Eis-nos diante de um livro novo, que contém impressos os conhecimentos necessários para fazer-nos passar em um exame. Como obter o máximo rendimento com o mínimo de esforço? Vamos sintetizar nosso critério a esse respeito em algumas regras e conselhos, filhos de nossa experiência pessoal e de autorizadas opiniões alheias.
A) O cuidado com os livros
Em primeiro lugar, é conveniente cuidar materialmente do
livro de estudo, protegê-lo do extravio, da sujeira, etc... Para isso é
sumamente útil mandar encaderná-lo. Guardá-lo sempre no mesmo lugar.
Emprestá-lo somente a quem sabemos que vai tomar o nosso mesmo cuidado.
Carregá-lo o menos possível. E não escrever nele senão as observações
imprescindíveis para ajudar a recapitulação.
B) Regularidade do estudo
Em segundo lugar é necessário regularizar as horas e os
lugares do estudo. Para essa finalidade ter-se-ão em conta as condições
peculiares do estudante, quanto ao tempo, ambiente, etc.. Assim, por exemplo,
pode ser que só disponha de um local adequado por tempo insuficiente ou em
horário impróprio. Em todo caso, sempre é possível traçar ao menos um horário
semanal e tratar de cumpri-lo. (Veja artigo Como estudar e como aprender).
C) Uma vista no prólogo do livro
Em terceiro lugar, convém dedicar uma sessão inicial à
leitura do prólogo ou introdução do texto que se vai usar, e do índice das
matérias, pois geralmente em ambos se encontra condensado o pensamento que
guiou o autor. Com efeito, se o livro tem uma apresentação alheia, é costume
que esta seja feita por uma pessoa de maior prestígio que o autor, e é raro que
através de seus elogios não transpareça, discretamente, uma velada alusão a
algum ponto fraco ou discutível, o que terá sumo interesse para o crédito
relativo que o leitor outorgará aos diversos capítulos. Mas, além disso, o
próprio autor manifesta no prólogo os propósitos que o induziram a escrever o
livro, suas idéias diretrizes e a técnica do desenvolvimento. Quanto à leitura
detida do índice, servirá para: 1) verificar as matérias tratadas, sua
classificação e subordinação quanto à importância (mensurável pela extensão
outorgada à sua exposição); 2) os termos cuja definição se ignora e convém
aprender; 3) a ordem e seriação dos capítulos; 4) o grau de concordância entre
seus subtítulos e os pontos pedidos no programa de exames.
D) Regras gerais para ler com proveito
Não é a mesma coisa poder ler e saber ler, pois, se a
primeira se aprende na escola primária, a segunda, às vezes, não se consegue
nunca. E não é que estejamos exigindo que a leitura seja prosodicamente
correta. Referimo-nos à conveniência de captar, na leitura, o sentido das
frases, dando aos termos a acepção visada pelo autor, separando imediatamente
os conceitos básicos ou fundamentais dos que são acessórios, e as afirmações certas
das que são objetivamente discutíveis, mesmo quando não parecem sê-lo para quem
as escreveu. Essa tarefa de compreensão, ponderação e seleção hierárquica do
material impresso deve ser feita simultaneamente com o processo de sua
percepção, durante a chamada leitura mental ou “silenciosa”. Não há vantagem
alguma em ler em voz alta quando se estuda sozinho. Com efeito, o reforço
auditivo, que se poderia considerar favorável à fixação do que se lê, é
diminuído pela fadiga necessária para o maior esforço muscular e, o que é mais
importante, pela lentidão inevitável do processo da leitura. Há ocasiões,
todavia, em que o sentido de uma frase é especialmente difícil de compreender.
Então, excepcionalmente, é aconselhável lê-la lentamente, como também copiá-la à
parte, com letras grandes, examinando-a fora do texto.
Vejamos, porém, as regras habituais da leitura cultural, que
deverá significar ao mesmo tempo uma percepção, compreensão, aceitação crítica,
classificação hierárquica, retenção e integração do material da leitura.
E) Como favorecer a percepção
Assegurar-nos de ter corrigido todos nossos defeitos
visuais, mesmo que sejam de pouca importância. Nunca se devem usar óculos
escolhidos por sorte ou emprestados: cada pessoa que precisa de óculos
necessita de uma fórmula especial para ela, que só pode ser prescrita depois de
um exame feito por médico oftalmologista. Assegurar-nos também uma quantidade
de luz suficiente (nem deficiente nem excessiva).
Obs: o foco de luz deve estar colocado à nossa esquerda.
F) Comodidade corporal
A posição ideal é sentada, sobre uma poltrona ou cadeira com
assento brando, e com o livro colocado sobre um suporte inclinado em um ângulo
variável de 30 a 60 graus.
Sentar-se na cama para ler tem o inconveniente de dificultar
tomar notas e manter-se em posição correta.
G) Um pouco de exercício
De todos os modos, inclusive quando se adota a posição
correta, cada 15 minutos convêm levantar-se e mover-se um pouco, para evitar os
efeitos vaso-motores desagradáveis como esfriamento das extremidades e
congestão da cabeça.
H) Modo de obter resultado da leitura
Precisamos ler em primeira leitura, com igual atenção, tudo
o que está escrito em um capítulo, sem interromper, para não truncar a unidade
de sentido da exposição. Em segunda leitura, todavia, será conveniente começar
a marcar os diversos níveis de dificuldades e de interesse que diferenciam esse
texto. Para esse fim podemos valer-nos da técnica de sublinhar, que, por sua
importância, merece ser considerada em um capítulo à parte.
Regras para sublinhar os textos, segundo Smith e Littlefield
1a) Sublinhar só os livros de nossa propriedade.
2a) Sublinhar com uma linha dupla as afirmações ou dados
essenciais
3a) Marcar a lápis na margem do texto, os pontos que sejam
objetáveis ou pareçam exigir revisão.
4a) Não sublinhar abusivamente.
5a) Usar sempre os mesmo sinais convencionais.
Como favorecer a compreensão crítica do material lido
Tão importante como o processo de sublinhar partes do texto
é a técnica de facilitar sua compreensão lógica mediante o uso de esquemas,
quadros sinóticos, raciocínios analógicos, improvisação e aplicação de
exemplos, etc. É nesta fase da aprendizagem que sobressai com maior nitidez a
inteligência do aluno; quem não tiver o dom dessa capacidade poderá em boa
parte substituir-lhe a ausência utilizando métodos ou sistemas que providenciem
os apoios necessários para se chegar a um resultado aceitável.
Facilitarão muito a tarefa da compreensão um bom dicionário
de termos e um bom dicionário de idéias afins ou analógicos, em que possamos
procurar a definição clara dos termos e seus possíveis equivalentes ou
sinônimos. É um fato que temos observado largamente em trinta anos de
magistério, que muitos estudantes tropeçam com dificuldades graves na
compreensão de certas matérias, pura e simplesmente, por terem compreendido
insuficientemente, desde as primeiras lições, o significado de alguns termos
básicos, que são depois repetidos a cada passo no texto. Um erro aparentemente
insignificante e fácil de remediar em tempo dá, no decurso ulterior do estudo,
conceitos deformados que causam uma confusão lamentável. Por isso, a regra
primeira e fundamental a dar a um estudante que quiser compreender bem um texto
é a seguinte: não passe para frente se encontrar uma palavra, relação ou
fórmula cujo significado não entender clara e seguramente. Não se contente com
uma compreensão “aproximada” ou de puro “palpite”. Não vá, também, pular a
linha, pensando voltar atrás em outra ocasião, pois assim perderá tempo em vez
de ganhá-lo. O correto é tratar, com a ajuda de livros de consulta e
dicionários, de superar esse obstáculo e, não conseguindo em um prudente espaço
de tempo, recorrer sem medo a um companheiro mais adiantado nos estudos, etc. -
que lhe defina e aclare suficientemente o ponto obscuro. Tudo é preferível a
deixar na retaguarda cultural esse vácuo, capaz de fazer perder todo o esforço
ulterior de captação.
Uma segunda regra é a de que, depois da leitura o estudante
procure reproduzir com as próprias palavras as idéias do autor. Só quando somos
capazes de expressar um conceito, idéia ou relação sem repeti-los ao pé da
letra, podemos estar seguros de ter compreendido o seu significado.
Já frisamos que o uso de esquemas facilita muito a
compreensão de relações conceituais. Por exemplo: História. Cada estudante
possui, por assim dizer, um cinema grátis, particular e sempre pronto a
funcionar: a imaginação. Suponhamos, por exemplo, que decidimos representar a
série dos Luises da França, tentando englobar o maior número possível de fatos
e referências, com clareza suficiente para evitar as freqüentes confusões
ordinais em que incorrem os que não se dedicam a um estudo aprofundado.
Em primeiro lugar traçaremos uma longa linha horizontal em
que levantaremos as figuras reais, com intervalos proporcionais à distância do
tempo que as separou. Os grandes Luises começam, efetivamente, de Luis IX (São
Luís), filho de Branca de Castela, que passou grande parte de seu reinado
administrando a justiça debaixo de um carvalho, derrotou os ingleses em
Taillebourg, quis resgatar o Santo Sepulcro e organizou duas cruzadas, caindo
prisioneiro na primeira e morto de peste na segunda, sendo depois canonizado.
Na seqüência vemos uma raposa que simboliza o caráter astuto, ladino e dúbio de
Luis XI; à sua direita levanta-se a bondosa figura de Luis XII, o pai dos
pobres; logo vem a casa de Luis XIII, unido a Richelieu; logo depois a imagem
do Rei Sol - o grande Luis XIV - em cujo reinado a França alcançou seu máximo
esplendor; seguem-no Luis XV e a Pompadour, e logo vemos a guilhotina pendendo
sobre a cabeça de Luis XVI. À direita se interpõe o tricórnio de Napoleão, e a
linha é fechada pela figura balofa, pesada e incolor de Luis XVIII.
Essa seqüência de figuras, assim distribuídas, cada uma das
quais representa um ou vários caracteres distintivos, vem constituir como que a
coluna vertebral da série. Sobre ela podem inserir-se detalhes, de acordo com a
capacidade e a vontade de cada um.
Alguém dirá: Mas, e os nomes próprios e as datas? São dados
indubitavelmente secundários ao quê da História, e nele podem encaixar-se
subsidiariamente.
(Mira y Lopez – in Psicologia da vida moderna – Editora José
Olympio – 1964)
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