contextos, segundo a legislação civil seja "mais ou menos favorável", e insistiu na necessidade de um "cuidado pastoral das Igrejas particulares", sobre tudo pensando em " questões relacionadas com os eventuais filhos", referindo-se ao contexto das uniões civis de mesmo sexo que em diversos países, em um número crescente, podem adotar filhos.

"Urge permitir às pessoas feridas curar-se e reconciliar-se, encontrando de novo confiança e serenidade", acrescentou.

Por isso, promoveu a necessidade de uma pastoral capaz de oferecer a "misericórdia que Deus concede a todos sem medida", e evidenciou que a Igreja deve "propor e não impor", "acompanhar e não empurrar" e "convidar e não expulsar".

Do mesmo modo, o Cardeal Baldisseri reconheceu que "a convivência e as uniões de fato" estão em crescente difusão e atribuiu o fato a "diversas razões sociais, econômicas e culturais".

"A Igreja sente o dever de acompanhar estes casais na confiança de poder sustentar uma responsabilidade como é a do matrimônio", disse.

Por sua parte, o relator Geral da III Assembléia Geral Extraordinária do Sínodo de Bispos e Arcebispo de Budapest, Hungria, Cardeal Peter Erdo, comentou que o documento de trabalho oferece "uma panorâmica da situação da pastoral da família", a partir da perspectiva do nível da consciência, que proporcional ao conhecimento, "dos ensinamentos de Cristo e da Igreja sobre o matrimônio" e do nível relativo "ao comportamento real das pessoas", onde se apresentam as "situações críticas".

O Cardeal Erdo expressou que muitas das respostas evidenciam que as pessoas, em geral, "casam-se cada vez menos, também de maneira civil". "Tal fenômeno se insere no contexto do individualismo e do subjetivismo prático", acrescentou.


Sobre o tema dos divorciados que voltaram a casar, o Cardeal Erdo manifestou que em algumas partes do mundo se fala de "um sofrimento causado por não receber os sacramentos" e que a pergunta "o que pedem os divorciados à Igreja?" em outras partes do mundo a resposta mais frequente é que "não pedem nada, ou porque ignoram que não podem participar dos sacramentos ou se mostraram indiferentes tanto antes como depois do matrimônio civil, inválido desde o ponto de vista eclesiástico".


Fonte: ACI Digital
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...